segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Contra a lei e a Justiça - Jean Keiji Uema

O Globo - 21/10/2013

A resistência que os Conselhos Federal e Regionais de Medicina vêm apresentando ao programa Mais Médicos, no-tadamente com o descumprimento de obrigações legais e de decisões judiciais, não é admissível no ambiente do estado de direito. A gravidade da situação se evidencia na medida em que esses órgãos estatais de fiscalização do exercício profissional da Medicina, criados por lei e submetidos ao regime próprio das entidades da administração pública, cada vez mais adotam uma postura de enfrentamento institucional, com a utilização indevida de suas competências.

Os Conselhos de Medicina recorreram à Justiça em diversas instâncias judiciais em todos os Estados da Federação. Dentre outras ações, foram ajuizadas 27 ações civis públicas na Justiça Federal, uma em cada Estado. Até hoje, em 18 delas houve pronunciamento favorável à continuidade do Mais Médicos, inclusive nos recursos por eles dirigidos aos Tribunais Regionais Federais. No Supremo Tribunal Federal, do mesmo modo, em duas ações de mandados de segurança, as liminares solicitadas foram rejeitadas.

O Poder Judiciário, por diversos juizes, inclusive ministros da Suprema Corte, não acatou o pleito dos Conselhos de Medicina, com a manutenção integral do Programa e suas regras, inclusive no ponto em que se determina aos CRMs que inscrevam em seus quadros os médicos estrangeiros para que sejam submetidos à fiscalização

A Advocacia-Geral da União ainda editou um parecer normativo vinculante, aprovado pela presidente da República, no qual foram afastadas interpretações jurídicas que tinham por objetivo cons-tranger médicos brasileiros que atenderam ao chamado para ajudar no Programa.
Nessa reação dos conselhos, porém, o que causa maior indignação é que o Programa Mais Médicos não vai prejudicar os médicos que já atuam no Brasil, tirando-lhes postos de trabalho. Isso já foi demonstrado e entendido pela população. Como se sabe, a atuação desses médicos estrangeiros ficará restrita a lugares onde há escassez de médicos — periferias das grandes cidades e municípios do interior.

Justamente para manter os médicos estrangeiros nesses lugares é que se optou pela não revalidação de seus diplomas, pois isso lhes daria o direito pleno de atuação. Uma vez revalidado o diploma, eles poderiam abandonar o programa e disputar o aquecido mercado de trabalho médico brasileiro. Do mesmo modo, e também para aferir-lhes a competência e garantir a qualidade de sua atuação, é que são submetidos a um processo próprio de avaliação, tutoria e supervisão feito pelas universidades públicas brasileiras, mas sem a revalidação de seus diplomas.

A sociedade brasileira nãò pode ficar refém de órgãos públicos que omitem suas responsabilidades e promovem ações que contrariam a lei e a Justiça. 


Jean Keiji Uema é consultor jurídico do Ministério da Saúde

O personalismo na política - RENATO JANINE RIBEIRO

Valor Econômico - 21/10/2013


Há quem condene o personalismo na política - o fato de que certos líderes são tão fortes, alguns até carismáticos, que ofuscam seus partidos. A grande agremiação brasileira que já nasceu declarando guerra ao personalismo é o PSDB. Dos partidos atuais, foi também o mais preocupado com as instituições, proclamando apoiar o parlamentarismo - embora nada tenha feito por este quando ocupou a Presidência da República. Toda teoria tem dificuldades na prática. Mas faz parte da lógica política, mesmo parlamentarista, ter líderes poderosos. Um partido não disputa a hegemonia se não tiver grandes nomes. Isso, todos requerem. Só que isso não significa personalizar a política, coisa que o PSDB não faz nem fez.

Desde a democratização de 1985, destacaram-se quatro líderes personalistas entre nós. Um deles foi um problema, Fernando Collor: seu apelo pessoal ao eleitorado não tinha sustentação partidária ou social. Ganhou a Presidência graças ao vazio de alternativas. Logo depois de seu impeachment, uma emenda constitucional extinguiu a eleição solteira para presidente da República, praticamente eliminando os riscos de elegermos um candidato sem bases sólidas.

