quarta-feira, 8 de maio de 2013

Jogo on-line ajuda cientistas a fazer mapa do cérebro

folha de são paulo

RAFAEL GARCIA
EM WASHINGTON

Um grupo de cientistas que ambiciona mapear todas as conexões entre as células do cérebro humano criou uma ferramenta diferente para tentar atingir seu objetivo: um videogame.
Ao colorir fotografias feitas por um microscópio, jogadores ajudam pesquisadores a construir imagens do cérebro em 3D.
O jogo Eyewire (www.eyewire.org) foi desenvolvido pelo laboratório do neurocientista Sebastian Seung, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
Ao se ver incapaz de criar um sistema de inteligência artificial que desse conta de fazer o trabalho sozinho, o pesquisador concebeu o game como uma forma usar inteligência humana no serviço.
A ideia do cientista é usar o esquema do jogo para contribuir no mapeamento do chamado "conectoma", o conjunto de conexões entre todas as células nervosas do organismo humano. Neurocientistas esperam que, no futuro, esse mapa ajude a desvendar mistérios sobre o funcionamento da mente.
O jogo pede aos usuários que observem fotografias tiradas por microscopia e ajudem o computador a identificar o formato dos neurônios, as células cerebrais que se ramificam como árvores cheias de galhos.
Ao fazê-lo, os jogadores "pintam" as fotografias, como num software de desenho, para delimitar as células. A pontuação do jogo é dada conforme o tempo que o usuário leva para cumprir uma tarefa e a precisão com que o faz. (veja abaixo)
Editoria de Arte/Folhapress
Após cinco meses de lançamento, o Eyewire já atraiu 65 mil inscritos, sendo 365 deles brasileiros. Juntos, os jogadores analisaram mais de 1 milhão de pacotes de imagens liberados pelos cientistas.
A ideia por trás do jogo, porém, não é apenas aproveitar a habilidade visual dos usuários para processar dados. À medida que mais imagens são analisadas, a inteligência artificial do programa que administra o game "aprende" com a inteligência humana, e aos poucos os computadores descobrem como mapear os neurônios corretamente.
Apesar de possuir a iniciativa mais avançada para mapeamento do cérebro hoje, porém, o laboratório de Seung ainda não tem capacidade para mapear um cérebro humano inteiro.
"A tecnologia de imageamento avançou rápido demais, e hoje gera quantidades enormes de de dados em intervalos de tempo relativamente pequeno, por isso ainda não damos conta de analisar todas as imagens", disse à Folha Amy Robinson, cientista de computação que ajudou o laboratório de Seung a criar o game.
Até agora, os jogadores do Eyewire já mapearam 12 neurônios completos de camundongos e já possível ver seu formato tridimensional na "home page" do jogo. Foi um marco impressionante, mas ainda é uma mera fração daquilo necessário para mapear todos os neurônios do cérebro humano, que somam cerca de 80 bilhões.
CIÊNCIA CIDADÃ
Diante da enormidade do cérebro humano, Seung decidiu atacar o desafio começando por um camundongo. E o Eyewire, por enquanto, mapeia apenas a retina do animal --daí nome do jogo, que significa "fiação dos olhos" em inglês.
Apesar de estarem nos olhos, e não no interior do crânio, os neurônios da retina são parte do sistema nervoso central e são considerados parte do cérebro.
"Uma retina de camundongo típica tem alguns milhões de neurônios", diz Jinseop Kim, neurocientista envolvido no projeto. Ele explica que essa estrutura ocupa cerca de 4 mm cúbicos, enquanto o cérebro humano completo possui cerca de 1.200 centímetros cúbicos, ou seja, um volume 300 mil vezes maior. A esperança de usar a tecnologia para mapear os neurônios humanos, segundo os cientistas, está na expectativa de desenvolver uma inteligência artificial melhor. O trabalho humano, então, passaria a ser usado apenas nos casos mais difíceis.
Robinson também diz crer que o número de usuários do game tem potencial para crescer. O videogame Foldit, que inspirou o Eyewire, foi pioneiro em arregimentar leigos para ajudar cientistas e já soma mais de 460 mil usuários registrados. Seu objetivo é ajudar bioquímicos a desvendar a estrutura de proteínas. E o portal de "ciência cidadã" Zooniverse, que agrega várias iniciativas semelhantes em outras áreas da ciência, já possui 800 mil inscritos.
Jogar o Eyewire pode dar alguma diversão, mas alguns usuários não o consideram propriamente um videogame.
"Ele é mais um trabalho voluntário do que um jogo, mas é um bom passatempo", diz Ricardo Missel, empresário da área eletroquímica que hoje é o brasileiro com melhor pontuação no ranking do jogo. "Ele é gratificante porque permite a você ajudar uma equipe que ia levar 100 milhões de horas para fazer uma coisa dessas. Acho o projeto deles maravilhoso."
Os criadores do Eyewire já têm como plano uma segunda versão. "Nosso próximo projeto, um game que deve sair no início de 2014, vai mapear neurônios do córtex olfativo do cérebro de um camundongo para tentar identificar a base biológica de memórias associadas a cheiros."
NEUROCIÊNCIA EM FATIAS
As imagens usadas no Eyewire foram feitas pelo laboratório de Winfried Denk, do Instituto Max Planck para Pesquisa Médica, na Alemanha, que desenvolveu uma técnica de microscopia inovadora.
O cientista construiu dentro do tubo de seu microscópio eletrônico um ultramicrótomo, um dispositivo equipado com uma lâmina de diamante capaz de segmentar amostras de cérebro em fatias com espessura de 20 nanômetros (4.000 vezes mais finas que um fio de cabelo).
A ideia permitiu automatizar o processo de fatiar e fotografar as amostras, e o grupo está produzindo imagens digitais em preto e branco que somam dados da ordem de petabytes (trilhões de bytes).
Cada petabyte de imagens equivale a cerca de 1 bilhão de imagens, mas todo esse número soma apenas um único milímetro cúbico de tecido neuronal. O mapeamento de todos os neurônios de um mamífero, estima Seung, produziria dados a uma taxa maior que o LHC, o acelerador de partículas gigante que realiza o maior experimento científico em andamento hoje.

