terça-feira, 1 de outubro de 2013

O critério da maioridade penal - THIAGO BOTTINO

O Globo - 01/10/2013

Adolescentes e adultos são
responsabilizados de forma
diferente. Entre 12 e
18 anos, a lei brasileira
considera o ser humano adolescente
e prevê regras específicas de
responsabilidade penal, privilegiando
o não encarceramento. A
partir dos 18, o indivíduo é tratado
como adulto e fica sujeito às regras
do Código Penal, cujas penas são
majoritariamente de prisão.

O tratamento diferenciado conjuga
fatores biológicos (desenvolvimento
físico e mental) e jurídicos.
Do ponto de vista biológico, é
um critério imperfeito, pois o
amadurecimento humano é diferente
em cada pessoa. Porém, do
ponto de vista jurídico, é importante
estabelecer um critério objetivo,
para evitar desigualdade.

Nossa Constituição estabeleceu
a idade cronológica de 18 anos.
Alemanha, França, Espanha, Itália,
Argentina, México e China
usam o mesmo critério do Brasil.
O critério poderia ser outro. Nos
EUA, o tratamento como adulto
começa aos 12 anos; na Dinamarca,
aos 15. Já no Japão, a lei pune
como adultos apenas os maiores
de 21. E há modelos híbridos, como
na Bélgica, onde o tratamento
como adulto começa aos 18 anos,
mas há exceções para alguns tipos
de crimes a partir dos 16 anos.

Contudo, a redução da maioridade
penal só tangencia o problema
social mais importante, que é
a violência. Prender mais pessoas
não gera necessariamente a diminuição
do crime. Dados do Ministério
da Justiça indicam que a
reincidência dos presos brasileiros
chega a 85%, ao passo que é de
apenas 12% para condenados que
cumprem penas alternativas. Assim,
as medidas socioeducativas
previstas no ECA (que evitam a
internação) surtiriam efeitos melhores
do que o encarceramento
de adolescentes infratores.

Há casos gravíssimos, no entanto,
que chocam a população e geram
grande comoção social, fazendo-
nos questionar o modelo atual.
No entanto, alterar leis com base
em casos dramáticos não é boa
técnica legislativa, considerando
os potenciais efeitos colaterais.

O foco da discussão deve se voltar
para impedir o crime, em vez de esperar
que ele ocorra para se impor
uma punição severa. Nesse aspecto,
o ECA impõe como deveres do Estado
o acesso à Educação, ao esporte,
à Saúde e o fortalecimento das
redes de proteção de adolescentes.
Se forem cumpridas, essas medidas
podem ser o meio mais eficiente de
alcançar o benefício social da diminuição
da violência. 


THIAGO BOTTINO Professor da FGV Direito Rio

Brasil em edição revista e ampliada - Por Joselia Aguiar

Por Joselia Aguiar 

O país que vai à Feira de Frankfurt como convidado de honra não é o da riqueza multicultural de um lado e da catástrofe social de outro", diz curador

VALOR ECONÔMICO, 27-09-2013




Mal se anunciou a lista dos 70 autores que vão integrar a delegação oficial do Brasil como país homenageado na Feira do Livro de Frankfurt, do dia 9 ao 13, e uma jornalista estrangeira, presente na coletiva de imprensa na Alemanha, fez a pergunta que causou surpresa, mas nunca será improvável: "Onde estão os autores índios?"

Há um índio. Um dos que viajam para representar o país na maior feira de livros do mundo é Daniel Munduruku, que expressa sua etnia no sobrenome, com mais de três dezenas de obras para o público infantil, parte já traduzida no exterior. No entanto, apenas um não é medida razoável, e o curador Manuel da Costa Pinto teve de explicar por que são poucos os índios como autor ou tema.

As perguntas sobre a literatura do país apenas começam a ser refeitas. A escolha do Brasil, anúncio que sai com três anos de antecedência, quadruplicou a quantidade de títulos brasileiros traduzidos para o alemão. Em 2011, só havia 60 de ficção brasileira por lá. Agora, já são 260, informa Marifé García, vice-presidente para sul da Europa e América do Sul da Frankfurter Buchmesse, evento que há mais de seis décadas influencia decisões editoriais em escala global.

Na primeira vez que o Brasil recebeu tal distinção, em 1994, fazia apenas três meses o lançamento do Plano Real que estabilizaria a moeda. A decisão de pôr o país de novo em evidência se deu em "outro contexto, o mesmo em que fora eleito para sediar a Copa e a Olimpíada, quando o noticiário sugeria que não só havia um novo momento na economia, mas também na cultura, diferentemente de duas décadas atrás", conta a representante da feira alemã, de passagem por São Paulo. Outros eventos repetem a reverência. Em Guadalajara, feira com ressonância em toda a América Latina, o Brasil foi festejado no ano passado. As honrarias em 2014 serão no Salão do Livro de Paris e na Feira de Bolonha, a maior do mundo de literatura infantojuvenil.

[A presença do Brasil na feira alemã será um dos temas de debate de colóquio de literatura brasileira em universidade americana em abril]

O crescimento das traduções brasileiras não ocorre espontaneamente. Se, como lembra a representante da feira alemã, pouco se fez para divulgar a literatura brasileira quando passou 1994, há agora renovado esforço, que envolve de editores a agentes literários, cujo principal vetor é o programa de bolsas de tradução concedidas pelo governo brasileiro, via Fundação Biblioteca Nacional (FBN). "Existia antes, mas com número incerto de aprovações por ano e excesso de burocracia", avalia Marifé. Estratégia de geopolítica, diplomática e cultural, as bolsas de tradução são oferecidas por países de todos os portes econômicos, da Alemanha à Turquia.

Em menos tempo, o número já é maior. Nas duas décadas até 2010, 160 obras receberam apoio, divulga a FBN. De 2011 até aqui, foram 357 bolsas concedidas, outras 20 podem sair até dezembro, num orçamento de R$ 1,7 milhão, para 110 autores em edições para 30 países. A ressaltar: como nem todos os livros brasileiros traduzidos recebem bolsa da tradução, esses números não representam todo o volume de vendas no exterior.

Uma terceira conta da expansão literária é a de direitos vendidos. "Já dá para ficar contente, ainda que nunca seja o suficiente", afirma Nicole Witt, agente literária da alemã Mertin Agency, peso pesado nos negócios editoriais com grandes autores de língua portuguesa e espanhola, que celebra os números. Entre 1991 e 2010, venderam 146 obras brasileiras para países estrangeiros. De julho de 2011 a março deste ano, o número chegou a 223. A má notícia é que a nova onda brasileira tenha coincidido com a crise europeia, como assinala Lucia Riff, da brasileira Agência Riff: "Ainda assim, temos o que comemorar."

