quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

Plano de educação de Haddad aumenta rigor sobre alunos - Ricardo Gallo

folha de são paulo
Prefeito pretende elevar número de séries em que estudante pode ser reprovado
Projeto para 2014 prevê também lição de casa obrigatória e boletim bimestral divulgado para pais na internet
DE SÃO PAULOO prefeito Fernando Haddad (PT) anunciará hoje um plano de reestruturação na educação municipal que prevê aumentar, a partir do ano que vem, as exigências para os alunos do ensino fundamental em São Paulo.
Entre as medidas está a possibilidade de reprovação em cinco das nove séries, como antecipou a Folha em julho. Hoje, o estudante só pode ser retido em duas séries.
A proposta, que ficará em consulta pública de hoje a 15 de setembro, fixa ainda obrigatoriedade de provas bimestrais e de lição de casa aos alunos, algo para o qual não há regra atualmente.
As notas irão de zero a dez, em vez dos atuais conceitos (plenamente satisfatório, satisfatório e não satisfatório).
Para o secretário de Educação, Cesar Callegari, "não se trata de mais rigidez aos alunos, mas de mais organização". Segundo ele, as escolas saberão com mais rapidez as dificuldades dos alunos e poderão atacar o problema.
Sem ter tido acesso à proposta, o presidente do Sinesp (sindicato dos diretores da rede municipal), João Alberto Rodrigues de Souza, faz ressalvas às notas de zero a dez em lugar de conceitos e à reprovação em cinco séries.
"É preciso ter cuidado com a forma como os professores receberão esses instrumentos nas mãos. Há histórico de professores que usam nota como forma de repressão, como se fosse uma arma para controlar o aluno", diz.
BOLETIM
O plano estabelece boletim bimestral para acompanhamento do desempenho de alunos, que os pais poderão consultar pela internet.
No aspecto disciplinar, também há alterações. Hoje cabe a cada escola definir quais sanções serão aplicadas em caso de indisciplina.
Pela proposta, haverá uma espécie de código de conduta, com regras para advertência ou suspensão.
PREMISSA
A proposta de alteração nas reprovações se baseou em uma premissa: pelo modelo atual, em que o aluno do primeiro ciclo só pode ser retido ao final do quinto ano, ele pode ficar muito tempo na escola sem aprender.
Dados da Prova Brasil de 2011 mostram que 38% dos alunos do 5º ano na cidade de São Paulo não estavam plenamente alfabetizados.
A meta é assegurar que todas as crianças saiam do terceiro ciclo alfabetizadas.
Souza, do sindicato dos diretores, acha boa a preocupação com alunos que não estão aprendendo e diz que as escolas ganharão autonomia.
A reprovação, segundo Haddad, só ocorrerá em último caso, de modo "residual". Isso porque, disse ele, haverá mais chances de recuperação durante o ano letivo.
Uma delas é a recuperação nas férias. Outra é a dependência --em que o aluno "carrega" no ano seguinte disciplinas nas quais não foi aprovado na série anterior.
Comum no ensino superior, a dependência valerá para os alunos do sétimo e do oitavo anos. Não está definido ainda qual o máximo de disciplinas a ser permitido.
OFERTA
O plano municipal também contempla ampliar a rede.
Está prevista, por exemplo, a construção de 367 unidades educacionais, das quais 20 CEUs (centros de educação unificados).
Para os CEUs, a gestão Haddad erguerá unidades ao lado de clubes-escola, para aproveitar a estrutura. O secretário da Educação disse que o modelo pedagógico no novo e no antigo CEU será idêntico.
    ANÁLISE - EDUCAÇÃO
    Proposta do prefeito agrada docente que quer mais poderes
    Educadores apontam que alunos perderam a disciplina porque sabem que a reprovação é quase impossível
    OS AGRADOS CONTEMPLARÃO CATEGORIA QUE FEZ UMA GREVE DE 23 DIAS EM MAIO PASSADO, CINCO MESES APÓS FERNANDO HADDAD ASSUMIR A PREFEITURA DE SÃO PAULO
    FÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULO
    Parte das propostas apresentadas pelo prefeito Fernando Haddad (PT) vai ao encontro do que reivindicam os professores das escolas públicas: mais poderes dentro das salas de aula.
    Um forte discurso entre educadores é que os alunos perderam a disciplina porque sabem que a reprovação é quase impossível após a adoção da progressão continuada, em 1992, na gestão Luiza Erundina (então no PT).
    A proposta de Haddad atende aos professores ao aumentar a possibilidade de retenção das atuais duas para cinco séries do fundamental.
    O prefeito diz que seu plano visa avaliar melhor e dar mais apoio pedagógico ao aluno, o que evitará que ele não saiba o conteúdo (e, consequentemente, reprove).
    De qualquer forma, a ferramenta da retenção estará à disposição dos professores, para desespero de educadores que veem a reprovação como uma das principais causas da evasão escolar.
    Ainda no capítulo disciplinar, o plano abre possibilidade para que se institucionalize na rede a advertência e a suspensão de alunos, outra reivindicação de docentes. A adoção de sanções hoje depende de cada escola.
    Os agrados contemplarão categoria que fez uma greve de 23 dias em maio passado --cinco meses após Haddad assumir a Prefeitura de São Paulo--, reivindicando aumento salarial.
    Reajuste esse que não deverá fugir muito do que já foi acertado durante o governo Gilberto Kassab (PSD), considerando a situação financeira que Haddad diz estar enfrentando no município.
    Nesse panorama de aperto orçamentário, com medidas de custo quase zero, Haddad agrada boa parcela de seus professores --que tanto podem se engajar no plano de melhorar o ensino como dar ao petista considerável base para futuras eleições.
    Resta saber qual será o impacto das medidas sobre os estudantes, principais interessados na melhoria do sistema educacional