Mas também tivemos Leonel Brizola, Lula e Marina. Dos grandes líderes pré-1964, foi Brizola o que mais se destacou e mais tempo durou após o longo interlúdio ditatorial. Seus desafetos o chamavam, injustamente, de caudilho. Tinha carisma. Mas sempre fortaleceu o partido em que estivesse. Liderou a ala esquerda do Partido Trabalhista Brasileiro, legenda que teria retomado na década de 1980, não fossem as manipulações do Palácio do Planalto. Fundou, então, o Partido Democrático Trabalhista, que dirigiu até morrer.

A mesma lealdade a valores marca Lula e Marina. Ele sempre foi do PT e o PT sempre foi ele. Mas Lula e o partido se estressaram, entre 1998 e 2002 - sua última derrota e sua primeira vitória. A esquerda do PT aprovava propostas radicais, que, na prática, barravam sua rota para a Presidência. Pois votos, quem tinha era Lula. Assim, para concorrer em 2002, exigiu uma guinada pragmática. Não queria mais marcar posição. Queria vencer, mudar o País, mesmo que menos do que o ideal.

Mas ficou uma marca no PT, que um dia ele terá de enfrentar. O partido que surgiu em 1982, como o mais moderno de todos, nunca se emancipou de seu líder. Lula não é autoritário. Mas é quem escolhe os candidatos petistas aos principais cargos em disputa. Indicou Dilma para a Presidência, Haddad para a prefeitura mais rica do país, Padilha para o Estado mais populoso. Tem dado certo, mas à custa de não haver escolha dentro do partido. O PT ganha a eleição, mas não por um processo interno e sim por uma decisão externa à militância. A vantagem é que Lula acerta. A desvantagem é que quem acerta é Lula.

Cedo ou tarde, o PT precisará amadurecer. Muito se tem dito que o PSDB precisa renovar suas lideranças, que está na hora de ter nomes novos, que essa é uma transição difícil. É verdade. Mas o PT pode estar fadado a viver um momento pior. Perdeu a cultura do debate interno. Terceirizou em Lula suas decisões. Isso constitui um risco. Basta que perca uma eleição decisiva. Sua travessia do deserto pode ser penosa.

Mas, para completar o percurso pelos líderes personalistas, Marina Silva é a mais recente. Sem dúvida, ela é modesta; não tem nenhum traço de arrogância; mas seus votos e decisões, criando o Rede ou se aliando ao PSB, são dela e não do grupo. Também aqui, há uma vantagem a curto prazo e um problema a médio. Marina traz votos, porém não os consolida. Não é óbvio que consiga transferi-los. Mas o sinal preocupante é que aparenta ter menos compromisso, do que Lula e Brizola, com os partidos por onde passa. É a menos institucional dos três. Depois que deixou o PT, onde se formou, esteve no PV, criou o Rede e foi dar no PSB. Defendo com unhas e dentes seu direito de concorrer no ano que vem ao cargo que quiser e puder. Mas me inquieta um percurso que vai da esquerda para a ecologia, da ecologia para a sustentabilidade, tema hoje querido dos economistas ex-tucanos e que não é a mesma coisa que a defesa do verde, da sustentabilidade para um partido que tem socialismo hoje apenas no nome, salvo se for para homenagear Roberto Amaral e Luiza Erundina. Cristian Klein sugeriu aqui que Marina seria mais popular entre os que têm aversão à política; chamemos as coisas por seu nome, analfabetismo político; cidadania não é só pleitear direitos, protestar contra uma categoria política desprestigiada, é sobretudo traduzir suas reivindicações na linguagem da política.

Por circunstâncias que escaparam a sua vontade, dos três bons líderes personalistas que analisei, Marina é a única a ter mudado tanto de partido. Leva a extraordinária bagagem de seu apelo pessoal. Mas isso, que na conjuntura dá votos, na estrutura gera rachaduras. Lula e Brizola temperavam seu apelo pessoal, seu carisma, identificando-se a seus respectivos partidos. Era este o "check and balance" do risco que representa, para as instituições, o personalismo. O paradoxo da situação é que o Rede - como o PT, em seu tempo heroico - inclui gente muito qualificada. O apelo pessoal de Marina é inegável e constitui o maior trunfo do Rede e, hoje, do PSB. Mas esse trunfo exige cautela. O personalismo não é fácil para a democracia. Ele existe, não deve ser extirpado, mas precisa de contrapesos. Vejamos se e como Marina consegue institucionalizar seu inegável êxito pessoal. Porque ela é leal a seus valores, mas não tem um vínculo tão forte com as organizações partidárias.

