segunda-feira, 11 de março de 2013

Sempre um Papo com Miriam Leitão e Sérgio Abranches


Miriam Leitão e Sérgio Abranches 12/03, terça-feira, às 20h00 | Local: Sesc Vila Mariana
O Sempre Um Papo abre a temporada 2013 em São Paulo com os jornalistas e escritores Miriam Leitão e Sérgio Abranches, debatendo o tema “A Literatura Depois do Jornalismo” e lançamento do livro “O Pelo Negro do Medo” (Ed. Record), primeiro romance de Abranches.

Escolhido como tema do mês, “A Literatura Depois do Jornalismo” será também discutida pelo casal Ruy Castro e Heloísa Seixas, no dia 26 de março, com lançamento do livro “Uns Cheios, Outros em Vão – Receitas que Contam Histórias” (Ed. Casa da Palavra), de Heloisa Seixas.

Além de casados, os convidados têm em comum a transição do jornalismo para a literatura em suas vidas. A ideia é discutir este processo, fazer analogias e tentar compreender como estas duas áreas do conhecimento se cruzam e convergem na vida dos jornalistas/escritores.

O Pelo Negro do Medo

O livro se passa num fim de semana na Paraty dos anos 80 em que um casal – ele escritor, ela compositora – vive seus medos e paixões. Mas o tempo breve do fim de semana se alonga, enquanto os dois são dominados pelas memórias de histórias, contadas e vividas que tecem a trajetória de décadas do Brasil: de país rural a urbano; das esperanças dos anos 1950 à repressão da ditadura; das mulheres que sublimam o amor às que aprendem a vivê-lo livremente. Na esquina, no entanto, há sempre o medo à espreita.

Sérgio Abranches é sociólogo (bacharelado e mestrado na Universidade Federal de Brasília), cientista político (PhD, Cornell University), colunista, comentarista e blogueiro. Começou a vida como repórter.

Miriam Leitão se formou na Universidade de Brasília, iniciou sua carreira em Vitória, estado do Espírito Santo, tendo atuado em diversos órgãos de comunicação, seja em jornal, rádio e televisão, tais como Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil, Veja, O Estado de S. Paulo, coluna Panorama Econômico de O Globo, Rádio CBN, Globo News e Rede Globo.

Sempre Um Papo

Há 27 anos, o "Sempre Um Papo – Literatura em Todos os Sentidos” promove a difusão do livro e seu autor. Já atuou em mais de 30 cidades brasileiras, tendo realizado mais de 4.500 eventos com um público presente estimado em 1,5 milhão de pessoas. O encontro presencial converge para a televisão, sendo exibido, todo sábado e domingo, há 10 anos, na TV Câmara. Desdobra-se para a série de DVDs educativos “Cultura Para a Educação”, em sua quinta edição, distribuída para mais de 6.000 escolas brasileiras. E no site www.sempreumpapo.com.br, estão disponíveis mais de 400 programas com escritores brasileiros e internacionais, gratuitamente, além de diversos seminários, na íntegra. Em parceria com o SESC, atua na capital paulista há sete anos.

Serviço: Sempre um Papo com Miriam Leitão e Sérgio Abranches Dia: 12 de março de 2012, terça-feira, às 20h Local: Sesc Vila Mariana - Rua Pelotas, 141 - Vila Mariana Informações: (11) 5080-3000 – www.sempreumpapo.com.br

Invisível, internet vai se incorporar a tudo e a todos

folha de são paulo

RAFAEL CAPANEMA
DE SÃO PAULO

Internet? Que internet?
Daqui a 30 anos, não se falará sobre a internet.
Daniel Almeida/Editoria de Arte/Folhapress
Não porque ela terá desaparecido, mas porque, como a eletricidade, será invisível.
Estará nas roupas, nos móveis, nos carros -e tudo e todos estarão interconectados.
A visão da chamada "internet das coisas", que já se desenha hoje, é encampada por futurólogos e por um dos pais da rede, Vint Cerf, atualmente "evangelista-chefe da internet" no Google.
Questionado pela Folha por e-mail sobre o futuro da rede, Cerf respondeu com uma enxurrada de previsões.
"A internet das coisas será a norma. Dispositivos móveis encolherão ainda mais. Usaremos voz e gestos e teremos conversas semânticas com nossas 'coisas'. A busca vai se transformar em um diálogo. Implantes oculares e espinhais serão prática normal. Você entrará em um carro que dirige sozinho e discutirá aonde quer ir e, talvez, sobre a rota que prefere."
Para Patrick Tucker, editor-adjunto da revista "The Futurist", nossa convivência ainda mais ostensiva com a internet nos fará sentir que a vida sem ela é "insuportável".
Daniel Almeida/Editoria de Arte/Folhapress
"Os dados que criaremos por meio de cada movimento, cada escolha e cada ação serão lembrados, e uma rede gigante usará essa informação em nosso benefício, para nos deixar mais saudáveis, mais confortáveis e mais produtivos. A internet se tornará parte do nosso mundo 'natural', como a luz do sol, a sombra e o vento."
O futurólogo Daniel Burrus, consultor estratégico do Google, da IBM e da Microsoft, dá um exemplo prático de como a internet das coisas facilitará nossas vidas.
"Haverá sensores inteligentes no cimento. Uma ponte poderá informar que está rachando e que deve ser reparada. Se a pista estiver escorregadia, a ponte avisará ao seu carro que você deve reduzir a velocidade."
De acordo com Burrus, objetos triviais, como a mesa da cozinha e o espelho do banheiro, funcionarão como computadores, e teremos assistentes eletrônicos, como o Siri, da Apple, e o Now, do Google, ainda mais inteligentes e proativos.
Nem tudo, é claro, será doce e feliz: os futurólogos também oferecem algumas perspectivas sombrias.
Além do fim da privacidade como a conhecemos hoje (leia abaixo), eles preveem o recrudescimento de episódios de ciberguerra, como o Stuxnet, supervírus de computador usado para um ataque estatal às instalações do programa nuclear do Irã.
Cerf teme ainda ataques virtuais a sistemas públicos essenciais, como eletricidade e transporte.
REDE INTERPLANETÁRIA
Além de fazer previsões extraterrenas que transcendem a rede de computadores (mineração de asteroides e hotéis espaciais), Cerf afirma que a internet interplanetária evoluirá e se expandirá para outros planetas --o sistema, em fase de protótipo, já está em operação em Marte.
Quer dizer que poderemos conversar com seres extraterrestres pela internet?
"Não, não tem nada a ver com comunicação com alienígenas", diz Cerf, que chegou a vislumbrar essa possibilidade na conferência TED, no mês passado.
"A internet interplanetária permite a comunicação de espaçonaves em um ambiente de rede", explica Cerf. "Seu objetivo é apoiar a exploração humana e robótica do Sistema Solar."

http://www1.folha.uol.com.br/tec/1243374-rede-sociais-vao-hospedar-ainda-mais-intimidades.shtml

Luli Radfahrer

folha de são paulo

Perdido em 2043
Nada mudou tanto quanto a medicina; sangue, ossos e até órgãos artificiais crescem em laboratórios
Da janela tudo parecia igual. Na rua, a mudança era grande. Os carros não tinham pilotos. O ar parece limpo. As pessoas, sujas. E magérrimas. Dava para confundi-las com moradores de rua.
Elas aparentam ter uns 30 anos, me surpreendi ao saber que tinham mais de 70. Estavam na flor da idade, pois a expectativa de vida ultrapassava os 120.
Meu intérprete diz que a magreza contribuía para a longevidade e que a "sujeira" era biotecnologia, explorando micro-organismos na pele e cabelo e protegendo-os de agentes nocivos como álcool e sabões. Ele é um robô, tem a forma de um papagaio. Pousado no ombro, me faz parecer um pirata.
Apesar de ridículo, não me deixariam sair sem ele -por segurança, disseram, mesmo que o crime físico estivesse quase erradicado por ali.
"Come-se muito pouco, alguns nem dormem", continua ele, enquanto eu comia um prato com cheiro e gosto estranhos, que parecia lasanha de micro-ondas.
Era carne sintética, tecnologia que multiplicou a produção de alimentos para atender os 9 bilhões. Boa parte da comida era geneticamente modificada, reciclada ou criada em laboratório.
Disseram que era nutritiva e livre de toxinas, o que pareceu bom demais para ser verdade.
É difícil descrever o impacto de tantas máquinas inteligentes, onipresentes, no cotidiano. De roupas climatizadas e sempre limpas a fachadas de prédios mutantes, tudo parece piscar e pular.
Não há computadores, celulares ou óculos. O software acompanha seu usuário na forma de "foglets", névoas de nanomáquinas que se configuram conforme a necessidade das pessoas. Não me acostumei com elas, por isso o papagaio.
Ele me conta das mudanças ocorridas nas três últimas décadas. Quase toda instituição teve de se reformular depois que surgiram a energia gratuita e a nanotecnologia, limpando o ar, reciclando o lixo e gerando um volume quase infinito de recursos.
Nada mudou tanto quanto a medicina. Sangue, ossos e órgãos artificiais crescem nos laboratórios, são adaptados ao DNA de seus usuários e trocados desapegadamente em funilarias humanas. Privadas identificam doenças e previnem cânceres. Neurocosméticos rejuvenescem a pele. Teme-se a eugenia, armas e drogas perigosas.
O papagaio, fui descobrir, me vigiava. Visitante de outra época, sem histórico, eu era imprevisível.
Em 2043 boa parte da vida pessoal é monitorada, não se fala em privacidade. Os espaços comuns são de propriedade privada, toda comunicação é registrada e interpretada.
Muito do que chamam de memória é só armazenamento sem reflexão. Infraestruturas lembram de tudo, e como não esquecem, não perdoam. Perdidas, muitas pessoas parecem sós, frágeis, infantilizadas, formatadas por mecanismos de busca e objetos de consumo.
Alguns, cansados das inconsistências humanas, recorrem a relações artificiais com máquinas. Do sexo enriquecido aos bebês que nunca crescem, tudo é artificialmente sereno.
O Mundo Novo parece tão Admirável quanto assustador. No "Tec", que tem 60 anos, continuamos a analisar o impacto da tecnologia no que teimamos em chamar de natureza humana.