Negócios vão ser feitos em Frankfurt, mas começaram bem antes, relata a agente literária Luciana Villas-Boas, da Villas-Boas & Moss. Autores seus, como Francisco Azevedo, Ronaldo Wrobel e Rafael Cardoso, foram negociados já a partir de 2011. "Homenagens em feiras normalmente valorizam a literatura apenas naquele determinado território em função daquele evento. O desafio é conseguir que sejam publicados livros que causem impressão forte e perpetuem a presença do autor."

[Luiz Alvaro Menezes/Divulgação / Luiz Alvaro Menezes/Divulgação Costa Pinto (à esq.) com o diretor da feira, Juergen Boos: "Na contramão dos estereótipos da brasilidade, pode-se abrir vertente mais ampla de recepção crítica, editorial e de público", diz o curador]

Um Brasil diferente de duas décadas atrás será apresentado em Frankfurt. Não atende, como explica o curador Costa Pinto, "às expectativas pré-formadas sobre a nação, como a da riqueza multicultural de um lado e a da catástrofe social de outro". O seu país é "cosmopolita, com autores no mesmo registro de estrangeiros como J.M. Coetzee, Philip Roth e Ricardo Piglia, que abordam as preocupações do homem urbano e instruído". São nomes, conforme destaca, como os de Bernardo Carvalho, Nuno Ramos e Teixeira Coelho - veja todos em www.brazil13frankfurtbookfair.com. "Na contramão dos estereótipos da brasilidade, pode-se abrir vertente mais ampla de recepção crítica, editorial e de público", ressalta. Mesmo com a opção por mostrar um Brasil moderno, o curador esclarece que não será dada nenhuma dimensão eufórica. Trata-se de "autores que problematizam um país problemático".

O critério diversidade - apesar de aparecer com destaque nos materiais de divulgação oficial da presença brasileira - só foi empregado em último lugar, para "corrigir distorções", explica o curador. Para chegar aos 70, Costa Pinto buscou reunir, primeiro, autores cujo nome já se inscreve na história da literatura brasileira. Nem todos puderam aceitar o convite, como Augusto de Campos, Lygia Fagundes Telles, Ferreira Gullar e Manoel de Barros. Também foram convidados aqueles que o curador considera com lugar garantido na literatura contemporânea. Entre as baixas, Milton Hatoum, que fez, em 2012, a abertura deste ano brasileiro, preferiu não ir outra vez. Novas tendências, como Andréa del Fuego (leia resenha de seu novo livro na pág. 33), Daniel Galera, Veronica Stigger e Michel Laub (o autor está no "À Mesa com o Valor" na pág. 20), completam a lista.

Critérios não só literários, também editoriais, se combinaram para as escolhas, como traduções recentes ou em curso - critério sugerido pela feira alemã -, prêmios já recebidos e variedade de gêneros - além de romances, há quadrinhos, crítica literária e biografias. Maior best-seller brasileiro hoje no exterior, Paulo Coelho também entra. "Só no fim fizemos o balanço: será que geograficamente o país está bem representado? E quanto às questões étnicas? De gênero?", conta o curador. Para abordar mais diretamente esses temas, mesas entre as programadas para o pavilhão reunirão ensaístas, críticos e cientistas sociais que são parte da lista dos 70. A origem e as crises do discurso da identidade nacional vão ser debatidas por José Miguel Wisnik e Walnice Nogueira Galvão. A questão racial, por Manuela Carneiro da Cunha e Lilia Schwarcz. A repressão política e os direitos da mulher, por Maria Rita Kehl e Rosiska Darcy de Oliveira. A literatura contemporânea para além de um recorte brasileiro ocupará o debate de Luiz Costa Lima e Flora Süssekind.

A maquete que pôde ser vista até agora tem tons neutros. Ao vivo, haverá mais colorido. A área de 3 mil metros quadrados de país homenageado se parecerá a uma grande praça, atravessada pelo construtivismo brasileiro, referências vindas da arte e arquitetura de Athos Bulcão, Hélio Oiticica e Oscar Niemeyer. Uma mesa no formato da marquise do Ibirapuera ocupará posição central. Seis bicicletas, ao ser pedaladas, vão acionar a projeção de filmes sobre como o livro circula no Brasil.

[

A história da literatura brasileira será representada por totens com personagens, uma lista que vai de Brás Cubas e Dona Flor ao Vampiro de Curitiba. Em torno de redes nordestinas, mais totens com trilha musical, a intersecção entre o cancioneiro popular e a poesia brasileira, de Noel a Caetano. Seis atmosferas predominantes nas letras brasileiras são mostradas numa instalação com videoarte: o mar, o campo, o sertão, a floresta, a cidade, o subúrbio. A curadoria, que se completa com Antonio Martinelli, Daniela Thomas e Felipe Tassara, evitou o didático, o mimetismo e o nacionalismo. Além do pavilhão, há um calendário de shows e exposições em casas de espetáculo e museus da cidade.

À divulgação da lista dos 70 seguiram-se os desacordos - no Brasil, não por causa da ausência de índios. Em blogs e redes sociais, autores não escolhidos, assim como especialistas e leitores, fizeram reparos. Em síntese, a escolha seria canônica e institucionalizada, faltaria diversidade, aqueles que estão à margem. Desde o perfil dos escolhidos: com predomínio do sexo masculino, residentes no Rio e em São Paulo, concentrados em grandes editoras, brancos. À voz autoral: com temas urbanos, personagens de classes sociais elevadas e uso mais normativo da língua. Com poucas exceções, como Ferréz, que retrata a periferia paulista, Paulo Lins, o morro e o subúrbio do Rio, ou Luiz Ruffato, as camadas sociais mais baixas de Minas e São Paulo. Contemplado por ser o gênero por excelência em eventos que tratam do negócio editorial, o romance ocuparia demasiado espaço em detrimento da poesia, que estaria descalibrada - são 8 poetas, quando há 33 prosadores. Ainda faltou gente que está sendo publicada não só na Alemanha como em outros países.

