terça-feira, 30 de julho de 2013

Biólogos rivais disputam explicação da monogamia - Rafael Garcia

folha de são paulo
Análise com macacos atribui fidelidade sexual à prevenção do infanticídio
Para estudo evolutivo com mais mamíferos, porém, comportamento surge quando acesso a várias fêmeas é difícil
RAFAEL GARCIADE SÃO PAULOA última tentativa da biologia moderna de elucidar o paradoxo da monogamia --por que ser fiel a uma única parceira se a evolução favorece a promiscuidade?-- jogou mais dúvidas do que respostas sobre a questão. Os dois últimos estudos sobre o tema são contraditórios.
O primeiro deles é uma análise com 2.500 mamíferos. O trabalho indica que a monogamia surgiu em espécies nas quais as fêmeas vivem muito distantes umas das outras, e o comportamento promíscuo fica custoso para o macho. Já o segundo trabalho, que analisou 230 macacos, mostra que a fidelidade a uma única parceira surgiu para prevenir o infanticídio.
Ambos os estudos usaram métodos semelhantes para chegar às suas conclusões. Primeiro, fizeram uma reconstrução da árvore da vida dos mamíferos de todas as espécies analisadas, para saber quais eram mais próximas evolutivamente. Depois, usaram literatura científica existente para atribuir a cada uma delas diferentes comportamentos sociais --monogamia ou poligamia, solidão ou gregarismo etc.
Os cientistas estavam tentando descobrir por que apenas 9% das espécies de mamíferos são monogâmicas, enquanto mais de 90% dos pássaros exibem esse comportamento. Uma análise estatística deveria levar os dois estudos a uma conclusão similar, mas ocorreu o inverso.
"Quando fêmeas solitárias se distribuem num espaço amplo, machos em busca de oportunidades de acasalamento sofrem risco de ferimentos ou predação", afirmou Dieter Lukas, da Universidade de Cambridge, coautor do estudo mais abrangente com mamíferos, publicado na revista "Science". "Não vimos evidência de associação próxima entre monogamia e risco de infanticídio."
Christopher Opie, porém, do University College de Londres, enxerga o inverso ocorrendo entre macacos. "A origem da monogamia em primatas é mais bem explicada pelo longo período de lactação causado pela dependência para alimentação, tornando filhotes particularmente vulneráveis a machos infanticidas", escreveu o cientista em estudo na revista "PNAS".
Ao conversar com jornalistas ontem, cientistas pareciam surpresos ao saber da disparidade entre as conclusões dos estudos.
"Na nossa análise, obtivemos um sinal muito claro de que foi o infanticídio que levou à monogamia e não aquilo que Lukas está sugerindo", disse Opie à Folha. "Ao analisar tantas espécies de mamíferos, ele pode ter perdido esse efeito entre os primatas."
Os cientistas de Cambridge, porém, afirmam ter sido mais rigorosos do que Opie em suas análises estatísticas. "Uma razão para a disparidade pode ser o uso de maneiras diferentes para classificar as espécies", diz Tim Clutton-Brock, coautor de Lukas.
No estudo, classificar humanos como monógamos gerou discussão. "O que temos em humanos são casais que se associam, mas se encaixam dentro de grupos maiores. Não observamos isso em nenhum outro mamífero."
Outra explicação para a contradição entre os estudos é o tamanho da amostra, diz o cientista. "Em pequenos conjuntos de dados, é possível achar associações aleatórias que não aparecem nos grandes conjuntos."
Nenhum dos grupos de cientistas disse ter enxergado erros evidentes no estudo dos rivais, porém. A disputa acadêmica tende a continuar.

    Médicos querem mudar definição de câncer

    folha de são paulo
    Especialistas dos EUA propõem eliminar a palavra "câncer" de certos diagnósticos
    DO "NEW YORK TIMES"
    Um grupo de especialistas conselheiros do Instituto Nacional de Câncer dos EUA recomendou mudanças na forma de detectar e tratar os tumores, incluindo alterações na definição da doença e até a eliminação da palavra "câncer" de alguns diagnósticos.
    As sugestões foram publicadas ontem no "Journal of the American Medical Association".
    Condições pré-malignas, como o carcinoma ductal in situ na mama -- lesão localizada que muitos médicos não consideram como câncer--, deveriam ser rebatizadas sem a palavra carcinoma, dizem os especialistas.
    Assim, os pacientes ficariam com menos medo e procurariam menos tratamentos desnecessários e arriscados como a remoção das mamas.
    O grupo também sugeriu que muitas lesões detectadas em exames de mama, próstata, tireoide e pulmão não deveriam ser chamadas de câncer, mas de IDLE (a sigla, que quer dizer indolente em inglês, significa lesões indolentes de origem epitelial).
    Algumas dessas mudanças devem levar anos para acontecer e parte dos especialistas discorda delas, mas o relatório pode mudar o tom do discurso sobre o câncer.
    O motivo por trás do pedido de mudança é a preocupação com as centenas de milhares de pessoas se submetendo a procedimentos desnecessários e arriscados para tratar leões pré-malignas ou tumores de crescimento tão lento que podem nunca causar dano.
    O advento de exames muito sensíveis nos últimos anos aumentou a chance de achar os chamados "incidentalomas" --lesões encontradas por acaso e que não chegariam a causar sintomas.
    O problema é que, uma vez que a lesão é descoberta, os médicos se sentem obrigados a fazer biópsia, tratar e removê-la. "Ainda temos dificuldade de convencer as pessoas que achados em testes como mamografia e PSA nem sempre são doenças malignas que vão matá-las", afirma Harold Varmus, diretor do Instituto Nacional de Câncer.
    O problema em mudar a nomenclatura, segundo Larry Norton, do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering, é ainda não dá para dizer com certeza aos pacientes quais tumores são indolentes e quais vão matá-los.
    Norton afirma, no entanto, que é preciso melhorar a comunicação com o paciente. "A terminologia é só um termo descritivo e precisa ser explicada. Mas não dá para mudar centenas de anos de literatura médica só mudando a nomenclatura."
    O grupo de trabalho do Instituto Nacional de Câncer também pediu mais pesquisas que ajudem a distinguir tumores de crescimento lento daqueles mais agressivos.
    "Isso é bem diferente do pensamento de 20 anos atrás, quando achar um câncer significava um risco enorme de morrer", diz Varmus.

    Rosely Sayão

    folha de são paulo
    De volta para a escola
    Umas das funções da escola é inserir a criança no mundo público --e essa é uma lição difícil para a criança
    Nos próximos dias, as crianças voltarão às aulas depois de um período de descanso. O melhor desse retorno é reencontrar os colegas, conviver e brincar com eles e até mesmo provocá-los. Isso também faz parte do relacionamento entre elas.
    Durante as férias, em geral, as crianças ficam sem a rotina rigorosa que a escola impõe até mesmo fora de seu espaço. É que o horário escolar determina também os horários em casa. Horários para dormir, para acordar, para alimentar-se e para brincar, entre outros, são organizados pela família de acordo com o horário em que os filhos vão para a escola, não é verdade?
    Além da retomada de uma rotina nem sempre agradável para a criança, retornam também as responsabilidades com a vida escolar: lição de casa, estudo para um bom aproveitamento, aulas particulares e outras atividades complementares. E voltam também a cobrança dos pais e as próprias da criança, é claro.
    Por isso é que, depois das férias, independentemente da idade, a criança passa novamente por um período de adaptação. E, nesse recomeço, muitos pais enfrentam birras, recusas, mal humor, resistências e choros que atrapalham a retomada da rotina e o cotidiano familiar, sempre marcado por horários.
    É preciso ter paciência porque é difícil mesmo para a criança passar de uma situação para outra quando a escolha não foi feita por ela. Quando ela está dormindo não quer acordar, quando está brincando não quer ir tomar banho e, quando está no banho, não quer sair. Haja paciência! Mas esse é mesmo o ingrediente mais importante quando se tem filhos.
    Há também um ponto importante que nem sempre é considerado nessas horas difíceis para os pais, que podem achar que tudo não passa de manha dos filhos.
    Como integrante da família, o filho é único, mesmo quando há irmãos. Todos os filhos são únicos na dinâmica familiar atual. E, acima de tudo, as crianças são o centro da família.
    Agora, imagine, caro leitor, sair desse lugar privilegiado e passar a ser mais uma entre tantas outras crianças. Não, não é nada fácil para ela essa passagem do aconchego e da segurança do ambiente familiar para a impessoalidade do mundo público. Essa é uma das funções fundamentais da escola. Aliás, essa é uma das lições mais difíceis para a criança: a entrada no mundo público. Difícil, mas absolutamente necessária.
    Na experiência de ser mais uma, a criança tem vantagens e desvantagens. Ela vivencia, por exemplo, relacionamentos em que o afeto não é o eixo central. Por mais que isso possa parecer ruim, saiba, leitor, que é muito bom! Os afetos familiares são fundamentais, mas também pressionam, exigem, cobram. Livrar-se deles por um período do dia é estruturante também para a criança.
    Por outro lado, participar de um grupo de adultos e de pares que a criança não escolheu pode ser incômodo. Mas assim será a vida dela num futuro próximo e, por isso, é tão importante que ela aprenda a viver por conta própria no ambiente social.
    É por isso que muitas crianças expressam, de maneiras diversas, algum desgosto no retorno às aulas. E é por isso também que os pais precisam ser pacientes, compreensivos e amorosos na situação, porém firmes e confiantes de que o filho conseguirá superar sua dor. E a escola deve realizar essa transição docemente.
    Aprender e crescer doem, mas ninguém deve permanecer na infância além do tempo próprio dela, não é?

