segunda-feira, 29 de julho de 2013

Brincando de Prism: como monitorar seus e-mails - Ronaldo Lemos

folha de são paulo

Brincando de Prism: como monitorar seus e-mails


 
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Quer saber como funciona o Prism, o programa dos EUA para vigiar internautas? É fácil, basta aplicar o método de análise em você mesmo. Para isso, é só ir ao site do projeto Immersion (imersão) no link bit.ly/immersn.
Quem usa Gmail faz o login autorizando o site a analisar todos as mensagens que você enviou e recebeu na vida. O resultado assusta. Vem na forma de um gráfico com todas suas relações sociais vistas por meio dos e-mails. Mostra as pessoas com quem mais temos contato e as "turmas" com quem falamos: trabalho, família, amigos etc.
O gráfico indica também quem conhece quem nos seus diferentes círculos sociais (e mostra quem foi apresentado primeiro!). Tudo isso sem entrar no conteúdo das mensagens. O Immersion (assim como o Prism) analisa apenas "metadados", ou seja, o "envelope" das mensagens, que mostra de onde elas vieram e para onde foram.
Quem acha que analisar só metadados é tranquilo e não afeta a privacidade vai se surpreender. O mero endereçamento revela muito: círculos sociais, grau de proximidade e mais. Isso feito em escala planetária preocupa (por isso implico com a Anatel quanto ao banco de dados que a agência tem com os metadados das ligações telefônicas de todos os brasileiros).
Importante: o Immersion foi feito pelo MIT Media Lab, respeitado laboratório de mídia dos EUA (do qual, vale dizer, sou pesquisador). Por isso, o usuário pode simplesmente pedir para apagar todos os seus dados quando sair. Oxalá essa mesma opção estivesse disponível em todos os serviços da internet.
READER
JÁ ERA Ser monitorado e não ter defesa contra isso
JÁ É Bloquear monitoramento com plug-ins do Firefox como o Ghostery.com
JÁ VEM Bloquear monitoramento no celular com versões do Android como o CyanogenMod
ronaldo lemos
Ronaldo Lemos é diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV e do Creative Commons no Brasil. É professor titular e coordenador da área de Propriedade Intelectual da Escola de Direito da FGV-RJ. Foi professor visitante da Universidade de Princeton. Mestre em direito por Harvard e doutor em direito pela USP, é autor de livros como "Tecnobrega: o Pará Reiventando o Negócio da Música" (Aeroplano). Escreve às segundas na versão impressa de "Ilustrada".

Após dois anos da morte de Vitor Gurman, família protesta em SP

folha de são paulo
Jovem morreu atropelado na Vila Madalena, na zona oeste da cidade
DE SÃO PAULOAmigos e familiares de Vitor Gurman, jovem atropelado no ano retrasado enquanto caminhava pela calçada na Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo, se reuniram na manhã de ontem para protestar contra a morte do rapaz.
Ao menos 150 pessoas se reuniram em frente à estação de metrô Vila Madalena e fizeram uma caminhada de uma hora até a rua Natingui, onde o rapaz foi atropelado.
O grupo caminhou com cartazes e camisetas da campanha "Viva Vitão" --criada pelo pai, Jairo Gurman, 54, que pede a condenação da motorista, Gabriela Guerrero, por assassinato intencional (homicídio doloso).
Eles entregaram panfletos nos bares da região com alertas sobre os perigos de se dirigir embriagado.
"Essa caminhada é para tentar tirar o nó da nossa garganta. Também é para lembrar os nomes de outras vítimas de crimes de trânsito", disse o pai de Gurman em um carro de som.
Ele pediu a adesão ao projeto popular que visa endurecer a legislação brasileira para crimes no trânsito causados por motoristas que dirigem embriagados.
A petição conta com quase 1 milhão de assinaturas (mais de 70% do necessário)e está hospedada no endereço naofoiacidente.org.
Vitor andava na calçada da rua Natingui em 22 de julho de 2011 quando foi atropelado pelo jipe Land Rover, dirigido pela nutricionista Gabriela Guerrero, 30. Morreu seis dias depois, aos 24 anos.
Após o acidente, a polícia disse que a motorista estava alcoolizada e em velocidade acima do permitido na rua (30km/h). Ela nega e diz que bebeu só um drinque.
Um exame feito no IML (Instituto Médico Legal) constatou que ela "estava alcoolizada, mas não embriagada".
Neste ano, a promotora Mildred Gonzalez deve decidir se vai denunciá-la ou não por homicídio por dolo eventual (quando se assume o risco de matar).

    Código é poesia - Luli Radfahrer

    folha de são paulo
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    A expressão, usada como slogan pela plataforma Wordpress, é controversa. Comparar a nobre arte poética com a técnica da programação parece sacrilégio.
    Código é frio e calculado, precisa ser objetivo, não pode dar margem a interpretações. O que isso tem em comum com a artesania de palavras que compõe um verso?
    A relação entre as duas áreas tem origens medievais. Até o século 12 não se calculava com números na Europa. Para isso existiam os ábacos. Derivados do sistema romano, números eram apenas um tipo de letra usada para registrar quantias.
    A invasão árabe trouxe com ela as descobertas aritméticas dos hindus e persas, entre eles os escritos de Al-Khwarismi. De seu nome vêm os conceitos de algarismo, algoritmo e logaritmo.
    Entre suas invenções está a Álgebra, uma língua composta de pequenas frases e sinais que registra e calcula operações matemáticas. Em frases curtas, sequenciais e de gramática rígida buscava-se descobrir a incógnita, chamada por ele de xay (coisa), que não tardou a se transformar no "x" de tantas questões.
    Algoritmos, como equações algébricas, usam expressões para realizar operações. Sintéticas, essas frases em línguas estranhas (SQL, JavaScript, HTML) têm sintaxe, ortografia e métricas precisas.
    A semelhança entre código e poesia vai além de sintaxe e frases curtas. Ambas têm propósito, sentido e estrutura. Por motivos diferentes, precisam ser elegantes e concisas.
    Bom código, como boa poesia, não "acontece" naturalmente, nem pode ser gerado a partir de dicionários de rimas. Demanda disciplina, talento e trabalho duro.
    Algoritmos bem desenvolvidos, como poesias bem escritas, seguem fluxos naturais de ideias. Tudo neles parece estar no lugar correto, nada pode ser removido, cada linha emenda naturalmente na próxima.
    O fluxo de operações não é determinado pela estrutura gramatical mas pela forma com que cada ideia se conecta à seguinte, complementando a anterior. Linhas de código, como versos, fazem referências cruzadas, em que cada parte amplifica e sintetiza o que a antecedeu.
    Como bem sabe quem já tentou escrever poemas ou algoritmos, a tarefa não é fácil. Licenças poéticas, exceções e desvios acabam sendo usados para contornar problemas, criando emendas que geram trabalhos de péssima qualidade.
    Muitos preguiçosos autointitulados poetas apenas por serem capazes de rimar as palavras no fim de duas linhas se espantam porque ninguém suporta lê-los ou ouvi-los. Dodecassílabos, alexandrinos, heroicos ou redondilhas, poemas precisam de estrutura. Como eles, os haikus e sonetos algorítmicos demandam estruturas e métodos para serem devidamente apreciados.
    Programar websites e aplicativos é complexo, mas não é impossível, nem restrito a mentes brilhantes especiais. Da mesma forma que todos podem escrever, todos podem programar. Com engenho e arte, novos talentos podem fazer o que Chico, Caetano e Gil fizeram com os versos da nossa música.
    Mas só se poderá cultivá-los quando o preconceito que se tem com relação aos desenvolvedores for substituído pela admiração que temos por quem garimpa a beleza oculta na última flor do Lácio.
    Luli Radfahrer
    Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro "Enciclopédia da Nuvem", em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas na versão impressa de "Tec" e no site da Folha.