Tv Paga

Estado de Minas: 21/10/2013 



 (TCM/Mocho/Divulgação)

As divas do cinema


Estreia hoje, às 21h, no canal TCM, o programa Elas, a primeira série documental exclusiva da emissora no Brasil. Luciana Vendramini assina a produção e apresenta as histórias de vida de mulheres que, com muita luta e perseverança, conquistaram espaço no cenário cultural e se tornaram ícones do cinema. A primeira temporada, com um total de 40 episódios, vai destacar apenas brasileiras. Entre elas, Sandra Barsotti (foto), Marília Pêra, Carmem Miranda, Lilian Lemmertz, Dina Sfat e Tônia Carrero.

A morte é assunto de
dois curtas do SescTV


No SescTV, segunda-feira é dia de Faixa curtas, às 21h. Para hoje foram selecionados os premiados curtas-metragens de ficção Vela ao crucificado (2009), de Frederico Machado; e A moça que dançou depois de morta (2003), de Ítalo Cajueiro. A morte é o mote de ambos os filmes.

Brad Pitt estrela filme
do Telecine Premium


Falando de cinemão, estreia hoje, às 22h, no Telecine Premium, o suspense O homem da máfia, com Brad Pitt, James Gandolfini e Ray Liotta. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Behind the Candelabra, na HBO; O carro de Jayne Mansfield, na HBO HD; Che, no Telecine Cult; As aventuras de Pi, no Telecine Pipoca; A máquina do tempo, no ID; Plano B, no Sony Spin; O melhor amigo da noiva, no Studio Universal; e O rei da baixaria, no Comedy Central. Outras atrações da programação: Nanny McPhee e as lições mágicas, às 20h, no Universal Channel; Capitães da areia, às 20h35, no Megapix; Anjos e demônios, às 21h, no Cinemax; e Avatar, às 22h30, no FX.

Documentário analisa
surto de abuso sexual


A HBO continua sua seleção de documentários, reservando para esta noite, às 22h, A guerra invisível. O cineasta indicado ao Oscar Kirby Dick investiga o aumento dos casos de estupro no serviço militar norte-americano e conversa com vítimas que se recusaram a ficar em silêncio.

truTV lança série para
os fanáticos por armas


Na truTV, às 22h, estreia a série Especialistas em armas, mostrando os bastidores da Guns Plus, uma das maiores lojas do ramo de armas de fogo e outros itens colecionáveis de inspiração bélica nos Estados Unidos. No arsenal da Gun Plus é possível encontrar armamentos raros, como um fuzil russo AK 47 de 1942 que pertenceu simplesmente a seu criador, Mikhail Kalashnikov. Mas essa é apenas uma das dezenas de armas exóticas e de coleção comercializadas pela loja.

SEMPRE UM PAPO‏

Bate-papo com o autor 
 
Estado de Minas: 21/10/2013


 (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press-30/08/2013.)

Dando prosseguimento à série “A nova literatura brasileira”, promovida pelo projeto Sempre um Papo, para trazer a Belo Horizonte autores de todo o país, hoje será a vez de Ricardo Aleixo (foto) conversar com o público e autografar seu novo livro de poemas, Mundo palavreado, às 19h30, no Teatro João Ceschiatti, no Palácio das Artes. Com esse livro, Aleixo estreia na Editora Peirópolis. Com a colaboração de Luciana Tonelli, num primeiro momento, e de Francisco Marques Rosa, em outra fase, a publicação conta com farto material inédito.

Dono de múltiplos talentos – poeta, artista visual e sonoro, ensaísta, cantor e compositor –, Ricardo Aleixo nasceu em Belo Horizonte, em 1960. É autor de vários livros, entre eles Modelos vivos, um dos finalistas do Prêmio Portugal Telecom em 2011. Publicou também A roda do mundo, em parceria com Edimilson de Almeida Pereira, e os infantis A aranha Ariadne e Quem faz o quê?. Tem trabalhos publicados em diversos jornais, revistas, e já levou sua poesia à Argentina, Alemanha, Portugal e França.