    Espanha tem 1ª vereadora com síndrome de Down

    folha de são paulo
    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIASTomou posse ontem Ángela Bachiller, 30, a primeira vereadora com síndrome de Down da história da Espanha. Ela assume uma das 17 cadeiras da Câmara da cidade de Valladolid, no norte do país, e deixa o posto que ocupou por dois anos e meio, de auxiliar administrativa da secretaria de Bem-Estar Social.
    Bachiller assume o cargo após a saída de Jesús García Galván, do PP (Partido Popular), que deixou sua cadeira já há mais de um mês após um escândalo de corrupção, no qual ele foi acusado de suborno e peculato.
    Ela foi à cerimônia de posse com seus pais, avós e sua irmã, além de companheiros da Associação de Síndrome de Down da Espanha.
    Emocionada, sorridente e rodeada por amigos, familiares e pela imprensa, Bachiller jurou lealdade ao rei Juan Carlos e à Constituição.
    "Muito obrigada por tudo, por terem confiado em mim", disse, momentos antes de ir às lágrimas.
    Exemplo de superação e esforço pessoal, a nova vereadora ficou conhecida por sua contribuição na luta pelos direitos das pessoas com deficiência.
    Em 2011, as associações ligadas aos direitos das pessoas com síndrome de Down já haviam celebrado a inclusão de Bachiller na lista de candidatos a vereador na coalizão do prefeito Francisco Javier León de la Riva, a quem agradeceu. Na ocasião, deixou de ser eleita por poucos votos, e por isso entrou na lista de suplentes do partido.
    O prefeito, que foi à posse da nova vereadora, disse que ela é um exemplo. Já a mãe de Bachiller, Isabel Guerra, afirmou nunca ter imaginado que sua filha fosse virar vereadora. "A combinação para chegar até esse momento de hoje foi de muito amor, disciplina, trabalho e uma vida normal em tudo", disse.

      Dicionário Oxford vai mudar definição de 'casamento' para incluir homossexuais

      folha de são paulo

      Dicionário Oxford vai mudar definição de 'casamento' para incluir homossexuais



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      Após a aprovação da lei que permite o casamento homossexual na Inglaterra e no País de Gales, editores do dicionário Oxford, o mais renomado da língua inglesa, anunciaram planos para revisar a definição do verbete "casamento".
      De acordo com o site "Gay Star News", editores da publicação irão acompanhar a mudança no emprego da palavra no decorrer do ano.
      "Monitoramos continuamente as palavras, especialmente àquelas cujo uso está mudando, então sim, isso deve acontecer com 'casamento'", disse uma porta-voz da editora da Universidade de Oxford.
      A versão atual do dicionário define o casamento como "união formal entre um homem e uma mulher, como reconhecido por lei, pela qual se tornam marido e esposa".
      Mudanças semelhantes já ocorreram em outros países que tornaram legal o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
      Na França, antes mesmo da aprovação da lei, o tradicional "Larousse" mudou o significado para "ato solene entre duas pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente, que decide estabelecer uma união".
      Já no Canadá, o dicionário "Canada Space" define o casamento como "o estado de se tornar um casal tendo se unido voluntariamente para a vida (ou até o divórcio)."

      Sem palanques nos Estados, Marina já admite 'voo solo' - Ranier Bragon e Paulo Gama

      folha de são paulo
      Atraso na criação de novo partido dificulta alianças em apoio à ex-senadora nos principais colégios eleitorais
      Baixa adesão de deputados à 'Rede' é entrave para obtenção de fatia maior do tempo de propaganda na TV
      RANIER BRAGONDE BRASÍLIAPAULO GAMADE SÃO PAULOA pouco mais de dois meses do prazo final para se credenciar à disputa eleitoral de 2014, coordenadores da Rede Sustentabilidade afirmam que, mesmo que consigam registrar a tempo o novo partido, não haverá palanques relevantes nos Estados para sustentar a candidatura presidencial de Marina Silva.
      Com isso, a pretensão da ex-senadora de suceder Dilma Rousseff não contará com dois dos principais trunfos das campanhas: fortes alianças estaduais e espaço na propaganda de rádio e TV.
      Terceira colocada na corrida ao Planalto em 2010, com 19,3% dos votos válidos, Marina está sem legenda desde 2011, quando rompeu com o PV. Desde então seu grupo articula a montagem da Rede, mas só no início deste ano começou a coletar as 492 mil assinaturas necessárias para colocar a legenda de pé --até ontem, dizia ter obtido 818 mil, mas só 125 mil haviam sido validadas pelos cartórios.
      Para que Marina se candidate, é necessário que seu novo partido passe por todo o processo burocrático de aprovação na Justiça Eleitoral até o início de outubro deste ano.
      Em resumo, os aliados da ex-senadora argumentam que o processo de criação da legenda inviabilizou a articulação de chapas relevantes de candidatos a governador, senador e deputados, discussão já a todo vapor entre os partidos estabelecidos.
      O deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), coordenador da última campanha de Marina, diz que a falta de palanques fortes nos Estados "foi um problema em 2010 e pode ser maior em 2014".
      "Mas a realidade é essa, vamos trabalhar com isso. Tem gente que acha que basta a candidatura da Marina, outros acham que ela precisa de alianças. Mas, a rigor, essa discussão nem começou."
      O também deputado Domingos Dutra (PT-MA), reforça: "Como diz o ditado, ou toca o sino ou acompanha a procissão. Priorizamos o recolhimento de assinaturas, infelizmente não vamos ter chapas fortes nos Estados".
      O esvaziamento das chapas estaduais, com o consequente recuo de políticos que ensaiavam ingressar na Rede, se reflete no tempo de propaganda eleitoral na TV, que é calculado com base no número de deputados federais que a legenda possui.
      Como a filiação de deputados federais à Rede deve ser menor do que a dos seis previstos até há alguns meses, Marina teria pouco mais de 1 minuto em cada bloco de 25 minutos, menos do que o já pequeno espaço que teve em 2010 (1min23s).
      "Um minuto de TV da Marina pode ser equivalente a 30 minutos de outros candidatos", rebate o deputado federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP). Ele cita a internet como meio de escapar às dificuldades. "Se está fugindo dos métodos políticos convencionais, por que não buscar formatos de apoios alternativos nos Estados também?"
      Aliados de Marina esperam que a insatisfação das ruas favoreça a ex-senadora. Segundo o Datafolha, a ex-senadora subiu de 16% para 23% das intenções de voto após os protestos. Em 2010, Marina já havia tentado esse modelo, mas a arrecadação pela internet foi pífia: R$ 170 mil, menos de 0,6% do gasto total.