O Congresso deve respeito - RENATO JANINE RIBEIRO

Valor Econômico - 11/03/2013


Por que o Poder em tese mais democrático se interessa tão pouco pelo que o povo pensa?


Num regime baseado no equilíbrio entre os Poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - teoricamente o mais democrático dos três deveria ser o Legislativo. Sobre a Constituição norte-americana, diziam alguns teóricos da época que nela o presidente seria o elemento monárquico, por ser um só, embora eleito; o Judiciário, o aristocrático, composto que é pelos mais capazes e formado por cooptação; e o Poder Legislativo, o democrático, representando a diversidade de ideias do povo. Não é por acaso que o Legislativo é o único Poder que, por natureza, precisa ter representantes da oposição. Mas tudo isso, teoricamente.

Na prática, basta colocar uma questão: Blairo Maggi se sustentaria como ministro do Meio Ambiente num governo do PT ou do PSDB? Improvável. E Marcos Feliciano chegaria a ministro dos Direitos Humanos, sob qualquer um desses partidos? Impossível. Então, como é que o Senado e a Câmara, que - sempre teoricamente - deveriam escutar de perto a opinião pública, elegem para dirigir essas áreas pessoas que jamais ocupariam, no Executivo, posto correspondente?

O Legislativo se importa pouco com a opinião pública. Tivemos um sinal disso quando o Senado elegeu Renan Calheiros seu presidente, apesar de contestado pela sociedade: um abaixo-assinado contra ele alcançou, em poucos dias, 1,6 milhão de assinaturas.


Vemos um esvaziamento do Legislativo. Mas minha tese é que é sobretudo um auto-esvaziamento. É comum se denunciar a invasão, pelo Executivo e agora pelo Judiciário, das prerrogativas das Casas de leis. É fato que as medidas provisórias assinadas pela presidência da República dominam a agenda legislativa, pelo menos em relevância. Mas isso não aconteceria se as duas Casas mostrassem que estão fazendo coisas importantes pelo País.

A principal responsabilidade para que o Legislativo tenha o peso que precisa ter é dele próprio. Não adianta culpar o Executivo, porque chamou para si a atividade de legislar - ou o Judiciário, porque se mete em questões interna corporis - quando o próprio Legislativo descuida de sua importante missão. Esse descaso consigo, e com os votos dos brasileiros que o elegeram para representar sua diversidade, suas divergências, se expressa quando ele indica para cargos de direção pessoas que conseguem rejeição significativa logo nas áreas que estariam dirigindo.

O pior é que as comissões em questão são justamente as de maior conteúdo ético, meio ambiente e direitos humanos. (Poderíamos acrescentar as da igualdade racial e dos direitos da mulher - mas a missão delas, que é assegurar a igualdade étnica e de gênero, é temporária, deve se completar em alguns anos). Já o meio ambiente e os direitos humanos definem lutas sem fim, e a finalidade dessas lutas. Definem o centro do que pode ser a ética pública. Não seria exagero dizer que são elas que dão sentido global à ação de governo. Nosso mundo entrou para valer nos direitos humanos. As relações entre nós são cada vez mais discutidas nos termos deles. Incluem direitos políticos, civis e cada vez outros novos, inclusive o de ser respeitado até na vida privada. As grandes questões sociais da atualidade se expressam na linguagem dos direitos do homem. A redução da miséria, querida da esquerda, é um exemplo cabal disso. O combate à corrupção, bordão da direita, outro. Se o parlamento amesquinha as comissões que tratam dos fins da ação política, deixa os meios sem rumo, sem sentido.

O meio ambiente trata das relações que mantemos com a esfera da vida, da qual fazemos parte. A vida se tornou valor importante. Vejam dois exemplos sem nexo entre si: primeiro, o declínio da pena de morte no mundo; segundo, a valorização da biodiversidade como fator científico, cultural e econômico. Assim, o "bios" ou vida é o eixo para desenvolver a economia futura, e os direitos, o fundamento para tornar justas as relações humanas. E tudo isso anda junto.

Eis o que foi desdenhado pelos senadores, ao escolherem o presidente da comissão do Meio Ambiente, e pelos deputados, ao elegerem o presidente da comissão de Direitos Humanos. Colocaram-se frontalmente contra o que é mais carregado de futuro em nosso tempo. Optaram decididamente pelo retrocesso.

Então, não é o Congresso que nos protege de desmandos do Executivo, como sucedeu por exemplo na era Collor. É mais frequente o Executivo nos proteger de erros do Legislativo. No ano passado, foi o caso do Código Florestal, outra escolha do Congresso pela vantagem imediata de poucos, contra o bem comum a longo prazo. Isso tudo é, obviamente, muito ruim. Não desconheço a legitimidade de quem é eleito para a presidência da República. É a única eleição em que o voto de cada brasileiro tem o mesmo peso. Mas lastimo que uma única pessoa, investida já de tantos poderes, tenha que corrigir erros do poder que deveria ser o mais nobre segundo a Constituição. O certo seria o inverso.

Quem responde por isso? Antes de mais nada, parece ser o PMDB. Foi ele quem impôs Calheiros e, agora, o pastor Feliciano. O PT, embora seus deputados se recusassem a votar em Feliciano, aceitou - enquanto partido - a entrega dos direitos humanos a alguém com seu histórico. Já o PSDB não quis, quando pôde, enfrentar essas escolhas; basta ver que não votou, para a presidência do Senado, contra Calheiros, no senador Pedro Taques, homem que tem forte biografia no combate ético. Mas, só para concluir: ninguém sonhe com o parlamentarismo no Brasil, enquanto o Congresso não mostrar que merece ter mais poder do que já tem.

País tem deficit de 1.800 geneticistas, diz estudo

folha de são paulo

Levantamento aponta para dificuldades de diagnóstico de doenças raras
Ministério da Saúde estuda facilitar a aprovação das drogas usadas nos tratamentos dessas enfermidades
GIULIANA MIRANDADE SÃO PAULOTer uma doença rara no Brasil significa perambular por muito tempo para conseguir um diagnóstico preciso e ter dificuldades de acesso ao tratamento.
A constatação é de um levantamento da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa), lançado hoje em São Paulo.
As doenças raras atingem cerca de 6 pessoas a cada 10 mil. Quase 80% dessas moléstias têm origem genética.
Estima-se que haja 13 milhões de brasileiros com alguma das cerca de 7.000 doenças raras existentes -75% delas se manifestam antes dos cinco anos.
Como esperado de um texto feito pelas farmacêuticas, uma das principais questões é o acesso aos remédios.
A maioria das drogas para as doenças raras são de alto custo e sem tratamento similar -são as chamadas drogas órfãs. No entanto, enfrentam os mesmos critérios de avaliação de outras drogas para serem incorporadas no SUS (Sistema Único de Saúde).
"Como são doenças raras, os testes clínicos não têm a quantidade mínima de participantes ou não há droga similar para comparar resultados", explica Maria José Delgado, diretora de Inovação e Responsabilidade Social da Interfarma.
Além disso, para entrarem no SUS essas drogas precisam constar nos protocolos clínicos do Ministério da Saúde.
Dos 18 protocolos de atendimento a esses problemas realizados sob a política de doenças raras, só um prevê a oferta de uma droga modificadora da doença, o de doença de Gaucher. Os demais incluem drogas convencionais que amenizam os sintomas.
Hoje há 14 drogas aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para doenças raras e que não foram incorporadas à rede pública, levando os pacientes a batalhas judiciais.
"Sem uma política de atenção integrada, tudo isso fica nas mãos dos juízes, que precisam tomar decisões sobre tratamentos de alta complexidade", diz Antônio Britto, presidente da Interfarma.
DIAGNÓSTICO
A demora enfrentada por boa parte dos pacientes para conseguir um diagnóstico se deve a fatores como a escassez de geneticistas e a concentração dos centros de referência no Sul e Sudeste, segundo o relatório.
No Brasil, há cerca de 200 geneticistas -um para 1,25 milhão de pessoas. Segundo a conta da Interfarma, baseada em estimativa da Organização Mundial da Saúde, faltam 1.800 geneticistas.
O relatório pede ainda a criação de uma política nacional que integre os centros estaduais e ofereça diretrizes e regras mais claras para o tratamento dessas doenças.
Helvécio Magalhães, secretário de atenção à saúde do Ministério da Saúde, reconhece que o diagnóstico e a incorporação de drogas órfãs no SUS têm problemas, mas diz que o governo está trabalhando para solucioná-los.
As mudanças de critério para a incorporação no SUS estão em estudo e ele diz que há planos de expandir os centros de referência para outros Estados, ainda sem prazo.
Familiares de pacientes, no entanto, cobram urgência.
"Os tratamentos para essas doenças são caríssimos. Quem pode pagar R$ 40 mil por mês por medicação?", diz Regina Próspero, presidente da Associação Paulista dos Familiares e Amigos dos Portadores de Mucopolissacaridoses e mãe de dois filhos com o problema.