    Marcelo Miterhof

    folha de são paulo
    Vocação para o crescimento
    Crescimento, inclusão social e industrialização são faces de uma mesma vocação que o Brasil precisa atender
    Gosto da palavra "vocação". Em sua acepção mais usual, quer dizer "ser talhado para algo". Mas sua etimologia indica um outro sentido original, o de atender a um chamado. A associação entre uma coisa e outra tem origem religiosa: vocação significa atender a um chamado interno, que revela a inclinação para o sacerdócio.
    Um país continental e populoso, como o Brasil, que ainda tem renda média e mal distribuída, tem "vocação para o crescimento" porque crescer não apenas é algo que deve ser relativamente fácil de acontecer como também é um chamado que precisa ser atendido para transformá-lo num lugar melhor de viver.
    A importância do crescimento foi tratada na coluna "Crescer é se desenvolver", de 11/10/2012. Hoje o objetivo é discutir as possibilidades e os limites desse objetivo.
    Crescer deve ser fácil porque o Brasil depende primordialmente de seu mercado doméstico para colocar isso em prática. Basicamente, o gasto público --tanto em investimento em infraestrutura quanto em despesas correntes associadas ao estado de bem-estar social-- é capaz de promover um mecanismo de multiplicação da renda que gera demanda --por TVs, computadores e outros itens básicos do consumo moderno que nem sempre toda a população tem acesso-- e, por consequência, também empregos no setor privado.
    Esse crescimento impulsiona o investimento, que faz a produtividade se elevar para fazer a produção atender ao maior nível de demanda, mesmo a pleno emprego. Conhecido como lei Kaldor-Verdoorn, tal mecanismo aponta a produtividade como variável pró-cíclica, isto é, aumenta como resultado do crescimento do PIB.
    Isso não significa que o gasto público criou o moto-contínuo. Nos termos do xadrez, a moeda fiduciária (sem lastro) conferiu ao Estado o poder de "jogar com as brancas". Claro, o gasto público deve ser direcionado para itens que favoreçam os aumentos de produtividade, como para a infraestrutura, para o Estado de bem-estar social e para apoiar o sistema nacional de inovação.
    Mais importante é que, num país em desenvolvimento, a autonomia do gasto público é particularmente poderosa porque a disponibilidade local e global de equipamentos e tecnologias mais eficientes que as utilizadas por grande parte de suas empresas torna mais fácil a obtenção dos ganhos de produtividade. Não à toa, a limitação ao crescimento, como historicamente aconteceu no Brasil, é dada pela disponibilidade de divisas internacionais necessárias para financiar os investimentos.
    Porém, com o nível de reservas cambiais brasileiras, esse não é hoje um obstáculo tão grande, mesmo com o crescimento recente do deficit em transações correntes. O problema é que os mesmos estímulos que permitiram o acúmulo de reservas também levaram à apreciação do real, afetando a competitividade da indústria, que não tem absorvido plenamente os estímulos da formação do mercado de consumo massivo. A recente depreciação cambial deve ajudar a corrigir o problema.
    Entretanto, um câmbio mais bem posicionado não é suficiente. O Brasil precisa retomar o processo de industrialização, investindo nos itens que mais geram deficit comerciais: química, bens de capital e tecnologias de informação e comunicação.
    A tarefa é dura e envolve riscos. Empreendê-la não significa repetir exatamente o que foi feito no século 20. Por exemplo, o papel indutor do Estado seguirá relevante, mas com menor presença de estatais. Embora o mercado externo não vá ser o principal vetor do desenvolvimento, ele deve ter um papel mais atuante, pois é o melhor parâmetro de competitividade.
    A industrialização brasileira no século 20 não foi totalmente bem-sucedida, pois o país não foi capaz de tornar autônomo seu desenvolvimento industrial, fazendo a inovação ser instrumento crucial da busca do lucro pelas empresas nacionais.
    No entanto, houve, sim, transformação estrutural, o que é fundamental para a sustentação do crescimento e a geração de mais e melhores empregos.
    Hoje, a novidade é que a inclusão social tem ajudado a resolver problemas que marcaram a industrialização no século, como os de escalas produtivas incompatíveis com tamanho do mercado interno.
    Crescimento, inclusão social e industrialização são faces de uma mesma vocação que o Brasil precisa atender.

    Marina Colasanti-Duas mulheres raríssimas‏

    Com Linda visitei Samambaia, a casa de Lota em Petrópolis, onde viveu com Elizabeth 



    Marina Colasanti


    Estado de Minas: 15/08/2013 

    Como é possível sentir-se tão íntimo de alguém que não se conheceu? Assim eu me perguntava ao assistir a Flores raras, filme de Bruno Barreto sobre o amor que, durante mais de 10 anos, uniu a brasileira Lota de Macedo Soares à poeta americana Elizabeth Bishop. Nunca estive com uma ou outra. Entretanto, de maneiras distintas, elas se tornaram presentes na minha vida. E assistindo ao filme, percebi que não o olhava como um filme qualquer, nem como uma história bem contada, mas como um álbum de retratos já familiar.

    Lota me chegou por dois caminhos. Na década de 1960, quando sugeriu a Carlos Lacerda a criação de um parque no Aterro do Flamengo, e foi por ele chamada a dirigir sua implantação, eu namorava um jovem engenheiro da prefeitura lotado, justamente, nas obras do aterro. Durante muitos meses, %u201Co terror do aterro%u201D, como era chamada em voz baixa, surgiu em nossas conversas. Lota batia de frente com os engenheiros mais graduados, ressentidos por terem que aceitar ordens de uma autodidata, e era temível sargento para os mais jovens.

    Mas o Rio e eu devemos a Lota outro parque belíssimo, pelo qual raramente é lembrada. Foi ela quem sugeriu a Carlos Lacerda a desapropriação do Parque Lage, para que fosse transformado em centro cultural. A ideia de centro cultural era, naquele momento, absolutamente inovadora, e seduziu o governador. Casa da minha família onde morei durante muitos anos, o Parque Lage havia sido vendido para Roberto Marinho, que hesitava entre construir ali um condomínio ou um cemitério, hipóteses que colocariam em risco aquela preciosa reserva de mata atlântica. Lota venceu, e embora a finalidade do centro cultural fosse esquecida depois da queda de Lacerda, o parque foi salvo.

    Elizabeth chegou a mim por meio de uma bela amiga, a mineira Linda Nemer. Foi com Linda que visitei Samambaia, a casa de Lota em Petrópolis, onde viveu com Elizabeth e onde construiu um estúdio para ela. Quando vi a casa no filme pensei imediatamente, não é essa. Nem foi Lota a autora do projeto, como ali parece. Aquela onde fui generosamente recebida por seus novos proprietários é um projeto de Sergio Bernardes, à época moderníssimo, com estrutura e cobertura metálicas, parede de pedra rústica %u2013 como no filme %u2013 e muito vidro. A cobertura revelou-se problemática, fazia um barulho ensurdecedor com a chuva e não deixava ninguém dormir. Sergio cobriu-a de sapé, inventando mais uma novidade.

    Num jantar nessa casa, recebi um presente precioso como uma herança. Contei isso antes, mas as coisas bonitas podem ser contadas mais de uma vez. Linda Nemer, herdeira da casa de Elizabeth em Ouro Preto, me deu cerimonialmente as abotoaduras de ouro com pequenos rubis que no passado Elizabeth havia levado de presente para a poeta Marianne Moore e que, com a morte desta, haviam voltado às mãos de Elizabeth. %u201CQue queres que eu te traga do Brasil?%u201D, perguntara ela a Marianne, poeta mais velha e sua mestra. %u201CQualquer coisa vermelha%u201D, respondera esta. Agora, os pequenos rubis cercados de ouro cintilam comigo, presença viva das duas poetas.

    É um belo filme esse Flores raras. Narra com plena delicadeza o amor entre duas mulheres raríssimas, e o esforço de ambas para mantê-lo vivo apesar das circunstâncias e das diferenças tantas.