        Painel - Vera Magalhães

        folha de são paulo
        Na telinha
        Dilma Rousseff deve fazer nas próximas semanas uma série de aparições ao vivo em programas de TV de grande audiência. A presidente tem sido aconselhada por ministros e aliados a se expor mais vezes sem a blindagem dos pronunciamentos, recurso que usou fartamente no primeiro semestre. A avaliação é que, quando fala de forma espontânea, Dilma se sai melhor. As atrações às quais ela comparecerá ainda não foram definidas, mas devem cobrir vários perfis de audiência.
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        Fala, Dilma Aloizio Mercadante é um dos assessores que defendem maior exposição da presidente. Depois da entrevista exclusiva à Folha, ela deve conceder outras segmentadas, abordando programas como o Mais Médicos e o plano de concessões.
        Numa boa Em resposta à crítica de empresários de que Dilma não teria bom diálogo com o setor, interlocutores dizem que a presidente saiu muito bem impressionada de reunião com Luiz Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, na semana passada.
        Tô dentro Na conversa, Trabuco disse que o banco oferecerá crédito de longo prazo para os vencedores dos leilões de concessões de estradas, que o governo realiza a partir do mês que vem. O financiamento é uma das condições consideradas essenciais pelos investidores.
        Arquivo Joaquim Barbosa mandou tirar cópia há alguns meses de todo o seu histórico pessoal no Itamaraty. Integrantes da pasta não gostaram de ele ter dito que a instituição é uma das "mais discriminatórias do Brasil''.
        Mágoa O presidente do STF fez concurso para a carreira diplomática, mas não foi aprovado. Em entrevista recente, o ministro atribuiu o fato de não ter sido aprovado a questões raciais.
        Tumulto Policiais federais e militares bateram cabeça na despedida do papa, anteontem. Segundo um membro do governo, houve cerco "desnecessário'' a Francisco pela PF na base aérea, estragando, inclusive, as imagens.
        Onde pega O pano de fundo da sobreposição é a disputa entre PF e Ministério da Defesa para comandar a segurança de grandes eventos, como a Copa de 2014.
        Currículo Fundadores da Rede, novo partido de Marina Silva, vão se reunir no dia 10 de agosto para elaborar uma lista de critérios para escolha dos quadros da legenda. Decidirão se vão exigir ficha limpa de todos os seus filiados, por exemplo.
        Contagem... Dado o fracasso da fusão com o PMN, o PPS pediu a José Serra que considerasse sua filiação ao partido antes do prazo para troca de legendas para a eleição de 2014, em 5 de outubro.
        ...regressiva O objetivo era aproveitar a entrada do ex-governador na corrida presidencial para arregimentar outros políticos. Serra não se animou com a proposta.
        Tabuleiro O PSDB paulista prepara um rearranjo de seus deputados nas eleições de 2014. Os federais Luiz Fernando Machado e Vaz de Lima podem concorrer a vagas na Assembleia Legislativa, e os estaduais Bruno Covas e Samuel Moreira devem disputar espaço na Câmara.
        Foco Em conversa com um integrante da CPI dos Transportes, Fernando Haddad (PT) disse esperar que a comissão identifique gargalos do sistema de ônibus da capital e produza um relatório para reduzir os custos do sistema na próxima licitação.
        Fiscais Haddad lança na quinta-feira o Conselho Participativo Municipal, com integrantes eleitos pela população, para monitorar investimentos e serviços públicos.
        com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
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        TIROTEIO
        "Dilma e Haddad estarão juntos de novo para fazer o que mais sabem fazer: promessas. Está na hora de entregar algum resultado."
        DO VEREADOR MARIO COVAS NETO (PSDB-SP), sobre a visita da presidente a São Paulo para anunciar investimentos bilionários ao lado do prefeito petista.
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        CONTRAPONTO
        Bons hábitos à mesa
        O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro jantava com um potencial cliente francês em Paris, há algumas semanas, quando recebeu um telefonema do publicitário Duda Mendonça, a quem defendeu no julgamento do mensalão. Kakay pediu licença para atender à ligação. Quando desligou, ouviu uma queixa:
        --Aqui não atendemos o celular durante um jantar.
        --Mas meu cliente tinha urgência. Espero que você nunca tenha uma situação similar -- desculpou-se.
        Mais tarde, o francês lhe telefonou e disse que havia se inteirado do caso de Duda. E queria contratá-lo.

          Posição da igreja é a mesma, mas a ênfase é outra - Reinaldo José Lopes

          folha de são paulo
          ANÁLISE - A IGREJA E O GAYS
          Posição da igreja é a mesma, mas a ênfase é outra
          A rigor, nada do que Francisco disse é novo, mas, em uma instituição milenar, enfoques também são importantes
          REINALDO JOSÉ LOPESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAComo está virando rotina desde que Jorge Bergoglio se tornou papa, o pontífice tem conseguido mandar mensagens poderosas seja pelo que fala, seja pelo que cala. A declaração sobre sua recusa em "julgar" quem é gay, mas busca a Deus de modo sincero, provavelmente precisa ser lida dentro dessa moldura.
          É verdade que, a rigor, não há nada de inovador em Francisco afirmar que é preciso acolher as pessoas com "tendências" homossexuais e inclusive citar o catecismo da Igreja Católica. É o que os últimos papas têm dito.
          A questão é que a igreja traça uma distinção aristotélica entre "tendência" e atos, em especial atos rotineiros e que não envolvam arrependimento e desejo de conversão, de deixar de agir daquele modo.
          A visão católica tradicional é que a prática homossexual é um pecado como qualquer outro --como o adultério cometido por heterossexuais casados, digamos. Ninguém pode, por um ato de vontade, simplesmente evitar o desejo por outra mulher mesmo sendo casado, mas o que pode e deve fazer, diz a igreja, é evitar que esse desejo saia do controle e vire uma traição.
          A proibição cristã da prática homossexual está diretamente ligada às origens judaicas da igreja. Em passagens do Levítico, a Bíblia hebraica condena os "homens que se deitam com outros homens como se fossem mulheres", dizendo que se trata de uma "abominação" e condenando ambos à morte. Não há registros confiáveis de alguém que tenha sido sentenciado a essa pena na época em que os israelitas eram uma nação independente.
          Embora interpretações posteriores do Gênesis associem a destruição de Sodoma e Gomorra pela ira divina a uma tentativa de estupro homossexual por parte dos moradores contra anjos enviados por Deus, o sentido da passagem parece ser o de que foram condenados por violar o costume de respeitar os hóspedes, importante "lei não escrita" do Oriente Médio.
          No Novo Testamento, os Evangelhos não registram nenhuma fala de Jesus sobre a homossexualidade. Em algumas de suas cartas, o apóstolo Paulo parece reafirmar a condenação judaica desse tipo de prática sexual. Alguns especialistas modernos dizem, no entanto, que a terminologia e o contexto dos textos paulinos são ambíguos.
          Segundo eles, Paulo não estaria se referindo a relações consensuais entre dois gays adultos de mesma condição social, mas sim à prática de "pederastia", na qual um homem de condição livre, já adulto, forçava adolescentes pobres ou escravos a serem seus amantes passivos. Nessa interpretação, Paulo estaria condenando a violência inerente a esse tipo de relação sexual. A ideia de "casamento gay" estaria simplesmente fora do horizonte cultural dos primeiros cristãos.
          É perfeitamente possível interpretar a declaração de Francisco sobre os gays no mesmo contexto do que ele disse sobre sua recusa em citar temas como aborto, casamento homossexual e ordenação de mulheres. Nesses três temas polêmicos ele se limitou a dizer: o ensinamento da igreja não muda e não achei que era o caso ficar martelando os temas na Jornada Mundial da Juventude.
          Por outro lado, é inegável que, numa instituição com tanto peso histórico quanto a igreja, enfoques e ênfases também são importantes.
          Só para citar um exemplo, é improvável que João Paulo 2° achasse supérfluo insistir nessas questões. E abordar a questão da homossexualidade primeiro pelo ângulo da "misericórdia", por mais que isso possa soar condescendente aos ouvidos da militância gay, pode ter repercussões importantes na maneira como a questão é tratada no cotidiano pastoral da igreja.
            Gays precisam ser integrados à sociedade, afirma Francisco
            'Quem sou eu para julgar?', diz papa em entrevista no voo após visita ao Brasil
            Pergunta sobre aborto é evitada com alegação de que a posição da igreja sobre o assunto já é conhecida dos jovens
            FABIANO MAISONNAVEENVIADO ESPECIAL A ROMANa mais ousada declaração de um pontífice sobre homossexualidade, o papa Francisco disse que os gays "não devem ser discriminados, mas integrados à sociedade".
            "Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?", disse aos quase 70 jornalistas que embarcaram para Roma com ele. As declarações foram em resposta a revelações de que um assessor seria homossexual e a uma frase atribuída a ele de que havia um "lobby gay" no Vaticano.
            O papa também elogiou a Renovação Carismática e disse que nem todos na Cúria são santos. Aos 76 anos, Francisco respondeu às perguntas de pé por quase 90 minutos.
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            Banco do Vaticano
            O primeiro é o problema do IOR [Instituto para Obras da Religião], como encaminhá-lo, como reformá-lo. Não sei como o IOR vai ficar. Alguns acham melhor que seja um banco, outros que seja um fundo, uma instituição de ajuda. Eu não sei. Eu confio no trabalho das pessoas que estão trabalhando sobre isso.
            O presidente do IOR permanece, o tesoureiro também, e o diretor e o vice-diretor pediram demissão. Não sei como vai terminar essa história. Seja o que for, tem de ter transparência e honestidade.
            Frugalidade e escândalos
            Fico na [casa de] Santa Marta. Eu não poderia viver sozinho no Palácio [Apostólico]. O apartamento pontifício é grande, mas não é luxuoso. Mas não posso viver sozinho. Preciso de gente. Quando me perguntaram se eu estava aqui pela austeridade, eu respondi: "Não, por motivos psiquiátricos". Os cardeais que trabalham na Cúria não vivem como ricos. Têm apartamentos pequenos. São austeros.
            A austeridade é necessária para todos. Trabalhamos a serviço da igreja. Existem santos na Cúria. Também existem alguns que não são muito santos. E são estes que fazem mais barulho. Uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que cresce. Isso me dói. Porque são alguns que causam escândalos.
            Aborto
            A igreja já se expressou perfeitamente sobre isso. Não era necessário voltar a isso. Também não falei sobre o roubo, a mentira. Para isso a igreja tem uma doutrina clara. Queria falar de coisas positivas, que abrem caminho aos jovens. Os jovens sabem perfeitamente a posição da igreja.
            Renovação Carismática
            Nos anos 1970, início dos 1980, eu não podia nem vê-los. Uma vez disse a seguinte frase: eles confundem uma celebração musical com uma escola de samba. Eu me arrependi. Agora vejo que esse movimento faz muito bem à igreja.
            Em Buenos Aires, eu fazia uma missa com eles uma vez por ano na catedral. Vi o bem que eles faziam. A Renovação Carismática não serve apenas para evitar que alguns sigam os pentecostais. Eles são importantes para a própria igreja, a igreja que se renova.
            Ordenação de mulheres
            Sobre a participação das mulheres, ela não se pode limitar a alguns cargos: a catequista, a presidente da Cáritas. Deve ser mais, muito mais.
            Sobre a ordenação, a igreja já falou e disse que não. João Paulo 2° disse com uma formulação definitiva: essa porta está fechada. Nossa Senhora é mais importante que os apóstolos. A mulher na igreja é mais importante que os bispos e os padres. Acredito que falte especificação teológica.
            Divórcio
            A igreja é mãe. Ela não se cansa de perdoar. Os divorciados podem fazer a comunhão. Não podem quando estão na segunda união. Esse problema deve ser estudado pela Pastoral do Matrimônio. Estamos a caminho de uma pastoral matrimonial mais profunda. A questão da anulação do casamento deve ser revisada.
            Lobby gay
            Sobre o monsenhor [Battista] Ricca [novo diretor do Banco do Vaticano, acusado de ter mantido relacionamento homossexual], fiz o que o direito canônico manda fazer: a investigação prévia. E não tem nada do que o acusam.
            Devemos distinguir o fato de que uma pessoa é gay de formar um lobby gay, porque nem todos os lobbies são bons. Isso é que é ruim. Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?
            O catecismo da Igreja Católica diz que não devem ser discriminados por causa disso, mas integrados à sociedade. O problema não é ter essa tendência. Não! O problema é o lobby dessa tendência, da tendência de pessoas gananciosas: lobby político, de maçons, tantos lobbies.