"É impossível fazer qualquer lista que não esteja sujeita a críticas. Quem vai acha que merece ir, quem não vai acha que a lista é de panelinha, críticos defendem posições diversas etc. Então, a lista é tão boa quanto qualquer outra possível, e não adianta querer comparar", argumenta Felipe Lindoso, especialista em políticas para o livro, um dos responsáveis pela curadoria na vez anterior em que o Brasil foi homenageado em Frankfurt. Apenas 20 fizeram parte da delegação oficial em 2004, e a lista também não foi recebida com unanimidade. "Quando há um curador, não está lá só para representar o país, mas também a si mesmo, senão não seria curador", pondera Noemi Jaffe, escritora - que não está entre os 70 - com longa atuação como crítica literária e experiência em curadoria. A lista lhe pareceu boa: "Gosto do conjunto, com algumas presenças maravilhosas, outras polêmicas e outras medianas, mas importantes".

A cisão rural/urbano pendeu para o segundo, em detrimento do primeiro e de seus praticantes, na avaliação de Alfredo Monte, crítico que mais assiduamente acompanha a literatura contemporânea escrevendo para a imprensa e no blog próprio, Monte de Leituras (www.armonte.wordpress.com). O problema maior, diz, é o que chama de "síndrome Capanema" [referência a Gustavo Capanema, ministro do Estado Novo], "aglutinadora e deixando na sombra os que estão na beirada". Frankfurt não é caso isolado: "Acho que há uma domesticação da cena literária por prêmios, bolsas e caravanas, assim como havia naquele tempo em que Capanema incluía todo mundo no funcionalismo público".

[Ferréz: ele e Munduruku estão entre as exceções da lista oficial, por tratarem de temas diferentes dos da maioria, como a tradição indígena e a vida na periferia]

Da parte alemã, depois da lista dos 70, veio o pedido para que fossem sugeridos para o Festival Internacional de Literatura em Berlim, realizado nos primeiros dias de setembro, autores que não estavam na delegação oficial. Esse "outro perfil" que desejavam deveria conter "uma literatura mais de ruptura, ousada, experimental ou performática", conta Costa Pinto, o curador literário. Entre os nomes, incluem-se os que abordam tanto na prosa quanto na poesia questões de cor e etnia, como Ana Maria Gonçalves, Paulo Scott e Ricardo Aleixo, e o dono de um romance que, longe de ser canônico - é repleto de obscenidades -, chegou a ser apontado pelo crítico Alcir Pécora, conhecido pelo rigor, como o melhor dos últimos dez anos, Reinaldo Moraes, com seu "Pornopopeia". A maioria seguiu depois num giro por outras cidades, inclusive Frankfurt.

Fora do circuito oficial brasileiro, os convites partem de editores e curadores da própria Alemanha, não se restringem a Frankfurt nem ao período específico da feira, como conta a agente literária Marianna Teixeira Soares, da MTS. Dois autores seus que não constam da lista dos 70 estarão na Alemanha. Antonio Xerxenesky, por exemplo, vai a convite da revista literária "Lettrétage", que lança uma antologia só de brasileiros. Júlio Ludemir é convidado para integrar o time de ficcionistas daqui que vai enfrentar a Seleção Alemã de Escritores, a Autonama, embate lúdico promovido pelo Instituto Goethe.

Uma ação paralela oficial, ainda que discreta, se organizou na Bahia para garantir maior representatividade em Frankfurt. Na lista dos 70, há o baiano João Ubaldo Ribeiro, que vive no Rio, e não mais que dois ou três outros residentes no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. "Nem de longe há diversidade", avalia Milena Brito, à frente da coordenadoria de literatura da Fundação Cultural da Bahia, "o que revela um desconhecimento profundo da produção literária do país imenso que é o Brasil". As histórias da Bahia viajam para o exterior desde a década de 1930 em obras de Jorge Amado, o romancista brasileiro até hoje mais traduzido e adaptado - é, seguido de perto por Clarice Lispector, o que tem maior número de pedidos de bolsa de tradução via FBN. Não é exagero dizer que, dada a força de sua presença, o Brasil tenta oferecer agora a Frankfurt um contrapeso - que pode parecer, num extremo, como tentativa de apagamento regional.

A também ressaltar: cizânias regionais não são novidade em Frankfurt, e a feira também ampara diferenças. O convite para a homenagem costuma ser feito a um país, mas em 2007 decidiu-se por uma região, a Catalunha, no nordeste da Espanha, com uma literatura que, entre muitas diferenças, é escrita em sua língua e não em castelhano.

[Regina, da UnB, defende estratégias a médio e longo prazo para internacionalizar a literatura brasileira]

A frustração de ter tão pouca representatividade levou a equipe da Funceb à produção de uma antologia, que reúne 18 autores baianos de diferentes gerações e regiões do Estado e ainda não foram divulgados fora das próprias divisas, de Myriam Fraga, na poesia, a Mayrant Gallo, na prosa. O título, com versão para três idiomas (alemão, inglês e espanhol), vai circular em Frankfurt e outras feiras internacionais. A incumbência de definir os nomes coube a sete críticos, pesquisadores e jornalistas especializados. "Como há em âmbito estadual um programa de internacionalização da cultura baiana tendo como carro-chefe a difusão da música, consideramos que a literatura deveria ter algo similar", explica a coordenadora, que também conhece a recepção brasileira lá fora, como doutora em literatura brasileira com atuação na Universidade da Califórnia, em Berkeley.

O que se aponta como falta de diversidade, ou o perfil razoavelmente homogêneo de autores que integram a lista dos 70, coincide com estudos realizados por Regina Dalcastagnè, professora titular da Universidade de Brasília (UnB), que se dedica às minorias invisíveis. "Literatura Brasileira: um Território Contestado" é seu livro mais recente. Num levantamento em romances publicados pelas principais editoras do país, identificou que apenas 7% não eram de autores brancos, mais de 70% são do sexo masculino, a mesma proporção reside no Rio e em São Paulo. Os atributos identificam também narradores e personagens. Não se trata, como argumenta a pesquisadora, apenas de temática ou estilo, mas de perspectiva. "Creio que a diversidade na autoria seja interessante em qualquer circunstância. Se alguém estiver buscando na literatura um painel mais completo sobre o que é viver no Brasil hoje, não pode se contentar, mesmo que tenhamos excelentes obras produzidas por alguns deles."