    Patrimônio em xeque - Painel - Vera Magalhães

    folha de são paulo
    Patrimônio em xeque
    Pesquisa qualitativa que chegou a integrantes do governo federal na semana passada mostra que os protestos de rua do último mês atingiram o principal trunfo de Dilma Rousseff na campanha de 2010, a imagem de ''gerente''. Quem viu o levantamento, realizado em São Paulo, relata que os dados revelam que a população começou a questionar a capacidade administrativa da presidente ao considerar insuficientes as respostas do Planalto às reivindicações das manifestações.
    Mesmo barco A pesquisa atinge também o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad, no ponto referente à eficiência das gestões na reação aos manifestantes.
    Antidepressivo Interlocutores afirmam que o programa Mais Médicos é considerado no levantamento como uma das únicas respostas efetivas do governo em áreas sensíveis, como a saúde.
    Frustração O apoio de Dilma a Guido Mantega (Fazenda), em entrevista à Folhaontem, decepcionou aliados do governo. Eles afirmam que a presidente age na defensiva ao recusar a substituição do ministro, reivindicada também por alguns empresários.
    Agora vai? O presidente Evo Morales disse a autoridades brasileiras ontem, durante visita ao Rio para missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, que os corintianos presos na Bolívia serão soltos e mandados ao Brasil nesta semana. Eles são suspeitos de participar da morte do torcedor boliviano Kevin Espada.
    Excluídos O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, reclama da não participação de representantes sindicais no encontro do papa Francisco com a sociedade civil, no Theatro Municipal, no Rio: ''A Igreja Católica se esqueceu das instituições sindicais dos trabalhadores?''
    Dedo... O presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, Wadih Damous, acha ''esquisito'' que a polícia não consiga prender responsáveis por atos de vandalismo e só reprima os manifestantes.
    ... na ferida Para ele, a população necessita de uma polícia civil cidadã e não uma polícia militar. "Por isso, é hora de o Congresso começar a discutir a sua desmilitarização. É preciso unificar as polícias", diz.
    Reduto A possível entrada de José Serra na corrida presidencial sacudiu o tabuleiro da briga por votos em São Paulo. "Se ele for candidato, deve dominar os votos no Estado. Sem ele, abre-se um flanco aos demais candidatos", resume um petista.
    Atrás... A prefeitura de São Paulo deixou de abrir 4.120 novas vagas em creches nos primeiros meses de 2013 porque precisou compensar o fechamento de 31 entidades conveniadas que atendiam crianças do município. Faltavam professores e estrutura nessas instituições, segundo a secretaria de Educação.
    ... do rabo A gestão do petista Fernando Haddad abriu 58 novas creches, para atender 7.908 crianças. De janeiro a julho, a fila de espera por vagas na rede
    municipal subiu de 97 mil para 127 mil inscritos.
    Defesa 1 Diante da revelação de que a Polícia Federal poupou a Caixa Econômica Federal ao investigar boatos sobre o Bolsa Família, a Associação Nacional dos Delegados da PF divulgará nota hoje em apoio à instituição.
    Defesa 2 No texto, a associação diz que as ações dos policiais visam apurar a ocorrência de infração penal e não ações administrativas.
    TIROTEIO
    Nessa brincadeira de gato e rato entre a presidente e o presidente-adjunto, que faz que vai mas fica, quem perde é o povo brasileiro.
    DO DEPUTADO FEDERAL MARCUS PESTANA (PSDB-MG), sobre declaração de Dilma Rousseff de que Luiz Inácio Lula da Silva não voltará porque nunca saiu.
    CONTRAPONTO
    Marketing psicológico
    Na campanha eleitoral de 1994, o deputado Maluly Netto (PFL), candidato à reeleição, conseguiu reunir 200 trabalhadores em um minicomício com Mario Covas e Geraldo Alckmin (PSDB), em dia de jogo da seleção brasileira. Inflamado, esmurrava a mesa e prometia:
    -Se vocês votarem em mim, ninguém mais vai ganhar abaixo do salário mínimo!
    -Deputado, desde a Constituição de 1988 ninguém pode ganhar menos que o mínimo... - lembrou Alckmin.
    -É que meu discurso não é racional, é emocional!
    Maluly foi reeleito, com 69.361 votos.

      Como o PT perdeu a hegemonia - RENATO JANINE RIBEIRO


      VALOR ECONÔMICO - 29/07/2013

      Um tempo antes de eleger Lula presidente da República, o Partido dos Trabalhadores alcançou a hegemonia na opinião pública - não em matéria econômica, onde prevalecia a defesa das privatizações, mas na ética e na questão social. Sua vitória em 2002 não foi um passeio, mas se escorou na conquista da opinião pública. O PT nasceu como nosso grande partido ético. De 1981 a 2002, foi esta sua grande característica. O próprio PSDB, fundado em 1988, surgia das costelas do PMDB como um projeto ético - dos descontentes com Orestes Quércia - e a muitos parecia ser o PT palatável, o PT moderado, o PT light; unidos, esperou-se, os dois mudariam o Brasil. Isso não ocorreu.

      Mas o PT aumentava seu prestígio. Um ano antes da eleição de Lula, era hegemônico na cultura política brasileira. Sua defesa da decência na vida pública, somada à proposta de justiça social, lhe davam o que Gramsci chama de hegemonia. É claro que precisou mostrar-se realista, dando garantias aos agentes econômicos; mas estava na posição de quem, mesmo perdendo, ganhava moralmente. Pois ganhava nos espíritos, mesmo que perdesse na matéria. A longo prazo, isso conta.

      Lembro Al Gore: nos Estados Unidos, as causas sociais se impuseram quando se tornaram éticas - a emancipação dos escravos, o fim da segregação racial. Foi o que o PT fez com a inclusão social.

      Hoje, vemos o movimento contrário. A ética deixou de ser o distintivo do PT. Desde a crise do mensalão, em 2005, a oposição se apossou dela. A questão hoje é: se perdeu a hegemonia, se perdeu o domínio das mentes e corações, estará o PT fadado a perder, também, as eleições? Ou as vencerá em 2014, mas só reforçando um descompasso entre a opinião e o voto? E por que perdeu este poder espiritual que, quando lhe faltavam os poderes materiais (o político, o econômico), parecia ser decididamente seu?

      Há explicações para isso, mas não me importam aqui as que denunciam a ação dos partidos de oposição (que, afinal, fizeram o que uma oposição faz: oposição) ou a mídia. O que interessa é o que o PT fez para perder a hegemonia. Mas, antes, um pouco sobre essa palavra.

      Marx, embora descrevesse bem o funcionamento do capitalismo (não devemos esquecer que seu maior livro se chama "O capital" - e não "socialismo" ou "revolução"), nunca detalhou como se poria fim a ele. Por vários acasos, esse papel coube a Lênin, líder de um partido secundário num país atrasado, mas que foi onde se deu a revolução. Lênin delegou a tarefa a um partido único, composto de revolucionários profissionais e organizado em torno do segredo e da hierarquia (para ser exato, do "centralismo democrático": primeiro, um debate livre; depois, a decisão em assembleia; depois disso, obediência estrita à decisão da maioria). Foi o que funcionou nos países pobres, de Estado hipertrofiado e sociedade atrofiada, em que o comunismo se impôs nas décadas que se seguiram a 1917.

      Gramsci, comunista italiano, que passou seus últimos anos de vida nas cadeias de Mussolini, propôs outra via. Em países de forte sociedade civil, a conquista dos espíritos seria mais importante do que a vitória pelas armas. Essa ideia singela mas forte inspirou uma forte renovação democrática na esquerda, comunista ou não. Foi influente no Brasil. Ressalta o combate cultural, ideológico, numa sociedade democrática. Explica como o PT foi crescendo. Explica também como, em seus anos no governo, o PT se enfraqueceu. Pois hoje o PT é quase só um partido de poder, ao contrário de seu passado; se perder o poder federal, será uma pálida sombra do que já foi.

      Exemplos não faltam. Depois da eleição de Lula, o PT teve dois presidentes com ideias, José Genoino e Tarso Genro; foram os únicos a perder esse cargo. Os dirigentes que estão no partido ou no Legislativo pesam menos do que quem está no Executivo. Isso porque no governo, no mundo da assinatura, você faz acontecer; já no Senado, na Câmara, no mundo da palavra, você não gera resultados imediatos tangíveis. Um político ganha ao ir para um ministério; mas, se ele for um líder, com isso perdem o partido e a opinião política. E saíram de cena os intelectuais identificados ao PT - uns porque romperam com ele, como Chico de Oliveira; outros, simplesmente, se calaram. O partido perdeu líderes, adquiriu gestores. Hoje, o discurso de defesa do governo se concentra na defesa dos programas - emergenciais - de inclusão social, como o Bolsa Família e o ProUni. Aprovo-os, mas eles, se resolvem um passado odioso, não desenham um futuro. O PT deixou de ser um partido de propostas, mesmo que estas fossem utópicas.

      Poderia ser diferente. A meu ver, no capítulo da moral o PT poderia enfatizar que o grande escândalo ético brasileiro era, dez anos atrás, ter quase metade da população nas classes D e E. Deveria insistir no caráter ético das políticas contra a miséria e a própria pobreza. Não deixaria, então, o tema ético ser tomado, como aconteceu, pela oposição - que coloca em segundo plano a miséria e o que se fez contra ela, para se concentrar nas acusações de corrupção, que atravessam nossa história desde a colônia com muita retórica e pouco resultado.

      Mas não é esse o combate que o PT tem travado. Basta ver o bordão do terceiro mandato petista - "País rico é país sem pobres". Admiro essa redefinição do que é riqueza, como o contrário do sonho de Miami. Mas poderia ser "país digno". Poderia ser "país ético". A riqueza, sobretudo quando medida em termos de consumo, consegue apoio somente a curto prazo - um apoio que se esvai quando se esgota o consumo. Ética, dignidade, esperança têm alcance mais longo.