              Tv Paga


              Estado de Minas: 30/07/2013 

              À moda de Giorgetti

              A noite é de Ugo Giorgetti hoje no Canal Brasil. Além da exibição, à 0h15, do documentário Quebrando a cara (1986), que registra a trajetória de Éder Jofre, é dele o filme da sessão Seleção brasileira, às 22h. Trata-se de Cara ou coroa, que conta a história de um diretor de teatro atarefado com os ensaios para uma nova peça, enquanto um casal decide colaborar com a resistência à ditadura, abrigando dois fugitivos. No elenco: Emílio de Mello, Julia Ianina, Geraldo Rodrigues e Walmor Chagas (foto), em sua última aparição no cinema – ele morreu em janeiro deste ano. Ah, o filme Cara ou coroa está saindo também em DVD pela Coleção Canal Brasil.

              Muitas alternativas
              no pacote de filmes

              Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais 10 boas opções: Cilada.com. no Telecine Fun; Mamma mia!, no Telecine Touch; O exercício do poder, no Telecine Cult; Dália negra, no ID; Senhores do crime, no Space; Quarentena, no AXN; Os reis de Dogtown, no Sony; Happythankyoumoreplease, no Glitz; Amizade colorida, na HBO; e Te amarei para sempre, na Warner. Outros destaques da programação: Drive, às 20h05, no Telecine Action; e Os infiltrados, às 22h15, no FX.

              Coreógrafa divulga
              a dança na periferia

              José Wilker conversa com o ator Gustavo Gasparani, parceiro de Miguel Falabella e Amir Haddad, na edição de hoje do programa Palco e plateia, às 21h30, no Canal Brasil. Na Cultura, às 23h, a convidada de Antônio Abujamra no Provocações é a coreógrafa e diretora Gal Martins, criadora da companhia Sansacroma, que tem como objetivo levar a dança moderna até a periferia.

              Bio vai traçar o perfil
              de Ademir da Guia

              Um dos maiores nomes da história do futebol brasileiro, líder da famosa Academia do Palmeiras nos anos 1960 e 1970, Ademir da Guia é tema de um especial hoje, às 18h30, no canal Bio. É que a emissora exibe o documentário Um craque chamado Divino. Ademir foi um dos craques da bola mais injustiçados de todos os tempos, tendo disputado apenas uma partida de Copa do Mundo, em 1974, quando o Brasil já não competia mais pelo título, mas por um modesto terceiro lugar contra a Polônia. Com o palmeiras foi campeão paulista cinco vezes e conquistou dezenas de títulos, entre campeonatos oficiais e torneios amistosos nacionais e internacionais.

              Mineirinho ensina a
              fazer o 540º no skate

              Ainda falando de esportes, mas numa linha bem radical, o canal VH1 retoma hoje a série Back track, às 21h. E o convidado da vez, abrindo o pacote de episódios inéditos, é o skatista Sandro Dias, conhecido como “Mineirinho”, que conta como funciona uma manobra quase impossível em cima do skate, o giro de 540º no ar. A produção vai de Bragança Paulista (SP), onde Mineirinho construiu seu half pipe particular, até os X-Games de Los Angeles.

              Pedro Oliva leva seus
              amigos para o Havaí

              O canal Off também tem novidades reservadas para hoje. Às 21h, estreia a quarta temporada de Kaiak. Pedro Oliva e seus amigos californianos Ben Stookesberry e Chris Korbulic exploram os quatro cantos do mundo atrás de cachoeiras e novas aventuras. O primeiro destino é o Havaí.

              DOMINGUINHOS GANHA HOMENAGEM HOJE NA TV‏


              Caras & bocas 
               
              Simone Castro - simone.castro@uai.com.br

              Estado de Minas: 30/07/2013 


               Pai bandido

              Ninho (Juliano Cazarré) vai se mostrar o cara fraco e inconsequente que sempre foi e cairá na lábia de Félix (Mateus Solano), com um grande empurrão de Alejandra (Maria Maya), nos próximos capítulos de Amor à vida (Globo). E sequestrará a própria filha, Paulinha (Klara Castanho), fazendo a menina passar por momentos de horror. A ideia do crime, claro, é de Félix. O vilão confirma que Ninho é o verdadeiro pai da criança e põe lenha na fogueira ao dizer que Paloma (Paolla Oliveira) e Bruno (Malvino Salvador) estão quase voltando às boas. “Vocês terão a chance de conviver e de se tornar amigos”, dispara Félix para o ex de sua irmã. Ele topa. Para que o serviço seja completo, Félix diz que é para Ninho sequestrar a enfermeira Ciça (Neusa Maria Faro), pois assim ela administrará os remédios que Paulinha toma. No dia marcado, Ninho, acompanhado de Alejandra, se aproxima de Ciça, joga uma conversa na mulher e todos seguem para a escola de Paulinha. Ao notar que a estudante conhece Ninho, a inspetora da escola, sem nenhum problema, libera a menina. Ele a leva para o carro. Bruno chega e se desespera ao saber que Ninho levou sua filha. Esperta, Paulinha foge dos hippies. Mas, é alcançada por Alejandra. Ao encontrar um homem, a garota pede socorro. Ele tenta ajudá-la, mas Alejandra o mata, para desespero da criança.

              A NOVA ATRAÇÃO DO SBT
              ENTRA EM FASE DE TESTES


              O SBT prepara nova atração, o Famoso quem?, inspirado no formato de My name is e que terá apresentações de covers. A emissora realiza testes para compor o elenco. E quem teria sido vista no canal prontinha para participar de um teste foi Thammy Miranda, que se destacou no papel de Jô na novela Salve Jorge. Ela não renovou contrato com a Globo. O novo programa pode estrear em setembro.

              PAULO GUSTAVO ESTÁ
              FAZENDO SUCESSO GERAL


              O humorista Paulo Gustavo anda em alta. Além do seriado Vai que cola, no canal pago Multishow, ele foi confirmado para a quinta temporada de 220 volts, da mesma emissora, e acabou de ultrapassar a marca de 2 milhões de espectadores com o filme Minha mãe é uma peça. Em 2014, o ator estreará um reality show intitulado Paulo Gustavo na estrada, que promete mostrá-lo durante a turnê do espetáculo Hiperativo.