Os índios, desaparecidos do território literário no século XX, começam pouco a pouco a se restabelecer. Quem avalia é Rita Olivieri-Godet, da Université Rennes 2, membro do Institut Universitaire de France, que acaba de publicar "Alteridade Ameríndia na Ficção contemporânea das Américas". Os povos nativos tiveram presença forte, por motivos e em abordagens diferentes, em dois momentos-chave da literatura brasileira, o romantismo e o modernismo. Vão ressurgir em obras como as de Antonio Callado, Darcy Ribeiro e Antônio Torres a partir da década de 1970. Não só há agora autores que tematizam a questão, como Alberto Mussa e Paulo Scott, este incluído no grupo dos que estiveram em Berlim: a poeta Josely Vianna Baptista, no recente "Roça Barroca", traduziu o mito cosmogônico da tribo indígena Mbyá-Guarani e também reuniu versos seus a partir da experiência. Apareceu também uma geração que reivindica seu pertencimento étnico. Além de Daniel Munduruku, que vai a Frankfurt, há novos nomes, como os de Kaká Werá Jecupé e Eliana Potiguara.

Interessada no tema, Rita Olivieri-Godet não o vê, porém, como exigência: "O escritor brasileiro não é obrigado a escrever somente sobre os problemas que tocam diretamente a realidade nacional. Acredito que uma das funções da literatura seja a de desfazer estereótipos e de projetar as imagens complexas, diversas e até contraditórias".

[A agente literária Luciana, para quem "o desafio é conseguir que sejam publicados livros que causem impressão forte e perpetuem a presença do autor no exterior"]

Com a conta dos estereótipos nem sempre é o autor quem contribui. Muitas vezes a recepção independe de sua obra. Antes da nova geração de tradutores em atividade hoje, o livro brasileiro chegava ao alemão tendo seu sentido original por vezes alterado, explica Marcel Vejmelka, especialista de língua e literatura brasileira na Universidade de Mainz. Dada a "visão eurocentrista, exotizante" da qual os antigos tradutores não conseguiam escapar, sutilezas e complexidades denotativas e conotativas não eram compreendidas, e a narrativa se tornava mais superficial, pueril ou exagerada. Como recorda, na primeira edição do "Quincas Berro d'Água", de Jorge Amado, a sátira perdeu nuances político-existenciais e ficou ingênua. Só a partir da década de 1990 se configura uma nova leva de tradutores, com conhecimentos mais amplos e profundos da língua, cultura e literatura do Brasil. "Infelizmente, continua firme a convicção, por parte dos departamentos de vendas, que capas coloridas, com mulatas 'sensuais', sejam compatíveis e um incentivo para o público alemão comprar os livros." Seu exemplo preferido: uma edição do austero "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, saiu com um tucano no meio da selva estampado na capa.

Na nova ida a Frankfurt, o Brasil se anuncia sem exotismos, expressão que sobressai em coletivas de imprensa e materiais de divulgação. Esse teria sido um erro da outra vez, segundo alguns relatos. Felipe Lindoso, o da curadoria na época, rejeita a ideia de que o país se mostrara "folclórico" em 1994. Lembra que não há como impedir que restaurantes alemães contratem moças fantasiadas de baiana e conjuntos amadores para tocar. Os mesmos elementos podem produzir sentidos diferentes, diz: "A caipirinha, de que reclamaram daquela vez, hoje elogiam". Um histórico do evento pode ser lido numa série de posts no seu blog, O Xis do Problema [www.oxisdoproblema.com.br]. A grande frustração para Lindoso se deu com a falta de continuidade. "Um enorme esforço gerou grande simpatia e interesse pelo país e não foi sustentado", observa. "A articulação continuada entre o MinC e o Itamaraty é uma tragédia." Lamenta que os Centros de Estudos Brasileiros tenham sido "dizimados" e o Instituto Machado de Assis - que funcionaria à semelhança do Camões, em Portugal, do Cervantes, da Espanha, ou do Goethe, da própria Alemanha, "nunca deixa de ser projeto longínquo".

Regina Dalcastagnè argumenta que, para a internacionalização da literatura brasileira, mais importante do que a feira, "tão dispendiosa", é estabelecer "estratégias de política cultural a médio e longo prazo, com programas de apoio que tenham continuidade". Diz que tem notícias de dificuldades de toda ordem em departamentos de universidades do exterior onde se estuda literatura brasileira. Com a ideia de um Instituto Machado de Assis também concorda Carmen Villarino Pardo, titular de literatura e cultura brasileiras na Universidade de Santiago de Compostela: "Países que entendem a sua língua, o seu patrimônio material e imaterial como um bem e como uma ferramenta para atingir uma posição com maior capital simbólico têm criado instituições como essa".

[Divulgação / DivulgaçãoO cartaz: diversidade literária em destaque]

No pós-Frankfurt, haverá reflexão. A presença brasileira na feira alemã será um dos temas de debate em abril, no III Colóquio Internacional sobre Literatura Brasileira Contemporânea, na Universidade Georgetown, em Washington. Regina Dalcastagnè é uma das organizadoras. Carmen Villarino Pardo estuda, para o evento, as práticas e discursos de agentes do sistema literário brasileiro e da mídia nacional e internacional em torno da feira alemã. Os novos atores na tradução e recepção da literatura brasileira na Alemanha são objeto da pesquisa que Marcel Vejmelka vai apresentar.

Da parte da Frankfurter Buchmesse, outra data simbólica, o ano da Alemanha no Brasil, contribuiu para estreitar os laços. Abriu escritório no Brasil, base de atuação para América Latina. Fizera o mesmo na China e na Índia. Entre atividades e serviços em curso, montou a Contec Brasil, conferência e espaço sobre educação, conteúdo de mídia e tecnologia para crianças e jovens. "É o primeiro projeto maior, para continuar a crescer", diz Marifé García, vice-presidente.

A troca de comando na Fundação Biblioteca Nacional levantou expectativas sobre o ritmo do programa de internacionalização da literatura brasileira, uma das principais marcas da gestão de seu ex-presidente Galeno Amorim. O orçamento previsto da participação brasileira em Frankfurt, de R$ 18,9 milhões, fora alvo de críticas por parte do novo titular, Renato Lessa, assim que assumiu, há seis meses. Mas as bolsas de tradução são vistas com "orgulho e carinho", afirma ao Valor. "Enquanto eu estiver na FBN, será permanente." Lessa diz que ele mesmo vai se empenhar, nos diálogos com universidades e editoras acadêmicas, para a tradução de intérpretes do Brasil que ainda são pouco difundidos lá fora, como Sergio Buarque de Holanda e Celso Furtado. Quanto à quantidade de recursos disponíveis para essa demanda, explica que se trata de variável que a instituição não controla - depende de decisão federal. Até o fim do ano, o valor para 2014 já será conhecido. Um Instituto Machado de Assis seria realizável? Afirma que o vê "com simpatia", comenta que "a ministra [Marta Suplicy] gosta muito da ideia", que é "bela", porém "ainda vaga".