Fogo, água, ar e terra - Nina Horta

folha de são paulo

Não somos só nós que estamos abismados sem encontrar uma resposta boa para o porquê de muita gente ter deixado de cozinhar, substituindo a cozinha pela TV e assistindo a programas que, na realidade, falam de comida, competem por comida, enquanto os espectadores simplesmente vão enchendo a boca de água.
Agora, em 2013, o conhecido escritor Michael Pollan lançou um livro, “Cooked, a Natural History of Transformation” (cozinhar, a história natural da transformação). Acho os livros dele bonitos, bem escritos, mas um pouco ingênuos nas suas propostas de volta à natureza.
Não sei se são as teorias ou o jeito francês de falar, só sei que, no fim da leitura, sempre estou meio tentada a comprar uma vaca e colocar na laje, com todos os apetrechos para fazer queijo.
Mas as preocupações dele sempre foram maiores, de como alimentar bem o planeta, da beleza dos jardins, da conexão com o mundo. De repente, a pergunta que não pode calar começou a incomodá-lo como aquelas musiquinhas de uma nota só que grudam no cérebro.
Por que terá sido nesse momento histórico que as pessoas largaram a cozinha é que começaram a pensar insistentemente no assunto, a falar dele e sentar no sofá e assistir a um programa de TV que leva o tempo de preparar uma refeição leve?
Por que, quanto menos cozinhamos, mais a comida e o modo de fazê-la nos impressiona, nos seduz? Ninguém assiste a séries de tricô, nem de lavar roupa. Mas… Comida… E não parece que assistimos para aprender, pois, se assistir televisão ensinasse a fazer qualquer coisa, quase todos os homens se equiparariam ao Neymar no futebol.
Então, talvez existam algumas coisas na cozinha que realmente nos fazem falta. Aí ele se aproveita do Bachelard e monta o livro sobre os elementos de base. Fogo, água, ar e terra. E se baseia também em Lévi-Strauss e Richard Wrangman para discorrer sobre a transformação da comida.
E o que foi que nosso autor ainda não havia feito apesar de seu mundo girar em volta da comida? Não aprendera a cozinhar! Mas achou que a teoria não bastava. Ao não saber cozinhar, estava perdendo poder. O seu leque de opções diminuía muito e tinha que se render a especialistas, sem ter muita voz ativa.
E aprendeu (além de cozinhar uma carne e fazer uma cerveja) que o cozinheiro estava situado no meio do mundo natural e da cultura, num processo de tradução e negociação. Ao cozinhar, mudamos o mundo e, no processo, a nós. Cozinhar, comer e beber nos ligam ao mundo.
Cozinhando com um coreano, nosso famoso autor, hoje passável cozinheiro, aprendeu que as comidas coreanas podem ter gosto de língua ou gosto de mão. Gosto de língua é o fenômeno químico, objetivo, que se realiza quando as papilas entram em contato com a comida. Um fenômeno acessível e fácil.
E o gosto de mão envolve mais que o simples sabor, pois tem impresso nele a assinatura de quem o fez. O gosto de mão não se imita, é o gosto do amor. Foi o que aprendeu Michael Pollan, que antes só sabia fazer um molho de sálvia que servia com macarrão. É o amoor!!!
   