    Luiz Carlos Bresser-Pereira

    folha de são paulo

    Transferência de mão de obra
    A verdadeira infecção da economia brasileira é a taxa de juros alta e o real sobreapreciado
    O Brasil cresce muito pouco. Desde 1990, a renda per capita cresce a uma taxa de 1,7% ao ano, contra 4% entre 1930 e 1980; no último ano, cresceu apenas 0,9%; a taxa de investimentos patina em torno de míseros 18%, e o Brasil se desindustrializa prematuramente, não obstante a economia esteja próxima do pleno emprego. Que fazer diante desse quadro no qual também a dinâmica baseada no consumo já está se esgotando?
    O doente principal é a indústria; nos últimos dois anos, a indústria vem decrescendo em termos absolutos, e desde os anos 1980 vem diminuindo sua participação no PIB.
    E, no entanto, o que ouço de alguns de seus líderes são frases como: é preciso diminuir os custos de produção da indústria, é preciso investir na infraestrutura e na educação, é preciso reduzir as despesas de custeio do governo. E quanto aos juros e ao câmbio? Ah, sim, o governo já fez o que era possível fazer
    Ao ler "soluções" desse tipo, não posso deixar de pensar em um médico que, diante de uma infecção grave de seu paciente, ao invés de lhe receitar antibiótico, recomenda que se alimente de forma mais saudável e faça exercícios diários.
    As melhorias recomendadas do lado da oferta correspondem ao que o governo e as empresas já estão fazendo, porque há consenso na sociedade de que essas ações são necessárias. E nenhum país se desindustrializa pela falta delas. Na verdade, desde 1985 o Brasil vem realizando um grande esforço na área da educação, desde 1999 suas contas fiscais foram equilibradas e, desde que o PAC foi criado, tudo o que é possível vem sendo feito na área da infraestrutura.
    Ainda que tenha havido alguma melhoria nesta área no atual governo, a verdadeira infecção da economia brasileira é a taxa de juros alta e o real sobreapreciado. É isso que desconecta as empresas eficientes do mercado externo e também do interno -e que provoca a desindustrialização. Por que o empresário eficiente investirá para aumentar a produção, se é mais barato importar os componentes e apenas montar os bens que antes fabricava?
    E é essa mesma sobreapreciação cambial que explica por que há pleno emprego com baixo crescimento. A apreciação aumenta artificialmente os salários e o consumo e cria demanda no setor de serviços internos. E, assim, provoca a transferência da mão de obra da indústria para eles, ou seja, de um setor com alto valor adicionado per capita para um setor com baixo valor adicionado per capita. Ora, o aumento da produtividade decorre do inverso: da transferência da mão de obra de setores pouco sofisticados tecnologicamente, que pagam baixos salários, para setores com maior sofisticação tecnológica, que adicionam maior valor per capita à produção e pagam salários mais altos.
    Logo, essa transferência perversa de mão de obra para os serviços explica o pleno emprego associado a baixo crescimento. Por outro lado, o consumo ainda relativamente aquecido foi capturado pelas importações. Logo, se continuarmos a acreditar que "tudo o que era possível fazer em matéria de juros e câmbio já foi feito", só restam à economia brasileira duas coisas: baixo crescimento e desindustrialização.

      TV PAGA

      Estado de Minas - 11/03/2013

      Casal improvável
      Imagina o Mickey Rourke pegando a Megan Fox… Brincadeira, que cara de sorte! Mas calma, isso é só na ficção, mais precisamente no drama O anjo do desejo (foto), que estreia hoje, às 22h, no Telecine Premium. O deformado ex-galã é Nate, um trompetista que se apaixona por Lily, uma garota de circo. Quando decide fugir de um mafioso, Nate pede a Lily que vá com ele. Para viver esse amor, os dois terão que escapar do bandido e do dono do circo, que não quer perder sua atração principal.

      Muitas alternativas na
      programação de filmes

      Também na faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: J. Edgar, na HBO 2; Meia-noite em Paris, na HBO HD; Guerra é guerra!, no Telecine Pipoca; A vida marinha com Steve Zissou, no Telecine Cult; Busca implacável, no FX; Perigo em Bangkok, na MGM; Premonição 4, no Space; e O enigma de outro mundo, no TCM. Outros destaques da programação: Minha noiva é uma extraterrestre, às 21h, no Comedy Central; As crônicas de Nárnia – A viagem do Peregrino da Alvorada, às 22h30 na Fox; e Insanatório – Quem entra não sai, às 23h, no AXN.

      Justified emplaca seu
      quarto ano no Space

      Estreia hoje, às 21h, no canal Space, a quarta temporada de Justified, produção ganhadora de dois prêmios Emmy, estrelada por Timothy Olyphant. Criação do roteirista Graham Yost, a série é inspirada nos livros Pronto e Riding the rap, do escritor norte-americano Elmore Leonard. Raylan Givens (Olyphant) mostrará que, além de ser o policial com a melhor pontaria de Kentucky, as loiras continuam fazendo parte de sua vida. E desta vez será Elizabeth Mitchell, uma caçadora de recompensas, que conquistará o coração duro de Givens.

      Gloob exibe série de
      animação brasileira

      No canal Gloob, estreia hoje, às 11h, a animação nacional Nilba e os desastronautas, da produtora 44 Toons. A série conta as aventuras do jovem comandante estelar Nilba e a tripulação da S. S. Geniwald, acidentada num pequeno, remoto e desconhecido ponto das galáxias: a Lua Ervilha, um minúsculo astro celeste que mostra a cada episódio novos perigos intergaláticos e desafios malucos enquanto os desastronautas tentam voltar para o planeta Terra.

      Os reis dos patos vai
      ter sequência no A&E

      No A&E, a grande novidade é a estreia da segunda temporada de Os reis dos patos, às 22h. A produção tem como protagonistas os barbudos da família Robertson, que dizem que manda lá pelos lados da Louisiana, no Sul dos Estados Unidos. No NatGeo Wild, a Semana das amizades insólitas vai de hoje a sexta-feira, às 21h10, com cinco episódios sobre como os animais se relacionam entre eles e com os seres humanos, começando esta noite com “Cães e animais silvestres”.

      SescTV abre espaço
      para Rafael Martini

      O compositor, arranjador e multi-instrumentista mineiro Rafael Martini é o artista da vez da série Instrumental Sesc Brasil, hoje, às 22h, no SescTV. De formação erudita, Martini se interessa também por música popular. Ganhador do Prêmio BDMG Instrumental e do Prêmio Nacional Ibeu de Composição para Big Band (RJ), ele toca piano ao lado de Alexandre Andrés (flautas), Joana Queiroz (clarineta e clarone), Jonas Vítor (saxofone), Trigo Santana (contrabaixo) e Antônio Loureiro (bateria).

      "Falar de Gonzagão é falar do Nordeste" - Ana Clara Brant‏

      Projeto Sempre um Papo faz homenagem a Luiz Gonzaga. Durante o encontro serão sorteados 40 exemplares do livro que o artista plástico e poeta Bené Fonteles escreveu sobre o Rei do Baião


      Ana Clara Brant

      Estado de Minas: 11/03/2013 

      Luiz Gonzaga é tema de um encontro inédito que acontece hoje à noite no projeto Sempre um Papo entre três figuras que se envolveram intensamente com o universo do Rei do Baião: o dramaturgo João Falcão, diretor do espetáculo Gonzagão, a lenda; em cartaz em Belo Horizonte; o jornalista Carlos Marcelo, coautor de O fole roncou! Uma história do forró (Ed. Zahar); e o artista plástico, poeta e curador Bené Fonteles, autor de O rei e o baião (Ed. Fundação Athos Bulcão)”, obra que, inclusive, terá 40 exemplares sorteados entre os presentes.

      Coordenador das comemorações do centenário de Gonzagão, celebrado em 2012, Bené Fonteles pensava nessa publicação desde os anos 1970 e ficou extremamente satisfeito pelo fato de o livro ter servido como referência para vários estudiosos, músicos, jornalistas e documentaristas, inclusive Breno Silveira, diretor do filme Gonzaga – De pai pra filho. Além de analisar a herança cultural nordestina recriada por Luiz Gonzaga e seus parceiros, suas conquistas e desdobramentos, o livro reúne ensaios do próprio Bené, de Antonio Risério, Elba Ramalho, Gilmar de Carvalho, Hermano Vianna e Sulamita Vieira, com apresentação de Gilberto Gil.

       “Eu queria fazer algo imagético com xilogravuras, fotos, imagens. Editorialmente, nunca tinha sido lançado um livro como esse sobre um artista brasileiro. Como ele foi produzido com recursos do Fundo Nacional de Cultura, não pode ser comercializado, e por isso distribuímos para pesquisadores, os herdeiros do Gonzaga, bibliotecas e museus”, explica Fonteles.

      Bené Fonteles destaca ainda a importância do Velho Lua e sua influência na cultura brasileira e como ele conseguiu fazer um movimento inverso, que foi o de levar o Nordeste para o Sul do país. “Ele conseguiu penetrar em praticamente todos os lugares. Gonzaga era um homem extremamente inteligente, e um mote para compreender a cultura nordestina. Ele ajudou a criar o segundo ícone pop brasileiro depois de Carmen Miranda, que é aquele personagem do vaqueiro com o qual ficamos tão acostumados”, conclui.