Um autor brasileiro, para ser publicado no exterior, não percorre apenas um caminho. "Cada livro meu tem uma história diferente", relata Luiz Ruffato, escolhido para abrir o evento, ao lado da presidente da centenária Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado. Já são 16 títulos traduzidos, apenas 6 com apoio da FBN, de 2010 para cá. Por exemplo, na França, três saíram com ajuda do Centre National du Livre. "Houve editor que se apaixonou pelo livro e procurou a agente, editor brasileiro que se empenhou, também muito esforço do agente, é claro, e até mesmo histórias absolutamente inverossímeis". Dessas, conta de uma publisher romena que certa vez ouviu uma entrevista sua numa rádio francesa e levou seus livros para o México. Sobre o discurso, adianta: "Vai abordar as contradições do Brasil".

Maria Esther Maciel - Vida da vaqueiro‏

Estado de Minas: 01/10/2013 



 Não faz muito tempo, reli um magnífico relato de Guimarães Rosa, intitulado “Entremeio com o vaqueiro Mariano”, que integra o livro Estas estórias, de 1969. Caracterizado como uma “reportagem poética”, o texto foi escrito após uma viagem de Rosa ao pantanal do Mato Grosso do Sul, em 1952, e conta a história do encontro e da longa conversa que o escritor teve com José Mariano da Silva, um vaqueiro de muita experiência no ofício. Como contou Rosa, o propósito desse encontro/conversa foi conhecer melhor o dia a dia do vaqueiro e “aprender mais sobre a alma dos bois”.

Impressiona o conhecimento que Mariano tem sobre a vida bovina em geral e sobre cada um dos animais que integram sua boiada. Seu saber vem da convivência diária com eles. Mariano sabe os nomes de todos os bois e vacas. Descreve os caprichos e talentos de cada um, como se estivesse falando de amigos muito próximos. E chega a dizer, em certo ponto: “Aqui, o gado é que cria a gente”. Isso porque, para o vaqueiro, a boiada faz parte de uma comunidade em que pessoas e animais mantêm relações de amizade e cumplicidade, com muitas trocas afetivas e conflitos. Algo raro hoje em dia, visto que as comunidades rurais baseadas na troca direta de experiências, afetos e interesses entre seres humanos e não humanos já quase não existem, por causa do processo de industrialização das fazendas brasileiras. Vaqueiros como Mariano se tornam figuras cada vez menos presentes na realidade de nossos campos.

Esse texto de Rosa me veio à memória quando soube, outro dia, que em 24 de setembro foi aprovada no Senado a lei que reconhece oficialmente a profissão de vaqueiro. Confesso que fiquei surpresa com a notícia. Mas minha perplexidade não foi, é claro, motivada pela aprovação da lei, e sim pelo fato de só agora, em pleno século 21, isso acontecer. Não podia imaginar que os vaqueiros (em atividade no Brasil desde os primeiros anos da colonização portuguesa) ficaram por tantos séculos à margem das leis trabalhistas do país. E, para completar, a regulamentação só chega agora, quando o ofício de vaqueiro se encontra quase em vias de extinção. Sabemos que ordenhar vacas tornou-se, de uns tempos para cá, uma atividade mecânica, feita por equipamentos; os animais são transportados em caminhões e mantidos em espaços que, nem de longe, lembram os velhos currais que conhecemos na infância. O aboio – canto dos vaqueiros para dirigir a boiada pelo sertão, lindamente retratado no filme Aboio, da mineira Marília Rocha – já é quase coisa do passado. E dar nomes aos bois virou apenas uma expressão verbal, que não condiz mais com a realidade.

Sem dúvida, para os vaqueiros que ainda existem e resistem no interior de vários estados, a notícia é muito boa. Assim como é para os vaqueiros (ainda podemos chamá-los assim?) que trabalham como empregados das grandes fazendas modernas. Mas pergunto: será que esse reconhecimento tardio do ofício pode reparar, à altura, tantos séculos de injustiça contra os vaqueiros? Algumas pessoas podem dizer: “Antes tarde do que nunca”. O que faz todo sentido. Porém, tendo a concordar com minha amiga Glorinha, que se valendo de uma frase de Rui Barbosa, comentou assim a notícia: “Justiça atrasada não é justiça”. 

Sacudindo a poeira - Ana Clara Brant

Vanusa volta aos palcos depois de tratamento para se recuperar de dependência por medicamentos. Convidada do projeto Salve rainhas, ela se prepara para lançar disco


Ana Clara Brant

Estado de MInas: 01/10/2013 


            
A voz está um pouco cansada e meio rouca no telefone. Resultado de uma maratona de entrevistas. “Tenho que dar uma respirada, mas é muito gostoso também estar de volta, divulgar o meu trabalho. Tudo isso faz parte”, avisa Vanusa, que retoma a carreira depois de um período internada em uma clínica de reabilitação.

E Belo Horizonte vai marcar esse retorno. Hoje e amanhã, a artista é a convidada do projeto Salve rainhas, na Funarte. Com formato de descontraído talk-show, em cada apresentação, a cantora convidada, ao lado de um ou dois músicos, fala sobre sua trajetória artística, além de cantar algumas canções que marcaram sua carreira. “É uma honra participar dessa iniciativa, que, por si só, já é um elogio. Não poderia estar mais satisfeita com tudo o que está ocorrendo”, destaca.

Vanusa mostrará músicas de seu novo disco, que deve ser lançado neste mês, Vanusa Santos Flores, nome de batismo da cantora, título dado ao CD por sugestão do produtor e diretor musical, o cantor e compositor Zeca Baleiro. Depois de 15 anos sem entrar num estúdio, ela voltou a ter prazer em soltar a voz. “Sempre adorei gravar, porque você participa da feitura de todo o processo. E quando fica pronto, vêm os ajustes. É como se fosse um filho. E o bacana é que esse trabalho foi feito com muito cuidado, com calma. Zeca foi maravilhoso, porque teve esse carinho comigo, de esperar o meu tempo. Gostei de todo esse caminhar do processo”, revela.