"Não quero ser vista como uma pessoa insinuante", diz Nigella Lawson

folha de são paulo

RAFAEL MOSNA
DE SÃO PAULO

"Ela só tem uma objeção: não fala sobre sexo", sentencia a assessoria antes da entrevista com apresentadora Nigella Lawson, realizada na sexta em São Paulo.
Adriano Vizoni/Folhapress
Nigella Lawson no hotel Sheraton WTC, em São Paulo
Nigella Lawson no hotel Sheraton WTC, em São Paulo
A inglesa de 53 anos está no Brasil pela primeira vez para o lançamento do livro "Na Cozinha com Nigella".
Também conhecida como musa da "food porn" (movimento de fetichização da comida), ela não se vê como tal.
Tampouco fala diretamente sobre sexo, mas resvala no tema. "Não acho que a comida seja pornográfica, mas tenho que me responsabilizar por essa relação, afinal, em meu primeiro livro, criei o termo 'gastro porn'", conta. "Não ligo para o que pensam, mas não quero ser conhecida como uma pessoa insinuante. Não sou assim."
A seguir, leia outros trechos da entrevista à Folha.
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LOCAL E SAZONAL
Hoje em dia, não há dúvida de que o sazonal é melhor. É mais fácil aqui [no Brasil], onde ingredientes locais são adoráveis. Venho de um país que, no inverno, se me restrinjo ao sazonal, comerei apenas "parsnip" (chirívia; raiz parente da cenoura), batata e repolho.
Sou uma pessoa preguiçosa e cozinho com o que gosto. Se você mora no Reino Unido, consegue bons produtos italianos. São duas horas de avião, não é tão ruim assim.
CALDO INDUSTRIALIZADO
Se faço uma sopa de galinha, não uso um caldo industrializado, é claro. Mas coloco em outras receitas. Uso muita coisa que pode chocar as pessoas. Não sinto orgulho disso, mas não se deve mentir. Muitos chefs usam, mas não em frente às câmeras.
DIETA
[Em 2011, Nigella surgiu menos corpulenta e a mídia atribuiu o visual a uma dieta à base de "itokonnyaku", um "noodle" constituído de 97% de água e 3% de fibras solúveis, com poucas calorias.]
Não, eu não fiz uma dieta baseada em "itokonnyaku". Eu o descobri na Austrália. Adoro, pois é muito fácil de preparar, mas não fiz um regime comendo somente isso.
INGLATERRA PARA COMER
Não é engraçado? Quando eu era mais nova, a Inglaterra era conhecida por ter uma comida ruim. Na verdade, nunca foi tão ruim assim.
O que acontece é que não tínhamos a cultura de restaurantes, mas temos bons produtos. Nossa carne é muito boa, nosso salmão também.
PREDILETOS EM LONDRES
Gosto muito do italiano River Café (rivercafe.co.uk), em Hammersmith. Também vou ao Scott (scotts-restaurant.com), onde posso sentar fora, pois meu marido fuma. Lá, servem um peixe à moda antiga. E o The Wolseley (thewolseley.com), bom para um café da manhã inglês.
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TESTE DO DOCE
A reportagem levou uma caixa de brigadeiros à entrevista para que a apresentadora "avaliasse" o doce. "Fantástico", disse (veja foto à esquerda). Ela garantiu que conhecia a guloseima, da qual disse gostar. Pôs a caixa no chão e tirou fotos com o celular. Mas não comeu. "Acabei de almoçar."
LIVRO
EDITORA Best Seller
AUTORA Nigella Lawson
TRADUÇÃO Joana Faro
PREÇO R$ 99,90 (512 págs.)
PROGRAMA DE TV
QUANDO domingos, às 12h, com reprise às sextas, às 17h30
ONDE GNT
CLASSIFICAÇÃO não informada
RAIO-X NIGELLA LAWSON, 53
LIVROS Publicou dez títulos no Reino Unido. No Brasil, quatro. Vendeu mais de oito milhões de
cópias em 20 idiomas
TELEVISÃO Já estrelou nove programas, com exibição em 70 países
CARREIRA Foi editora de livros do jornal britânico "The Sunday Times" e crítica de restaurantes

Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      ALVES

Erro de juiz de futebol não gera dano moral


Valor Econômico - 08/05/2013

Torcedores de times de futebol não devem ser indenizados por erros de arbitragem. A decisão, inédita, foi proferida ontem pela 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Durante uma hora, os ministros discutiram a polêmica tese jurídica, em um julgamento recheado de sabedorias sobre a arte do futebol e citações de um dos mais importantes cronistas esportivos da história, o pernambucano Nelson Rodrigues.
No caso analisado pela Justiça, o torcedor do Atlético-MG e advogado Custódio Pereira Neto exigia da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) o pagamento de danos morais de R$ 22 mil por erro do árbitro Carlos Eugênio Simon em jogo contra o Botafogo, no Maracanã, pela Copa do Brasil de 2007.

O lance que deu origem ao litígio ocorreu na área do Botafogo. O jogador Alex derrubou de forma violenta o meio de campo Tchô, do Atlético. O árbitro não marcou o pênalti. Mas admitiu o erro em entrevistas concedidas posteriormente. Com o apito final, o Botafogo venceu a partida e desclassificou o Atlético da competição.

Segundo o torcedor mineiro, a CBF, por organizar o campeonato, teria responsabilidade em indenizar o torcedor que pagou ingresso para assistir ao jogo. Para ele, a entidade teria falhado na prestação do serviço e por isso, deveria ressarci-lo. O pedido se baseava no artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, segundo o qual "o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços".
Citou ainda o Estatuto do Torcedor, que exige de árbitros uma atuação independente e livre de pressões. De acordo com o torcedor, "os erros são anunciados" já que a CBF não estaria profissionalizando os árbitros.

Em defesa da CBF, o advogado Luiz Eduardo Sá Roriz, afirmou que "a compra do ingresso não garante uma arbitragem livre de erros ou qualidade futebolística". Além disso, afirmou que admitir a indenização tornaria as regras do futebol rígidas. "O pênalti é tão importante que quem devia cobrar era o presidente do clube", disse, citando a célebre frase de Nelson Rodrigues. Roriz também é torcedor do Atlético-MG.
Apesar de reconhecerem a relação de consumo, os ministros do STJ entenderam que não houve ilícito na conduta do árbitro. Dessa forma, não caberia o dano moral. "O mero aborrecimento é insuficiente para reconhecer o abalo moral", disse o relator do caso, ministro Luis Felipe Salomão.