      Em voga Autor de O fole roncou! Uma história do forró, em parceria com o também jornalista Rosualdo Rodrigues, Carlos Marcelo (editor-chefe do Estado de Minas) acredita que as comemorações dos 100 anos de Gonzagão despertaram um interesse maior não só em relação a ele, como também a vários artistas nordestinos e que inclusive a nova geração está descobrindo. O livro, que estará à venda no local, reconstitui a trajetória do forró por meio de mais de 80 entrevistas e documentos inéditos, narrando episódios marcantes da vida artística e pessoal não só de Gonzagão como também de Jackson do Pandeiro, Marinês, Dominguinhos, Trio Nordestino, Genival Lacerda e Antônio Barros, entre outros.

      Os autores vão dos anos 1930 aos dias atuais e ressaltam ainda a importância de artistas como Elba Ramalho, Alceu Valença e Fagner na continuidade dessa história, desdobrada nos últimos anos com o surgimento do forró eletrônico, no Ceará, e do universitário, em São Paulo. “Vou falar um pouco do que está no livro, e destacar os parceiros e quem conviveu com Gonzagão. Ou seja, abordar essas pessoas que orbitavam em torno do Rei do Baião, que são figuras que merecem ser lembradas e conhecidas. O bacana desse trabalho é que muitos leitores estão me dando retorno e comentando que esse é um pedaço da história que merecia ser contado”, observa Carlos Marcelo.

      O outro convidado do bate-papo é o roteirista, dramaturgo e compositor pernambucano João Falcão, responsável pela adaptação e direção do musical Gonzagão – A lenda, em cartaz no Teatro Bradesco.

      100 ANOS DE GONZAGÃO

      Hoje, às 19h30, no Teatro Bradesco (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes), com Bené Fonteles, Carlos Marcelo e João Falcão. Entrada franca. Informações: (31) 3261-1501 e www.sempreumpapo.com.br

      Cego recebe homenagem por ser frequentador mais assíduo de biblioteca em SP

      folha de são paulo

      FOCO
      Em dois anos, Sérgio Florindo, 52, que perdeu visão por problema congênito, ouviu quase metade dos 1.189 audiolivros de instituição
      JAIRO MARQUESDE SÃO PAULOPela segunda vez consecutiva, o homenageado como um dos frequentadores mais assíduos da Biblioteca de São Paulo, uma das mais importantes do Estado, foi um leitor que não usou os olhos para conhecer as aventuras de "Dom Quixote" ou os desbravamentos de "O Tempo e o Vento".
      Sérgio Florindo, 52, é cego desde o nascimento e, com a audição, devorou em dois anos quase metade da coleção de 1.189 audiolivros disponíveis na instalação que completou três anos no mês passado e já foi visitada por quase 1 milhão de pessoas.
      "Não aprendi braile na infância. Tinha vergonha de ser cego e escondia isso. Amigos ajudavam emprestando seus olhos e liam para mim", diz.
      O primeiro livro que o ex-trabalhador de estoque de perfumaria, hoje aposentado, teve contato foi "A Morte e a Morte de Quintas Berro D'Água", de Jorge Amado.
      "Um grande companheiro leu tudo para mim. Foi emocionante e me apaixonei por literatura. Mas, na vida adulta, foi ficando complicando achar voluntários", lembra.
      A guinada na vida literária veio só aos 50, quando a filha Larissa, 26, tecnóloga de gestão da tecnologia da informação, descobriu os audiolivros na biblioteca perto de casa.
      É ela quem leva o pai até o Parque da Juventude, na zona norte, para se encontrar com seus autores favoritos: Graciliano Ramos, Miguel de Cervantes e Carlos Drummond.
      Em média, Florindo escuta dez livros por semana. O recorde foram três em um dia. "Nós cegos não vemos o tempo passar", brinca ele, que perdeu a visão por um problema congênito na retina.
      POUCOS TÍTULOS
      Ele lamenta o "baixo número de títulos" disponíveis em áudio. "Deveria ser obrigatório que todo livro lançado tivesse versão em áudio, o que mudaria muitas vidas."
      Na semana passada, recebeu certificado de conclusão do ensino médio, após ter tido bom resultado no Enem. Pretende fazer faculdade de comunicação. "Os livros trazem imagens novas para o meu mundo. Consigo criar conceitos inéditos de lugares, de pessoas e de fatos."

        Escolha do nome indica perfil e missão na Igreja - Gustavo Werneck


        Estado de Minas: 11/03/2013 


        – Aceitas tua eleição canônica como Sumo Pontífice?, – pergunta o cardeal diácono, em nome de todo o colégio de eleitores, ao papa eleito.
        – Aceito em nome do Senhor.
        – E como quer que te chamemos?

        Quando dá a resposta, ao fim do conclave, o papa eleito mostra a sua escolha e pode indicar também, com o novo nome, o seu rumo na Igreja Católica. Ao ser eleito, em 19 de abril de 2005, Joseph Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, se tornou Bento XVI. “São Bento é o padroeiro da Europa e, dessa forma, o Santo Padre, num primeiro momento, demonstrou ao mundo que algumas das suas grandes preocupações eram a secularização, a indiferença religiosa e o ateísmo que ameaçavam o coração dos fiéis no continente”, conta o padre Luís Henrique Eloy e Silva, professor de exegese bíblica da PUC Minas, em Belo Horizonte, e assessor da Comissão de Doutrina da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Mais duas razões tiveram peso na decisão do papa, conforme declarou, na época, o cardeal de Viena Christoph Schönborn: o fato de São Bento ter sido um homem de grande fé e ter Cristo como centro de sua vida.

        Para mostrar essa relação estreita entre a escolha do papa e o trabalho que ele vai desenvolver até o fim dos seus dias – ou até que renuncie –, o padre Luís Henrique cita a frase em latim “Nomen omen est”, que significa “O nome traz uma missão consigo”. No caso de João Paulo I (1912–1978), apelidado de Papa Sorriso e falecido um mês depois de eleito, houve uma dupla homenagem. “Ao papa João XXIII (1881–1963), que era um homem de grande bondade e convocou o Concílio Vaticano II (1962–1965), e a Paulo VI (1897–1978), empenhado em continuar a missão do seu antecessor”, explica padre Luís Henrique, que estudou durante oito anos em Roma e, em 2008, foi nomeado, por Bento XVI, perito no sínodo sobre a palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, no Vaticano.

        João Paulo II (1920–2005) gostou da ideia, veio nessa linha e manteve a tradição no nome, embora tenha inaugurado a era dos papas peregrinos, mostrando, em vários cantos da terra, no Brasil inclusive, um enorme carisma. “Vamos esperar o nome que Sua Santidade vai escolher, pois, de imediato, vai nos apontar a trilha que pretende seguir”, diz o padre. As preocupações do Sumo Pontífice poderão se voltar para uma reforma interna da Igreja, grandes questões fora dela ou para uma ponte entre as dificuldades internas e o diálogo com o mundo pós-moderno. Ao longo dos séculos, os nomes adotados com mais frequência pelos eleitos são: João (23 vezes), Gregório e Bento (16), Clemente (14), Inocêncio (13), Leão (13), Pio (12), Estêvão e Bonifácio (9) e Urbano e Alexandre (8).

        PIONEIRO Nos primeiros tempos, os papas não mudavam de nome, tanto que Pedro, o fundador da Igreja, permaneceu Pedro até ser canonizado e se tornar São Pedro. O pioneiro foi o papa João II, líder dos católicos entre 533 e 535, e que resolveu adotar o nome de um pontífice anterior. O motivo para a troca era bem oportuno: os pais o batizaram Mercúrio, nome de uma divindade pagã, e não ficava bem um papa evocando a mitologia greco-romana. O legado maior de João II foi a regulamentação da eleição dos papas.

        Quatrocentos e cinquenta anos depois, foi a vez de um cardeal chamado Pedro Canepanova ter a mesma ideia. Mas, na hora de trocar de nome, viu que ficaria mal ser o papa Pedro II, um nome exclusivo do primeiro vigário de Cristo na terra. Então se tornou João XIV. Padre Luís Henrique explica que a troca de nome só se tornou comum a partir de 1009. A única exceção foi para o papa Marcelo II, nascido Marcelo Cervini e que, ao ser escolhido em 1555, preferiu manter o nome de batismo.

        NÃO ACEITO

        O curioso é que ao ser perguntado pelo cardeal diácono se aceita ser papa, o eleito pode simplesmente responder: “Não”. Paciência, pois deverá ser feita nova votação. Se a resposta for sim, ele receberá o ato de obediência dos cardeais, que, segundo a reforma feita por João Paulo II, não é mais feita de joelhos, mas de pé. Depois disso, as cédulas com os votos serão queimadas e, logo em seguida, a fumaça branca riscará os céus romanos ao som dos sinos da Basílica de São Pedro anunciando que habemus papam! (temos um papa). Na sequência, o primeiro dos diáconos irá à varanda da basílica para dizer: “Anuncio-vos com a maior alegria! Temos papa! Eminentíssimo e reverendíssimo senhor, senhor (primeiro nome), cardeal da Igreja Católica Romana (sobrenome) que escolheu para si o nome de (nome papal).