Além de músicas do próprio Zeca Baleiro, o álbum tem composições autorais e inéditas de Zé Ramalho, Zé Geraldo e ainda uma faixa de Vander Lee, Esperando aviões, que a cantora vai, inclusive, interpretar na apresentação na Funarte. “Nasci em Cruzeiro, interior paulista, mas fui com 4 anos para Uberaba e, em seguida, para Frutal. Passei muito tempo da minha criação em Minas e, por isso, tenho muito da mineirice. Então, vou fazer uma homenagem aos mineiros cantando Vander Lee, que é uma pessoa que adoro e admiro”, avisa a Vanusa, que estará acompanhada do pianista Sérgio Sá.

E foi justamente no interior mineiro que ela começou sua trajetória artística, aos 16 anos. Depois de quase meio século na estrada e com 24 discos no currículo, a cantora confessa que chegou a achar que não voltaria mais aos palcos após o período de internação. “Não tinha expectativa nenhuma de sair da clínica e voltar a fazer alguma coisa. Mas tudo caminhou. Escolhi ser feliz. É isso que importa”, filosofa.

Salve Rainhas
Show com Vanusa
Hoje e amanhã, às 19h, na Funarte MG,
Rua Januária, 68, Floresta. Ingressos:
R$ 5 e R$ 2,50 (meia), à venda uma hora
antes da abertura da casa. Lotação:
140 lugares. Informações: (31) 3213-3084.

Três perguntas para... Vanusa cantora

Publicação: 01/10/2013 04:00
Como surgiu a ideia de fazer um disco com produção de Zeca Baleiro? Você o procurou?
Na verdade, eu o conheci quando fiz uma apresentação no Sesc em São Paulo, no começo do ano passado. Ele foi o diretor e adorei o trabalho dele. Quando fui internada na clínica de reabilitação, Zeca entrou em contato com minha filha, Aretha, me procurou e me disse: ‘Quando você sair daqui, tiver legal e quiser cantar de novo, vamos gravar um disco’. E estamos aí finalizando o CD, com o nome que ele sugeriu, que é meu nome completo. É a minha cara, a minha identidade e reflete o meu momento, o meu sentimento.

E por que você decidiu se internar?
Desde que comecei minha carreira, entrei no piloto automático. Só trabalhava, não tinha tempo de fazer nada por mim, não tirava férias. E quando você trabalha demais e só vive para isso, você se esvazia. Percebi que não tinha mais nada para doar, porque eu não estava me preenchendo com nada para mim. Na clínica, onde fui por vontade própria e fiquei seis meses, as coisas se assentaram.

Aquele episódio do Hino nacional (em março de 2009, ao participar de evento na Assembleia Legislativa de São Paulo, Vanusa errou a letra e desafinou ao cantar o hino brasileiro) está superado?
Justamente por causa dessa minha rotina de só trabalhar, acabei me viciando em remédio tarja preta, porque passei a ter períodos de depressão. Chegou ao ponto de eu não conseguir acordar. Tinha que tomar guaraná em pó para me manter em pé. Esse episódio do hino foi a gota d’água e um sinal pra mim. Já não estava bem, tinha tomado remédio, mas como sempre fui caxias e muito profissional, fui cantar. E eu quase desisti de tudo depois desse ocorrido. Claro que não justifica o que fizeram comigo. Tenho uma trajetória tão bonita e as pessoas ficam lembrando só disso. Mas não tenho nenhuma mágoa. A gente tem que tocar a vida. Quando algo me incomoda, procuro sempre ver o lado bom da coisa. Os problemas são para nos ensinar. A gente está aqui para aprender e procurar sempre melhorar.

Tv Paga

Estado de Minas: 01/10/2013 



 (Bárbara Raso/Divulgação )
RECORDAR É VIVER

A escritora Thalita Rebouças (foto) é a entrevistada de hoje de Serginho Groisman no programa Tempos de escola, às 22h30, no canal Futura. Autora de uma série de livros para adolescentes, a convidada fala sobre o Colégio Sagrado Coração de Maria, em Copacabana, no Rio de Janeiro, onde estudou de 1977 a 1988. Segundo ela, o colégio despertou sua paixão pela leitura. As histórias dos colegas e dos professores daquela época são fontes de inspiração para suas obras até hoje, revela Thalita.

Wilker conversa com
a amiga Lilia Cabral


No Canal Brasil, outro programa de entrevistas bacana é o Palco e plateia, às 21h30, com José Wilker recebendo hoje a atriz Lilia Cabral, que comenta o realismo fantástico da novela Saramandaia, que terminou sexta-feira, na Globo, e o sucesso das personagens Amorzinho, de Tieta, e Griselda, de Fina estampa, ambas também da Globo. Já às 23h30, na Cultura, vai ao ar mais uma edição de Provocações, com Antônio Abujamra numa conversa animada com o artista plástico e professor universitário Márcio Casarotti.

Tecnologia na pauta
do Alternativa saúde


No GNT, a grande notícia é a estreia das novas temporadas de três programas. Às 21h, Boas- vindas continua acompanhando toda a preparação de quem espera um novo membro na família, além de mostrar a chegada dos bebês ao mundo, começando a nova fase com os casais Pamela e Liesio e Gisele e Leo. Em seguida, às 21h30, em Socorro! Meu filho come mal, a nutricionista Gabriela Kapim tenta ajudar os pais de crianças que têm dificuldades para se alimentar, no caso a menina Maria Fernanda, de 7 anos.
E às 22h, o Alternativa saúde abre a temporada falando sobre tecnologia.

Artes plásticas em
alta na programação

O canal Arte 1 sempre tem uma atração de alto nível para o assinante que busca algo diferenciado. Para hoje, a pedida é o documentário A tela em branco, às 21h30, traçando o perfil do artista plástico norte-americano Edward Hopper (1882–1967). No +Globosat, o episódio de Mundo museu, às 21h, vai até a França para mostrar o Museu D’Orsay, que abriga obras de Monet, Degas, Manet, Cezanne, Toulouse-Lautrec e Rodin e salas inteiras de Van Gogh e Gauguin.

Nat Geo aposta em
séries sobre carros


No Nat Geo, o panorama é bem outro, dedicado aos automóveis: A noite super máquinas estreia às 22h15, com os programas SOS carros e Fanáticos por carros. No Discovery, a novidade é Febre do ouro: América do Sul, às 21h40, com os mesmos aventureiros da série original Febre do ouro, agora explorando jazidas em regiões do Chile, Guiana e Peru.