Os outros quatro ministros da turma concordaram. Para o ministro Marco Buzzi haveria risco em aceitar a tese do torcedor. "No Brasil, estaríamos sujeitos a milhares de ações", afirmou. O ministro Antonio Carlos Ferreira também lançou mão dos ensinamentos de Nelson Rodrigues para afirmar que erros fazem parte do futebol. "Arbitragem normal confere às partidas um tédio profundo", disse.

Policiais despejam cerca de cem imigrantes que ocupavam imóvel irregular no centro de São Paulo

folha de são paulo

Fim da República do Haiti
Policiais despejam cerca de cem imigrantes que ocupavam imóvel irregular no centro de São Paulo; eles dizem que foram enganados
VALMAR HUPSEL FILHOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHASob o olhar atento de policiais militares e federais, cerca de cem imigrantes haitianos deixaram no início da manhã de ontem um imóvel que, até a semana passada, ocupavam sem saber que estava em situação irregular.
Era o fim, como base numa decisão judicial, de uma espécie de república informal de haitianos instalada no Brás, centro de São Paulo.
Entre os despejados, há de pedreiros a sociólogos, com idade entre 13 e 40 anos.
Todos estão na cidade em busca de emprego, mas a maioria está sem ocupação e se sustenta com dinheiro enviado pela família.
Apenas três deles falam português, mas com o sotaque bem carregado.
Eles receberam a ordem de despejo na quarta-feira passada. Só então ficaram sabendo que o imóvel é alvo de litígio há mais de 15 anos devido a uma ação trabalhista.
Os haitianos pagavam aluguel a um homem identificado apenas como Marcos, responsável por pagar as contas de água e energia.
Foi ele quem instalou divisórias e loteou o espaço, transformando o que era um grande vão em 26 "quartos", e sublocou essas unidades.
Cada inquilino pagava R$ 350 por um lote, alguns deles um pouco maiores que uma cama de casal. Aqueles que conseguiram mais espaço puderam mobiliá-lo com fogão e geladeira.
"Há dois meses, talvez já sabendo que viria a decisão, Marcos sumiu e deixou de pagar as contas", disse o pedreiro Odaniel Joune, 34, natural de Saint Michel de l'Attalaye.
Sem luz e água quente, essa centena de haitianos se revezava para usar dois banheiros, um deles sem a torneira da pia. O forte odor revelava a dificuldade de manter a higiene no local. Um rato cruzou o caminho da reportagem durante uma entrevista.
RETIRADA
Ontem, a polícia chegou ao local no final da madrugada. Todos deixaram o imóvel de forma pacífica e até com bom humor. Os sorrisos e as brincadeiras, no entanto, não escondiam uma apreensão: onde dormiriam naquela noite?
Eles foram encaminhados para abrigos, segundo Mônica Quenca, assistente social da Missão Paz, ONG responsável pelo atendimento aos estrangeiros e pela intermediação com a prefeitura.
Já os móveis foram todos levados para um depósito.
"Eles não serão deportados. Muitos estão com a documentação regularizada, e os que não têm vão receber passaporte humanitário", disse.

    Estrangeiros pagaram 'coiotes' para chegar ao país
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHAEntre os haitianos despejados, em meio a dezenas de analfabetos, Elysee Augustin, 37, e Jean Denis Alaime, 29, aparecem como exceções.
    Falam inglês, francês, espanhol, português e creole, a língua nativa, e atuaram como intérpretes nas entrevistas da Folha com os colegas.
    Augustin é formado em sociologia e iniciou um mestrado em antropologia na República Dominicana, enquanto Alaime fez faculdade de engenharia industrial, também no país vizinho ao Haiti.
    A forma como os dois chegaram ao Brasil também foi diferente. Eles pagaram cerca de US$ 2.500 por uma passagem de avião, com escala no Panamá.
    A maioria dos demais, no entanto, entrou sem visto, por via terrestre, contratando "coiotes" para atravessar a fronteira, num itinerário que passa por Panamá, Equador e Peru até chegar à fronteira com o Acre.
    Augustin disse que preferiu o Brasil aos EUA por questões ideológicas. "Os americanos fizeram muito mal ao povo haitiano", disse.
    Há dez meses em São Paulo, ajuda os recém-chegados, iniciando-os no português e dando orientações sobre como regularizar a documentação e procurar trabalho.
    Ele disse que até já conseguiu um emprego, mas desistiu. "No Haiti, eu era sociólogo, mas aqui o máximo que consegui foi ser gerente do McDonald's", disse.
    Alaime também reclama. No Haiti era professor de línguas, mas no Brasil só conseguiu trabalhar como auxiliar numa empresa. Por isso, pensa em voltar a estudar. "Tenho que ver como o mercado está e de que tipo de profissionais o Brasil precisa."
    MINORIA
    No grupo de despejados, apenas quatro mulheres, todas desempregadas. Uma delas conseguiu emprego, mas logo foi demitida. O desconhecimento da língua é o maior problema, segundo Darvil Syna, 27, que está no Brasil há quatro meses.
    "Não fiquei muito tempo porque não entendia a língua", disse Darvil, antes de relatar o desejo de não retornar ao Haiti. "Lá não há emprego para quem não é simpatizante do governo", disse.
    Em vez disso, ela afirma ter esperanças de encontrar um emprego no Brasil e ganhar dinheiro suficiente para trazer o resto de sua família.