      ENTREVISTA DA 2ª JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN

      folha de são paulo
      Incompetência e ideologia do governo travam a economia
      Para economista, políticas equivocadas, como controle de preços, e aversão a reformas explicam baixa eficiência
      ÉRICA FRAGADE SÃO PAULOJosé Alexandre Scheinkman, um dos mais respeitados economistas brasileiros, concorda com o diagnóstico de um amigo seu: a incompetência explica tanto parte das ações equivocadas quanto a falta de atitudes importantes por parte do governo.
      Esse problema, somado à ideologia das administrações recentes contrária a reformas que poderiam aumentar a baixa eficiência da economia, ajuda a compreender as causas da desaceleração da atividade no país, segundo ele.
      Scheinkman, que vive nos EUA e virá ao Brasil nesta semana para participar de seminário do Insper sobre produtividade, falou à Folha na sexta-feira por telefone.
      O economista, dono de vasta produção acadêmica, deixará em setembro a Universidade de Princeton, onde se tornará professor emérito, rumo à Universidade Columbia.
      Folha - Que fatores têm se mostrado mais importantes para aumentar a produtividade do trabalho?
      José Alexandre Scheinkman - Todos os fatores têm importância, mas a evidência mostra um papel muito importante da educação. Para cada ano a mais de educação, a produtividade do trabalhador aumenta muito.
      Obviamente, um trabalhador com mais capital à sua disposição também vai produzir mais. Mas há menos variação de capital por trabalhador entre os países do que de quantidade de educação.
      Também sabemos que a qualidade da educação importa, mas temos dificuldade de medir essa qualidade.
      A saúde também é muito importante. Nos países que têm melhores indicadores de saúde, os trabalhadores são mais produtivos.
      Há outro aspecto da produtividade que não conseguimos explicar pela quantidade de fatores.
      Se você pega duas firmas da mesma indústria, usando trabalhadores com o mesmo nível de educação e o mesmo tipo de capital, essas empresas produzem quantidades diferentes.
      Isso é explicado pela eficiência no uso dos fatores, a chamada produtividade total dos fatores?
      Exatamente. Há hoje muita atenção nos EUA para tentar entender quais são os fatores que tornam as empresas mais produtivas.
      Como a eficiência da economia brasileira tem evoluído?
      A produtividade total dos fatores, que pode ser traduzida como grau de eficiência, está estagnada ao menos desde 1989 para a economia como um todo. Mas há setores da economia brasileira que tiveram grandes ganhos de eficiência. Um é a agricultura.
      Obviamente há fatores que influenciam todos os setores e toda a economia. Mas, para entender a eficiência, é importante olhar o que está acontecendo com cada setor e com as firmas de cada setor.
      Um fenômeno interessante brasileiro é a existência de empresas pequenas que muitas vezes são informais, muito ineficientes e só sobrevivem por não pagar impostos. Elas trazem a produtividade média do setor em que atuam para baixo.
      Mas a informalidade entre as empresas menores diminuiu.
      Sim, e essas empresas melhoram ao se tornar formais. Mas, como há um tamanho máximo de faturamento para ficar dentro das faixas de tributação no Brasil, há um desestímulo na busca por crescimento por parte dessas empresas e isso prejudica a eficiência da economia.
      O ideal seria diminuir os impostos para as firmas maiores e trazê-las mais perto das outras.
      Quais são as outras causas da baixa eficiência da economia brasileira?
      Há os casos de proteção setorial. As pessoas esquecem que a política setorial dificulta a vida das indústrias que usam o insumo do setor protegido. Elas acabam não podendo se tornar tão eficientes quanto as de países que têm acesso ao mesmo insumo a preço relativamente menor.
      A outra questão importante é o investimento em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil tem uma estrutura científica bastante razoável se olharmos os números de doutorandos, as publicações em revistas científicas. Ainda não conseguimos criar uma estrutura de produção de pesquisa e desenvolvimento.
      Esse assunto já foi muito bem estudado pelos economistas. A taxa de retorno, ou seja, o aumento de produtividade gerado pelo investimento nessa área, é enorme. E isso ocorre porque quem investe em pesquisa e desenvolvimento e recebe o retorno não é a única pessoa a lucrar.
      Boa parte dos ganhos vai para outras empresas, concorrentes, outros setores que começam a se beneficiar da tecnologia desenvolvida.
      Até a absorção da tecnologia vinda de fora em um país onde você já tem toda uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento é maior. E os governos têm papel fundamental no investimento em pesquisa e desenvolvimento.
      Se há tanta evidência desses benefícios, por que não se investe mais em pesquisa e desenvolvimento no Brasil?
      Um amigo meu diz --e eu concordo-- que um dos grandes problemas do governo brasileiro é a incompetência. Eu não consigo explicar isso por malevolência, por um pensamento de que o governo quer um país atrasado.
      Às vezes as políticas são extremamente prejudiciais ao país por incompetência --por exemplo, quando o governo controla o preço da gasolina. Isso levou ao aumento do congestionamento e da poluição e prejudicou uma das poucas tecnologias importantes criadas no Brasil, a da indústria do etanol.
      Não imagino que o governo decidiu gerar essas consequências. Mas alguém teve a brilhante ideia de, entre aspas, controlar a inflação mantendo o preço da gasolina estável e não pensou nas consequências.
      Há uma estagnação no processo de reformas importantes para o desenvolvimento econômico no Brasil?
      As reformas começam no início do governo Collor com a abertura comercial. Depois houve um período de paralisia. E voltaram a acontecer com Itamar, o Plano Real. Em seguida, outras reformas importantes foram feitas. Esse processo foi freado a partir do segundo governo Lula.
      Há seis, sete anos poucas coisas importantes estão sendo feitas. O governo tem se concentrado muito mais em políticas industriais, em intervir nos preços, em diminuir impostos setoriais e menos em resolver as grandes questões que poderiam melhorar a eficiência no Brasil, como as que eu já mencionei, e outras, como o investimento em infraestrutura.
      Essa letargia tem a ver com a questão da competência que o sr. mencionou?
      Há uma questão também de ideologia. Há reformas que precisavam ser feitas, mas que não atendiam à ideologia do governo. Acho que agora o governo entendeu que precisa trazer mais investimento privado para áreas como ferrovias, portos etc.
      Outro problema importante é a baixa taxa de poupança. Então, o governo cobra muito imposto, mas tem gastos enormes e pouca capacidade financeira para investir, além da falta de capacidade que eu já mencionei de competência do setor público.
      Esses fatores explicam a desaceleração econômica dos últimos anos?
      Acho que há várias causas. Em 2008 e em 2009 a resposta à crise com política fiscal mais solta fazia sentido. O que não fez sentido foi achar que isso poderia ser permanente mesmo depois de a economia ter começado a se recuperar.
      A outra é o excesso de intervenção, como o controle do preço da gasolina. Cada uma dessas intervenções, de forma isolada, pode passar a impressão de que seus efeitos não são tão graves, mas, se você junta todas, começa a ter efeito na economia. E isso é parte do que estamos vendo agora.
      Além disso, também estamos sentindo o efeito da desaceleração da China, que, no entanto, não deve ser exagerado.
        RAIO-X JOSÉ SCHEINKMAN, 65
        Cargo
        Professor de economia da Universidade de Princeton e pesquisador associado do NBER (National Bureau of Economic Research). Em setembro, irá para a Universidade Columbia
        Pesquisa
        Tem vasta produção acadêmica, recentemente focada no estudo de bolhas no sistema financeiro e no tamanho do setor. Também se dedica ao estudo da produtividade da economia brasileira

        Tv Paga


        Estado de Minas: 29/07/2013

        Mundo bizarro
        Estreia hoje, às 20h45, no Discovery Channel, a série Mistérios, com o ator Milhem Cortaz (foto) relatando fatos curiosos de pesquisas científicas muitas vezes questionáveis eticamente, desde experimentos de lobotomia e estudos controversos da CIA a registros arrepiantes de transplantes em humanos. Em resumo, a produção pretende comprovar que a ciência real pode ser mais estranha que a ficção científica.

        Mecânicos têm prazo curto
        para transformar um carro
        Novidade também no Discovery Turbo, com a estreia da série 48 horas, que na temporada anterior se chamava 72 horas.
        O programa, que vai ao ar às 23h, propõe um desafio a seus participantes: transformar carros clássicos em verdadeiras obras de artes sobre rodas no prazo de dois dias. Os juízes Mad Mike Martin, George Barris e
        Jimmy Shine escolhem ao
        final qual equipe de mecânicos se saiu melhor.

        Caçadores de recompensa
        rastreiam veículos sumidos
        No canal History, às 22h, estreia Caçadores de caminhões, que acompanha equipes de investigadores que procuram veículos desaparecidos nas estradas dos Estados Unidos. Segundo a polícia americana, a cada semana centenas de caminhões desaparecem do mapa, muitas vezes com cargas muito valiosas. Alguns
        são roubados, outros são abandonados ou
        estão quebrados.

        Lázaro Ramos entrevista
        hoje a atriz Isabel Fillardis
        E tem mais um novidade na telinha: às 20h, o canal Arte 1 apresenta o primeiro episódio de A vida secreta de uma obra-prima: o censo de Belém, de Bruegel. No Canal Brasil, a atriz Isabel Fillardis é a entrevistada de Lázaro Ramos no programa Espelho, às 21h30, falando sobre o início da carreira como modelo, a estreia na TV em 1993, na novela Renascer (Globo), e a experiência como cantora no grupo As Sublimes.


        Boate Farenheit tem uma
        nova garota de programa
        A última maldade feminina de As canalhas vai ao ar hoje, às 23h, no canal GNT, e é a vez da cabeleireira Marilyn (Zezeh Barbosa), a dona do Salão Madeleine, por onde passaram todas as protagonistas da série. Já o Multishow exibe mais um episódio de Uma rua sem vergonha, às 23h15, com a estreia da atriz Patricia Elizardo, no papel de uma jovem que se aventura na Boate Farenheit com três amigos e acaba se deixando seduzir pelo ambiente, pega gosto pela vida de garota de programa e acaba adotando o nome de Ludmila.