              DOMINGUINHOS GANHA
              HOMENAGEM HOJE NA TV


              O músico e compositor pernambucano Dominguinhos, que faleceu na semana passada, aos 72 anos, em razão de um câncer no pulmão, será homenageado no Canal Brasil (TV paga). Serão dois programas especiais nesta terça-feira: uma entrevista que ele concedeu ao músico e jornalista Tárik de Souza, na série MPBambas, às 16h30, e o documentário O milagre de Santa Luzia, de Sérgio Rozeinblit, às 17h. No longa-metragem de 2008, o artista viaja de caminhonete pelo Brasil e percorre as mais diversas regiões onde a sanfona ganhou destaque e onde surgiram os seus grandes intérpretes. Considerado um dos sanfoneiros mais importantes do país, Dominguinhos, que nasceu na cidade de Garanhuns (PE) em 1941, é também reverenciado como herdeiro de Luiz Gonzaga, que conheceu aos 8 anos de idade. Ao longo da carreira, fez parcerias de sucesso com Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan e Elba Ramalho, entre outros.

              RELAÇÕES HOMOAFETIVAS
              TÊM ESPAÇO NA TELINHA


              Além do casal Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcello Antony), de Amor à vida, que tenta ter um filho, mais uma relação homoafetiva ganhará espaço em outra trama. Desta vez, Filipinho (Josafá Filho) assumirá sua orientação sexual em Sangue bom. E formará par romântico com Peixinho (Júlio Oliveira). Mas, até lá, ele terá que se entender com a mãe, Rosemere (Malu Mader), que não quer ouvir falar no assunto. Já na próxima trama de Manoel Carlos, Em família, que vai substituir Amor à vida, o casal será formado pelas personagens de Giovanna Antonelli e Alinne Moraes. Não será assim logo de cara, no entanto. Mulher casada e com um filho, a personagem de Giovanna abandonará o marido quando se apaixonar pela personagem de Alline.

              NOIVA FANTASMA

              Não teve jeito: a personagem Nicole (Marina Ruy Barbosa) vai mesmo morrer em Amor à vida (Globo). Dentro ou fora do script, o fato é que a personagem criada por Walcyr Carrasco se transformará em fantasma e passará a assustar o marido, Thales (Ricardo Tozzi), e Leila (Fernanda Machado), a essa altura já morando juntos na mansão da falecida. Nicole passará desta para melhor depois da cerimônia de casamento com o escritor. Ela deixará um testamento em que imporá algumas restrições ao seu herdeiro, o marido, que não poderá vender a mansão e ainda terá que abrigar a governanta Lídia (Ângela Rebello). Quem não gosta nada disso é a ambiciosa Leila, que ficará com algumas joias que pertenceram à bisavó da milionária. Assim que morre, Nicole vai passar por um túnel branco e a trama, nesse núcleo, ganhará ares de sobrenatural. Nicole voltará na forma de uma borboleta, inicialmente, sempre por perto de Thales, mas que se afastará quando Leila se aproximar. Sua música e perfume preferidos também tomarão conta da casa. Mais tarde, Nicole aparecerá para Thales vestida de noiva e em várias situações. Ela não se conforma de ter sido traída por ele. E fará de tudo para também castigar Leila, a falsa amiga. 

              Um truque a menos - Janio de Freitas

              folha de são paulo
              A Secretaria de Aviação Civil ainda vai manipular o edital para o Galeão antes de entregá-lo ao TCU
              O governo retirou as exigências --assunto desta coluna no domingo-- que restringiam a concorrência, entre grupos privados, nos leilões de concessão dos aeroportos do Galeão e de Confins (próximo a Belo Horizonte). Os três grupos já vencedores de outras concessões poderão concorrer, se o desejarem, aos dois próximos leilões. Mas o edital que deverá chegar nesta semana ao Tribunal de Contas da União, para o exame prévio, não dispensa novas atenções do Gabinete Civil da Presidência e de outros setores do governo.
              A Secretaria de Aviação Civil (SAC) ainda vai manipular o edital para o Galeão antes de entregá-lo ao exame do TCU. E basta ver os argumentos precários de certas condições preservadas para perceber o que ronda esses leilões tão valiosos. Por exemplo, a exigência de que grupos concorrentes ao Galeão estejam integrados por controladora de aeroporto estrangeiro com movimento mínimo de 35 milhões de passageiros por ano.
              O número em si não tem importância. Poderia ser qualquer outro: a SAC diz prever que 60 milhões transitarão pelo aeroporto em 2038, último dos 25 anos da concessão, então por que 35 milhões, e não 28 ou 40 ou 44 milhões? Nas concorrências, os pormenores costumam ser o decisivo. E há o argumento, dado ao "Globo" de ontem pelo ministro da SAC, Moreira Franco: "o melhor critério objetivo no processo de seleção, neste caso, é o número de usuários".
              A quantidade de usuários não tem a ver com a qualidade dos serviços. Podem ser 35 milhões ou 50 milhões de insatisfeitos. E aeroporto é de uso compulsório, os usuários não podem dirigir-se a outro, por pior que seja o serviço. A indicação de qualidade é encontrada em relatórios, número de queixas, pesquisas e nas numerosas publicações especializadas em aviação comercial. Os 35 milhões no edital valem como advertência para os pormenores com ares de rigor.
              Números como aquele exigido são úteis, nas concorrências, para impedir determinados candidatos. A propósito mesmo de aeroportos, há anos foi antecipado aqui o resultado de uma concorrência em que era exigida prova de colocação de ao menos 20 mil m² de piso de granito. Só uma empreiteira podia cumprir a exigência aparentemente técnica: a Andrade Gutierrez, no aeroporto de Confins, esse que vai a leilão.
              Além do mais, esses leilões dos aeroportos são o centro de inúmeros interesses e truques. Até o timbre e o nome do Cade (Conselho Administrativo de Direito Econômico) está usado indevidamente em um pretenso estudo de consultoria para influir nos leilões.
              CRIATIVA
              Presidente do PT, Rui Falcão é dado a falar e, nisso, a dizer coisas interessantes. Uma das suas últimas, na coluna de Ilimar Franco no já citado "Globo": "Se nós e o governo Dilma não formos capazes de romper o cerco contra o PT, será real o perigo de definhamento do projeto iniciado pelo presidente Lula".
              Acaciana recheada com uma dica para os adversários: "apertem, que levam".
              QUEM DERA
              Quebra-quebra de paulistanos em "solidariedade aos cariocas contra Sérgio Cabral"? Se apenas um punhado entre aqueles baderneiros soubesse o nome do governador do Rio, ah, já seria um grande avanço na cultura política nacional.

                O câncer sob nova ótica

                Pesquisadores dos EUA sugerem mudanças no diagnóstico, no tratamento e na definição da doença. Segundo eles, os atuais exageros nas intervenções contra o mal podem causar mais prejuízos aos pacientes que os próprios tumores 


                Bruna Sensêve


                Estado de Minas: 30/07/2013 

                Um grupo de trabalho americano abre uma discussão ainda preliminar sobre mudanças radicais no diagnóstico e no tratamento do câncer. Uma lista de recomendações publicada na edição desta semana da revista científica Journal of the American Medical Association (Jama) discorre sobre um possível excesso no diagnóstico precoce da doença e no consequente tratamento excessivo contra o mal. Juntos, os problemas podem levar o paciente a consequências mais graves que as que surgiriam pela própria doença. Entre as soluções para o problema, os estudiosos, ligados ao Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, sugerem mudanças na definição do que seria o câncer e até uma renomeação da doença, especialmente em casos de tumores pré-malignos com prognóstico indolente, os casos que não vão progredir para uma situação letal.

                Segundo os pesquisadores, ao longo dos últimos 30 anos, a conscientização e a triagem levaram a uma ênfase no diagnóstico precoce do câncer com o objetivo principal de reduzir as taxas de incidência e de mortalidade. Porém, ensaios clínicos e dados populacionais já teriam demonstrado que essas metas não foram cumpridas, inclusive com aumentos significativos nas primeiras fases da doença, quando acontece o diagnóstico precoce, sem uma diminuição proporcional na doença em estágio avançado. “A palavra câncer muitas vezes invoca o espectro de um processo inexoravelmente letal, no entanto, os cânceres são heterogêneos e podem seguir vários caminhos, nem todos evoluem para metástase e morte e incluem a doença indolente, que não causa dano durante a vida do paciente”, explicam os pesquisadores, no texto publicado.