      Entrevista Dani Rodrik

      folha de são paulo

      Economia brasileira não volta a ter expansão de 7%
      Professor de Harvard diz que fase de alto crescimento no mundo acabou e que expansão de 3% a 4% no país é 'realista'
      PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULOO Brasil não voltará a crescer entre 7% e 8% ao ano, diz o economista Dani Rodrik, 55, professor de política econômica internacional da Universidade Harvard e um dos maiores especialistas em economia do desenvolvimento.
      Segundo Rodrik, o ambiente global benéfico --alto crescimento da China, elevados preços das commodities, países avançados em expansão-- não vai se repetir. "É realista esperar uma taxa de crescimento de 3% a 4% no Brasil", disse à Folha Rodrik, que participou ontem de seminário da revista "Carta Capital".
      Segundo ele, a fase de alto crescimento no mundo acabou. O Brasil, com instituições democráticas sólidas, é resiliente. "Mas o país não deve ser excessivamente ambicioso, precisa ser cuidadoso, fiscalmente seguro, para lidar com os choques externos que provavelmente virão."
      Folha - O Brasil cresceu 0,9% em 2012 e há uma percepção de que o modelo de crescimento baseado em consumo se esgotou. O que o sr. acha?
      Dani Rodrik - Dois anos atrás, todo mundo dizia que o Brasil estava vivendo um novo milagre econômico. Eu achava que era um enorme exagero. Agora, as pessoas estão tirando conclusões apressadas em cima de apenas um ano de crescimento.
      O Brasil não vai mais crescer 7%, como no milagre econômico antes da crise da dívida ou mesmo em 2010 [7,5%]. É realista esperar uma taxa de crescimento de 3% a 4%. Se o contexto global ajudar, 5% será uma taxa razoável.
      O sr diz que, a partir de agora, alto crescimento no mundo será exceção. Como se situa o Brasil nesse cenário?
      As condições que permitiram crescimento de 7% a 8% não vão se repetir. Antes, tínhamos os estágios iniciais da industrialização --ao tirar mão de obra da zona rural ou do setor informal e levar para as indústrias, tínhamos ganhos de 400% na produtividade. Agora, não teremos grandes ganhos sem mais investimentos em educação e tecnologia. Com as mudanças tecnológicas, a indústria é muito mais intensiva em capital e não absorve tanta mão de obra. E o Brasil, na realidade, já atingiu o pico de industrialização e está agora se desindustrializando. Mas isso é verdade para a maioria dos países. É inevitável. A discussão agora é a velocidade da desindustrialização, se está mais rápida do que deveria. A indústria não mais será o motor do crescimento. Serviços e outras áreas irão gerar ganhos de produtividade.
      O sr. ficou decepcionado com a decisão dos Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] de criar um banco de desenvolvimento...
      Essa é uma noção dos anos 50, de que é preciso ter financiamento de infraestrutura. Frequentemente, o que emperra o desenvolvimento não é a falta de financiamento, mas sim instituições frágeis, excesso de regulação, falta de política industrial e moedas sobrevalorizadas. Financiamento é apenas um dos fatores. Não me parece o foco apropriado para os Brics. Faltam ideias novas de como consertar a globalização e criar uma nova relação entre emergentes e ricos.
      O sr. diz que os Brics precisam parar de se comportar como "suplicantes". Qual é a mensagem que o Brasil deveria passar nos foros mundiais?
      Gostaria de ver o Brasil abordar o sistema internacional não como um país em desenvolvimento dizendo que é pobre e precisa de ajuda. Em vez disso, o Brasil precisa se posicionar como formador de políticas, que também tem grandes responsabilidades. Em áreas como mudança climática, por exemplo, não haverá redução de emissões se os emergentes não assumirem responsabilidade.
      O que o sr. espera de Roberto Azevêdo à frente da Organização Mundial do Comércio?
      A agenda da OMC precisa mudar. A Rodada Doha morreu e as pessoas deveriam simplesmente declarar isso. O real desafio para a OMC é estabelecer uma nova narrativa, que não se restrinja a: "você reduz suas tarifas e em troca nós abrimos nossos mercados". No momento, o maior problema não é a falta de abertura comercial.
      E o Brasil precisa mudar sua atitude. O Brasil ocasionalmente precisa proteger sua indústria, mas tem de entender que os países ricos passam por uma situação muito difícil e também precisam proteger a sua indústria. O Brasil, apesar de todas as elevações de tarifas recentes, não pode ser chamado de economia fechada. Aliás, acho que a atual estrutura de tarifas no Brasil é até positiva.
      Por quê?
      Porque, na margem, está dando uma proteção temporária para algumas indústrias que estão sendo dizimadas pela valorização da moeda. Vivemos no mundo possível, não no mundo doutrinário.
      Qual é a importância de ter um brasileiro liderando a OMC?
      O Brasil pode levar para a OMC uma abordagem pragmática, não doutrinária, que é uma evolução da proposta radical de livre mercado --é assim a política econômica do Brasil atualmente. Então ter um brasileiro no comando da OMC é muito positivo.
      O sr. classifica os países de mercantilistas ou liberais. Em que faixa se situa o Brasil?
      O Brasil é uma boa mistura --usa regras liberais em seu sistema financeiro, políticas monetária e cambial, mas é mais mercantilista no que se refere às políticas industriais, proteção por tarifas, regras de conteúdo local e uso do BNDES. Talvez precise de menos liberalismo no fronte macroeconômico e mais no fronte comercial.