        Os melhores filme sempre
        costumam ir ao ar às 22h
        No pacotão de filmes, o destaque é a estreia de Os infratores, com Shia Labeouf, Jason Clarke e Tom Hardy como três contrabandistas de bebidas alcoólicas na década de 1930, nos Estados Unidos. O longa, que vai ao ar às 22h, no Telecine Premium, conta ainda com Guy Pearce, Jessica Chastain, Mia Wasikowska e Gary Oldman no elenco. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Possessão, na HBO 2; Por que eu me casei?, no Glitz; No rastro da bala, na MGM; Cada um tem a gêmea que merece, no Max Prime; Os crimes de Snowtown, no Max; X-Men: primeira classe, no Telecine Action; Videodrome – A sindrome do vídeo, no Telecine Cult; e Elizabeth (1998), no Studio Universal. Outras atrações da programação: O livro de Eli, às 19h50, no Universal; e Billi Pig, às 22h30, no Megapix.

        Aonde o povo está Carolina Braga‏


        Estado de Minas - 29/07/2013

        Caxambu – Não importava a idade. Seja em crianças, adultos ou adolescentes, a pintinha vermelha do nariz foi “contaminando” quem passasse perto. E o sorriso? Aberto. Os olhos? Arregalados. Nem gato e cachorro escaparam da brincadeira. 

        A energia do palhaço e a alegria do circo tomaram conta de Caxambu nos últimos seis dias. A primeira edição do Festival Mundial realizado na cidade deixa constatações. Entre elas, a certeza de que a linguagem secular do picadeiro é agregadora. Tem mais: no interior mora um público sedento por arte.

        “Estar aqui é trabalhar contra o desperdício. De público, cérebros, corações, palmas. São tantas que deixo de escutar por aí que chega a ser absurdo. Com o tamanho que esse país tem até que demorou para interiorizar” comentpu a atriz Marisa Orth. Convidada para se apresentar pela primeira vez sob uma lona com o show Romance parte II, ela saiu de Caxambu impressionada com a qualidade da troca com a plateia. Como grande comediante que é, se esbaldou. “Circo ainda é um dos poucos redutos multimídias. Continuo achando que quero ser uma artista assim. Sou anos 1980, gostava da não caretice daquela época. Sou atriz, mas gosto de fazer música. O circo ainda é um espaço de liberdade”, diz.

        Bem receptiva com o público, Marisa tomou o maior susto quando uma das espectadoras contou que estava na fila há sete horas para vê-la. “Aqui é uma fartura de tudo. Uma troca muito boa”, concluiu a atriz. A boa notícia é que este não foi um fenômeno exclusivo dela, rosto conhecido da televisão. Foi assim todo dia, com chuva, sol ou muito frio – aliás, o que foi comum. “É muito difícil ter as coisas aqui. Então, quando aparece, todo mundo quer ver”, explicou a estudante Aniellen Brito, primeira da fila para ver a apresentação do Circo Zanni - ela estava ali desde as 14h30 à espera da distribuição das senhas, marcada para às 18h.

        “Isso é uma coisa muito necessária não só em Caxambu, mas em todo interior. As pessoas gostam de cultura, mas é preciso que chegue até elas. Quando isso ocorre, você vê que não tem quem não goste”, garante a produtora cultural da cidade, mas radicada em São Paulo, Marília de Lima. Integrante da Cia Carroça de Mamulengo, a atriz e diretora Maria Gomide se surpreendeu com a atenção da plateia no Circuito das águas. “Querendo ou não, o tempo ainda circula diferente nos pequenos lugares. É muito bom poder realizar um espetáculo em um lugar que as pessoas têm naturalmente mais tempo para apreciar”, elogia.

        SUPERANDO EXPECTATIVAS  O resultado da primeira edição do Festival Mundial de Circo em Caxambu superou as melhores expectativas das organizadoras. Na cidade com cerca de 22 mil habitantes, pelo menos 16 mil pessoas participaram das atividades. “Temos que ampliar a capacidade de atendimento do público e, principalmente, pensar em estratégias para ocupar cada vez mais Caxambu”, analisa Fernanda Vidigal, da Agentz Produções. Segundo ela, a tenda de 450 lugares se mostrou pequena para a demanda da região. “A nossa avaliação é que para montar a lona aqui tem que ser no mínimo de 800 lugares”, planeja.

        O retorno que teve do público deixou claro que há uma carência a ser suprida. Da parte da organização, além da procura pelos espetáculos, surpreendeu também a ânsia pelas oficinas oferecidas. Nas aulas de palhaço, por exemplo, foram 60 inscritos para 15 vagas. “É uma curiosidade latente”, constata Fernanda. Como a realização do evento na cidade está garantida pelos próximos dois anos, a ideia dela é ampliar a oferta para 2014, principalmente de aulas relacionadas à encenação e dramaturgia circenses.

        Em 2013, foram quatro oficinas e 11 espetáculos, na lona e principalmente na rua. Estiveram representados países como Bélgica, Argentina e Espanha. No fim de semana, o espetáculo que ostentou mais foi As mulheres do sol e o balão, da Cia. A Base. Porém, não passou de belas imagens. O grande destaque foi a simplicidade do palhaço espanhol Tortell Poltrona. Cinco anos depois de se apresentar no FIT-BH, ele mostrou em Caxambu a montagem Postclássic, com números tradicionais feitos com muita graça e poesia.

        Ele que há 20 anos trocou o ritmo de Barcelona por uma pequena cidade próxima da montanha, diz ter encontrado em Caxambu “seres da mesma espécie” que ele. “Gosto muito das pessoas que têm uma relação próxima com a natureza. Nos espetáculos de palhaço, tudo depende da reação. Somos provocadores de sensações, portanto caberá ao público fazer o resto”, diz. A julgar pelo resultado das apresentações, o povo aqui entendeu o recado. Tortell brinca com a plateia do início ao fim. Ninguém sai constrangido.

        FELICIDADE

        O encerramento do Festival Mundial de Circo ficou por conta do Grupo Galpão com o novíssimo Os gigantes da montanha. Na montagem concebida e dirigida por Gabriel Villela, os atores encenam a tragédia de Luigi Pirandello com narizes vermelhos. “A função do palhaço é fazer as pessoas felizes pelo menos no momento em que estão diante dele”, ensinava o espanhol Tortell. O público que esteve em Caxambu que o diga.

        Personagem da notícia

        Carlos Antônio Esteves
        Estudante de 13 anos

        VOLUNTÁRIO

        O adolescente Carlos Antônio Esteves (foto) certamente estará com o repertório de histórias renovado para contar aos colegas depois das férias. Isso porque, quase empatado com o nariz dos palhaços, ele foi onipresente durante o Festival Mundial de Circo em Caxambu. O garoto pode até não reconhecer, mas foram sim dias mais coloridos na vida dele. Literalmente. Carlos ficou sabendo sobre a chegada da lona na escola. No entanto, ser apenas espectador era pouco para ele. Assim que a produção desembarcou na cidade, Carlos foi se oferecendo para ajudar. Com graça, conquistou a equipe e claro, viu quase tudo. “É uma terapia para mim”, diz, em tom adulto. O lugarejo onde mora com os pais e a irmã de 7 anos fica a 2km do centro de Caxambu. Todo dia, bem cedo, o menino seguia de bicicleta para entregar folhetos e organizar cadeiras. O pretexto para isso tudo era, além de estar perto, tornar as férias inesquecíveis. Se duvidar, ele até foge com o circo.

        Um novo mercado agrícola e Manifestações e a magistratura do Trabalho - Tendências/debates

        folha de são paulo
        ROBERTO RODRIGUES
        Um novo mercado agrícola
        O acordo entre Estados Unidos e União Europeia gera riscos para o Brasil. Podemos perder posição na exportação de produtos agrícolas
        Neste mês de julho de 2013, começaram os estudos tendo em vista a criação de um acordo de livre-comércio entre os Estados Unidos e a União Europeia. Trata-se de um gigantesco projeto inserido na crescente onda dos chamados RTA's (Regional Trade Agreements).
        A União Europeia também pensa em outro acordo, desta vez com o Japão. Aqui na América Latina foi criada recentemente a Aliança do Pacífico, juntando em uma RTA o Chile, a Colômbia, o Peru e o México.
        Segundo a OMC (Organização Mundial do Comércio), em 1995, cerca de 123 RTA's haviam sido notificados. Em janeiro deste ano, já eram 546. Trata-se de aumento notável, que explica outro número: 40% do comércio agrícola e de alimentos no mundo todo já se dão no âmbito de acordos regionais, sejam bilaterais, sejam entre países e blocos.
        Isso tudo pode representar uma profunda modificação nos padrões atuais de comércio agrícola, estabelecidos desde a Rodada Uruguai do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) e que não avançaram nada na Rodada de Doha da OMC, inaugurada em dezembro de 2011. Quase 12 anos de discussões infrutíferas.
        Um acordo bilateral ou regional como esse entre Estados Unidos e União Europeia pode ter concessões tarifárias maiores do que as estabelecidas no Gatt, porque estas servem para o comércio global e não bilateral, pelo menos supostamente.
        E não são só concessões tarifárias (ou até mesmo completa liberação de tarifa): temas como patentes, denominações de origem, medidas sanitárias e fitossanitárias, padrões de bem-estar animal e outros mudam radicalmente o cenário atual.
        E tem mais: aquecimento global, emissão de gases de efeito estufa e o velho tema do ambiente ou da sustentabilidade também podem surgir como novas barreiras não tarifárias, ajudando a perturbar ainda mais as relações comerciais na agricultura.
        Claro que por trás disso tudo está a tese defendida por muitos economistas segundo a qual os preços agrícolas atingiram um novo patamar do qual não baixarão muito. Para esses economistas, é preciso reduzi-los de alguma forma, e os RTA's poderiam ajudar nesse objetivo.
        Embora essa tese dos novos patamares seja discutível --já foi apresentada antes e os preços caíram de novo quando a oferta se equilibrou com a demanda--, há razões para apoiá-la: é difícil aumentar a produtividade agrícola como se fez no século passado.
        Terras agricultáveis diminuem, a demanda cresce com a urbanização das populações, aumentam os custos de produção, a produção de alimentos concorre com a de biocombustíveis por questões ambientais etc. Todos esses temas são discutíveis, uma vez que bons preços estimulam a produção no mundo todo.
        Mas o fato é que estão em andamento os tais acordos. E esse entre Estados Unidos e União Europeia afeta diretamente o Brasil agro. E não apenas nós: o acordo seria a maior zona de livre-comércio do mundo, com mais de 800 milhões de pessoas que já trocam produtos e serviços, no valor de R$ 2 trilhões por ano! Ora, com menos impostos de importação, a parceria pode mesmo reduzir os preços, aumentando o consumo e produzindo empregos e renda que caíram desde 2008.
        Mas 23% das nossas exportações do agro vão para a Europa, e competimos com os americanos em soja, carnes, produtos florestais e açúcar. Podemos perder posição. E para os Estados Unidos vão 7,3% do total exportado pelo Brasil, inclusive café (é que a União Europeia vende café torrado e moído para eles). Enfim, há riscos no horizonte e precisamos estar atentos.
        Aliás, já se discute abertamente a possibilidade de o Brasil negociar um RTA com a União Europeia sem levar junto os países do Mercosul...