    Tv Paga


    Estado de Minas: 15/08/2013 



    Cinema de classe


    A TV Cultura tem se consolidado não apenas como uma emissora que aposta em filmografias, digamos, “alternativas” ao cinemão de Hollywood, ao exibir produções principalmente europeias. Mas os filmes norte-americanos também entram na sua programação, e o melhor é que são longas-metragens em geral de 30 anos atrás ou mais até. Hoje à noite, na sessão Clube do filme, a atração é a comédia dramática Próxima parada: bairro boêmio (foto), um clássico que Paul Mazursky rodou em 1976. No ar às 22h.

    Muitas alternativas
    no pacotão de filmes


    No Canal Brasil, Teus olhos meus foi o filme escolhido para a sessão Chat Brasil, às 22h. Ainda na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Responda isto!, na HBO HD; Cinco Evas e um Adão, no Glitz; Cinco dias de guerra, no Space; John Carter – Entre dois mundos, no Telecine Premium; O zelador animal, no Telecine Fun; O equilibrista, no Telecine Cult; Love Aaj Kal, no Max; e Bastardos inglórios, no Studio Universal. Outras dicas do pacote de filmes: Horror em Amityville, às 20h30, no Universal; Ana Terra, às 22h15, no Cine Brasil; e Mergulho radical 2: os recifes, às 22h30, no Megapix.

    Código 37 abre o seu
    terceiro e último ano


    O +Globosat estreia hoje, à meia-noite, a terceira e última temporada de Código 37, série policial que acompanha uma equipe de detetives liderada por uma bela e competente jovem na solução de crimes que acontecem na cidade belga de Gent. Na terceira temporada, a equipe está com uma nova superintendente, cujo temperamento bate de frente com o de Hanna Maes (Veerle Baetens) e seu time desde o primeiro dia.

    Top gear também
    em nova temporada


    O canal History deveria ser exclusivo de documentários, mas há muito que a emissora liberalizou sua programação. Um exemplo é a série Top gear, que reúne três malucos apaixonados por carros: o comediante Adam Ferrara, o campeão de rali Tanner Foust e o comentarista de corridas Rutledge Wood. A produção estreia hoje sua quarta temporada, às 23h.

    Nat Geo relembra os
    lances da 2ª Guerra


    Paris é ocupada, bem como a maioria das capitais europeias. A exceção é Londres, que resiste aos submarinos e bombardeios alemães. Churchill se recusa a ceder. Muito preocupado com o rearmamento americano, Hitler resolve atacar a União Soviética para completar seu domínio na Europa antes que os Estados Unidos possam intervir no continente europeu. Esses são alguns dos momentos decisivos narrados no episódio de hoje de Redescobrindo a Segunda Guerra, às 22h15, no Nat Geo.

    Theatro Municipal foi
    palco dos modernistas


    Construído em 1911 pelos arquitetos Ramos de Azevedo, Clovis Rossi e Domiziano Rossi e palco principal da Semana de Arte Moderna de 1922, o Theatro Municipal de São Paulo é tema de hoje da série Coleções, às 21h30, no SescTV. Outro documentário que merece a atenção do assinante, Isto é Noel Rosa vai ao ar às 20h30, no canal Arte 1. Por falar em música, Luiza Possi é a convidada desta noite de Paulinho Moska no programa Zoombido, às 21h30, no Canal Brasil. E mais cedo, às 17h, no Nickelodeon, os fãs da boy band One Direction podem conferir um show que o quinteto fez em Bournemouth, na Inglaterra.

    Primeiro Ato leva ao palco espetáculo inspirado na realidade do Hospital Colônia de Barbacena.‏

    Dor e poesia 

    Primeiro Ato leva ao palco espetáculo inspirado na realidade do Hospital Colônia de Barbacena. Montagem foi criada em processo colaborativo entre o grupo e o coreógrafo Wagner Moreira
     




    Sérgio Rodrigo Reis


    Estado de Minas: 15/08/2013 

    A sensação inicial diante de Só um pouco a.normal, novo espetáculo do Grupo de Dança Primeiro Ato, é de aflição. À medida que os bailarinos tecem a narrativa em forma de gestos e movimentos inspirados na realidade de Barbacena, para onde foram levadas por décadas as pessoas que não se encaixavam nos padrões da sociedade, o sentimento ora fica mais forte, ora se torna poesia. Ao final, o incômodo permanece, passando a acompanhar por um bom tempo os que experimentam assistir à montagem. A estreia do novo espetáculo será dia 23, no espaço do grupo, no Jardim Canadá, em Nova Lima.

    Só um pouco a.normal surgiu do diálogo do Primeiro Ato com o coreógrafo Wagner Moreira, dentro do projeto Tecendo encontros, iniciativa de intercâmbios artísticos nas mais variadas áreas do conhecimento. Nascido em Barbacena, há 10 anos ele vive e trabalha na Alemanha e, como dissertação de mestrado, se inspirou na realidade do Hospital Colônia de sua cidade. Por oito décadas, mais de 60 mil pessoas tidas como “indesejáveis” foram enviadas até lá, onde a maioria morreu em situações degradantes. Eram deprimidos, homossexuais, militantes políticos, mães solteiras, alcoólatras, mendigos, negros. Wagner buscou referências nas histórias narradas por familiares, vizinhos e amigos para compor a coreografia que leva o espectador a sentir mais aquele clima do que a ver algo explícito.

    Nada é convencional em Só um pouco a.normal. A começar pela estrutura da cena: o público assiste sentado, em cadeiras em volta do linóleo, bem ao lado dos bailarinos Lucas Resende, Pablo Ramon, Vanessa Liga e Verbena Cartaxo. Como não saem do alcance dos olhos, é possível senti-los até ofegando e se transfigurando à medida que são vencidos pelo cansaço dos intensos movimentos. Também é possível sentir, diante do impacto da temática e das fortes cenas, como vão mudando as fisionomias e os corpos, quando a situação fica mais tensa e dramática. A ideia do coreógrafo foi partir das sensações não para discutir uma patologia, mas transformar a fragilidade humana em poesia. “Quem pode dizer o que é normal e o que é anormal?”, questiona.

    A intenção do espetáculo é unificar plateia e elenco, em estado de fragilidade. Para tanto, utiliza elementos que se referem aos sofrimentos daqueles que viveram atrás das grades do Hospital Colônia. Na coreografia, a água do esgoto que muitos bebiam para matar a sede é lembrada numa das cenas mais fortes, quando os bailarinos mergulham as cabeças em baldes num instante aflitivo do espetáculo. Em outro momento, as referências ao sangue dos milhares que morreram em vão em Barbacena aparecem quando eles dançam entre pétalas de rosas vermelhas. Já os choques elétricos, que eram usados como tratamento para levar os internos a um estágio de letargia, surge em metáforas quando se ouvem tiros.