        RAIO-X DANI RODRIK
        IDADE
        55 anos
        CURRÍCULO
        Professor de política econômica internacional da Universidade Harvard. É autor de "Has Globalization Gone Too Far?" (1997), entre outros
        FORMAÇÃO
        Formou-se em economia pela Universidade Harvard. Fez mestrado e doutorado na Universidade Princeton

        Causa e efeito - MARTHA MEDEIROS

        ZERO HORA - 08/05/2013

        Ao assistir à peça Arte, que esteve recentemente em cartaz em Porto Alegre, no festival Palco Giratório Sesc, tive a mesma sensação de quando assisti a Deus da Carnificina, não por acaso obras da mesma autora, a fantástica Yasmina Reza. É incrível a capacidade que ela tem de criar situações que nos desconstroem.

        Sem piedade, ela evidencia o quanto somos todos patéticos. Fazemos um dramalhão por pequenas coisas, expomos carências infantis e perdemos a compostura por nada. Somos experts em desproporção entre causa e efeito.

        Será que um dia conseguiremos equalizar nossas reações, dar a elas uma medida exata? Acho improvável. Vida também é teatro. Por mais humildes que sejamos ao reconhecer nossos exageros diante de alguns acontecimentos, dificilmente conseguimos nos conter. Defendemos nossas opiniões com todas as ferramentas de que dispomos: palavra, voz, gestos, paixão, raiva. E dá-lhe atrapalhação. Agimos de forma farsesca acreditando estar sendo espontâneos.

        Fazemos piada de assuntos graves e, por outro lado, levamos a sério as maiores bobagens. Amamos alguém e o atacamos. Desprezamos alguém e o tratamos com mesuras. Somos vigorosamente contra ou a favor, como se de nossas posições dependesse nossa vida. E chegam a ser inocentes nossas tentativas de compreender a nós mesmos, aos outros e ao mundo. Eu, particularmente, gosto muito dessa busca, mas sem perder a consciência de que, onde quer que eu chegue, ainda estarei a milhões de anos-luz da compreensão absoluta.

        De certa forma, ainda bem. O que viria depois da compreensão absoluta?

        Claro que as coisas podem ser mais simples, mas nunca serão exatas. Não há como ter controle sobre algo em constante movimento: a própria vida. É tão grande o número de influências, ideias, sensações e circunstâncias que nos impactam diariamente, que nunca teremos uma verdade pronta e empacotada para lidar com elas – e muito menos uma estabilidade emocional condizente com a experiência. Sempre estaremos falando num tom mais alto, tentando assim nos defender contra o susto que é ser confrontado diariamente com nossa vulnerabilidade.

        O que admiro nesses dois textos de Yasmina Reza, Arte e Deus da Carnificina, é que ela mostra claramente o delírio de se levar a ferro e fogo situações banais, a absurda insistência em querermos causar boa impressão e a inutilidade de nos comportarmos como se estivéssemos diante de um tribunal.

        Sendo assim, o que nos resta? Rir. No que diz respeito às nossas relações pessoais, a vida segue sendo mais cômica do que trágica. 