        PAULO SCHMIDT
        Manifestações e a magistratura do Trabalho
        Defendemos o direito de greve no serviço público. Em um país sem leis trabalhistas, a "mão invisível" conseguiria conter a inexorável revolta das massas?
        Está no preâmbulo da Constituição da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que "a paz, para ser universal e duradoura, deve assentar-se sobre a justiça social" (1919). Nos anais da ciência política, poucas assertivas são tão infalíveis quanto essa.
        A despeito do caráter "difuso" das manifestações atuais, as bandeiras que se veem eriçadas bem demonstram o seu pendor para os direitos sociais, previstos na Constituição Federal: direito ao transporte público acessível, à educação e à saúde pública, democratização dos meios de comunicação, entre outros.
        A rigor, o que os movimentos sociais reclamam, com inegável razão e oportunidade, é que os direitos constitucionais deixem de ser direitos de papel e sejam efetivamente incorporados ao patrimônio jurídico dos cidadãos. Isso obviamente não justifica excessos. Mas explica o clamor popular, aliás tardio.
        Nesse plexo de valores, a magistratura do Trabalho solidariza-se com os movimentos sociais. Mais que isso, apresenta-lhes outras bandeiras do associativismo trabalhista, há décadas já tremuladas no Parlamento e nos ministérios.
        Conclamamos o Congresso à definitiva aprovação da proposta legislativa que prevê a desapropriação de terras onde houver exploração do trabalho escravo. Defendemos o fim do fator previdenciário e da contribuição injusta dos aposentados e repudiamos as políticas públicas de sucateamento da previdência pública.
        Repudiamos, ainda, as iniciativas legislativas tendentes a precarizar o trabalho e a esmaecer os direitos sociais constitucionais (mirando agora o projeto de lei nº 4.330/2004, que pretende "regulamentar" a terceirização). Do mesmo modo, rechaçamos o Simples Trabalhista, danoso aos trabalhadores.
        Pugnamos, enfim, pela definitiva regulamentação dos tantos direitos sociais que a Constituição de 1988 consagrou e que há 25 anos estão relegados ao esquecimento institucional: o direito à proteção contra a dispensa arbitrária ou sem justa causa, as garantias sociais no trabalho penoso, a proteção contra a automação, o direito de greve no serviço público e a participação do trabalhador na gestão da empresa, entre tantos outros.
        Do mesmo modo, apostamos e apoiamos os projetos que tramitam no Congresso que objetivam trazer maior celeridade para a Justiça do Trabalho por meio da racionalização do sistema recursal e da execução das sentenças.
        Decerto estas linhas escandalizarão juristas e economistas formados na cartilha thatcherista. Dirão que o Estado não tem condições de suportar mais despesas, evocarão a reserva do possível e acenarão com o catastrofismo intergeracional.
        A todos eles, propomos um desafio: imaginem um país sem direitos sociais, um mercado de trabalho sem legislação trabalhista. Terão chegado ao paraíso neoliberal. Restará saber se, no pico da ebulição social, a "mão invisível" conseguirá conter a inexorável revolta das massas.
        É necessário responder aos desafios de forma efetiva e socialmente aceitável, recobrando-se a memória de que o poder é sempre exercido em nome do povo. Que os ouvidos dispersos estejam atentos a esse comando constitucional.

        Eduardo Almeida Reis-Sexualidade‏


        Estado de Minas: 29/07/2013 


        Delícia de história é a do pastor Alan Chambers, da Exodus International, Igreja que vendia franquias há 37 anos e tinha várias franqueadas nos Estados Unidos, todas dedicadas à cura gay.

        O piedoso missionário escreveu skip to main | skip to sidebar às comunidades homossexuais, bissexuais e transexuais pedindo desculpas pela dor e sofrimento que lhes causou, de mesmo passo em que confessou sentir forte atração pelas pessoas de seu sexo. Resumindo: saiu do armário depois de faturar uma nota e encerrou as atividades de sua obra missionária: “Vários anos atrás eu, de forma conveniente, omiti minha atração pelo mesmo sexo. Eu tinha medo de dividir isso. Hoje, entretanto, aceito esse sentimento como parte de minha vida” escreveu Chambers numa carta publicada pelo site Gawker, dizendo que a organização cristã liderada por ele terá outra diretriz a partir de agora.

        Até o gato lá de casa, se houvesse, saberia que a homofobia esconde forte atração pelo mesmo sexo. Todos sabemos que homossexualismo não é defeito, mas inclinação, força que orienta espontânea ou voluntariamente uma pessoa no sentido de um objeto, um objetivo, um gosto; tendência, propensão, vocação.

        Nada nos irrita mais do que descobrir nossas tendências nos outros. O forreta critica o munheca, o pinguço verbera o alcoólatra, o apedeuta odeia o analfabeto, o corrupto detesta o ladrão – e assim por diante.

        Tive um amigo, doce figura humana, que dirigia a 35 km/h. Excepcionalmente, numa descida de ótimo asfalto, estrada deserta, permitia que seu carro chegasse a 40 km/h. Pois muito bem: quando encontrava um veículo circulando a menos de 30 km/h, o excelente brasileiro tratava de ultrapassá-lo, gritando pela janela de sua Variant: “Eh morrinha!”.

        Cracídeos


        Tenho amigo que divide seu dia em várias etapas, a saber: caminhar no câmpus da UFJF, avinhar-se, charutear e ler, sendo que o verbo avinhar, pronominal, em nosso idioma desde 1576, no caso do ilustrado patrício não significa “beber imoderadamente, embriagar-se”, mas curtir o seu vinho diário como homem de bem e de tino.

        Dia desses, escrevi sobre uma jacutinga pousada na janela aqui do escritório, equivalente a um quarto andar, dando para mata de cinco hectares, pertinho da avenida principal e mais movimentada de uma cidade de 600 mil habitantes.

        O leitor me disse que em suas caminhadas pelo câmpus tem visto muitas aves parecidas, que lhe pareciam galiformes, família dos cracídeos, gênero Penelope, de garganta nua vivamente colorida, que grasnam e gargalham, conhecidas como jacus.

        Em defesa de sua tese, mandou-me vídeo de 10 minutos sobre jacus, jacutingas e jacupembas. Fartei-me de ver fotos coloridas de cracídeos no vídeo interminável e concluí que errei ao classificar como jacutinga a ave galiforme aqui da janela do escritório: era um jacu, possivelmente macho em período reprodutivo, pois tinha barbela vivamente colorida.

        Opções de lazer

        São Paulo, a maior cidade do país e capital estado mais rico do Brasil, anda às voltas com um negócio chamado pancadão, por falta de opções de lazer para os adolescentes. Não se trata de pancada violenta ou de mulher vistosa e atraente, um peixão, substantivo masculino (pancada + ão) dicionarizado pelo Houaiss, mas de uma balada nas ruas, ao ar livre, reunindo menores desde a mais tenra idade até paulistanos de maior, dos vários sexos conhecidos.

        Até outro dia, a polícia tinha identificado cerca de 350 pancadões regulares nas noites de quinta, sexta e sábado, só na Zona Leste da cidade. Álcool e drogas vendidos livremente a todos os frequentadores, dos mais velhos às crianças. O barulho rivaliza com o das turbinas de aviões a jato e o sexo, insinuado ou praticado, corre solto e à vista de todos.