                A partir dessas informações, eles propõem uma adaptação do rastreio do câncer, focando a identificação e o tratamento de condições provavelmente associadas com a morbidade e a mortalidade. Dessa forma, eles identificaram padrões específicos de alguns tipos de câncer que merecem maior ou menor atenção para a frequência de rastreamento. Por exemplo, pelos dados analisados, a triagem para o câncer de mama e de próstata, pareceu detectar um maior número de cânceres que potencialmente são clinicamente insignificantes, segundo os cientistas. O câncer de pulmão também poderia seguir esse padrão se o rastreio de alto risco for adotado. “Esôfago de Barrett e carcinoma ductal da mama são exemplos para os quais a detecção e remoção de lesões consideradas pré-cancerígenas não levaram à menor incidência de câncer invasivo.”

                No extremo oposto, estariam os cânceres do cólon e do colo do útero, alvo hoje de programas de rastreio eficazes em todo o mundo. Nesses casos, a detecção precoce e a remoção de lesões pré-cancerígenas reduziram substancialmente a incidência das doenças. Para os pesquisadores, a frequência de triagem ideal depende da taxa de crescimento do câncer, já que, no caso de um tumor indolente, a detecção é potencialmente prejudicial, pois pode resultar em excesso de tratamento. 

                Vladimir Safatle - A reconciliação de Mandela

                folha de são paulo
                A reconciliação de Mandela
                Ao que tudo indica, a África do Sul, dentro de algum tempo, irá se confrontar com as obséquias de seu herói nacional, Nelson Mandela.
                É certo que a reconciliação sul-africana está longe de ser uma operação completamente bem-sucedida. Embora uma classe média negra tenha aparecido e negros possam ser encontrados na direção de certas empresas, a desigualdade econômica entre raças ainda é gritante. Casamentos mistos continuam sendo extremamente raros.
                A experiência sul-africana liderada por Mandela nos deixa, no entanto, uma questão que merece longa refle-xão. O apartheid foi inven- tado por um povo, à sua maneira oprimido.
                A colonização branca começou com os holandeses, na região onde hoje se encontra a Cidade do Cabo. A partir do início do século 19 e impulsionados pela luta pela posse dos recursos naturais sul-africanos, os britânicos se estabeleceram no país, começando um longo processo de conquistas que culminou na Guerra dos Bôeres, no final do mesmo século. Nesta guerra entre britânicos e principalmente holandeses (africâneres), apareceram os primeiros campos de concentração nos quais toda uma população foi alvo sistemático de encarceramento.
                Foi esse povo oprimido pela pela experiência do domínio britânico e pelos campos que, logo após a Segunda Guerra Mundial, alimentado por um nacionalismo vivenciado como defesa contra a humilhação, proclamou a República da África do Sul, instaurando o regime do apartheid. Ou seja, a experiência da opressão não levou à alguma forma de consciência social do trauma da colonização. Ela levou à justificação do direito de defender seu povo, custe o que custar, usando o pior sistema ideológico possível.
                Talvez tenha sido a consciência do ciclo interminável no qual a vítima de outrora, animada pelo ressentimento, se transforma no próximo agressor que levou Mandela a procurar a reconciliação que acabou por ser implementada. A África do Sul tinha tudo para entrar em uma verdadeira guerra civil, mas ao menos isto não ocorreu.
                Essa reconciliação foi, entretanto, baseada em uma ideia fundamental: só é possível perdoar quem reconhece seu crime. A experiência social do perdão exigiu, em contrapartida, que os responsáveis por atos racistas pedissem perdão e confessassem seus crimes diante das vítimas ou de seus familiares.
                Isso não significa que a justiça foi feita, mas implica, ao menos, que o solo mínimo da anistia é a culpabilização social de quem praticou crimes contra a humanidade. Por isso, quando Mandela morrer, o Brasil também merecerá parar e pensar.

                  Receita de mãe - Carlos Heitor Cony

                  folha de são paulo
                  RIO DE JANEIRO - Muito boa, antológica, a entrevista [aqui e aqui] que o papa Francisco concedeu ao Gerson Camarotti, merecedora de um prêmio especial por vários motivos, pelo entrevistado e pelo entrevistador.
                  Há 2.000 anos, são raríssimas as entrevistas pessoais com os chefes da Igreja Católica. Não havia veículos de transmissão e, quando surgiram jornais, revistas, rádio e TV, continuaram raríssimas. Para falar a verdade, só me lembro de três.
                  Viajei com João Paulo 2º duas vezes. Bati papo com ele, mas não foi uma entrevista. Ele contou que havia aprendido a dizer em português "aquele abraço". Perguntou se colava mal repetir a saudação em seus pronunciamentos oficiais. Não me deu conselho al-gum, mas o pediu a um pecador, agnóstico profissional.
                  Papa Francisco respondeu com sinceridade e coragem a todas as perguntas do Gerson. Na edição da entrevista, houve inserções dos seus pronunciamentos públicos, inclusive o que me pareceu mais veemente, quando exigiu que os jovens continuassem a protestar em todo o mundo contra uma sociedade injusta e violenta. Chegou a dizer, em público e na entrevista pessoal, que o jovem calado não é do seu agrado.
                  Reconheceu os pecados da igreja, ele próprio se admitiu pecador. Não será fácil reformar a Cúria Romana, poderá até se tornar trágico --já houve precedentes ao longo da história.
                  A sua primeira visita internacional foi mais do que um sucesso. Ele chegou a pedir desculpa ao prefeito do Rio pela "bagunça" que provocou na cidade. A culpa não foi dele, mas das autoridades locais, que se mostraram incompetentes para enfrentar um even- to de nível mundial.
                  A palavra que Francisco mais falou na entrevista foi "proximidade". A mãe que segura o filho no colo e fala com ele no peito, e não por meio de cartas e homilias. Valeu.

                    Bom, mas tem de melhorar [IDHM] - Eliane Cantanhêde

                    folha de são paulo
                    Bom, mas tem de melhorar
                    BRASÍLIA - O IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) confirma que o Brasil, mesmo que aos trancos e barrancos, vai no bom caminho. E que, apesar das críticas e da guerra cruenta entre PSDB e PT, foi sob o comando do sociólogo Fernando Henrique Cardoso e do grande líder de massas Luiz Inácio Lula da Silva que o país efetivamente deu seu grande salto.
                    A pesquisa mostra que o IDH do Brasil melhorou 47,5% em duas décadas e saiu de "muito baixo" para "alto". Em 1991, 85,8% dos municípios brasileiros tinham um IDH "muito baixo". Em 2010, era apenas 0,6%.
                    O maior salto é no Norte/Nordeste, mas o Sul/Sudeste continua na dianteira. O DF fica em primeiro lugar, mas, como é "hors-concours" por ser muito peculiar, cede lugar a São Paulo, ou seja, à "locomotiva" do Brasil. De onde, aliás, o carioca Fernando Henrique e o pernambucano Lula saíram para o Planalto e para mudar a cara do país.
                    Um porque combateu a inflação, elevou o patamar internacional do país, botou a casa em ordem na economia e deu o "start" em programas sociais cruciais. O outro porque manteve uma política macroeconômica saudável e transformou o grande momento mundial em oportunidade para uma inclusão social histórica.
                    Caminhando ao lado dos dois regimes --um continuação do outro--, estávamos a população em geral, a academia, a indústria, o agronegócio e a imprensa independente cobrando, provocando, apontando erros e exigindo sempre mais. Assim se constrói um país melhor. Assim se consolida a cidadania. E daí 1 milhão de pessoas vão às ruas botando o dedo nas feridas e na cara dos governantes de todos os níveis.
                    Há muito ainda a fazer, principalmente na educação. O último lugar em desenvolvimento humano foi Melgaço (PA), onde metade da população não sabe ler nem escrever. Enquanto houver "Melgaços" no Brasil, gritemos. Oba-oba os governantes já fazem à exaustão.