    Suely Machado, diretora do Primeiro Ato, conta que o processo de construção da montagem resume bem a filosofia do grupo: trabalhar coletivamente. É assim desde 1982, quando fundou uma companhia de dança em Belo Horizonte para desenvolver trabalhos autorais. O processo atual parece, aos olhos de fora, mais intenso. Quatro bailarinos atuaram como criadores. “Apropriaram-se muito do trabalho”, analisa Suely. Os demais, que não estão em cena, estão nos bastidores. Seja realizando luz, som e vídeo, ou organizando os objetos de cena. O clima de colaboração é contagiante, assim como o resultado do projeto. “O que achei legal foi o fato de não ter retratado nem conceituado a loucura. Wagner criou uma poética da diversidade inspirado naquela realidade. Tornou a fragilidade humana a poética do movimento”, sugere a diretora do grupo.

    A ideia do coreógrafo foi propor situações e metáforas que pudessem levar o espectador a ter referências sobre aquela realidade que o acompanha desde sempre. “O tema da loucura em Barbacena é presente. O que me assusta mais são os motivos que levavam as pessoas até lá, o fato de não caberem na sociedade.” Ao transformar a reflexão em arte, optou por colocar o espectador como espécie de lupa daquela realidade. “A plateia pode ver tudo muito próximo, pois tiro a ilusão do espetáculo. Tudo é baseado numa instabilidade, até para criar a sensação de linearidade. Não podia dar sentido àquilo que não tem”, justifica.

    Só um pouco a.normal
    Dia 23, às 21h; 24 às 20h; e 25, às 17h, no EACC (Rua Búfalo, 261, Jardim Canadá, Nova Lima). Ingressos: R$ 20 (inteira). O espetáculo abre a terceira edição do projeto Tecendo encontros. Haverá ainda oficinas e apresentações de coreografias do repertório. Informações: http://primeiroato.com.br/tecendo-encontros e (31) 3296-4848.


    Diálogos possíveis

    O projeto Tecendo encontros nasceu de um desejo de Suely Machado de promover encontros de dança por causa da dificuldade de circulação no Brasil. Prêmio da Petrobras Funarte Klauss Vianna de Dança, em 2012, possibilitou três edições. A primeira foi com a bailarina Maria Alice Poppe (RJ) e o músico Tato Taborda (PR). Realizaram uma oficina em conjunto com os bailarinos e o resultado foram improvisações no Bairro Jardim Canadá, inspiradas na sonoridade do entorno. Em seguida, a parceria voltou a ocorrer, desta vez com o casal de coreógrafos Denise Namura (SP) e o alemão Michael Bugdam. Ao fim do processo de troca surgiu o espetáculo Pó de nuvens.

    O encontro atual com Wagner Moreira surgiu de uma conversa com Júlia Medeiros, produtora do Ponto de Partida, de Barbacena. Ela contou sobre o trabalho de Wagner na Alemanha e de como eram fortes naquela cidade do Campo das Vertentes tanto as rosas quanto a questão da loucura. A diretora imaginou as possibilidades do novo encontro e o convite foi feito. O resultado, depois de quatro meses de imersão, é o que o público vai conferir em Só um pouco a.normal. Para novas edições, o Primeiro Ato busca outras parcerias
    .

    EDUARDO ALMEIDA REIS-Escrever bem‏

    Estado de Minas - 15/08/2013

    O Enem de outubro vai examinar milhões de jovens: suas redações valem um quinto da nota. Cada uma passará pelo crivo de dois professores, dos 7 mil contratados: sete mil! E muito de desejar que a meninada capriche nos textos, sem gracinhas do tipo receita de miojo e hino do Palmeiras, que não têm graça nenhuma.

    Esse belo nariz de cera suscita o tema “escrever bem”. Que é escrever bem? É compor um texto de 300, 500, 900 palavras sem erros de português, articulado, inteligível, respeitando a norma culta? Sim e não. Todo santo dia temos na mídia textos assim, geralmente insuportáveis. Isso porque o escriba faz tudo direitinho, mas lhe falta um negócio chamado talento. Pode até ser lido e citado por diversas pessoas, que não têm condições de distinguir o certo do excelente, do fantástico. Aí é que está: o escriba pode ser corretíssimo sem genialidade, como pode ser talentosíssimo sem a correção exigida pela norma culta.

    Hippolyte Taine (1828-1893), em sua Filosofia da Arte, avisa aos discípulos: “Em matéria de preceitos, não existem mais que dois; o primeiro é que se deve nascer com gênio, e isto é assunto dos vossos pais, não meu; o segundo aconselha a trabalhar muito ‘a fim de dominar a arte’: é assunto vosso e tampouco é meu”.

    Antoine Albalat, sem recorrer à palavra “gênio”, disse: “Pode-se ensinar a escrever a quem não sabe, desde que tenha o necessário para saber”, isto é, aptidão natural que a vocação denuncia. E Carmelo Bonet completa: “...ensina-se ‘a arte de escrever’ e cada um chega até onde pode, pois há graduações no que concerne ao domínio da expressão: desde a frase simplesmente correta da pessoa culta, até o impacto verbal do estilista”. Resumindo: a pessoa culta pode escrever bem, enquanto o estilista tem aquele algo mais que não aprende na escola.

    Paixões

    Mães e pais de adolescentes costumam acolher em suas casas colegas dos rapazes e das moças. A partir daí, muita coisa pode acontecer e geralmente acontece, com as implicações fáceis de imaginar.

    Hoje vou tratar do caso de dona Cláudia, bela quarentona que se apaixonou por um colega de seus filhos e foi correspondida. Digamos que o rapaz se chamasse Doutor, porque acabou formado em medicina, fez-se professor doutor e foi geralmente considerado um dos melhores profissionais de sua especialidade em todo o Brasil.

    Conheci pessoalmente dona Cláudia e o Doutor, ele uma geração à frente da minha, e acompanhei de longe as vitórias e os percalços do relacionamento amoroso. Para início de conversa, o marido de Cláudia, quando tomou conhecimento do love, chamou o rapaz e disse: “Tudo bem, pode ficar com ela. Mas está avisado de que, se algum dia abandonar minha mulher, eu te mato”.

    Cláudia e o Doutor se uniram numa boa, ele com 20 anos, universitário, ela com 40 e poucos. Romance tórrido, até porque um rapaz de 20 tira de letra uma quarentona. E tira boas notas na faculdade, obtém seu diploma, faz sucesso na medicina e chega aos 36 com a gata sessentona.

    Quando na mesma faixa etária, vinte anos de casamento já são complicadíssimos, ele com 45, ela com 40; ele com 50, ela com 45. Se ele tem 40 e ela 64, ele famoso, ficando rico, dá para imaginar o imbróglio que se formou. Enquanto isso, velho e forte, o ex-marido de Cláudia mantinha a promessa: “Eu te mato”.

    E assim dona Cláudia passou dos 70, enfartou, chamaram ambulância do Pronto-Cor. Tabuleta em punho, o médico perguntou: “Idade?”. A paciente respondeu: “Cinquenta”. E uma filha, ao lado, protestou: “Ora, mamãe, cinquenta e quatro tenho eu”. Episódio que me foi contado pela própria filha.