        População com capacidade de trabalhar é maior em BH‏

        Pesquisa mostra que 60,4% das pessoas da região estão em idade economicamente ativa, maior percentual entre as metrópoles brasileiras. Indicador favorece o baixo desemprego 


        Paulo Henrique Lobato

        Estado de Minas: 11/03/2013 

        Seis em cada 10 moradores da Grande BH fazem parte da chamada População Economicamente Ativa (PEA), indicador que leva em conta tanto o universo de trabalhadores quanto o de quem está à procura de emprego. É o maior percentual (60,4%) entre as seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): além de BH, Recife (51,4%), Salvador (54,8%), Rio de Janeiro (55,1%), São Paulo (59,6%) e Porto Alegre (57,2%). Os índices, compilados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), significam que na capital mineira e entorno há um grande volume de mão de obra à disposição das empresas. Mas empresários alertam que quantidade não é sinônimo de qualidade e que muitos setores, como o de comércio e o da construção civil, penam com a falta de trabalhadores capacitados.

        O IBGE tabulou a PEA das seis regiões nos últimos 10 anos e concluiu que o indicador subiu 27,5% na Grande BH – em 2003, a capital mineira ocupava a quarta posição (56,3%). Uma das consequências desse crescimento é a manutenção da taxa de desemprego na Grande Belo Horizonte em nível baixíssimo se comparado com a média nacional. Para se ter ideia, em janeiro passado a taxa foi de 4,2% na capital mineira e de 5,4% no restante do Brasil. É mostra de que a economia da Grande BH está aquecida, principalmente, em razão da dupla comércio e serviços, que responde por 83% do Produto Interno Bruto (PIB) da capital.

        “O setor comércio/serviços é muito forte na Grande BH”, reforça Luciene Longo, analista do IBGE. Uma das moradoras da capital que se deram bem nesse ramo foi Myrian Buenos Aires Moutinho. Em 2012, ela se tornou sócia da PwC, que presta consultoria para centenas de empresas do Brasil e do exterior. Formada em ciências contábeis, ela entrou na empresa, há 15 anos, como trainee. Sua dedicação e competência a fizeram subir alguns cargos na PwC, que emprega cerca de 150 pessoas em Belo Horizonte. E o número deve aumentar nas próximas semanas, pois, até 25 de março, a organização estará recebendo inscrições para preenchimento de 15 a 20 vagas.

        MEIA IDADE “É um caminho em que a pessoa precisa se superar a cada dia, se preparar sempre”, orienta Myrian, que tem 37 anos. A PEA da faixa etária na qual ela se encontra, de 25 a 49 anos, foi a segunda que mais cresceu entre os grupos pesquisados pelo IBGE, no período de 10 anos, na Grande BH. De 2003 a 2012, a população economicamente ativa na capital mineira e cidades vizinhas subiu 26,8%. Novamente foi o maior avanço entre as regiões metropolitanas. A faixa etária com maior variação nesse intervalo foi a do grupo de homens e mulheres com mais de 50 anos, numa mostra de que a expectativa de vida do brasileiro está aumentando e de que muitos trabalhadores se aposentam e continuam na ativa.

        Tanto é que, na última semana, outro estudo do Ipea concluiu que os homens, depois de se aposentarem, trabalham em média por mais sete anos e três meses. As mulheres, mais cinco anos e quatro meses. “Quem tem 60 anos de idade, nos dias de hoje, é diferente de quem tinha 60 anos há algumas décadas. O pessoal está cuidando mais da saúde”, avalia Luciene Longo, do IBGE. No estudo, os técnicos do instituto concluíram que “em dez anos, o aumento da participação do grupo de 50 anos ou mais de idade (61,2%) foi o mais expressivo, tendo sido verificado em todas as regiões metropolitanas, com destaque para Salvador e Belo Horizonte, com crescimentos de 88,7% e 83,5%, respectivamente. As menores variações no período foram registradas no Rio de Janeiro (45,5%) em Porto Alegre (50,9%)”.

        JOVENS Curiosa é a variação da PEA na faixa etária de 18 a 24 anos. A Grande BH foi a única região com taxa positiva entre 2003 e 2012 (0,5%). “Já é reflexo da queda de fecundidade desde a década de 1970. Tanto é que a pirâmide etária está em forma de botijão, mais gordinha no centro, porque, cada vez, estão nascendo menos crianças. É o bônus demográfico, ou seja, a população ativa em relação aos inativos está maior”, completou Luciene. Outra fato que não pode ser ignorado é que a abertura de várias faculdades em todo o país possibilita aos jovens dessa faixa etária se dedicarem mais aos estudos antes de enfrentarem o competitivo mercado de trabalho.

        Mas falta mão de obra para várias profissões


        O fato de grande parte da população ser economicamente ativa não significa que os empresários estão tranquilos quanto à qualificação de profissionais para determinadas funções. Um dos principais exemplos vem do comércio, setor de grande importância no Produto Interno Bruto (PIB) da capital mineira. Quem passa em frente a vitrines de lojas costuma ver placas ou cartazes informando: precisa-se de vendedores. Situação semelhante ocorre na construção civil e no ramo de bares e restaurantes.

        “O comércio sofre com a  falta de mão de obra especializada. Encontrar pessoas para trabalhar é até tranquilo. O problema é conseguir gente comprometida, capacitada”, reforça Gabriel de Andrade Ivo, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG). “É uma área que tem uma rotatividade muito grande, o que pode ajudar a explicar essa questão”, acrescentou Luciene Longo, do IBGE.

        O gerente de uma grande rede, que prefere o anonimato explica que um dos problemas do varejo é que há trabalhadores, principalmente jovens, que torcem o nariz ao saberem que precisam trabalhar aos sábados e, no último bimestre do ano, época que o setor mais fatura, às vezes aos domingos. Problemas semelhantes são enfrentados por bares e restaurantes. E o setor tem um agravante: precisa oferecer atendimento de qualidade para os turistas que virão a BH para as copas da Confederação (2013) e do Mundo (2014).

        No Restaurante do Porto, com três casas na capital e cerca de 100 funcionários, o sócio Leonardo Duarte explica que contratou oito pessoas nos últimos dois meses. A saída para conseguir mão de obra capacitada, revela, é empregar pessoas cruas na função e ensiná-las o serviço. “Empregamos a pessoa e vemos se ela tem qualidade, vontade de trabalhar. Então, a treinamos. Por exemplo, contratamos uma pessoa como ajudante de cozinheiro e a treinamos para, daqui a algum tempo, ela ser cozinheira”, disse Leonardo.

        De olho nos eventos internacionais que vão ocorrer na capital, Leonardo e o pai, José Costa Duarte Saldanha, fundador da rede, oferecem cursos de inglês e espanhol para os funcionários. “Vamos moldando o colaborador. Além das oito vagas preenchidas nos últimos meses, temos três em aberto”, disse o filho.

        Por outro lado, o rendimento dos profissionais da Grande BH também subiu. Relatório do IBGE, que comparou o indicador apurado em janeiro de 2013 com o do mesmo mês do ano anterior, destacou que “o rendimento registrou alta em Belo Horizonte (5,2%)”. Foi a maior entre as regiões pesquisadas. Para se ter ideia, o indicador variou menos em São Paulo (4,1%), no Rio de Janeiro (2,8%) e Porto Alegre (2,6%), ficando estável no Recife e apresentando queda em Salvador (10,9%). (PHL)

        Tecnologia reduz efeitos colaterais-Carolina Lenoir‏

        Aparelho de última geração de tomografia por emissão de pósitrons diminui sensivelmente a exposição de pacientes à radiação 


        Carolina Lenoir

        Estado de Minas: 11/03/2013 

        Um prédio bem cuidado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) abriga um dos mais modernos equipamentos de tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT) da América Latina, que reduz expressivamente a exposição dos pacientes à radiação e obtém imagens de alta resolução. Ele faz parte de um trabalho de ponta realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Molecular (INCT MM), que aplica a tecnologia na identificação de doenças em diferentes estágios, na realização de pesquisas avançadas para melhorar o conhecimento sobre as enfermidades e no desenvolvimento de tratamentos mais efetivos. Tudo isso desencadeia inovações como a produção inédita no Brasil de um marcador para identificar inflamações no sistema nervoso, que deve estar disponível até o mês que vem e será produzido na Unidade de Pesquisa e Produção de Radiofármacos (UPPR) do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN).

        O instituto é um dos centros de pesquisa brasileiros criados a partir de um programa do governo federal por meio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com o objetivo de desenvolver a pesquisa científica no país. No estado, o programa é financiado também pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A UFMG conta com outros sete institutos, de diferentes áreas do conhecimento. Entre as linhas de estudo dos cerca de 40 pesquisadores do INCT MM está a investigação de anormalidades moleculares e celulares específicas ligadas à ocorrência de doenças graves e complexas, como diversos tipos de câncer e problemas associados ao sistema nervoso central.

        Um dos principais focos de atuação do instituto usa a tecnologia PET, comprado com boa parte dos cerca de R$ 10 milhões recebidos por meio de financiamento. Entre os projetos em que o equipamento é usado estão estudos na área da oncologia, no diagnóstico e acompanhamento do tratamento de câncer de mama, pênis, próstata, linfoma, colón e reto e neurofibromatose; e na neuropsiquiatria, em pacientes com transtorno bipolar, demência, psicose e epilepsia refratária. Em breve, devem ser aplicados também em estudos de neuroinflamação por toxoplasmose cerebral e lúpus.

        Em Belo Horizonte, esse equipamento está disponível também no laboratório Hermes Pardini, em uma versão menos avançada. A aquisição era a proposta inicial do instituto, assim como a construção do Centro de Imagem Molecular (CIMol), inaugurado em maio de 2011. É lá que os pacientes, sejam voluntários aprovados nos protocolos de estudos ou particulares, fazem o exame, que depende dos marcadores produzidos no CDTN.