Canal Brasil reprisa
o suspense Inversão


No pacote de filmes, uma dica interessante é o suspense Inversão, com Marisol Ribeiro, Alexandre Barillari, Giselle Itié e Rubens Caribé, às 22h, no Canal Brasil. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Cinco anos de noivado, no Telecine Pipoca; Apenas uma noite, no Telecine Touch; A vida é bela, no Telecine Cult; Fúria de titãs 2, na HBO; Capitão Sky e o mundo de amanhã, na HBO 2; Esposa de mentirinha, na HBO HD; A face oculta da lei, na MGM; e Entre dois amores, no TCM. Outras atrações da programação: Distrito 9, às 20h, no Universal Channel; Uma noite no museu 2, às 20h30, no Megapix; Rosas da sedução, às 21h40, no Glitz; e O rei da baixaria, à 0h30, no Comedy Central.

Qual o segredo de Voynich?‏ - Celina Aquino

Manuscrito resgatado em 1912 intriga cientistas, que buscam decifrar seu significado. Doutorando de física da USP tenta desvendar o mistério usando redes complexas para entender sua lógica


Celina Aquino

Estado de Minas: 01/10/2013 




 
Há séculos um texto intriga o mundo. Escrito em uma língua enigmática, o Manuscrito de Voynich é conhecido como o livro que ninguém consegue ler. De fato, não há quem entenda o seu significado, mas três pesquisadores brasileiros, usando sistemas de computador, atestam que o documento não é uma sequência aleatória de palavras. “Vimos que existe nele um padrão encontrado em línguas naturais”, revela o engenheiro de computação Diego Raphael Amancio, de 26 anos, doutorando em física computacional na Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos. “Agora ficam duas hipóteses em aberto: a linguagem pode ser nova ou ter sido criptografada.” Com a pesquisa, que deve ser concluída no mês que vem, o jovem espera ajudar outros estudiosos a desvendar o mistério.


Interessado em investigar textos, Amancio resolveu aplicar o conceito de redes complexas para entender a lógica do Manuscrito de Voynich. Depois de analisar um gráfico em que cada palavra é representada por um ponto, o pesquisador da USP chegou a um padrão de escrita do documento, levando em conta a forma como os termos se conectam. Em nenhum momento, considerou-se o significado. “Uma pessoa pode escrever sobre vários assuntos, mas sempre vai seguir o mesmo estilo de texto”, esclarece.


O grupo comparou, de diferentes maneiras, o padrão de escrita do Manuscrito de Voynich com trechos do Novo Testamento da Bíblia em 15 idiomas. Considerando a hipótese de que o documento misterioso é uma brincadeira, os pesquisadores embaralharam as palavras contidas nos livros religiosos para que fosse possível compará-lo com textos sem significado. Amancio, no entanto, não detectou nenhum padrão de texto aleatório no Manuscrito de Voynich. Pode até ser que o autor desconhecido tenha tentado pregar uma peça nos leitores, mas a estratégia parece não ter sido a elaboração de um livro sem sentido.


A conclusão se mostrou ainda mais plausível diante do resultado das análises da Bíblia na ordem correta. “Não há nada de diferente do que encontramos em línguas naturais, pois o jeito de escrever é compatível com os estilos já existentes. Só não sabemos o que ele significa”, acrescenta.


 Publicada há dois meses na revista online Plos One, a pesquisa também considerou a possibilidade de o Manuscrito de Voynich ter sido elaborado em um idioma inventado. A hipótese ganha força com a descoberta de que o padrão de escrita do documento é bem parecido com o do texto bíblico em esperanto, única língua até agora conhecida que foi criada pelo homem. O indício está na quantidade de palavras repetidas que aparecem seguidas no documento. “Há muito mais repetições no Voynich – às vezes aparecem três vezes seguidas a mesma palavra – que nas outras línguas analisadas. Pode ser que isso seja uma característica particular desse novo idioma novo”, esclarece o aluno da USP.
 
MAPEAMENTO  AUTOMÁTICO Há dois anos como pesquisador no Instituto Max Planck para Física de Sistemas Complexos, em Dresden, na Alemanha, o físico Eduardo Goldani Altmann, de 33, ficou interessado em adaptar a técnica de análises estatísticas para estudar um texto cujo alfabeto é desconhecido. Mapeando de maneira automática a frequência das palavras e como elas estão distribuídas, o brasileiro conseguiu detectar as palavras-chave do Manuscrito de Voynich, que são aquelas que carregam mais informação sobre o conteúdo e dão ideia de qual é o sentido do texto. “Queremos dar uma contribuição para ajudar na compreensão do documento”, destaca Altmann. O resultado serviu de base para a comparação com os 15 trechos do Novo Testamento da Bíblia (veja quadro).


As palavras-chave, geralmente, aparecem distribuídas de maneira diferente de palavras auxiliares (como verbos, pronomes, artigos e adjetivos): elas costumam estar bem próximas em uma parte do texto e depois desaparecem. “Posso usar a palavra chuva muitas vezes em um texto longo. Se na história para de chover, não a uso mais. Já a palavra bonito, que é descritiva, pode aparecer o mesmo número de vezes, mas mais distribuída”, exemplifica o físico. No Novo Testamento, foram destacadas palavras como Pilatos, anjo, menino, sepulcro e Maria, que não necessariamente aparecem em grande quantidade, mas estão concentradas em alguma parte do livro religioso, o que demonstra que são representativas do conteúdo.


Na publicação misteriosa, a medida de intermitência das palavras-chave, que mostra o grau de concentração delas no texto, é muito mais alta que na Bíblia. O engenheiro de computação Diego Raphael Amancio garante que há explicação para a descoberta. “A Bíblia não é dividida por assuntos como o Manuscrito de Voynich. Vendo figuras de plantas, depois de planeta, conseguimos distinguir algumas sessões e é óbvio que algumas palavras vão estar mais concentradas em uma parte e pouco presentes em outra. Isso não é característica do idioma, mas de como o documento está organizado”, informa.
O pesquisador da USP espera que agora os criptógrafos se concentrem nas palavras-chave e tentem chegar ao significado delas, o que pode facilitar a tradução do enigmático livro.



saiba mais

o Manuscrito 


A publicação que atualmente integra o acervo da biblioteca da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, é cercada de mistérios. O nome é uma homenagem ao livreiro polonês Wilfrid Voynich, que resgatou o documento perdido na coleção de padres jesuítas italianos, em 1912. Calcula-se que o livro de bolso com 240 páginas e palavras indecifráveis tenha sido escrito no século 15. Apesar de não ser possível entender o texto, as ilustrações coloridas dão pistas de quais assuntos são tratados. Seguindo a lógica das figuras, chegou-se à conclusão de que o Manuscrito de Voynich é dividido em cinco seções: botânica (desenhos de plantas desconhecidas), astronomia, (diagramas que parecem se referir a estrelas), biologia (com figuras femininas), farmacologia (ampolas, frascos e ervas medicinais) e a seção final, sem nome (com pequenas estrelas que parecem ser as marcações de um índice).