        Cada pancadão reúne até três mil criaturas e criaturinhas. Escusado é dizer que os residentes nas imediações de um pancadão passam as noites sem dormir e a polícia, chamada, é agredida pela multidão. O fenômeno não é afegão ou paquistanês, mas paulistano, e lá está para quem quiser ver. Na reportagem que a tevê exibiu, ouvia-se claramente um brasileiro anunciando aos berros: “Aqui, o bagulho é do bom!”. Vejo no Houaiss que bagulho, na acepção 7, regionalismo brasileiro, significa maconha

        O mundo é uma bola

        29 de julho de 1588: a Invencível Armada espanhola é vencida pelos ingleses na Batalha de Gravelines, próxima da costa francesa. Em 1648, fundação de Paranaguá, onde hoje existe um porto, o maior para exportação de produtos agrícolas de um país grande e bobo. São tantos os buracos nas estradas de acesso à zona portuária, que os caminhões perdem mais que 10% do milho e da soja transportados, para alegria das aves e dos ratos, que se alimentam dos grãos. Quando chove, o que é comum por lá, milho e soja apodrecem e o cheiro fica insuportável, mas o DNIT vai muito bem, obrigado.

        Em 1836, inauguração em Paris do Arco do Triunfo, obra que conheço de fotografia, mas tenho amigos que vivem comendo queijos e bebendo vinhos nacionais olhando para a obra da arquitetura francesa e não conhecem o Arco do Triunfo de Caicó, (RN), estado natal do ilustre presidente da Câmara Federal.

        Ruminanças
        “Porto: lugar em que os navios abrigados das tempestades estão expostos à fúria da alfândega” (Ambrose Bierce, 1842–1914).

        CIÊNCIA » Solução mineira para tubos petrolíferos‏

         Solução mineira para tubos petrolíferos 

        Pesquisadores do Departamento de Química da UFMG são premiados pela Petrobras por apresentarem inovação para processo de extração do "ouro negro"
         



        Tiago de Holanda

        Estado de Minas: 29/07/2013 



        Gasolina, óleo diesel, querosene, asfalto, lubrificantes e até medicamentos. Esses são alguns dos produtos derivados do petróleo, substância tão valorizada que foi apelidada de “ouro negro”. Apesar de cobiçado, a extração e o processamento desse líquido escuro são muito caros. Os custos são altos também para o meio ambiente, já que a exploração das jazidas e a queima de combustíveis lançam gases tóxicos na atmosfera, como os liberados pelos canos de escape dos automóveis. Duas pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) buscam combater esses problemas e os promissores resultados foram reconhecidos por uma das maiores petrolíferas do mundo.

        Realizados por alunos e professores do Departamento de Química da instituição, os dois trabalhos estão entre os ganhadores, na categoria Graduação, da 6ª edição do Prêmio Petrobras de Tecnologia, destinado a trabalhos desenvolvidos em instituições de ensino superior. Um deles, agraciado no tema “Tecnologia de perfuração e produção”, foi executado pelos estudantes Igor Tadeu da Cunha, de 21 anos, e Ivo Freitas Teixeira, de 23, orientados pelo professor Rochel Monteiro Lago. O outro, condecorado no tema “Tecnologia de preservação ambiental”, foi tocado por Nathalia Tavares Costa, de 24, sob a coordenação de Luiz Carlos Alves de Oliveira.

        Igor e Ivo tentaram achar uma solução para uma das maiores dores de cabeça do setor: a corrosão dos tubos de metal usados para coletar o petróleo nas reservas subterrâneas e transportá-lo até o local onde é limpo e refinado, etapa necessária para a produção dos derivados. “Todos os anos, o Brasil gasta mais de US$ 8 bilhões para reverter os efeitos da corrosão e as petrolíferas são as indústrias mais prejudicadas”, conta Ivo. A dupla de estudantes e o professor criaram um composto que vem se mostrando capaz de transformar em uma substância não prejudicial aos seres vivos os átomos de enxofre presentes nos poços e considerados os agentes que mais atacam os tubos.

        VULCÕES A inspiração dos rapazes foi um tanto exótica. Lendo pesquisas estrangeiras, eles descobriram que há duas bactérias de nomes quase impronunciáveis (Wolinella succinogenes e Rhodobacter capsulatus), encontradas nas cercanias de vulcões. Elas produzem enzimas que fazem o sulfeto (combinação de enxofre e outro elemento químico) exalado das imensas estruturas geológicas virar cadeias de sulfetos. Esses grupos, também chamados polisulfetos, não são corrosivos e podem ser facilmente absorvidos pela natureza, já que o oxigênio do ar os transforma no inerte sulfato. O mesmo fim é alcançado por um compósito criado pelos pesquisadores mineiros.

        “Descobrimos que a enzima produzida pelas bactérias é muito semelhante ao grupo quinona, um anel feito de átomos de carbono ligado a átomos de oxigênio”, explica Ivo. A dupla juntou uma matéria orgânica formada por esses elementos ao pó de um mineral, a magnetita, e depois inseriu a mistura em um forno, aquecido a temperatura elevada, entre 400 e 800 graus. O resultado foi que aglomerados de carbono, como minúsculas ilhas, se colaram à superfície do pó. Nos testes em laboratório, esse material foi misturado ao sulfeto de sódio, uma das substâncias presentes no petróleo. Em solução, o compósito criado na UFMG capturou elétrons dos átomos de enxofre, fazendo-os se unirem e formarem as inofensivas cadeias.

        Uma próxima fase da pesquisa será aplicar o compósito ao sulfeto de hidrogênio, mais conhecido como ácido sulfídrico, e, posteriormente, ao petróleo. Uma das propostas é grudar o pó de magnetita às paredes da tubulação que transporta o “ouro negro”, desde o início de sua extração. Se tudo ocorrer conforme o esperado, as ilhas de carbono funcionarão como antenas, os elétrons atraídos serão armazenados pela magnetita e, mais tarde, capturados pelos átomos de hidrogênio, o que permitirá o surgimento do gás hidrogênio, não corrosivo. “Nos experimentos, conseguimos ver a quantidade de polisulfetos criados e a velocidade com que isso ocorreu”, diz o estudante Ivo Teixeira.

        No entanto, um dos problemas observados foi a perda de eficiência do composto de magnetita, mais enfraquecido a cada aplicação. “O compósito perdeu cerca de 20% da eficácia a cada uso, o que fez com que ficasse desativado após cinco usos”, destaca. Ainda é preciso averiguar a possibilidade de vencer essa adversidade. “Entre um uso e outro, acredito que possamos fazer um tratamento na substância e regenerá-la completamente, mas ainda não testamos isso”, acrescenta o estudante. Outros aperfeiçoamentos precisam ser investigados. “Temos que descobrir quais as melhores condições de preparo do compósito e como aplicá-lo numa carga real de petróleo. Uma coisa é fazer teste em pequena escala, outra é mexer com bilhões de litros”. Ambos os projetos da UFMG são financiados pela Petrobras, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).

        Em boa hora - Aécio Neves

        folha de são paulo
        Em sua breve e já inesquecível visita, o papa Francisco legou aos brasileiros exemplos revigorantes e uma oportuna mensagem de otimismo, tão necessária neste ano de tantas dificuldades. "Sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade", foi sua exortação no Santuário de Nossa Senhora Aparecida.
        Quem o viu pela televisão ou ao vivo nos lugares onde esteve pôde obter a personificação de um novo sentido de liderança, marcado por posições reformadoras emblemáticas e grandes simbolismos, nesta hora em que tantos questionamentos recaem sobre aqueles que têm a responsabilidade de dirigir instituições: dispensou protocolos de chefe de Estado, desfilou pelas avenidas em carro simples e com as janelas abertas e impediu as ostentações e os exageros de praxe, buscando mais sinergia com os fiéis, postura que adotou desde o primeiro momento em que foi escolhido como sucessor de Bento 16.
        Se a juventude esteve no centro de suas mensagens, foi enfático ao advertir que a sociedade deve assegurar a ela as condições "materiais e imateriais" para o seu desenvolvimento, oferecendo fundamentos sólidos sobre os quais se deve construir a vida. Garantir-lhe segurança e educação. Transmitir-lhe valores duradouros, como espiritualidade, solidariedade, perseverança, fraternidade e alegria.
        Para quem tem filho ou filha na juventude, como é o meu caso, as palavras alentadoras de Francisco fizeram todo o sentido. "Bote esperança e os seus dias serão iluminados", ele sugeriu aos jovens, em um de seus discursos. Vale, aliás, para jovens de qualquer idade.
        Houve oportunidade também para que ele demarcasse como enxerga a questão social nos dias de hoje. Quando eleito, meses atrás, o argentino Jorge Mario Bergoglio escolheu seu nome como papa em homenagem a são Francisco de Assis, indicando a ênfase que colocaria na defesa dos mais carentes.
        Na comunidade pobre da Varginha, no Rio de Janeiro, o papa fez o apelo para que ninguém permaneça insensível às desigualdades e possa contribuir para acabar com as injustiças: "A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados".
        O papa Francisco mostrou-se bem sintonizado com as manifestações de junho no Brasil. Entre a "indiferença egoísta" e o "protesto violento", termos usados por ele, pregou a alternativa do diálogo e defendeu o respeito aos princípios éticos. "O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza", disse. Esse permanece sendo o objetivo em torno do qual todos devemos nos unir.