        ALTA PRECISÃO O CDTN abriga um moderno acelerador de partículas, conhecido como ciclotron, responsável pela produção de medicamentos marcados com partículas radioativas, os radiofármacos. Eles são usados nos exames PET e garantem diagnósticos por imagem de alta precisão. O professor Marco Aurélio Romano-Silva, coordenador do instituto, explica que o radiofármaco mais usado até então é o FDG, ou fluorodeoxiglicose, marcado com o flúor-18, semelhante à glicose. "Trata-se de um marcador com meia-vida de duas horas, ou seja, perde 50% de suas propriedades a cada 120 minutos. No fim de fevereiro, o centro passou a disponibilizar outro marcador, a metionina marcada com carbono-11, que é eficaz também para o diagnóstico de câncer. O carbono tem uma meia-vida ainda menor que o flúor e em 20 minutos perde 50% da sua atividade", afirma o coordenador.

        De acordo com Romano-Silva, as células cancerígenas captam muita glicose e o FGD pode detectar a doença em estágios iniciais. Por outro lado, o carbono-11 pode ser usado para marcar qualquer molécula orgânica, como a metionina. O flúor, por sua vez, pode alterar a função dos compostos marcados. Com isso, abriu-se um leque maior para o diagnóstico, que vai ser ainda mais ampliado com o marcador de neuroinflamações a ser produzido em breve, por meio do módulo de síntese do carbono-11, adquirido pelo INCT-MM.

        O professor explica que os precursores, compostos usados para as reações químicas que resultam na produção do marcador radioativo, são adquiridos em laboratórios comerciais, se forem mais comuns, ou, no caso dos mais recentes, diretamente com o pesquisador que faz a síntese. Por conta da legislação atual, todo o transporte dos marcadores entre o CDNT, que fica na região da Pampulha, e o INCT MM, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de BH, é feito por carro. "Em motos seria mais ágil, o que é imprescindível para esse tipo de material, mas uma licença especial seria necessária.”

        O controle de qualidade também é intenso. O marcador sai do CDTN em um cofre revestido de chumbo e só é aberto no instituto, quando os resultados do controle de qualidade, feito enquanto o trajeto é realizado, são liberados. Só assim é passada uma senha para abrir o cofre, de onde se retira o radiofármaco, que é injetado no paciente. O tempo de captação é de uma hora e o exame pode demorar de 10 minutos a meia hora. Segundo Romano-Silva, os pacientes são encaminhados por médicos (oncologistas, geriatras, psiquiatras etc.) ou pelos ambulatórios da Faculdade de Medicina. Eles devem atender os critérios dos protocolos de cada projeto para participar dos estudos.

        Atualmente, mais de 90% dos pacientes atendidos fazem o exame gratuitamente. Os recursos dos pagantes, por outro lado, são importantes para a sustentabilidade do instituto, já que o programa de financiamento do governo está em seu último ano e o processo de renovação ainda não foi iniciado pelos órgãos de fomento. O valor do exame é de cerca de R$ 3 mil e a sua realização pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não foi autorizada, enquanto os planos de saúde que o cobrem em geral pagam apenas um exame por ano. Os recursos são geridos pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep).

        Saiba mais
        Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs)
        Em 2008, o Ministério de Ciência e Tecnologia anunciou a criação de mais de uma centena de INCTs,  selecionados a partir de edital. Os projetos foram distribuídos em 19 áreas consideradas estratégicas para o país, como biotecnologia, saúde, biocombustíveis, agronegócio, segurança pública e educação, entre outras. Além de mobilizar e agregar os melhores grupos de pesquisa brasileiros, os INCTs têm como objetivos estimular a formação de pesquisadores e contribuir para a melhor distribuição da pesquisa científico-tecnológica no país.

        Linhas de pesquisa
        Além das atividades em torno do equipamento de tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT), o instituto conta com outras linhas de pesquisa, como estudos de longevidade e alterações metabólicas em função do uso de medicamentos como antipsicóticos, feitos em animais como peixe paulistinha (zebrafish) e nematódeos (C. elegans), que têm algumas estruturas parecidas com a de humanos. Além disso, conta com outros equipamentos de ponta para avaliar, diagnosticar e tratar pacientes, por exemplo, com déficit de atenção e hiperatividade e depressão, entre outros. Outro ponto interessante é a possibilidade de financiar projetos-pilotos de pesquisadores, a fim de ajudar na captação de mais recursos para dar continuidade à pesquisa.

        A escolha saudável -Bruna Sensêve

        Mudanças nos refeitórios escolares podem convencer os alunos a comerem melhor 


        Bruna Sensêve

        Estado de Minas: 11/03/2013 

        O combate à obesidade infantil nos Estados Unidos — intensificado nos últimos anos, desde que a primeira-dama, Michelle Obama, abraçou a causa — é baseado principalmente em obrigações e estratégias legais que garantam o abastecimento de lanchonetes e refeitórios escolares com alimentos frescos e nutritivos. No entanto, o aumento da disponibilidade de frutas, vegetais, sucos naturais e leite nas cantinas não significou uma melhora na dieta dos estudantes. A preferência por refrigerantes, pizzas, hambúrgueres, tacos e batatas fritas se manteve quase intacta. Em outras palavras, os alimentos saudáveis só chegaram aos olhos das crianças e dos adolescentes, não à boca. É como diz o lema adotado pelos pesquisadores Andrew Hanks, David Just e Brian Wansink, da Universidade de Cornell, em Nova York: “Para ser nutritivo, é preciso ser engolido”.

        O trio é responsável por uma estratégia que se mostrou surpreendentemente eficaz em convencer alunos americanos a escolherem opções saudáveis na hora do lanche. E o melhor: a transformação realizada nos refeitórios escolares pode ser feita em menos de três horas e por menos de U$ 50 (cerca de R$ 98). Os resultados positivos alcançados pelo grupo, que trabalha no Centro Cornell de Economia Comportamental em Programas de Nutrição Infantil, estão publicados no Jornal de Pediatria, dos EUA.

        Os especialistas estudaram os efeitos de pequenas intervenções, apelidadas de “reforma do refeitório inteligente”, em duas escolas no oeste de Nova York que atendem alunos de 7 a 12 anos. Para medir o impacto antes e depois da transformação, os pesquisadores registravam o que era deixado nas bandejas depois do almoço. Os resultados surpreenderam.

        O percentual de alunos que preferiram frutas aumentou em 13% depois da intervenção, e aqueles que optaram por se servir de vegetais, em 23%. A diferença não foi registrada só na hora de escolher o lanche. O número de estudantes que concretamente consumiram pelo menos metade da porção de vegetais que foi para o prato também cresceu (24,5%), assim como os que consumiram a porção inteira (9,8%). Dados tão animadores quanto esses foram registrados também para o consumo de frutas, 17,9% e 15,8% , respectivamente.

        Segundo Hanks, esses resultados são uma prova de que intervenções baratas e rápidas (veja as medidas adotadas na ilustração) também são efetivas para influenciar um comportamento mais saudável. “Isso não só preserva a escolha, mas tem o potencial de levar as crianças a desenvolver o hábito de selecionar e consumir alimentos mais saudáveis ao longo da vida, mesmo quando confrontadas com opções menos saudáveis”, avalia.

        Opção para o Brasil A má alimentação escolar não é uma exclusividade norte-americana. De acordo com dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitica (IBGE), 21% dos alunos brasileiros do 9º ano não haviam colocado um só pedaço de uma fruta fresca na boca nos sete dias anteriores à pesquisa. Mais de um quarto do total deles também disseram não ter consumido hortaliças. Por outro lado, apenas 8% deixaram de comer guloseimas, e somente 11,6% não tomaram refrigerante no mesmo período. Segundo o nutricionista Aldemir Mangabeira, mestre em nutrição humana pela Universidade de Brasília, no âmbito escolar há vários códigos subjetivos de aceitação social que atuam com muito mais força do que o imaginado, inclusive para o lanche levado para a escola ou o prato montado no refeitório.

        Mangabeira acredita que as estratégias estudadas pelos pesquisadores americanos podem traçar uma nova dinâmica de escolha entre os alunos. Ele compara a iniciativa de dar nomes criativos aos pratos com a ação de chefs em restaurantes requintados que também escolhem cuidadosamente o nome que descreve suas criações. O artigo da Universidade de Cornell mostra que esse tipo de mudança foi muito bem recebida pelos estudantes. O consumo de brócolis, por exemplo, aumentou só com o acréscimo do adjetivo “crocante” à placa de identificação.

        “É válido fazer apelos de ordem sensorial, como crocante, cremoso”, descreve Mangabeira. “Nossos debates confirmam a  importância do aspecto visual, da ordem como os itens estão dispostos e os apelos de marketing que podem ser associados aos alimentos saudáveis”, enumera o nutricionista. Segundo ele, os pratos atraentes têm mais chance de ser escolhidos. É um princípio da nutrição que diz: come-se primeiro com os olhos. 

        Lei sobre homossexualidade da era nazista ainda assombra alemães‏

        Em Berlim (Alemanha)

        Alemães participam de parada gay em Berlim, na Alemanha, em junho de 2012Alemães participam de parada gay em Berlim, na Alemanha, em junho de 2012




        Klaus Born se lembra vividamente de seu primeiro contato com a lei, que aconteceu em uma rua tranquila de Berlim Ocidental nos anos 1960, quando ser gay era passível de uma pena de prisão de ambos os lados do Muro.


        Born e outro homem tinham ido até um estacionamento escuro e estavam no banco de trás do carro. Logo que começaram a ter relações sexuais, viram lanternas brilhantes e ouviram vozes bruscas enquanto eram cercados. Um carro da polícia estava parado nas proximidades, pronto para levá-los embora.