    Finalmente, o ex-marido de Cláudia bateu as botas e o famoso Doutor oficializou a separação. Já tinha um caso com mulher mais moça que ele. Não sei se tiveram filhos. Parece que sim, a julgar pelo que acabo de ver no Google.

    O mundo é uma bola

    15 de agosto de 778: Batalha de Roncesvales, em que Rolando é morto. Não faço a mínima ideia de quem foi o Rolando de Roncesvales, mas me lembro de ter visto na tevê um outro Rolando, salvo engano Boldrin.

    Diz a Wikipédia que Rolando, também referido como Roldão – Roland em francês e alemão, Rolando ou Roldán em castelhano, Orlando em italiano, Rottlà ou Rottlant em catalão – é um personagem da literatura medieval e renascentista europeia inspirado num obscuro conde que viveu no século VIII.

    E assim aprendemos que o nosso Roldão Simas Filho, se tivesse nascido em Barcelona seria Rottlà, mas nascendo em Munique seria Roland e Orlando, se nascido em Roma. Nascendo em São Joaquim da Barra, pequena cidade do interior de São Paulo, seria Rolando Boldrin, como acabo de ver no Google.

    Hoje é feriado religioso em dezenas de cidades brasileiras.

    Ruminanças

    “Tão parecidos, Stalin e Hitler, tão gêmeos, tão construídos de ódio. Ninguém mais Stalin do que Hitler, ninguém mais Hitler do que Stalin” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).

    Possível relação entre autismo e parto induzido‏


    Estado de Minas: 15/08/2013 

    Um estudo norte-americano divulgado recentemente na revista Jama Pediatrics indica que as mulheres grávidas que tomam medicamentos para acelerar o trabalho de parto têm um risco maior de ter filhos com autismo. A pesquisa é a maior desse tipo no assunto, mas, segundo seus autores, não é suficiente para afirmar que o parto induzido é uma das causas do transtorno do desenvolvimento que afeta uma em cada 88 crianças nos Estados Unidos.
    Segundo a principal autora, Marie Lynn Miranda, reitora da Escola de Recursos Naturais e Meio Ambiente da Universidade de Michigan, os resultados mostram, na verdade, a necessidade de mais estudos. “A comunidade científica procurava há muito tempo fatores ambientais para o aumento das taxas de autismo nos Estados Unidos”, disse em um comunicado. “Esse estudo fornece evidências preliminares de uma associação entre o autismo e a indução/aceleração do parto, especialmente entre crianças do sexo masculino.”

    A investigação analisou os registros de 625 mil nascimentos no estado da Carolina do Norte em um período de oito anos e descobriu que o trabalho de parto induzido ou acelerado foi associado a um risco 35% maior de autismo em meninos, em comparação com o trabalho de parto que não recebeu nenhuma intervenção. Um pequeno aumento do risco foi observado em meninas nascidas de mães que tiveram seu parto induzido, mas não acelerado.

    Outros fatores As mulheres podem ter seu trabalho de parto induzido com medicamentos por diversas razões, como quando a data de nascimento do bebê já foi superada, na presença de infecções, de pressão alta ou diabetes. Os pesquisadores afirmaram que o risco maior associado à indução foi semelhante ao observado em outros fatores de risco conhecidos para o autismo, como ser uma mãe mais velha ou dar à luz antes de 34 semanas. Michael Rosanoff, diretor associado de pesquisa em saúde pública da organização Autism Speaks, afirmou que o “próximo passo é pesquisar para entender melhor os possíveis mecanismos por trás dessa relação”. E acrescentou: “É importante ressaltar que esse estudo não demonstra uma relação causal entre o trabalho de parto induzido ou acelerado e o autismo, e que essas intervenções previnem complicações durante o trabalho de parto”.

    Descoberto o indício mais precoce do Alzheimer‏


    Vilhena Soares


    Estado de Minas: 15/08/2013

    Uma pesquisa publicada ontem na revista americana Annals of Neurology, da Academia Americana de Neurologia, indica a descoberta de um biomarcador associado ao Alzheimer que pode ser o indicador mais precoce da doença. O estudo, feito por um grupo de pesquisadores, abre a possibilidade para a detecção do distúrbio antes mesmo do surgimento de seus sintomas iniciais, como o declínio cognitivo.

    De acordo com o o que foi publicado, o biomarcador está localizado no líquido cefalorraquidiano (LCR). A constatação surgiu depois que os cientistas identificaram um baixo teor de DNA mitocondrial no LCR de pacientes com a doença. “Quando iniciamos o estudo, esperávamos encontrar o contrário: um alto teor de DNA mitocondrial no LCR de pacientes com a doença. Isso, porque achávamos que esse DNA seria maior, devido à quantidade de neurônios mortos”, explicou ao Estado de Minas Ramon Trullas, professor de pesquisa do Instituto de Pesquisa Biomédica de Barcelona e um dos autores do estudo.
    Segundo Trullas, a carência de mitocôndrias pode ser a grande responsável pelo Alzheimer. “O número de cópias do DNA mitocondrial está associado com a quantidade de energia das células. São as mitocôndrias que fornecem a maior parte da energia para os neurônios. Quando eles não têm energia suficiente, reduzem a atividade e começam a degenerar. Assim, quanto menor a energia, maior a probabilidade de neurodegeneração”, destaca. 

    A descoberta é importante, já que os biomarcadores relacionados à doença ainda são pouco conhecidos pelos cientistas, o que dificulta o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento no período pré-clínico. Trullas adianta que a descoberta pode ajudar em futuras terapias da doença degenerativa. “Mas acho que a contribuição mais importante dessa descoberta é que, quando validada, ela poderá ajudar a identificar novos tratamentos terapêuticos”, aposta o pesquisador.

    Agora, a equipe de cientistas busca encontrar resultados semelhantes em outros pacientes e, assim, seguir em busca de tratamentos que possam bloquear a degeneração dos neurônios. “O próximo passo é ter certeza de que esse achado é reproduzido em outros hospitais e com outros grupos de pessoas. Se a verificação for reproduzida, o passo seguinte será identificar tratamentos terapêuticos que aumentem a quantidade de DNA mitocondrial em neurônios”, adianta Trullas.

    Chance de mudar a evolução da doença

    “Os biomarcadores são substâncias que podem ser dosadas e que espelham a fisiopatologia da doença, ou seja, como ela ocorre e se é possível identificá-la em uma fase precoce. Isso já é de grande ajuda para uma terapia. Com os tratamentos que temos disponíveis, tratamos os sintomas do Alzheimer. A vantagem de identificar esses biomarcadores é para as drogas, que podem ser criadas para mudar a evolução da doença. Hoje, notamos um grande investimento de países, como os EUA e a França, em pesquisa e tratamento do Alzheimer, já que essa doença tem custo social e econômico muito grande. São investimentos que valem muito a pena, pois trarão enormes benefícios.”