SEMPRE UM PAPO
Com Ricardo Aleixo, hoje, às 19h30, no Teatro João Chesciatti do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca. Informações: (31) 3261-1501 e www.sempreumpapo.com.br

Artrite reumatoide mais fácil de tratar‏

Novo protocolo de diretrizes do SUS inclui medicamentos considerados mais modernos para tratar doença autoimune que atinge as articulações


Carolina Cotta

Estado de Minas: 21/10/2013 



 
Crônica, sem cura e até incapacitante, a artrite reumatoide está mais fácil de ser tratada. A doença autoimune que atinge articulações e pode impossibilitar o movimento tem mais chances de remissão com o novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o diagnóstico e tratamento da doença pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Medicamentos biológicos, considerados os mais modernos para o combate do problema, estão, agora, à disposição na rede pública, permitindo que mais pacientes se beneficiem e tenham maiores chances de sucesso com o tratamento.

Segundo a reumatologista Lícia Maria Henrique da Mota, presidente da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia, com essa ação do Ministério da Saúde toda a medicação indicada para a doença e aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está disponível. "O tratamento da doença, que deve ser contínuo, atua na diminuição da dor e da inflamação ou modula o sistema imunológico para impedir a inflamação", explica. Entre as classes de medicamentos adotados estão anti-inflamatórios, glicocorticoides, imunossupressores e medicamentos modificadores do curso da doença (MMCD), sintéticos e biológicos.

De acordo com o documento, o tratamento deve ser iniciado o mais breve possível, uma vez que o período inicial da doença, os primeiros 12 meses, representa uma janela de oportunidade terapêutica em que a intervenção farmacológica efetiva aumenta as chances de controlar a artrite reumatoide. Ainda de acordo com o protocolo, o tratamento com um MMCD deve começar assim que for feito o diagnóstico, sendo o paciente avaliado entre 30 e 90 dias. Em caso de falha, depois de três meses, o medicamento deve ser substituído por outro MMCD sintético ou a associação de duas ou três drogas sintéticas.

Mas nem sempre o paciente precisa recorrer aos medicamentos biológicos, remédios produzidos por biossíntese em células vivas. Os MMCDs podem ser sintéticos ou biológicos. Os primeiros são produzidos pela técnica tradicional, os segundos são mais modernos e têm alto custo. "Os médicos só chegam às biológicas se as sintéticas não responderem. Até 50% dos pacientes podem responder bem às drogas sintéticas tradicionais, mas 30% vão precisar de medicação biológica", explica Lícia Mota. Antes do protocolo, o SUS oferecia três medicações biológicas para artrite reumatoide. Agora são oito opções.

Se em seis meses, e depois da tentativa de tratamento com pelo menos dois esquemas diferentes, ainda não houver melhora, recomenda-se o início do tratamento com um medicamento modificador do curso da doença ainda mais específico, um biológico da classe anti-TNF alfa. Com essas recomendações, espera-se que seja mais fácil avaliar se o paciente está respondendo ao tratamento. Caso não esteja, o médico deverá tomar a decisão sobre trocar a medicação de forma mais rápida. Segundo Lícia, com o diagnóstico, ele obrigatoriamente recebe um MMCD associado à medicação da dor, que protege as articulações e evita, assim, as deformidades e limitações.

"A grande importância desse protocolo é possibilitar que, via SUS, todo e qualquer paciente possa ser tratado. São medicações bastante eficazes no controle da dor, do inchaço e da rigidez. Nem todos os pacientes têm a mesma resposta a essas medicações tão modernas. Mas, tendo várias opções podemos fazer diferentes tentativas. Nos últimos 20 anos, o tratamento de doenças autoimunes, principalmente as reumáticas, evoluiu bastante. Passamos de pouquíssimas a limitadas opções, quando o paciente não tinha resposta a essas opções", defende a reumatologista.

DIAGNÓSTICO O diagnóstico precoce e pronto início do tratamento são muito eficazes, segundo Boris Cruz, presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia. "A maior parte dos pacientes se beneficia dos medicamentos ditos ‘modificadores de doença. Para os que não respondem a esse tipo de medicamento, podemos lançar mão dos agentes biológicos, mais complexos e mais específicos para artrite reumatoide", diz. O diagnóstico se baseia na combinação da apresentação clínica, exames de laboratório e exames de imagem como radiografias, ultrassom e ressonância.