        Alexandre Schwartsman

        folha de são paulo

        Éramos felizes (e eu sabia)
        O aumento do consumo de manufaturas passa a ser atendido pela expansão das importações
        A balança comercial registrou deficit de US$ 6,1 bilhões no primeiro quadrimestre do ano. Temos que recuar até 2001 para achar um deficit comercial nesse mesmo período (no caso, modestos US$ 561 milhões) e, por mais que voltemos no tempo, não há registro de deficit de magnitude comparável ao de agora.
        É verdade que, em parte, o resultado do período está contaminado por uma mudança na contabilização das importações de petróleo: importações realizadas no ano passado foram registradas apenas neste ano, melhorando o resultado de 2012 ao custo de piorar o de 2013.
        Ainda assim, mesmo se desconsiderarmos esse problema, é inegável a tendência de piora da balança, que ocorre --não sem um leve toque de ironia-- desde que o governo se engajou numa política deliberada de desvalorização da moeda para proteger a indústria das importações, assim como estimular as exportações de manufaturados.
        Obviamente isso não significa que a deterioração das contas externas resulta da desvalorização da moeda, mas serve para ilustrar como a balança depende de uma gama muito mais vasta de fatores do que a visão unidimensional da taxa de câmbio, favorecida pelos nossos "keynesianos de quermesse", consegue compreender.
        Em particular, não há como ignorar o nível reduzido da taxa de desemprego no país, sugerindo que, se a economia não trabalha a pleno emprego, não parece muito distante dele. Nessas circunstâncias, certas respostas são muito diferentes daquelas com que estávamos acostumados quando a economia operava com folga considerável, em particular no mercado de trabalho.
        Quando o desemprego é alto, a expansão da demanda tende a se traduzir em aumento da produção tanto da indústria quanto dos serviços, já que ambos os setores têm condições de contratar a mão de obra até então desocupada sem grande pressão sobre os salários.
        Já numa situação como a de hoje, o mesmo crescimento da demanda implica respostas muito diferentes em cada setor.
        A maior demanda por serviços precisa, com raras exceções, ser satisfeita pela expansão da produção local, levando ao crescimento do emprego no setor.
        Concretamente, com o desemprego baixo, isso tende a elevar o salário real em ambos os setores, mas, como o setor de serviços está naturalmente protegido da concorrência externa, esses aumentos podem ser (e são) repassados aos seus preços, o que explica a elevada (8,1%) inflação de serviços.
        Já no setor industrial, o repasse é limitado pela concorrência externa e, portanto, o aumento salarial "come" a margem de lucro, expressão da perda de competitividade.
        A tendência, pois, é que o emprego se expanda no setor de serviços relativamente à indústria, assim como a produção.
        Desse modo, enquanto o maior consumo de serviços é satisfeito localmente, o aumento do consumo de manufaturas, com a economia próxima ao pleno emprego, passa a ser atendido pela expansão das importações.
        Isso já vem acontecendo há algum tempo, mas, até recentemente, era parcialmente neutralizado pelo aumento dos preços internacionais das commodities relativamente às manufaturas. Sendo o Brasil um exportador líquido de commodities, seu encarecimento permitia ao país obter mais manufaturas por unidade exportada.
        Assim, embora a quantidade importada aumentasse, seus efeitos sobre a balança foram significativamente atenuados pelo maior valor das exportações. Não por outro motivo, sempre tachei de míopes as lamentações governamentais quando os preços de commodities subiam, assim como suas comemorações em caso de queda.
        Sem preços crescentes de commodities para compensar a maior demanda por importações, a tendência do saldo comercial é se reduzir em resposta à elevação da demanda interna e da resposta assimétrica da produção.
        Como se vê, há muito mais entre o céu e a terra do que nossos "keynesianos de quermesse", e sua manipulação da taxa de câmbio, podem imaginar.
        www.maovisivel.blogspot.com
        alexandre.schwartsman@hotmail.com

          Como nos Estados Unidos? - Julia Sweig

          folha de são paulo

          Como nos Estados Unidos?
          Nenhuma lei federal dos EUA chegará perto da lei brasileira que protege os trabalhadores domésticos
          Quando os brasileiros dizem que a nova lei dos trabalhadores domésticos acabará tornando o Brasil mais parecido com os EUA, eles querem dizer que ter babás, cozinheiras e empregadas, às vezes mais de uma ao mesmo tempo, logo será luxo acessível só a pessoas muito ricas.
          Nos EUA, famílias de classe média alta ou cujos membros exercem atividades remuneradas geralmente podem pagar alguém para limpar a casa uma ou duas vezes por semana e talvez lavar roupas também.
          Babás nos EUA também cozinham e fazem limpeza, mas para pagar uma, que custa de US$ 3.000 a US$ 4.000 por mês ou mais, é necessário que o casal trabalhe ou que um deles tenha alta renda.
          Para a classe média americana, empregadas não cabem no bolso: a própria família tem que fazer todo o trabalho de casa. Os mais privilegiados têm avós que ajudam com as crianças pequenas ou contam com creches, muitas vezes de qualidade duvidosa, para bebês --já que a licença-maternidade nos EUA pode se estender no máximo a quatro meses para funcionários do governo.
          O Brasil é o país com o maior número de empregados domésticos no mundo, e os EUA, o décimo. Os números oficiais são, respectivamente, 7,2 milhões e 726 mil -- provavelmente não representam o total verdadeiro. Mas, no Brasil, mesmo agora que esses trabalhadores ingressam no mercado formal e adquirem novas habilidades e novos empregos, o país tem um longo caminho a percorrer até esse número baixar a ponto de se assemelhar ao dos EUA.
          Porém o Brasil já ultrapassou os EUA num quesito muito importante. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, assim como as leis trabalhistas da África do Sul, que nasceram num cenário pós-apartheid, a nova lei brasileira dos trabalhadores domésticos é a mais abrangente e progressista do mundo.
          A maioria dos trabalhadores nos EUA --sejam eles domésticos, profissionais, de serviço e até os cada vez mais raros sindicalizados-- não tem os direitos que lhe são garantidos, pelo menos não formalmente.
          Só os Estados de Nova York e Havaí aprovaram leis que protegem trabalhadores domésticos, mas não tão abrangentes quanto a do Brasil. As Assembleias de Califórnia, Illinois e Massachusetts trabalham em projetos semelhantes, mas nenhuma lei chega perto da brasileira.
          O impacto socioeconômico da nova lei vai demorar um tempo. A importância mais profunda nos leva de volta a 1888 e ao legado da escravatura no Brasil. Nos EUA, Abraham Lincoln assinou a emancipação em 1863. Cem anos e uma guerra civil depois, Lyndon Johnson assinou as leis dos direitos civis e de voto.
          Nos últimos 50 anos, a maioria dos americanos de ascendência africana saiu do mercado de trabalho doméstico: os rankings são dominados por latinas, filipinas, africanas e, em menor número, brasileiras.
          Embora Barack Obama e sua mulher agora morem na Casa Branca, construída pelos ancestrais da própria Michelle Obama, o legado da escravatura nos EUA é palpável ainda hoje em índices desproporcionais de encarceramento, desemprego, pobreza, analfabetismo entre adultos, total de desabrigados e certas doenças. Vamos torcer para que o Brasil escolha outro caminho.