        "Eu fiquei apavorado. Não tinha ideia do que eles fariam comigo", disse Born, 68, que passou um pouco mais de um mês na prisão após o episódio. "'Porco gay', eles costumavam dizer."
        De acordo com a lei, sua condenação ainda está de pé, o que Born considera uma afronta moral e um estigma legal que o prejudica até hoje.

        O fracasso da Alemanha em anular as prisões de vítimas de um sistema jurídico que manteve a proibição da era nazista sobre a homossexualidade nas leis por décadas depois da Segunda Guerra Mundial é um indicativo do ritmo lento das reformas pela igualdade dos homossexuais, apesar de ter uma população geralmente liberal.


        O ministro das Relações Exteriores do país e o prefeito de Berlim são ambos declaradamente gays, e o Tribunal Constitucional Federal estabeleceu precedentes múltiplos para fortalecer os direitos dos homossexuais de acordo com a Lei Básica, a Constituição da Alemanha, mais recentemente expandindo os direitos de adoção para casais do mesmo sexo. Mas o partido dominante no país, os Democratas Cristãos da chanceler Angela Merkel, e seu partido irmão, a União Social Cristã da Bavária, antigos defensores de valores familiares tradicionais, ainda arrastam os pés quando se trata da igualdade para os homossexuais.


        Quando líderes do partido de Merkel declararam publicamente, no mês passado, que estavam prontos para considerar benefícios fiscais iguais para casais gays, seus comentários atraíram críticas da ala socialmente conservadora do partido.


        No entanto, com uma eleição geral se aproximando em setembro, Merkel parece consciente de que uma mudança para a esquerda nas questões relativas aos homossexuais, semelhante às posturas de centro-esquerda que ela assumiu em relação ao serviço militar e ao salário mínimo, poderia minar a campanha de seus adversários, dando-lhes um motivo a menos para criticar. Assim, antes das eleições, ainda poderá haver mais uma medida para para limpar os registros de gays perseguidos no passado.


        Homens que foram obrigados a usar o triângulo rosa, que os nazistas usavam para identificar os homossexuais nos campos de concentração, receberam um pouco de justiça em 2002, quando o governo alemão pediu desculpas formalmente e concordou em indenizá-los. Em 2008, Berlim anunciou um memorial para as vítimas homossexuais do Holocausto, uma alta laje de concreto com uma tela de TV de um lado que exibe repetidamente um vídeo de dois homens ou duas mulheres se beijando.


        Mas as vítimas da homofobia no pós-guerra da Alemanha receberam apenas uma reparação modesta. O Parlamento se desculpou oficialmente em 2000, mas cerca de 50 mil homens perseguidos após a 2ª Guerra Mundial ainda não tiveram suas condenações por sodomia apagadas de seus registros policiais, de acordo com Manfred Bruns, procurador federal aposentado e membro do conselho executivo da Federação de Gays e Lésbicas da Alemanha.
        Ninguém parece saber quantas dessas pessoas ainda estão vivas ou se elas se apresentariam para buscar uma compensação. Mas os pedidos estão aumentando para que a Alemanha limpe a ficha das vítimas remanescentes antes que elas morram. Volker Beck, parlamentar do partido Verde da oposição e defensor dos direitos dos homossexuais, é um dos vários membros do Parlamento que estão pressionando para criar uma legislação que anule esses registros e talvez ofereça uma compensação financeira.


        "Para muitos destes homens, a perseguição penal dos anos 50 representou um desastre durante toda a sua existência civil", disse ele.


        O caminho para uma ficha limpa ainda tem obstáculos. Em particular uma decisão do Tribunal Constitucional de1957 que declarou constitucional a lei homofóbica, mais conhecida como Parágrafo 175, solidificando seu lugar no Direito da Alemanha Ocidental. O escopo da lei foi limitado em 1969, mas a homossexualidade só foi formalmente descriminalizada em 1994.
        Para limpar os registros das vítimas, o Parlamento teria efetivamente de proibir o parecer de 1957 do Tribunal Constitucional --um movimento especialmente controverso num país onde há um respeito profundo pela autoridade judicial. Há também debate sobre se o Parlamento tem o poder de efetivamente anular as decisões judiciais que foram tomadas numa época muito diferente.


        "Nos anos 1950 e 60 a Alemanha Ocidental se considerava uma sociedade cristã em vez de uma sociedade pluralista", observou Bruns. Até o momento, a Alemanha apagou os registros apenas de pessoas envolvidas nos sistemas legais draconianos do nazismo e do comunismo da Alemanha Oriental.


        "Não há nenhum mecanismo para se livrar de velhas decisões do Tribunal Constitucional", disse Bruns. "Quando muda a visão que o tribunal tem sobre a lei, ele simplesmente toma decisões de acordo e os veredictos antigos são cobertos."


        Uma audiência importante diante de uma comissão parlamentar em maio poderá determinar se uma lei será aprovada ou mesmo elaborada em setembro.


        Born disse que só quer que sua ficha fique limpa antes de morrer. Sentado em seu apartamento térreo, cercado por lembranças de décadas de viagens, Born folheava um álbum empoeirado até chegar a uma fotografia antiga de si mesmo vestido de couro preto da cabeça aos pés e sorrindo para a câmera. Ele valoriza suas lembranças de anos atrás, quando seu parceiro, Jurgen, ainda estava vivo. "Não é pelo dinheiro, ninguém se preocupa com isso", disse Born. "Essas condenações ferem as pessoas."


        Marcos Augusto Gonçalves

        folha de são paulo

        Sábado no parque
        É show o anexo da nova sede do MAC, aberto ao público com obras de Carlito Carvalhosa e Mauro Restiffe
        NO SÁBADO passado, o Parque Ibirapuera ganhou mais um motivo para ser feliz. Do outro lado da passarela, a nova sede do Museu de Arte Contemporânea da USP deu um passo importante para se integrar, enfim, à vida cultural da cidade.
        Com exposições dos artistas Carlito Carvalhosa e do fotógrafo Mauro Restiffe, foi aberto ao público o anexo original do edifício, projeto de Oscar Niemeyer entregue à cidade em 1954. Foi feito para ser o Palácio da Agricultura, integrado ao belo conjunto do parque, concebido pelo arquiteto para marcar as comemorações do quarto centenário de São Paulo.
        A partir de 1959, como se sabe, o prédio passou a servir de sede para o Detran, até que se decidisse por uma reforma para abrigar o MAC, que se divide entre o campus universitário e um pedaço do Pavilhão onde acontece a Bienal. Prevista para acontecer em 2009/2010, a transferência foi adiada em razão de percalços burocráticos, políticos e técnicos. O atraso naturalmente gerou -e ainda gera- cobranças e explica em parte a nota de irritação com que alguns têm tratado o empreendimento.
        Antes da mostra de Carvalhosa e Restiff, já havia sido aberta em janeiro uma exposição, no térreo, com 17 esculturas, que marcou o início do funcionamento parcial do museu.
        O espaço inaugurado no sábado é show. São cerca de 1.800 m², com térreo e mezanino, que serão dedicados integralmente à arte contemporânea. A ideia de Tadeu Chiarelli, diretor do museu, é que o térreo receba sempre projetos "site specific" -ou seja, idealizados para ocupar integralmente aquele espaço. Já o mezanino poderá abrigar mostras, digamos, mais convencionais.
        Os trabalhos de Carvalhosa, no térreo, e Restiffe, no mezanino, tomam o mesmo partido do diálogo com a arquitetura. No primeiro caso, o artista fixou 70 antigos postes de madeira entre as incontornáveis -e belas- colunas de Niemeyer. Presos entre si e fixados às paredes e às próprias colunas, os troncos atravessam o espaço e o redesenham numa impressionante trama de diagonais.
        Já as 12 fotografias de Mauro Restiffe foram realizadas durante a reforma do anexo. Feitas em processo analógico, com a inseparável Leica do fotógrafo, as imagens em branco e preto, com grandes dimensões, nos propõem um jogo de espelho com o passado e o presente do lugar em que estamos. Além da remissão à arquitetura, as fotos também nos conduzem às ambiguidades entre representação documental e estética. O lugar, a fotografia do lugar em construção e o lugar da construção da fotografia.
        O MAC, acredita Tadeu, estará inteiramente ocupado até o fim do ano.
        Invisível aos olhos do público, já está pronta a área técnica, que vai abrigar o acervo, um dos melhores da arte brasileira, que conta também com preciosidades internacionais. É moderníssima e considerada de alto nível por quem entende do assunto.
        Niemeyer participou da reforma da nova sede e consta que teria sugerido que se quebrassem pisos entre andares para aumentar o pé direito -que tem cerca de três metros, tamanho acanhado a depender da obra a ser exposta.
        Os órgãos de preservação do patrimônio não deixaram. Ouviu-se à época que estariam protegendo a obra de Niemeyer do próprio Niemeyer. Além da arrogância, parece-me o tipo de preservacionismo tacanho, que não leva em conta o uso social da herança arquitetônica -parece desejar apenas colocá-la num vidro de formol.