Hoje, a artrite reumatoide é vista como uma doença potencialmente grave, pois pode levar a deformidades irreversíveis das articulações. No entanto, a evolução do conhecimento pode levar ao desenvolvimento de tratamentos capazes de controlar a doença, acabar com a inflamação e impedir as deformidades características. "O que buscamos é o que convencionamos chamar de remissão, quando o paciente fica sem a doença, mas com um tratamento de manutenção. No entanto, cerca de 10% a 13% dos pacientes evoluem com remissão sustentada e podemos retirar todos os tratamentos", acrescenta Boris Cruz. As causas da doença não são conhecidas, mas sabe-se que alguns fatores de risco, como predisposição genética, tabagismo e algumas infecções virais, estão envolvidos. O problema pode ocorrer entre os 25 e os 55 anos e é mais comum em mulheres.


Pacientes desconhecem danos gerados pela patologia
Publicação: 21/10/2013 04:00
Uma pesquisa realizada em 42 países, incluindo o Brasil, com mais de 10 mil pacientes de artrite reumatoide concluiu que o diagnóstico da doença leva até quatro anos. Dos pacientes brasileiros ouvidos, 61% (contra 74% da média mundial) alegam ter bom conhecimento sobre como controlar a doença; 81% (contra 91% da média mundial) sabem que é fundamental controlá-la. Porém, 74% deles (contra 66% da média mundial) erroneamente acreditam que o dano articular pode ser reversível. Mesmo que cerca de quatro em cinco pacientes do Brasil saibam que a artrite reumatoide exige cuidados constantes, somente três em cinco deles compreendem o caráter degenerativo da patologia.

"É preocupante o fato de muitos pacientes acreditarem que a erosão óssea, provocada pela doença, pode ser revertida. A erosão óssea pode ser prevenida, mas não revertida", informa o especialista Roger Levy, professor-adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e representante brasileiro na organização RA: Join the Fight (Artrite reumatoide: faça parte desta luta), campanha mundial da AbbVie, companhia global de produtos biofarmacêuticos de pesquisa formada pela divisão da Abbott.

Entre os brasileiros entrevistados, mais de quatro em cinco pacientes afirmam que a dor articular é um sintoma importante a ser tratado, enquanto somente três em cinco mencionam o dano articular. Outro "mito" entre os brasileiros é erroneamente acreditar (65%) que na ausência de dor a doença está sob controle – apesar de 58% admitirem que a artrite reumatoide é grave, progressiva e destrutiva e de 95% afirmarem que a doença tem impacto negativo em pelo menos um dos aspectos de sua vida, sendo que para 35% a doença também prejudicou sua capacidade de trabalho. "Para prevenir os danos articulares e contribuir para a maior qualidade de vida do paciente, é fundamental que seja estabelecido um plano de tratamento, com metas a serem cumpridas em determinados prazos, em relação à dor, ao inchaço e à rigidez das juntas", acrescenta Levy.

Sutura com células-tronco cicatriza em três dias‏

Sutura com células-tronco cicatriza em três dias Técnica desenvolvida na Unicamp, e já patenteada, foi testada em cobaias, indicando sucesso num processo de cura de feridas que pode levar até 10 semanas 

Marinella Castro

Estado de Minas: 21/10/2013




Uma espécie de costura cicatrizante, que pode tratar feridas de forma mais rápida e eficaz, foi patenteada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde pesquisadores conseguiram introduzir no intestino de animais um fio cirúrgico colado com células-tronco. A primeira etapa da pesquisa, com testes em animais, demonstrou que a tecnologia provoca uma aceleração no tempo de cicatrização das feridas abertas no intestino de ratos. Em três dias os ferimentos cicatrizaram em torno de 70%, quando normalmente o processo pode levar 10 semanas. A novidade do estudo foi conseguir utilizar um fio cirúrgico que funciona como carreador da célula-tronco, agente da reconstrução do tecido. A descoberta pode reduzir o tempo de hospitalização dos pacientes e também evitar que feridas dolorosas se abram novamente. O experimento pode ter diversas utilizações na medicina, como na cirurgia plástica.

Na prática, os animais receberam pontos (sutura) ao redor do local da lesão. O resultado da "costura" surpreendeu. A regeneração do tecido foi bem mais rápida que a obtida por meio de recursos convencionais, além de em alguns casos não deixar marcas, fechando 100% o ferimento. O método também se mostrou mais eficaz do que o processo já testado por pesquisadores espanhóis, onde em vez da sutura foram aplicadas injeções de células-tronco no local do ferimento. "Em três dias os fios com células-tronco provocaram uma regeneração das feridas da ordem de 70%. Em 21 dias as feridas haviam reduzido em 90% ou fechado totalmente", explica Ângela Cristina Luzo, professora da pós-graduação em ciências da cirurgia na Faculdade de Medicina da Unicamp, que orientou o aluno Bruno Bosch Volpe na pesquisa, resultado de seu curso de mestrado.