                      O papa simples - Editorial FolhaSP

                      folha de são paulo
                      O papa simples
                      Francisco reúne milhões no Rio de Janeiro e mostra poder latente da Igreja Católica, mas sua visita ao Brasil também expõe paradoxos
                      Fotografado de costas, subindo sozinho a escada do avião e levando consigo uma pasta preta que dificilmente será de marca, o papa Francisco deixou neste domingo uma última e expressiva imagem de sua viagem ao Brasil.
                      A simplicidade de seus modos foi o que mais cativou. O acaso das circunstâncias e as falhas de planejamento contribuíram ainda mais para essa imagem de Francisco como um papa acessível, informal, quase membro da família.
                      O engarrafamento que paralisou o papamóvel, logo na chegada ao Rio de Janeiro, expôs Francisco a uma onda de afeto apropriada ao seu estilo. A sofisticação intelectual de seu antecessor, Bento 16, viu-se substituída por uma quase fisicalidade, por uma energia decorrente não apenas do carisma do cargo e da pessoa, mas da pura presença corporal, fungível, do novo vigário de Cristo.
                      Depois de um papa tão intelectual como Joseph Ratzinger, as palavras de Jorge Mario Bergoglio em sua primeira visita ao Brasil tiveram menor importância relativa.
                      Apesar de mudanças no tom --no que diz respeito à missão da igreja junto aos pobres e a um espírito de maior acolhida aos homossexuais--, não há como ver em Francisco, por enquanto, o anúncio de novos rumos no ensinamento romano. Quanto a isso, permanece o conservadorismo, ainda que em alguma medida mitigado.
                      A viagem serviu, sobretudo, para reafirmar a força latente da Igreja Católica no Brasil, que as estatísticas sobre o crescimento dos cultos evangélicos levam, no cotidiano, a ter menos em conta.
                      O fervor e a disseminação das novas igrejas cristãs é fenômeno de imensa repercussão, mas nenhum pastor ou bispo protestante poderia, sozinho, reunir tantos fiéis num só evento --e nisso estão, ao mesmo tempo, o trunfo e a fraqueza da Igreja Católica.
                      O tempo de formação de um membro do clero romano e as lentidões de uma hierarquia centralizada tornam mais difícil a multiplicação dos templos que se verifica entre os evangélicos --mas a centralização católica colhe, com um papa como Francisco, as vantagens da agregação maciça.
                      Surge aqui um paradoxo. Colocando-se no campo conservador sem hostilizar o progressista, Francisco --como Bento 16-- vê com olhos críticos o materialismo e a superficialidade da sociedade de consumo.
                      Ao mesmo tempo --essa a sua missão, seu sacrifício, sua alegria--, o papa se dá como espetáculo de massas. Estas o respeitam, celebram, ouvem. Mas também o consomem, fotografam, tiram-lhe da cabeça o solidéu para levar de recordação. Não faz mal; dão-lhe outro em troca. Talvez, por momentos, com a pasta preta na mão, esse papa simples se sinta bem com a cabeça descoberta.

                      Rumo ao aeroporto
                      Está em fase avançada de construção o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN), o primeiro concedido à iniciativa privada pelo governo Dilma Rousseff.
                      Erguido a cerca de 40 km de Natal, deverá estar pronto em dezembro e poderá iniciar suas operações em abril de 2014 --sete meses antes do prazo--, a tempo de atender a demanda da Copa do Mundo.
                      É outro o ritmo, porém, do poder público. As obras dos dois acessos rodoviários que conectarão o terminal de passageiros à capital potiguar ainda nem começaram --e estão mais de um ano atrasadas. Por enquanto, o caminho é de terra.
                      A situação é "surreal", para usar a expressão de José Antunes Sobrinho, presidente do conselho de administração da Inframérica, concessionária vencedora do leilão com um lance de R$ 170 milhões.
                      De fato, o episódio surpreende, mesmo diante dos padrões brasileiros de incompetência gerencial e burocracia em obras públicas.
                      O governo do Rio Grande do Norte reconhece que uma das estradas de acesso ao aeroporto não estará pronta quando o terminal for inaugurado, mas afirma que a outra será entregue até abril --em 2011, o Estado anunciara que os trechos rodoviários estariam concluídos em dezembro deste ano.
                      Dificuldades em obter financiamento do BNDES e da Caixa Econômica Federal estariam por trás do atraso. Segundo o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado, a empreiteira Queiroz Galvão, responsável pela pavimentação dos acessos viários, teria solicitado um aditivo para realizar as obras em prazo inferior ao previsto.
                      Diante da recusa do governo, o contrato foi rescindido. Há cerca de 30 dias, a EIT Engenharia assumiu a empreitada. A empresa admite que o cronograma é apertado, pois não contempla obstáculos externos, como as chuvas. Se o acesso não estiver pronto, haverá multas e prejuízo para o contribuinte.
                      Repete-se esse lamentável hábito da administração pública brasileira: a falta de coordenação e alinhamento de todas as etapas para o pleno cumprimento dos contratos gera atrasos e aumenta custos.
                      Financiamento, licenciamento ambiental, liberação de verbas já contratadas e projetos precários que param no escrutínio dos tribunais de contas são apenas alguns dos problemas recorrentes.
                      Evitar essas armadilhas, em muitos casos, depende de uma gestão pública de qualidade. Não deveria ser pedir demais.

                        Livro revela atestado de loucura do artista Bispo do Rosário e sua carreira de lutador

                        folha de são paulo
                        Ouvir o textoSILAS MARTÍ
                        DE SÃO PAULO
                        Um detalhe chama a atenção no primeiro prontuário médico escrito sobre Arthur Bispo do Rosário. Descrito como "calmo, de olhar vivo", com "ares de importância" e "fisionomia alegre", o paciente também podia associar "ideias com extravagância".
                        Não parece o diagnóstico de um louco, mas esse documento atestou loucura suficiente para que o artista sergipano, que morreu aos 80, em 1989, ficasse internado primeiro no hospício da Praia Vermelha e mais tarde na Colônia Juliano Moreira, no Rio.
                        Encontrado agora, esse prontuário, que será publicado pela primeira vez, é a peça-chave de uma extensa pesquisa -da psicóloga Flavia Corpas e do crítico de arte Frederico Morais- que acaba de ganhar forma de livro.

                        Bispo do Rosário

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                        Divulgação
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                        Bispo do Rosário usando roupas que bordou enquanto esteve internado na Colônia Juliano Moreira, no Rio
                        Entre outros fatos, "Arte Além da Loucura" dá detalhes sobre o surto que levou Bispo do Rosário a ser trancafiado num hospício e sobre sua vida antes, como lutador de boxe e oficial da Marinha.
                        São dados que dissolvem uma série de mitos, em um momento de redescoberta da obra de Bispo do Rosário, exaltado como figura central da última Bienal de São Paulo e ocupando agora uma sala na Bienal de Veneza, com seus mantos e estandartes.
                        "Ele não vivia em estado permanente de delírio, sabia das coisas", diz Morais, em entrevista à Folha. "Essa ideia meio romântica da loucura não existe. Ele sabia o que estava fazendo o tempo todo e se tornou uma figura poderosa dentro do hospital. Há uma ordem interna muito forte no trabalho dele."
                        Mesmo que não falasse sobre o passado, detalhes de sua vida estão documentados nos estandartes que bordou: da infância numa fazenda de cacau na Bahia à ida ao Rio como marinheiro, passando por sua carreira de pugilista.
                        São avalanches de nomes escritos em ordem alfabética, os mais importantes bordados do lado de dentro de seu "Manto da Apresentação". Além do nome do pai, Bispo lembrou ali alguns adversários que enfrentou no ringue.
                        LOBO DO MAR
                        Não eram histórias inventadas. Jornais da época narravam de forma assídua os embates do lutador que nunca foi nocauteado e ficou conhecido como "lobo do mar", ou "marujo de bronze", dotado de "dureza granítica".
                        Em 1929, reportagem do "A Manhã" descreveu sua primeira luta profissional como "encarniçada", afirmando que ela "arrancou aplausos pela violência dos lutadores".
                        Mas depois que um bonde esmagou um osso de seu pé, Bispo deixou o ringue e foi trabalhar como empregado doméstico na casa da família Leone, uma das mais ricas e poderosas do Rio na época.
                        Humberto Leone, um dos herdeiros do clã, conta que Bispo era vaidoso e se vestia "com luxo", usava gravatas de seda e perfume francês.
                        Isso até o Natal de 1938, quando teve os três sonhos que o levaram a se apresentar num mosteiro como um enviado divino, que veio à Terra numa esteira de nuvens para impedir que o "espírito malíssimo" aqui chegasse.
                        Naquele primeiro prontuário, estão descritas suas alucinações, entre elas o sonho de uma "chuva de estrelas", que "explodiam fazendo barulhos incríveis", como se imaginasse o próprio destino de brilhar noutro ringue.
                        ARTE ALÉM DA LOUCURA
                        AUTOR Frederico Morais, Flavia Corpas (org.)
                        EDITORA Nau
                        QUANTO R$ 148 (296 págs.)
                        Artista será tema de documentário rodado em 3D
                        DE SÃO PAULODepois de ver o documentário de Wim Wenders sobre a coreógrafa Pina Bausch, o primeiro filme desse tipo feito em 3D, a psicóloga Flavia Corpas pensou em usar o mesmo formato numa produção sobre Arthur Bispo do Rosário, que tem estreia prevista para o ano que vem.
                        "Vi que a obra do Bispo também é toda tridimensional, e que não seria um uso gratuito da tecnologia", diz Corpas, em entrevista à Folha. "Fiquei encantada com a ideia de um documentário em 3D, já que mesmo os bordados do Bispo reforçam esse aspecto no trabalho dele."
                        Numa parceria entre produtoras do Rio e de São Paulo, Corpas e a britânica Caren Moy, que assina com ela a direção, já registraram em 3D algumas mostras de Bispo, como sua sala na última Bienal de São Paulo e a exposição do artista no museu Victoria & Albert, em Londres, também no ano passado. Uma versão para TV também está sendo produzida.
                        Este será o primeiro filme sobre o artista desde que o psiquiatra e fotógrafo Hugo Denizart fez "O Prisioneiro da Passagem", documentário de 1982 para o qual Bispo deu uma longa entrevista.
                        Cenas daquele filme deverão ser reeditadas agora com novas imagens, além de documentos recém-descobertos, como seu primeiro prontuário médico e textos sobre sua carreira como boxeador.
                        "Tem um aspecto político importante resgatar a história dele da forma como ela aconteceu", diz Corpas. "E não de modo condizente com o que já inventaram."