          Espaço para duas pernas - Ruy Castro

          folha de são paulo
          RIO DE JANEIRO - Parece mentira: Detroit, a cidade-símbolo da cultura do automóvel, quebrou. Deve US$ 20 bilhões, que não tem como pagar, e, de lá, saem agora apenas 5% dos carros montados nos EUA. Sua população passou de 1,8 milhão para 700 mil, dos quais 40% vivem abaixo da linha da pobreza. É também a cidade mais violenta do país, com quarteirões incendiados, destruídos e abandonados.
          As causas parecem ser as crises econômicas e a concorrência da Ásia. Mas há também um fator que me toca mais: o declínio da dita cultura --a do automóvel. Segundo pesquisas, 20% dos jovens americanos hoje, entre 20 e 24 anos, não têm carteira de habilitação. Se essa idade cair para 18 anos, o número sobe para 40%. Isso num país em que, até há pouco, o carro era mais importante para um adolescente do que jogar beisebol ou beijar a coleguinha de classe.
          E no qual o principal documento no bolso do cidadão era a carteira de motorista --como se a identidade do indivíduo estivesse atrelada a uma máquina e, sem esta, ele não existisse.
          Claro que, nos países novos-ricos e grotões mais atrasados, a obsessão pelo carro continua. Mas, em algumas cidades, a agenda dos habitantes mudou. As pessoas estão tentando reduzir as distâncias, morando perto do trabalho ou mesmo trabalhando em casa. Em vez de sair de carro, andam a pé, usam bicicleta e exigem mais e melhor transporte público --nesse sentido, as recentes manifestações no Brasil não foram por acaso. Tudo passou a conspirar contra o automóvel --na verdade, contra o carro particular.
          Ao ler isso, considero-me meio pioneiro. Nunca quis ter carro ou dirigir, o que me poupou de séculos de manobras, estacionamentos, engarrafamentos, bafômetro, multas e estresse. E de ocupar com quatro rodas o espaço que me foi concedido para as duas pernas.

            O valor da palavra - Valdo Cruz

            folha de são paulo
            O valor da palavra
            BRASÍLIA - Francisco foi embora, o papa que foi ao encontro das ruas e não das autoridades. Para muitos, deixa palavras de esperança e renovação. Para outros, sentimentos de decepção ao não tocar em temas tabus, como aborto.
            Respeito e compreendo a reação do segundo grupo, mas fico com o primeiro. Não esperava do pontífice pregação revolucionária de questões morais, mas nutria grande expectativa sobre sua mensagem à juventude quanto a seu lugar no atual cenário político e social.
            Digo que não me frustrei. Pelo contrário. Ele conclamou os jovens a assumir o protagonismo das mudanças sociais, estimulou-os a seguir nas ruas e pediu que nunca desanimem nem percam a confiança diante de notícias de corrupção.
            Diria que o papa cumpriu muito bem sua missão de semeador. Suas palavras tocaram mentes e corações e partiram de quem dá exemplos concretos de segui-las. Se vão produzir frutos, só o tempo dirá.
            É bom lembrar, para desgosto da nossa classe política, que foram lançadas em período de terreno fértil, propício para que tenham impacto real no cotidiano daqueles que o seguiram nestes dias no Brasil.
            Por aqui, a turma das ruas redescobriu sua força e temos pela frente eventos catalisadores de atenção, como Copa do Mundo e eleições. Cenário que gera insegurança no mundo político e pode ser oportunidade única para sairmos de vez do quadro de acomodação.
            A tendência é que, nas próximas eleições, a taxa de renovação no Congresso seja a mais alta da história. Nada mais merecido. Afinal, a classe política estava totalmente divorciada da população. Acordou no susto e ainda não sabe muito bem o que fazer para sobreviver.
            Poderia começar dando mais valor à palavra empenhada e dando exemplos concretos de segui-la, tal como Francisco. Só que aqui, na capital federal, isso tem sido produto cada vez menos valorizado.

              Vinicius Mota

              folha de são paulo
              A segunda encíclica de Lula
              SÃO PAULO - Mesmo antes das manifestações de junho, a rota do governo federal vinha sendo ajustada para tornar-se mais conservadora. Na economia, o nacional-desenvolvimentismo já havia sido abalado pelo surto de autonomia do BC nos juros.
              Na política, um acúmulo de reveses e escaramuças com aliados tornara embaçado o trâmite de toda proposta reformista do Planalto. A presidente perdeu iniciativa parlamentar, com seu poder de veto ameaçado pela maioria legislativa.
              O saldo dos protestos, associado a sinais recentes de mais fraquejo na atividade econômica, tende a reforçar a opção pela transição conservadora até a eleição do ano que vem. O trauma com o fracasso da iniciativa plebiscitária ajudará o governo a assimilar essa lição.
              Enquanto o PT faz "mise-en-scène" para exercitar o figurino esquerdista, o ex-presidente Lula sabe que precisa reconquistar interlocução e credibilidade na direção oposta. Empresários, banqueiros, a velha classe média e vastos contingentes populares de regiões menos dependentes de recurso estatal passaram a enxergar alternativa de poder em outras freguesias.
              Há ingenuidade na discussão sobre o retorno de Lula como candidato em 2014. Voltar nessas condições seria flertar com a derrota ou, na melhor hipótese, com um governo fraco e acossado por todos os flancos no quadriênio seguinte.
              O papel de Lula será o de costurar o retorno de sua criatura ao convívio tolerável, quiçá amigável, com o centro e a direita. Agirá para que, num possível duelo com Marina Silva --ou até Aécio Neves--, Dilma Rousseff volte a significar voto de segurança.
              Espere-se, portanto, um avanço do governo na agenda conservadora --na economia, na política, nos costumes-- ao longo dos próximos 15 meses. A segunda versão, embora não explícita, da Carta ao Povo Brasileiro está sendo elaborada pelo signatário da original.

              Com apenas um veto - Editoriais FolhaSP

              FOLHA DE SÃO PAULO
              Com apenas um veto
              Ao tornar sem efeito decisão sobre fim da multa adicional do FGTS, Dilma expõe, de uma vez, várias facetas da incúria de seu governo
              Um veto de Dilma Rousseff acaba de expor, de modo concentrado, os efeitos de anos de imprudência financeira e improviso na administração pública.
              A presidente tornou sem efeito a decisão do Congresso de dar cabo da multa adicional de 10% sobre o valor do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) de trabalhadores demitidos sem justa causa. As empresas devem esse percentual ao governo desde 2001.
              A contribuição adicional foi criada a fim de cobrir perdas nos saldos de contas do FGTS, provocadas de forma indevida por planos econômicos dos anos 1980 e 1990.
              Embora a diferença tenha sido quitada no ano passado, o governo manteve a cobrança da contribuição extra --que é, afinal, provisória-- com o argumento de que os fundos recolhidos financiam programas sociais, como habitação e saneamento. Reafirmou-se o raciocínio no veto presidencial.
              Há um motivo mais imediato e, talvez, inconfessável: a aguda escassez de recursos em um ano de baixa arrecadação de impostos.
              A decisão do Congresso privaria o governo de cerca de R$ 3 bilhões anuais. Decerto provocaria a interrupção de obras importantes. É fácil demonstrar, porém, que tal possibilidade está no horizonte devido a imprevidências elementares.
              Primeiro, não importa a situação orçamentária ou econômica, o governo não deveria contar com uma receita provisória nem pretender desvirtuar o emprego precípuo de tais recursos.
              Segundo, note-se que, apenas no primeiro semestre de 2013, o governo deixou de arrecadar R$ 35 bilhões em consequência de desonerações fiscais concedidas com o objetivo frustrado de estimular a atividade econômica.
              É evidente que o governo poderia ter adotado providências a fim de manter no caixa dinheiro bastante para compensar a perda da receita extraordinária do FGTS.
              Medidas comezinhas de planejamento financeiro permitiriam que o governo abrisse mão dessa contribuição provisória, ora transformada em tributo permanente --taxação que, de resto, causa distorções no mercado de trabalho.
              Não chega a surpreender num governo incapaz até mesmo de cuidar dos seus próprios interesses políticos. Com o veto, abre-se mais uma frente de conflito com o Congresso e com a sociedade --empresários já se articulam contra a decisão da presidente.
              O fim da cobrança da multa do FGTS é reivindicação antiga e razoável das empresas. Foi negociada pacientemente com o Congresso, embora os parlamentares tenham aprovado a medida no embalo algo demagógico da reação aos protestos de junho.
              A incúria governamental cria mais distorção tributária, desordem orçamentária e conflito político --tudo com apenas um veto.
                Avanços na segurança
                Dados relativos a junho parecem confirmar a tendência de diminuição do número de homicídios dolosos no Estado de São Paulo.
                Após oito meses consecutivos de alta, a taxa de assassinatos caiu pela primeira vez em abril, na comparação com o mesmo período do ano anterior. A queda repetiu-se em maio e novamente agora.
                Segundo as informações mais recentes da Secretaria da Segurança Pública, o número de homicídios em junho foi 10,3% menor que no mesmo mês do ano passado --foram 355 ocorrências, contra 396 em 2012. Na capital, a redução foi de 12,3%.
                Ao que tudo indica, o ponto de inflexão foi a substituição do titular da pasta, em novembro. A medida foi adotada em consequência de uma onda de violência entre criminosos organizados e agentes da Polícia Militar no segundo semestre. No período, houve 2.896 vítimas de homicídios, incluindo quase uma centena de policiais.
                Neste ano, sob a gestão de Fernando Grella Vieira, o primeiro trimestre ainda apontava aumento nas ocorrências, mas em ritmo inferior ao de antes. Os três meses seguintes consolidaram a melhora.
                Se esses resultados são positivos, o aumento dos roubos e dos latrocínios no Estado ainda é motivo de preocupação.
                Os casos de latrocínio (roubo seguido de morte) passaram de 25 para 30, um aumento de 20% na comparação com junho de 2012. Embora proporcionalmente menor, o crescimento de 9,3% nos roubos é estatisticamente mais significativo. O número passou de 20.715 para 22.647 no Estado.
                Esse tipo de crime, com emprego de violência contra as vítimas, afeta diretamente a sensação de segurança da população. Seu aumento, do ponto de vista eleitoral, pode ser um estorvo para o governador Geraldo Alckmin (PSDB).
                Soa alvissareira a proposta do governo estadual de criar um órgão, que contará com a participação de especialistas e da sociedade civil e terá a finalidade de fazer uma análise mais ampla e aprofundada sobre os dados da segurança pública paulista.
                A partir de agosto, essa câmara terá reuniões periódicas e discutirá a divulgação diária --e não somente mensal--, por meio da internet, das estatísticas criminais.
                Essa iniciativa poderá dar maior transparência às informações e permitir que a sociedade cobre de forma específica avanços no combate à criminalidade.