    Objetos semelhantes a asteroides podem ser cometas adormecidos


    Ressurreição cósmica 

    Estudo afirma que objetos semelhantes a asteroides podem ser, na realidade, cometas adormecidos que voltam à atividade ao receberem uma carga maior de radiação
     

    Isabela de Oliveira

    Estado de Minas: 15/08/2013 

    Um dos milagres mais notórios narrados na Bíblia é a ressurreição de Lázaro. Morto, ele volta à vida após quatro dias de sepultamento. Para astrônomos da Universidade de Antitoquia, em Medellín, na Colômbia, há semelhança entre o personagem bíblico e alguns corpos celestes, que, depois de dados como mortos pela ciência, voltam a apresentar atividade. Os cometas de Lázaro, como foram batizados, ficam adormecidos numa região conhecida como Cinturão de Asteroides, localizada entre Marte e Júpiter. No entanto, basta que o Sol emita um pouquinho mais de energia para que eles voltem à vida. O fenômeno, dizem os pesquisadores, já ocorreu com pelo menos 12 objetos e pode mudar a ideia de que esses corpos surgiram apenas em pontos mais distantes do Sistema Solar.

    Segundo o estudo, publicado na revista Monthly Notices Oxford, da Royal Astronomical Society, por estarem completamente inertes, esses cometas se passavam por asteroides. O astrônomo Ignacio Ferrin, no entanto, demonstrou que eles estavam apenas camuflados por anos de dormência. “Acredita-se que esse cinturão seja constituído por rochas que não chegaram a formar um planeta. Mas nós descobrimos que algumas delas rochas, na realidade, são cometas em sono profundo”, conta o cientista. 

    A descoberta impressiona, porque indica que cometas podem ter surgido na região entre Marte e Júpiter, que parecia não passar de um imenso depósito de pedras — ali, encontram-se mais ou menos 1 milhão de objetos que variam, em tamanho, de 1m a 800km. Até agora, os astrônomos acreditavam que os asteroides tinham duas origens possíveis: o Cinturão de Kuiper, situado além de Netuno, e a Nuvem de Oort, depois de Plutão.

    A astrônoma e pesquisadora do Observatório Nacional Daniela Lazzaro, que não participou do novo estudo, conta que os Cometas de Lázaro começaram a ser descobertos em 2005 e muitas teorias foram desenvolvidas para tentar explicar sua origem (leia Para saber mais). “Os pesquisadores colombianos não descobriram esses cometas entre os asteroides. O trabalho é, na verdade, um modelo que sugere que eles não vieram de nenhum outro local, mas foram formados ali e permaneceram sem atividade até que uma aproximação maior ao Sol os fez despertar”, esclarece. 

    “Mais precisamente, descobrimos que algumas rochas podem mostrar comportamento de cometa. Alguns cientistas afirmam que eles vieram de outros cantos, até mesmo do Cinturão, mas não conseguiram provar. Isso pode significar que esses objetos podem ser naturais daquele ponto, ou seja, nasceram ali”, acrescenta Ferrin. Essa interpretação sugere, portanto, que, há milhões de anos, o Cinturão foi povoado por vários cometas ativos que envelheceram e tiveram suas atividades suspensas.

    Diferenças Pierre Kaufmann, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, destaca que há muitas teorias que tentam explicar a existência do Cinturão. “Ele existe e pode representar um risco à Terra, já que alguns cometas saem do anel e passam muito perto daqui, podendo até mesmo a se chocar contra o nosso planeta”, afirma o pesquisador.
    A diferença maior entre um asteroide e um cometa é que o primeiro não tem gelo em sua composição, e o outro costuma ocorrer em regiões mais afastadas do Sistema Solar. Quando se aproxima do Sol, o gelo do cometa é volatilizado, o que gera uma cauda brilhante. “Quando se afastam, ficam pouco intensos”, explica Kaufmann.
    Segundo Daniela Lazzaro, os cometas podem ter desempenhado um papel muito mais importante do que agradar os olhos com os espetáculos celestes. “Segundo algumas teorias, nas fases iniciais de formação do Sistema Solar e da Terra, esses corpos teriam trazido água e material orgânico para o nosso planeta e, a partir daí, propiciado condições favoráveis para o posterior aparecimento da vida.”

    Combinação de fatores A grande questão, contudo, é: o que faz esses corpos voltarem à vida? Para Lázaro, bastou um oração de Jesus. Para os cometas, uma forcinha a mais do Sol combinada com outros fatores. “O que se calcula é que um pequeno aumento na radiação do Sol pode fazê-los despertar. Isso ocorre aliado à combinação de efeitos de gravidade de Júpiter, que é muito denso e grande, com o campo gravitacional solar”, diz Kaufmann. Dessa forma, em determinadas circunstâncias, a distância entre o planeta, o Sol e os asteroides — entre eles os cometas disfarçados— diminui. Esse evento é chamado de periélio e resulta também em um discreto aumento na temperatura média desses corpos. 

    “O resultado é que esses objetos se aproximam mais do Sol, e isso é suficiente para que o gelo sujo sublime e eles virem cometa”, completa Kaufmann. Outra possibilidade, cogitada por Daniela Lazzaro, é a intensidade da atividade solar. “O Sol tem um ciclo que passa por fases mais e menos ativas. Isso poderia também ter alguma influência”, considera. 

    A brasileira destaca que sempre houve na comunidade científica um debate sobre o comportamento dos cometas. Para alguns, se eles passassem em torno do Sol muitas vezes, o gelo poderia acabar, e eles assumiriam a aparência de um asteroide. “Outra possibilidade é que, depois da sublimação repetida do gelo, a superfície seria coberta por uma crosta de poeira muito densa. Daí o cometa perderia a suas características e entraria em estado latente”, diz.
    Ferrin admite que ainda há muito estudo pela frente. Afinal, toda investigação científica, ao responder algumas perguntas sobre o Universo, acaba criando muitas outras. Resta aos pesquisadores colombianos investigarem se há mais cometas passando despercebidos por não ostentarem as caudas brilhantes. “Nós esclarecemos o que aconteceu no Cinturão há milhares de anos. Mas também criamos novas perguntas: quando ocorreu o máximo de atividade? Quantos cometas adormecidos há realmente?”, exemplifica o autor.

    Choque ou despertar?

    Um dos casos mais interessantes de estudo sobre os cometas de Lázaro ocorreu há pouco menos de três anos. Em 11 de dezembro de 2010, o pesquisador Steve Larson, do Catalina Sky Survey, um programa de monitoramento do estado do Arizona, dos EUA, percebeu um brilho incomum em Scheila, um asteroide do Cinturão de Asteroides. Os pesquisadores cogitaram, na época, que o impacto de um asteroide menor teria sido responsável pelo
    aparecimento das três caudas vistas no corpo.  
    Durante três meses, os pesquisadores observaram o astro com o Telescópio
    Subaru (8,2m), o Telescópio Murikabushi (1,05m) e o Telescópio da Universidade
    de Havaí (2,2m). Depois das análises, os pesquisadores concluíram que o fenômeno
    se devia mesmo ao choque com outro objeto.
    Segundo o pesquisador colombiano Ignacio Ferrin, autor do novo estudo, Scheila
    é um dos 12 Cometas de Lázaro e, para ele, apenas o impacto não seria suficiente para
    trazê-la à vida.