O fio de sutura usado no experimento da Unicamp é enriquecido com células mesenquimais. "São células-tronco adultas, encontradas em todos os tecidos do organismo humano, sendo suas principais fontes a medula óssea, o sangue do cordão umbilical e o tecido adiposo", ressalta Volpe. De acordo com o estudante a adoção do material na terapia celular vem crescendo muito, uma vez que essas células apresentam um cultivo fácil, além de ter crescimento rápido. "Também não enfrentam os problemas éticos que encontramos nas células-tronco embrionárias", diz.

Outro ponto importante da pesquisa destacado por Ângela Luzo é o benefício alcançado depois da sutura, já que no processo as células se descolam, saem do fio provocando a cicatrização. "As células mesenquimais podem ter se transformado em outras células ou liberado substâncias que propiciaram a diminuição do processo inflamatório e melhor vascularização na área e ativaram as células-tronco do próprio tecido na área afetada, para que se multiplicassem", acrescenta.

A professora diz ainda que o grande desafio do estudo foi conseguir modificar a concentração dos reagentes da cola de fibrina usada para aderir e prender as células no fio cirúrgico. Foram testadas várias concentrações do produto, até que se chegasse a um resultado ideal. "Com a mudança da concentração, conseguimos que um grande número de células ficassem aderidas aos fios e que elas fossem transferidas do fio para o local da lesão", enfatiza Bruno Volpe.

De acordo com a pesquisadora, as células-tronco são obtidas do próprio organismo do paciente em um processo simples, como a lipoaspiração. "O tecido gorduroso é uma fonte de células-tronco." O próximo passo do estudo será desenvolvido no trabalho de doutorado do pesquisador Bruno Volpe, quando será avaliado o processo de liberação de substâncias pela célula que melhoram a vascularização dos tecidos. "Vai ser investigado também qual processo ocorreu na cicatrização, se foram liberadas substâncias ou se a célula se diferenciou", adianta.

A primeira etapa do doutorado vão ser os testes em humanos, passo fundamental para que o método seja utilizado pelo mercado. "Assim que tivermos a liberação do comitê de ética, iniciaremos os testes", conta o pesquisador. Como nas feridas intestinais (fístulas) estudadas já houve a aplicação de células-tronco na Espanha, a expectativa é que a liberação do teste em humanos seja mais rápida. Os efeitos provocados pelas células-tronco vão ser pesquisados pelo Grupo Multidisciplinar de Terapia Celular da Unicamp, na tese de doutorado de Bruno.

A expectativa é que quando estiver acessível à medicina, a nova tecnologia permita que o tratamento para as feridas seja mais simples e menos doloroso, reduzindo o tempo de recuperação dos pacientes e melhorando a qualidade de vida, uma vez que a ferida aberta degrada a saúde, provocando problemas como a perda de peso e a desidratação. Estima-se que em média 2% dos pacientes submetidos a cirurgias no intestino desenvolvam esse tipo de fístula que serviu como base para os estudos, mas esse número pode chegar a 20% no caso de pacientes de risco, que fazem uso de medicamentos imunossupressores, debilitados pelo câncer ou são portadores de algumas doenças específicas.

SAIBA MAIS
Passo a passo

No experimento da Universidade de Campinas (Unicamp), todos os ratos tinham fístulas intestinais do mesmo tamanho. Os ferimentos foram acompanhados diariamente com o apoio de um programa de computador capaz de avaliar, por milímetro quadrado, a regeneração dos tecidos da área afetada. O grupo de cobaias que não recebeu nenhum tipo de tratamento apresentou pouca evolução depois de 21 dias. No outro grupo, que recebeu as células-tronco, semelhante ao realizado por pesquisadores espanhóis, com aplicação das células no local do ferimento, a recuperação foi de 70% (da área afetada pela fístula). Com a aplicação do fio, no mesmo período, a recuperação média ficou em 90%. Três dos nove ratos que receberam a sutura enriquecida tiveram de fato cicatrização completa durante
o período observado.