                  MTV sinal fechado - Silvana Arantes e Thales de Menezes

                  folha de são paulo
                  MTV sinal fechado
                  Canal que fez a cabeça dos jovens nos anos 1990 ressuscitará na TV paga tentando atrair 'geração milênio' com música, mas sem videoclipe
                  SILVANA ARANTESDE SÃO PAULOA MTV Brasil será transferida para a TV paga no próximo mês de outubro. O anúncio da migração será feito hoje pelo conglomerado americano Viacom, detentor da marca, que estreou no Brasil em 1990, em sinal aberto.
                  A música, que está no nome do canal, vai seguir "no DNA da programação", disse àFolha Sofia Ioannou, diretora geral da Viacom International Media Networks Américas. Mas não na forma do velho videoclipe.
                  Com foco nos jovens da chamada "geração milênio", a nova MTV planeja produzir 350 horas de programação brasileira por ano. Serão reality shows e sitcoms nacionais. As principais atrações internacionais vão ser dubladas em português.
                  O canal aposta em sua habilidade de se comunicar com os jovens para não sucumbir à concorrência da internet.
                  "O jovem é um público com o qual não se pode falar como professor --porque ele não te escuta-- nem como pai e mãe --porque não te dá credibilidade. A MTV aprendeu a falar com os jovens com credibilidade", afirma Ioannou.
                  A transmissão da MTV Brasil em sinal aberto era viável graças a um acordo de licenciamento entre o Grupo Abril, que detém uma concessão de TV aberta, e a Viacom.
                  O fim do contrato foi o desfecho de um longo deficit operacional no braço televisivo da Abril. O sinal deve deixar de ir ao ar em agosto.
                  A Viacom quer relançar o canal na TV fechada logo em seguida e fixou a data de 1º de outubro para a estreia.
                  A meta é distribuí-lo a uma grande parcela dos seus 16,9 milhões de assinantes.
                  Sem revelar valores, Ioannou diz que o investimento da Viacom "é o maior feito num canal MTV em um ano nas Américas". A seguir, a entrevista que a diretora concedeu àFolha por telefone, de seu escritório em Miami.
                  Folha - Por que é que a Viacom decidiu levar a MTV para o cabo?
                  Sofia Ioannou - A estratégia é assumir o controle da nossa marca, particularmente em mercados com grande potencial de crescimento.
                  O crescimento de mais de 200% nos últimos cinco anos da TV paga no Brasil, o sucesso de nossos outros canais e o da MTV em nível global no modelo de TV paga nos deram a confiança de que levar o canal para a TV a cabo é sua evolução natural no Brasil.
                  Como será a programação?
                  O plano inclui "daily shows", realities de celebridades, sitcoms. Teremos o melhor da MTV mundial dublado para o português, casado com mais de 350 horas por ano de conteúdo produzido originalmente no Brasil para a geração milênio brasileira, que é a nossa audiência.
                  Nós nos apoiamos muito em pesquisas. Na última, o Brasil foi um dos mercados em que fizemos um investimento grande.
                  O que a pesquisa revelou sobre o público brasileiro?
                  A geração milênio brasileira é uma audiência muito feliz, que lida com um montante alto de dinheiro. Eles gostam muito de música, passam quase 50% do seu tempo vendo TV, 64% do seu tempo ouvindo música e 40% do seu tempo jogando videogame. A família é muito importante para eles, e quase 70% veem o melhor amigo como parte da família; 85% se sentem honrados de ser brasileiros e mais de 70% acessam a internet.
                  Como a MTV pretende recuperar a atenção do público jovem, hoje voltada à internet?
                  A geração milênio é um dos segmentos mais complicados para se tentar entender. Não se trata de um público que abandonou a TV para usar unicamente plataformas digitais. É um público que interage com plataformas digitais e TV.
                  Qual será o papel da música na programação?
                  Discutimos muito se a MTV Brasil deveria ter muita música ou não. Foi uma decisão que nos tomou um bom tempo. Quase 65% da geração milênio brasileira alivia o estresse ouvindo música. Com base nisso e no fato de a música ter formado grande parte da marca MTV, decidimos que ela tem de estar no DNA da programação. A música vai surgir em distintas facetas, mais diretamente ou como um dos elementos. O que me deixa feliz é que a participação da música no canal pode ser 100% local.
                  É quase um consenso que a linguagem do videoclipe envelheceu. Na nova MTV, a presença da música vai tomar formas que não a do clipe?
                  Sim. A geração milênio tem muitas plataformas para ver videoclipes. Não é preciso sintonizar um canal de TV. [A presença da música no canal] Será algo maior, como o World Stage, evento de música para o qual se voltam os olhos da MTV no mundo inteiro. Seria um show produzido no Brasil com um nome importante internacional e localmente. Estudamos fazer isso no Brasil em 2014.
                  A premiação anual VMB será mantida?
                  A decisão não está tomada, mas creio que seria algo diferente do VMB.
                  Os programas feitos no Brasil irão ao ar somente aqui ou em outros países também?
                  Meu plano é que o conteúdo seja tão forte que valerá a pena tirá-lo do Brasil e transmiti-lo, no mínimo, para outros países da América Latina e também Portugal e Espanha. Espero que seja o tipo de programa com força suficiente para cruzar fronteiras.
                  Qual é a sua opinião sobre a Lei da TV Paga brasileira?
                  Qualquer regulação [de mercado] que ponha barreiras complica a habilidade de um programador internacional, de prosseguir com o que nos parece mais importante, que é oferecer conteúdo bom para o público brasileiro.
                  Navegar dentro disso é um pouco mais complexo. Mas, ao fim e ao cabo, eles [a agência reguladora Ancine] têm suas razões positivas e não nos resta outra saída a não ser trabalhar ao lado deles.
                  As projeções de expansão da economia brasileira estão sendo revistas para baixo. A Viacom contempla um cenário de contração no Brasil?
                  Embora a gente entenda que a situação econômica possa afetar o nível de crescimento da TV paga no Brasil, ela seguirá crescendo em patamar importante, por nossas projeções. Além disso, marcas fortes como a MTV ajudam o mercado de cabo a se expandir ainda mais.

                  OPINIÃO
                  Busca pela garotada gera crise de identidade na emissora
                  THALES DE MENEZESEDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"Aos 23 anos, a MTV passará por uma grande mudança. Não será novidade para o canal de música que parece sempre adolescente, porque muda a toda hora.
                  Começou mais música do que TV. Depois, a música virou só um ingrediente de uma receita de entretenimento. Recentemente, programas brincalhões de auditório com bandas buscavam o meio termo.
                  Seus primeiros rostos, de gente que entende de rock e pop (Fabio Massari, Gastão Moreira, Zeca Camargo), foram sucedidos pela geração bonita e descolada, mas só esforçada no jornalismo musical (Didi Wagner, Leo Madeira, Carla Lamarca). Nos últimos anos, chegaram os engraçados (Marcelo Adnet, Dani Calabresa, Tatá Werneck).
                  As dificuldades em falar ao público jovem vieram da entrada da internet na vida da moçada. E vieram em duas ondas pesadas.
                  O primeiro golpe foi a possibilidade de ver videoclipes a qualquer hora na rede, principalmente na carona do YouTube. Por que esperar o clipe da banda favorita no horário que a programação da MTV determinar? Sem chance. O clipe se mudou de vez para outro lugar.
                  Mas o ataque maior, inserido numa discussão bem ampla, veio por causa da comunicação mais parruda, intensa e ágil que o conteúdo on-line permite. Os programas (musicais, humorísticos ou informativos) tentaram de todas as formas colar na internet. Dá-lhe insistentes pedidos de "entre agora no site e faça isso, faça aquilo" e apresentador lendo mensagens de telespectadores/internautas. Tudo sofrível --nada de culpá-los, não têm salário de roteirista.
                  O processo pode ter estreitado bastante a faixa etária da audiência. Nos últimos anos, no VMB, o "Oscar" da emissora, a escolha de clipe do ano por votação popular premiou bandas de apelo pré-adolescente como Restart.
                  O que virá agora, de casa nova? Prosseguir na infrutífera emulação da internet? Ou apostar em projetos radicais como a série "A Menina sem Qualidades", para públicos especiais?
                  Algo a se verificar na MTV renascida. Mais uma vez.