            Painel - Vera Magalhães

            folha de são paulo

            Data venia
            Decisão proferida em março por Joaquim Barbosa contradiz declaração recente do presidente do STF de que os embargos de declaração não podem alterar o julgamento do mensalão. Na ocasião, Barbosa negou a liberação dos bens de Duda Mendonça com a justificativa de que a absolvição do publicitário não era definitiva. Ele acatou argumento da Procuradoria-Geral da República de que poderia haver "modificação do julgado" nos embargos, tese da defesa que agora refuta.
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            Secessão Aécio Neves (PSDB-MG) criticou a aprovação de reforma do ICMS que opôs Estados do Sul e Sudeste ao resto do país. "É mais um assunto federativo que o governo deixa correr sem articulação. Esses temas deveriam ser tratados em conjunto'', diz o presidenciável.
            Tchê Prefeitos, vice-prefeitos e deputados do PMDB serão recebidos hoje no Palácio do Jaburu por Temer para manifestar apoio a Dilma Rousseff em 2014. A presidente foi convidada para o ato, organizado por Eliseu Padilha, ex-ministro de FHC.
            Let it be Em clima de reaproximação, Cid Gomes conversou três vezes anteontem com Eduardo Campos. O governador do Ceará convidou o pernambucano para assistir ao show de Paul McCartney em Fortaleza amanhã.
            Mantra Ministros do PT gravaram para o programa do partido, a ser exibido amanhã. Foram instruídos a martelar a ideia de que é possível fazer mais'' em suas falas.
            Zerado Eduardo Braga (PMDB-AM) e José Guimarães (PT-CE) cobraram de Eduardo Cunha (RJ) que o texto da medida provisória dos portos a ser votado hoje seja o mesmo da comissão especial. O líder do PMDB disse que o acordo não vale para o plenário.
            Do contra Em conversa com Michel Temer, Ideli Salvatti (Relações Institucionais) disse que Cunha se tornou o porta-voz da oposição.
            Sob pressão Embora o Bandeirantes evite criticar a nomeação de Guilherme Afif para o ministério de Dilma, é grande o desconforto no palácio. O vice-governador deve dizer antes da posse sobre se renunciará ao cargo.
            Vai lá Caberá a Carlos Giannazi (PSOL) questionar o acúmulo de funções. Ele pede hoje ao Ministério Público que represente contra Afif. "O cargo de vice-governador não é decorativo", diz.
            Puxadinho Recém-criada, a Secretaria da Micro e Pequena Empresa será sediada onde hoje funciona a Secretaria de Assuntos Estratégicos. A SAE, por sua vez, ficará no prédio do Ipea.
            Suporte Geraldo Alckmin assina hoje decreto instituindo o Transparência Paulista, programa para auxiliar prefeituras a viabilizar a criação de portais com dados sobre execução orçamentária, nos moldes do site do governo.
            Contra o relógio Por determinação legal, os municípios que não tiverem as informações disponíveis até 27 de maio ficam impedidos de receber verba de convênios. No Estado, 357 cidades já pediram ajuda para montar sites.
            Low profile Em breve conversa com Dilma, o recém-eleito diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, disse ser um "construtor de pontes". O governo foi comedido ao comemorar a vitória brasileira para facilitar acordo para nova rodada comercial.
            Visita à Folha Oded Grajew, coordenador-geral da secretaria-executiva da Rede Nossa São Paulo, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com Mauricio Broinizi Pereira, coordenador da secretaria-executiva, e Luanda Nera, assessora de comunicação.
            com ANDRÉIA SADI e PAULO GAMA
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            TIROTEIO
            "Não vivemos uma supremocracia'. A postura da corte em nada contribui para a tão necessária harmonia entre os Poderes."
            DO DEPUTADO DANILO FORTES (PMDB-CE), sobre mandado de segurança que só deverá ser levado a plenário por Gilmar Mendes na semana que vem.
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            CONTRAPONTO
            Trocando as bolas
            Em cerimônia no Ministério da Educação, o secretário Romeu Caputo (Educação Básica) confundiu a patente do general de divisão Fernando de Azevedo e Silva ao citá-lo entre os responsáveis pelo programa "Mais Atleta", que identifica alunos com alto rendimento esportivo.
            O secretário pediu desculpas por chamá-lo de coronel, mas o ministro Aloizio Mercadante (Educação), que é filho de militar, não perdeu a oportunidade.
            -- Se a reunião fosse no QG já tinha uma ordem de prisão, só por esse comentário inimigo! --brincou diante da plateia, que caiu na gargalhada.