    Análise inédita das marcas do câncer‏

    Após estudar 7 mil tumores, pesquisadores chegaram a 21 assinaturas genéticas relacionadas a 97% das mutações que desencadeiam a doença. O trabalho pode ajudar no desenvolvimento de terapias efetivas e na compreensão das origens das enfermidades mais comuns


    Roberta Machado


    Estado de Minas: 15/08/2013 

    Pesquisadores do Reino Unido fizeram a maior análise de genoma de câncer da ciência e divulgaram, ontem, os resultados do trabalho na revista Nature. Foram quase 5 milhões de mutações de mais de 7 mil tumores estudados. O projeto, que resultou na classificação de 21 assinaturas mutacionais de 30 tipos mais comuns da doença, pode dar novas pistas sobre o processo de formação dos tumores malignos e até mesmo abrir portas para tratamentos mais eficazes.
    As 4.938.362 amostras tiveram o genoma comparado com amostras normais de DNA dos pacientes. Assim, os cientistas foram capazes de extrair as assinaturas deixadas pelo câncer durante o processo de mutação. “Sabemos que todos os cânceres são causados por mutações somáticas”, explicou Mike Stratta, principal autor do estudo, em um vídeo divulgado pelo Wellcome Trust Sanger Institute. “Mas, na verdade, temos um entendimento bem rudimentar do que está causando essas mutações em primeiro lugar porque, afinal, o que acontece nessas mutações é a causa do câncer”, afirma.
    Milhares de mutações podem ser encontradas em um único tumor, mas elas são causadas por processos que deixam um tipo de impressão característica no código genético. “Quando falamos de assinaturas de mutações, estamos falando do padrão específico causado pelo processo mutacional”, esclarece Ludmil Alexandrov, no mesmo vídeo divulgado pelo Sanger Institute. Estima-se que as 21 assinaturas encontradas no estudo expliquem o processo de formação de 97% das mutações cancerosas. Algumas dessas assinaturas estavam presentes em quase todos os tipos de tumor estudados, outras mostraram ser exclusivas de uma única classe da doença.
    Os cientistas contaram com a ajuda de um algoritmo desenvolvido especialmente para extrair mutações somáticas de amostras catalogadas e que já havia sido usado na análise de cânceres de mama. “É a primeira vez que usamos um conceito matemático para tentar extrair informações sobre o que deu errado no câncer, sobre por que o câncer se desenvolveu”, ressalta Serena Nok-Zainal, coautora da pesquisa. Muitas dessas assinaturas identificadas no estudo já eram conhecidas e têm origem ligada a exposições ambientais, a defeitos na replicação do DNA ou até mesmo à idade do paciente. O surgimento de outras impressões encontradas, no entanto, ainda não é compreendido pela ciência.

    Combinações  A maioria dos cânceres apresentou ao menos dois tipos diferentes de impressão mutacional, mas alguns cânceres, como de fígado, útero e estômago, chegaram a abrigar seis diferentes traços de mudança genética. Variações de um mesmo tipo de assinatura foram encontradas em 25 classes de câncer. Outra estava presente em 16 dos 30 tipos de tumor estudados, e acredita-se que ela tenha sido causada pelo próprio sistema imune dos pacientes: “É essencialmente um DNA modificado, mas que é uma faca de dois gumes. Ele pode causar mutações para gerar câncer”, compara Serena Nok-Zainal.
    Impressões catalogadas nesse estudo apontam que um processo de desenvolvimento similar pode ter resultado em tumores diferentes, como tumores de fígado, rins, próstata e pâncreas. Suspeita-se que essas mudanças genéticas comuns tenham sido causadas por erros ou instabilidades no reparo do DNA, um problema que acontece de forma expontânea no código genético.
    Já outros mecanismos apontados na análise das amostras cancerosas mostram como vários tipos de tumores podem ter uma origem ambiental em comum. Um mesmo tipo de assinatura relacionada a substâncias presentes no tabaco, por exemplo, foi identificada em carcinomas de cabeça, pescoço e fígado. O estudo lembra que o cigarro contém mais de 60 carcinógenos, uma mistura que pode iniciar diferentes processos mutacionais.

    Prateleiras desaquecidas‏

    Desempenho do varejo em junho, com alta de 1,7%, é o pior desde 2003. E para agravar quadro de desaceleração econômica governo investe apenas 27% do previsto para o ano

    Rosana Hessel e Deco Bancillon e Francelle Marzano

    Estado de Minas: 15/08/2013 


    Brasília – Com a indústria estagnada e o varejo colocando o desaquecimento na prateleira, com as vendas registrando de janeiro a junho a pior expansão num semestre desde 2005, os investimentos públicos completam o quadro de desaceleração da economia do país neste ano. Os aportes de recursos da União previstos para este ano e que poderiam ajudar a alavancar a economia continuam travados. De janeiro a julho, apenas 27,3% dos gastos previstos no ano foram realizados. É o que revela a organização não governamental (ONG) Contas Abertas. 

    Enquanto as fábricas cresceram 0,1% no semestre, as vendas do comércio registraram alta de 0,5% em junho com relação a maio e fecharam os seis primeiros meses do ano com expansão de 3%, a menor desde 2005. Sobre junho do ano passado, o desempenho no mês passado, de 1,7%, é o pior nesse tipo de comparação desde 2003, segundo informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apenas quatro dos oito setores pesquisados pelo instituto registraram alta nas vendas em junho, o que, para os economistas Adriano Lopes e Aurélio Biclaho, do Itaú Unibanco, mostra “que o crescimento do varejo não é generalizado”. 


    Para completar esse quadro, dos R$ 91,2 bilhões de investimentos orçados para este ano, apenas R$ 24,9 bilhões foram gastos, incluindo restos a pagar de obras iniciadas nos anos anteriores. Esse valor desconta dados como os do financiamento à pessoa física para o programa Minha casa, minha vida, que acabam inflando os números do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No caso da infraestrutura de transportes, os gastos mantiveram uma proporção de desembolso parecida com a média nacional apontada pela ONG. De acordo com dados do Ministério do Planejamento, dos R$ 15,1 bilhões de investimentos do PAC previstos para o Ministério dos Transportes, apenas R$ 4,6 bilhões foram pagos, ou seja, 30% do esperado. 



    “O volume de investimentos realizados pelo governo este ano é pífio em relação ao que se esperava. Além disso, é pior que o realizado no mesmo período de 2012, ano em que a economia do país teve um desempenho ruim e cresceu apenas 0,9%. A expectativa era que houvesse um destravamento nos investimentos do governo neste ano para ajudar a melhorar a atividade econômica, mas não é o que vem ocorrendo”, lamentou o presidente e fundador da entidade, Gil Castelo Branco, em entrevista ao Estado de Minas. Ele lembrou que os gastos de custeio continuam crescendo apesar dos cortes recentes no Orçamento. As despesas com encargos e pessoal, por exemplo, tiveram um ligeiro aumento no mesmo período, passando de R$ 123,9 bilhões para R$ 125 bilhões. 