                          Ney: uma tela em branco - Cesar Soto

                          folha de são paulo
                          Ney: uma tela em branco
                          O artista é o protagonista no filme 'Poder dos Afetos', e se entrega às mãos da diretora e roteirista Helena Ignez nas primeiras gravações
                          CESAR SOTOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA"Mas como é o personagem? É um tipo libidinoso?", perguntava Ney Matogrosso, 71. O cantor chegou às gravações do novo média-metragem de Helena Ignez, "Poder dos Afetos", sem saber ao certo como era seu personagem.
                          "Vim como uma tela em branco", conta Ney. "Faço tudo o que a Helena me pedir."
                          O Barão, personagem de Ney e protagonista do filme, é um homem de família aristocrata que, durante os anos 1980, teve problemas com drogas e foi preso na Bélgica. Passa seis anos na prisão, descobre o chá de ayahuasca --bebida usada durante os rituais do Santo Daime-- e retorna ao Brasil para montar uma comunidade isolada em uma fazenda da família.
                          "Tomei [chá] por um ano e meio, mas não estou pensando em fazer aqui uma pessoa do Daime. Não estou baseado nisso", afirma o cantor.
                          "Ele é como um xamã, mas sem o fanatismo", diz Ignez, que também escreveu o roteiro. "[A história] veio de minhas observações. Conheço várias pessoas com situações parecidas com a do Barão."
                          De acordo com a diretora, Barão e Ney compartilham a habilidade de se transformar, de mudar suas vidas. "O personagem gosta de cantar, tem uma voz belíssima. Ele também tem um lado positivo que o Ney tem naturalmente."
                          Apesar de preferir personagens opostos à sua personalidade, o cantor conta que gostou do filme pela semelhança:"Quero convencer de que não sou eu. Por mais que existam referências a mim."
                          O filme, que deve ter 20 minutos, foi rodado na Fazenda Serrinha, em Bragança Paulista (SP), durante o Festival de Arte Serrinha, que acabou neste último domingo (28).
                          O média será usado como um teaser para a captação de recursos de "Ralé", também escrito por Ignez. O roteiro do longa é baseado na peça de homônima de Máximo Gorki e expandirá a história de "Poder dos Afetos", transferindo-a para São Paulo (SP).
                          Mas Ney não estava totalmente informado dos planos. "Cheguei achando que era um longa, porque não conversamos muito a respeito", diz Ney. "Se precisar filmar, eu filmo. Não tem problema."
                          "Poder dos Afetos" é o segundo trabalho do cantor com a diretora. "Luz nas Trevas", lançado em 2012, teve Ney vivendo o papel do Bandido da Luz Vermelha, na continuação do filme de 1968.
                          Ignez afirma que não há semelhanças entre o Bandido e o Barão, mas que existem algumas coincidências. "Ambos passaram pela prisão e se transformaram, não se deixaram destruir. São dois personagens positivos."
                          A seguir, a entrevista que Ney deu à Folha ao chegar para os dois dias de gravações no interior paulista.
                          -
                          Folha - Ignez disse que gosta de personagens positivos. Você também gosta de fazer personagens desse jeito?
                          Ney Matogrosso - Gosto de fazer os opostos, que são as coisas mais atraentes. Nunca fiz um como esse, então não sei dizer se é algo bom ou ruim. Num outro curta ["Gosto de Fel", de Beto Besant] fiz um camarada maligno, das trevas. Foi um exercício que mexeu comigo de tal maneira que eu fiquei enlouquecido, tomando banho para afastar aquilo de mim.
                          E você gostou de fazê-lo?
                          Gostei de acessar esses lados escuros, porque quando você acessa isso dentro de si, consegue se destacar. Usar quando necessário, como foi o caso. É bom trabalhar como ator por isso, ter essa oportunidade de acessar todos os lados quando for preciso.
                          O que a música trouxe para a sua atuação?
                          Para esse filme não trouxe muita coisa. Para o anterior, perguntei a Helena, "o que você quer de mim?" e ela disse "eu quero você todo. Quero você do palco e você fora do palco".
                          E o que ela disse que queria dessa vez?
                          Ela não disse o que queria de mim. Disse que ele era inspirado em mim, o que já me deixou assustado de cara [risos]. Tenho medo disso. Porque aí vai me dar um trabalho. Se é inspirado em mim, vai me dar um trabalho para convencer que ele não sou eu.
                          O medo não é de se expor?
                          Não, não. O medo é de confundir, porque não é a minha biografia. É uma ficção. Ela me pediu que cantasse, mas o Barão, mesmo que cante com a minha voz, não será eu.
                          A ideia em "Ralé" é expandir a história para o ambiente urbano...
                          Eu não conheço a "Ralé", não li. Portanto, não sei nem que Barão é esse, tá [risos]? Eu estou aqui assim, em branco, e, o que ela quiser, eu vou fazer. Menos tirar a roupa nesse frio [risos]. Porque eu já tirei no outro [filme], mas agora com esse frio eu não tiro, não.
                          Mas você vai participar das gravações do longa?
                          Eu não sei. Achava que isso já era um longa. Se precisar filmar, eu filmo. Não tem problema. Só tem que ser em um momento em que eu esteja disponível.
                          Você prefere trabalhar assim, sem saber exatamente quais são os planos?
                          Da outra vez deu muito certo vir assim, em branco. Ela ia me dizendo o que queria. Eu acabava de filmar e ela me dava um feedback. É assim que eu estou aqui, para ela ir me indicando as coisas.

                            Chicago 2016 - Helio Schwartsman

                            folha de são paulo

                            Chicago 2016


                            Ouvir o texto
                            SÃO PAULO - Genial a capa do jornal "Chicago Sun-Times", de quarta-feira passada, que trazia uma foto de protestos violentos no Rio de Janeiro acompanhada da manchete "Perdemos para isso?", numa referência ao fato de a capital fluminense ter derrotado a cidade ventosa na disputa pelos Jogos Olímpicos de 2016.
                            Levando adiante o bom humor do diário americano, proponho que entreguemos a Chicago o direito de sediar o evento. Acho que ainda dá tempo e todos sairiam ganhando.
                            O motivo mais óbvio para opor-se à realização da Olimpíada no Rio é o elevado custo da operação. Há dúvidas de que financiar esse tipo de competição seja uma prioridade e é praticamente uma certeza que os gastos ocorrem de forma pouco republicana, com aplicações orçamentárias pouco transparentes e as inafastáveis suspeitas de favorecimento.
                            Meu ponto, porém, é que, mesmo que as despesas seguissem um modelo de plena lisura e total eficácia administrativa, ainda assim Olimpíada é algo de que governos deveriam manter prudente distância. A questão central é que esse tipo de despesa é concentrador de renda. É verdade que empreiteiros, donos de hotéis e de restaurantes, taxistas e o comércio em geral de fato podem beneficiar-se do investimento. Se a aventura produzir um legado de infraestrutura permanente (o que está longe de ser uma certeza), o carioca também ganhará algo.
                            O problema é que, para gerar essas oportunidades, tiramos dinheiro do caixa geral, para o qual todos contribuíram. Não me parece muito justo que o cidadão que paga impostos no Acre subsidie (e em condições longe das ideais) algo que será bom, no máximo, para parte dos cariocas.
                            Copas, Olimpíadas e grandes eventos internacionais são bem-vindos desde que financiados com dinheiro privado. Como não conseguimos fazer isso, preferimos apelar à velha lei da socialização dos prejuízos e da privatização dos lucros.
                            Hélio Schwartsman
                            Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve na versão impressa da Página A2 às terças, quartas, sextas, sábados e domingos e às quintas no site.