        Entrevista da 2ª Clodovis Boff

        folha de são paulo

        Essência da Teologia da Libertação foi defendida pelo papa
        IRMÃO DE LEONARDO BOFF ELOGIA BENTO 16 E CRITICA MOVIMENTO QUE AJUDOU A FUNDAR; PARA ELE, TEOLOGIA DEGENEROU EM IDEOLOGIA
        ALEXANDRE GONÇALVESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAEm maio de 1986, os irmãos Clodovis e Leonardo Boff publicaram uma carta aberta ao cardeal Joseph Ratzinger. O artigo analisava a instrução "Libertatis Conscientia", em que o futuro papa Bento 16 visava corrigir os supostos desvios da Teologia da Libertação na América Latina. Os religiosos brasileiros desaprovavam, com uma ponta de ironia e uma boa dose de audácia, a "linguagem com 30 anos de atraso" no texto.
        Em 2007, o irmão mais novo de Leonardo Boff voltou à carga. Mas, dessa vez, o alvo foi a própria Teologia da Libertação -movimento do qual ele foi um dos principais teóricos e que defende a justiça social como compromisso cristão. Ele censurou a instrumentalização da fé pela política e enfureceu velhos colegas ao sugerir que teria sido melhor levar a sério a crítica de Ratzinger.
        Em entrevista à Folha por telefone, frei Clodovis diz que Bento 16 defendeu o "projeto essencial" da Teologia da Libertação, mas o critica por superdimensionar a força do secularismo no mundo.
        -
        Folha - Bento 16 foi o grande inimigo da Teologia da Libertação?
        Clodovis Boff - Isso é uma caricatura. Nos dois documentos que publicou, Ratzinger defendeu o projeto essencial da Teologia da Libertação: compromisso com os pobres como consequência da fé. Ao mesmo tempo, critica a influência marxista. Aliás, é uma das coisas que eu também critico.
        No documento de 1986, ele aponta a primazia da libertação espiritual, perene, sobre a libertação social, que é histórica. As correntes hegemônicas da Teologia da Libertação preferiram não entender essa distinção. Isso fez com que, muitas vezes, a teologia degenerasse em ideologia.
        E os processos inquisitoriais contra alguns teólogos?
        Ele exprimia a essência da igreja, que não pode entrar em negociações quando se trata do núcleo da fé. A igreja não é como a sociedade civil, onde as pessoas podem falar o que bem entendem. Nós estamos vinculados a uma fé. Se alguém professa algo diferente dessa fé, está se autoexcluindo da igreja.
        Na prática, a igreja não expulsa ninguém. Só declara que alguém se excluiu do corpo dos fiéis porque começou a professar uma fé diferente.
        Não há margem para a caridade cristã?
        O amor é lúcido, corrige quando julga necessário. [O jesuíta espanhol] Jon Sobrino diz: "A teologia nasce do pobre". Roma simplesmente responde: "Não, a fé nasce em Cristo e não pode nascer de outro jeito". Assino embaixo.
        Quando o sr. se tornou crítico à Teologia da Libertação?
        Desde o início, sempre fui claro sobre a importância de colocar Cristo como o fundamento de toda a teologia. No discurso hegemônico da Teologia da Libertação, no entanto, eu notava que essa fé em Cristo só aparecia em segundo plano. Mas eu reagia de forma condescendente: "Com o tempo, isso vai se acertar". Não se acertou.
        "Não é a fé que confere um sentido sobrenatural ou divino à luta. É o inverso que ocorre: esse sentido objetivo e intrínseco confere à fé sua força." Ainda acredita nisso?
        Eu abjuro essa frase boba. Foi minha fase rahneriana. [O teólogo alemão] Karl Rahner estava fascinado pelos avanços e valores do mundo moderno e, ao mesmo tempo, via que a modernidade se secularizava cada vez mais.
        Rahner não podia aceitar a condenação de um mundo que amava e concebeu a teoria do "cristianismo anônimo": qualquer pessoa que lute pela justiça já é um cristão, mesmo sem acreditar explicitamente em Cristo. Os teólogos da libertação costumam cultivar a mesma admiração ingênua pela modernidade.
        O "cristianismo anônimo" constituía uma ótima desculpa para, deixando de lado Cristo, a oração, os sacramentos e a missão, se dedicar à transformação das estruturas sociais. Com o tempo, vi que ele é insustentável por não ter bases suficientes no Evangelho, na grande tradição e no magistério da igreja.
        Quando o sr. rompeu com o pensamento de Rahner?
        Nos anos 70, o cardeal d. Eugênio Sales retirou minha licença para lecionar teologia na PUC do Rio. O teólogo que assessorava o cardeal, d. Karl Joseph Romer, veio conversar comigo: "Clodovis, acho que nisso você está equivocado. Não basta fazer o bem para ser cristão. A confissão da fé é essencial". Ele estava certo.
        Assumi postura mais crítica e vi que, com o rahnerismo, a igreja se tornava absolutamente irrelevante. E não só ela: o próprio Cristo. Deus não precisaria se revelar em Jesus se quisesse simplesmente salvar o homem pela ética e pelo compromisso social.
        Bento 16 sepultou os avanços do Concílio Vaticano 2º?
        Quem afirma isso acredita que o Concílio Vaticano 2º criou uma nova igreja e rompeu com 2.000 anos de cristianismo. É um equívoco. O papa João 23 foi bem claro ao afirmar que o objetivo era, preservando a substância da fé, reapresentá-la sob roupagens mais oportunas para o homem contemporâneo.
        Bento 16 garantiu a fidelidade ao concílio. Ao mesmo tempo, combateu tentativas de secularizar a igreja, porque uma igreja secularizada é irrelevante para a história e para os homens. Torna-se mais um partido, uma ONG.
        Mas e a reabilitação da missa em latim? E a tentativa de reabilitação dos tradicionalistas que rejeitaram o Vaticano 2º?
        Não podemos esquecer que a condição imposta aos tradicionalistas era exatamente que aceitassem o Vaticano 2º. O catolicismo é, por natureza, inclusivo. Há espaço para quem gosta de latim, para quem não gosta, para todas as tendências políticas e sociais, desde que não se contraponham à fé da igreja.
        Quem se opõe a essa abertura manifesta um espírito anticatólico. Vários grupos considerados progressistas caíram nesse sectarismo.
        Esses grupos não foram exceção. Bento 16 sofreu dura oposição em todo o pontificado.
        A maioria das críticas internas a ele partiu de setores da igreja que se deixaram colonizar pelo espírito da modernidade hegemônica e que não admitem mais a centralidade de Deus na vida. Erigem a opinião pessoal como critério último de verdade e gostariam de decidir os artigos da fé na base do plebiscito.
        Tais críticas só expressam a penetração do secularismo moderno nos espaços institucionais da igreja.
        Como descreveria a relação de Bento 16 com a modernidade?
        É possível identificar um certo pessimismo na sua reflexão. Ele não está só. Há um rio de literatura sobre a crise da modernidade, que remete até mesmo a autores como Nietzsche e Freud. O que ele tem de diferente? Propõe uma saída: a abertura ao transcendente.
        Ainda assim, há pessimismo.
        Há algo que ele precisaria corrigir: Bento 16 leva a sério demais o secularismo moderno. É uma tendência dos cristãos europeus. Eles esquecem que o secularismo é uma cultura de minorias. São poderosas, hegemônicas, mas ainda assim minorias.
        A religião é a opção de 85% da humanidade. Os ateus não passam de 2,5%. Com os agnósticos, não chegam a 15%. Minoria culturalmente importante, sem dúvida: domina o microfone e a caneta, a mídia e a academia. Mas está perdendo o gás. Há um reavivamento do interesse pela espiritualidade entre os jovens.
        Que outras críticas o sr. faria a Bento 16?
        Ele preferiria resolver problemas teológicos a se debruçar sobre questões administrativas na Cúria. E isso gerou diversos constrangimentos no seu pontificado. Ele também não tem o carisma de um João Paulo 2º. De certa forma, era o esperado em um intelectual como ele.
        Não está na hora de a igreja ficar mais próxima da realidade dos fiéis?
        Bento 16 não resolveu um problema que se arrasta desde o Concílio Vaticano 2º: a necessidade de se criarem canais para a cúpula escutar e dialogar com as bases.
        Os padres nas paróquias muitas vezes ficam prensados entre a letra fria que vem da cúpula e o cotidiano sofrido dos fiéis, que pode envolver dramas como aborto ou divórcio. Note que não sugiro mudanças no ensinamento da igreja. Mas acho que seria mais fácil para as pessoas viverem a doutrina católica se houvesse processos que facilitassem esse diálogo.
        Como vê o futuro da igreja?
        A modernidade não tem mais nada a dizer ao homem pós-moderno. Quais as ideologias que movem o mundo? Marxismo? Socialismo? Liberalismo? Neoliberalismo? Todas perderam credibilidade. Quem tem algo a dizer? As religiões e, sobretudo no Ocidente, a Igreja Católica.


        FRASES
        "Bento 16 garantiu a fidelidade ao Vaticano 2º e combateu tentativas de secularização. Igreja secularizada é irrelevante para a história e para os homens. Torna-se mais um partido, uma ONG"
        "Bento 16 leva a sério demais o secularismo moderno. É uma tendência dos cristãos europeus. Eles esquecem que o secularismo é uma cultura de minorias"
        "A religião é a opção de 85% da humanidade. Ateus e agnósticos não chegam a 15%. [É uma] minoria culturalmente importante, mas está perdendo o gás"
        CLODOVIS BOFF
        teórico da Teologia da Libertação, hoje crítico do movimento


        RAIO-X - CLODOVIS BOFF
        Data e local de nascimento
        1944, em Concórdia (SC)
        Formação
        Frade e doutor em teologia pela Universidade Católica de Louvain (Bélgica), é professor na PUC do Paraná
        Obra
        "Uma Igreja para o Novo Milênio" (2003), entre outros