    Como vem investindo pouco, principalmente em infraestrutura, o governo tenta a duras penas buscar apoio junto à iniciativa privada. Mas, passados exatos 12 meses do anúncio feito pela presidente Dilma Rousseff do programa de concessões em logística, nada saiu do papel, o que vem frustrando os investidores. Nenhum trecho dos 10 mil quilômetros de ferrovias e os 7,5 mil quilômetros de rodovias que demandariam mais R$ 130 bilhões em investimentos, por exemplo, foram leiloados até agora. O primeiro lote com os trechos mineiros das BRs 040 e 116 foi adiado duas vezes e colocado no fim da fila, que deve andar só a partir de setembro.

     Impacto no PIB

    Diante dos dados mais fracos, já há quem preveja um resultado igualmente decepcionante para o Produto Interno Bruto (PIB). No fim do mês o IBGE divulgará o desempenho da economia no segundo trimestre do ano. Devido a números irregulares apresentados pelo varejo e pela indústria, as projeções para o PIB do segundo trimestre estão desencontradas. O grosso das análises do mercado financeiro aponta para um crescimento de 1%, na comparação com os três primeiros meses do ano. Mas há quem preveja uma expansão bem mais tímida, de 0,5%, ou mais forte, de 1,4%. O balizador das projeções será o resultado que será divulgado hoje do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). 


    Mesmo sem esses dados à disposição, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, aposta em desempenho mais modesto da economia no segundo trimestre. Na avaliação dele, a fraca recuperação do PIB se deve, entre outros fatores, ao menor resultado do varejo. “O governo optou por estimular o crédito para a compra de carros e itens da linha branca (geladeiras, tanquinhos etc.), e ambos são itens que consomem uma parte muito grande da renda das pessoas”, disse. “Como esses consumidores já estão muito endividados, sobra menos espaço no orçamento doméstico para que façam novas compras, e isso tende a jogar o desempenho do varejo para baixo, como temos visto”, ponderou.


    Ritmo está mais fraco em Minas

    A inflação é a maior vilã do fraco desempenho do comércio varejista neste ano. Se no país as vendas cresceram 0,5% de maio para junho, em Belo Horizonte houve retração de 1,85% de um mês para o outro e expansão de 0,22% em relação a junho do ano passado, o que mostra um comportamento mais fraco em relação ao país, segundo pesquisa da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). Para a economista da entidade Iracy Pimenta, ainda que o Brasil tenha apresentado um pequeno crescimento, é cedo para dizer que as vendas voltaram a crescer. “A inflação tem proporcionado um impacto negativo no comércio. Com isso, a capacidade de compra fica comprometida, em função do encarecimento geral dos bens e serviços. As famílias estão reduzindo o consumo com medo do endividamento”, explica. 

    Ainda de acordo com Iracy, na base de comparação, junho e maio de 2013, nenhum segmento na capital mineira apresentou crescimento. “As manifestações tiveram um impacto grande nas vendas. Belo Horizonte foi um dos lugares de maior concentração desses manifestos e, por isso, a maioria dos comerciantes fecharam as portas e os consumidores também deixaram de comprar”, completou. 



    No seguimento de supermercados, a pesquisa do IBGE apresenta queda nas vendas de 0,4% em junho comparado a maio. Em Belo Horizonte, a Associação Mineira de Supermercado (Amis) apresenta pesquisa com cenário ainda pior, com queda de 2,41% se comparado o mesmo período. O superintendente da Amis, Adilson Rodrigues, explica que a queda não pode ser atribuída à alta da inflação, já que o consumidor tem o hábito de substituir o produto mais caro por um mais barato. 


    O economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG) Juan Moreno de Deus acredita que as vendas estão recuperando o fôlego. De acordo com ele, o segundo semestre tende a ser melhor que o primeiro pelo apelo das datas comemorativas. “O fim do ano geralmente é melhor para o setor por conta do Dia das Crianças e Natal, que sempre impulsionam as vendas”, comenta. 


    Incertezas no 2º semestre

    Apesar de o mercado esperar uma melhora nos dados do indicador antecedente para o Produto Interno Bruto (PIB) do Banco Central para junho, que será divulgado hoje, as previsões para o segundo semestre demonstram preocupação e sinalizam baixo crescimento. Em maio, o IBC-Br caiu 1,4% e a expectativa dos economistas é que ele volte a crescer em junho em relação ao mês anterior.

    O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, por exemplo, estima que o IBC-Br de junho subirá 0,7% em relação ao mês anterior. Ele prevê que o indicador do BC registre uma elevação de 0,8% no acumulado de abril a junho. Em relação ao PIB do segundo trimestre, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que deverá ser divulgado no fim do mês, Leal espera que a alta seja de 1%. “Para o ano, nossa projeção é de alta de 2,3% no PIB, mas ela não foi revisada ainda. O importante será verificar se o mau humor apresentado pelos índices de confiança de julho será revertido. De qualquer maneira, deveremos ter um segundo semestre mais fraco que o primeiro”, afirmou. “A tendência é que cenário piore no segundo semestre, mas ainda é cedo para cravar isso. Alguns indicadores mostram que a confiança do empresário e do consumidor pioraram e estão próximos aos níveis de 2009, que foi o ano da crise. Isso preocupa, mas pode ser um ponto fora da curva por conta das manifestações”, completou.


    O economista-chefe do BES Investimento do Brasil, Jankiel Santos, prevê alta de 1,1% no IBC-Br de junho. Ele estima que o indicador do BC para o segundo trimestre deverá subir 1%. Em relação ao PIB divulgado pelo IBGE, Santos aposta em alta de 0,8% no trimestre e de 2,3% no ano. No entanto, ele demonstra preocupação em relação ao futuro. “A sinalização é preocupante diante da queda de confiança, mas ainda não dá para prever uma queda na atividade econômica porque os dados não foram divulgados”, afirmou. “O agravamento da desaceleração econômica chinesa e a piora no mercado de trabalho doméstico são os principais fatores de risco para o segundo semestre”, completou.


    OTIMISMO Os economistas do banco Itaú são os mais otimistas. Eles preveem alta de 1,4% no IBC-br de junho em função do forte crescimento da produção industrial e das vendas no varejo, que subiram 1,9% e 1,8% no sexto mês do ano. O estudo do banco prevê que o indicador vai se  expandir 1% no segundo trimestre, em linha com a previsão de PIB do Itaú. A instituição, no entanto, também prevê uma desaceleração da atividade econômica no segundo semestre. A previsão do banco é que o PIB não registre crescimento no terceiro trimestre e, no ano, a alta prevista é de 2,1%. (RH)