o que nos interessa

Aplicação no dia a dia

Futuramente, as técnicas usadas para analisar o Manuscrito de Voynich podem solucionar problemas cotidianos. O engenheiro de computação Diego Raphael Amancio estuda aplicar o conceito de redes complexas para o reconhecimento de autoria. A partir dos padrões de textos escritos por pessoas conhecidas, o computador será capaz de avaliar automaticamente quem escreveu o texto de autoria duvidosa. Já as análises estatísticas utilizadas pelo físico Eduardo Goldani Altmann podem ser mais eficiente que os mecanismos de busca na internet. Sem que alguém tenha que ler o texto, o método conseguirá identificar palavras-chave e facilitar o entendimento do conteúdo.


Distribuição de palavras

Palavras-chave encontradas na Bíblia (em três idiomas)
e no Manuscrito de Voynich, sem correlação ou sentido similares



Português      Inglês      Alemão      Voynich
nasceu      begat      zeugete      cthy
Pilatos      Pilates      zentner       qokeedy
céus       talents      himmelreich      shedy
bem-aventurados      loaves       pilatus      qokain
Isabel       Herod      schwert      chor
anjo       tares      Maria      lkaiin
menino      vineyard      Elisabeth      qol
vinha       shall      Etliches      lchedy
sumo       boat       unkraut      sho
sepulcro      demons      euch      qokaiin
joio       five      schiff      olkeedy
Maria       pay      ihn      qokal
portanto      sabbath      weden      qotain
Herodes      hear      heuchler      dchor
talentos      whosoever     tempel      otedy 

O novo colesterol‏ - Bruna Sensêve

Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia propõe redução geral dos níveis de LDL na população e avalia risco de os pacientes sofrerem problemas cardíacos nos próximos 10 anos


Bruna Sensêve

Estado de Minas: 01/10/2013



Maria Antonia, com o último exame de sangue: por apresentar diversos fatores de risco, ela precisa manter o nível de colesterol ruim abaixo dos 70mg/ml (Monique Renne/CB/D.A Press)
Maria Antonia, com o último exame de sangue: por apresentar diversos fatores de risco, ela precisa manter o nível de colesterol ruim abaixo dos 70mg/ml


A servidora pública Maria Antonia de Lima, de 53 anos, acaba de ganhar um motivo a mais para se preocupar, ainda que, há pouco tempo, tenha respirado aliviada pelo mesmo motivo. Ao receber, alguns dias atrás, os resultados de seu último exame de sangue, ela comemorou a diminuição em quase 20% na taxa de LDL, conhecido como o “colesterol ruim”. Com o novo índice, ela havia entrado na faixa considerada desejável. Não estava no nível saudável (abaixo de 100 miligramas por mililitros de sangue), mas, pelo menos, tinha se distanciado dos alarmantes 154mg/ml anteriores.

No entanto, o entendimento médico sobre o estado de saúde de Maria Antonia foi alterado no fim de semana, durante o 68º Congresso Brasileiro de Cardiologia, que reuniu cerca de 10 mil especialistas no Rio de Janeiro. No primeiro dia do encontro, foi apresentada a V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). O novo documento revê uma série de fatores e determina uma nova forma de avaliar pacientes como a servidora pública, levando em conta características como idade, sexo e histórico familiar, entre outras.


O novo padrão de análise também estabelece uma divisão dos pacientes em três categorias: de alto, médio e baixo risco para problemas coronários nos próximos 10 anos. Os parâmetros consideram a servidora como de alto risco. Ela é hipertensa, fuma, não pratica exercícios físicos e tem casos de infartos na família. Por isso, ela precisa ter uma taxa de LDL menor que 70mg/ml. Bem abaixo dos 127mg/ml indicados no último teste.


A medida tomada pela SBC coloca o maior vilão na prevenção contra as doenças cardiovasculares no centro das atenções do Dia Mundial do Coração, celebrado domingo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), eventos coronários, como infartos do miorcádio e acidentes vasculares cerebrais (AVC), continuam a figurar o topo do ranking das principais causas de morte no mundo. Somente em 2011, foram 17 milhões de óbitos. Na grande maioria dessas mortes, o nível elevado de colesterol LDL no sangue, doença conhecida como dilipidemia, é protagonista.

Metas O LDL se deposita nas paredes dos vasos sanguíneos e forma placas de gordura conhecidas como ateromas. Esse acúmulo leva ao desenvolvimento da aterosclerose. A evolução da doença dificulta a passagem do sangue pelo vaso até que aconteça uma obstrução completa, levando a um infarto ou ao AVC. A maior parte desse colesterol presente no organismo é sintetizada no próprio corpo, especialmente no fígado. Ao contrário do que se pensava antigamente, apenas uma pequena parte é adquirida pela alimentação. Isso significa que o nível de colesterol no sangue não aumenta se não forem ingeridas quantidades adicionais por meio da dieta – à exceção de pacientes que têm um distúrbio genético.


Segundo o autor da diretriz, Hermes Xavier, presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, as medidas servem como guia para que os cardiologistas possam identificar na população os pacientes com perigo de doença cardiovascular e tratar adequadamente os fatores de risco, principalmente o colesterol.
A redução proposta pelo documento é diferenciada para cada faixa de risco por meio de um escore global em que serão enquadrados os pacientes. São considerados o histórico da doença e familiar, o sexo, a idade e a quantidades de fatores de risco presentes, sendo eles colesterol elevado, hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo e sedentarismo. A partir da categoria que a pessoa assumir, alto, médio ou baixo risco, será traçada a meta de tratamento.


São considerados de alto risco aqueles que já tiveram um infarto ou derrame, os diabéticos e os que por ventura possuam múltiplos fatores de risco. A eles será indicada uma taxa abaixo de 70mg/ml – anteriormente, era 100mg/ml. As pessoas de risco intermediário, com um ou dois fatores, passam a ser recomendadas a manter as taxas de LDL abaixo de 100mg/ml (contra os 130mg/ml anteriores). Já a população de baixo risco deverá ter suas metas de acordo com a individualização do tratamento feita pelo médico. “O interessante seria 130mg/ml, mas não estamos impondo metas. Porém, para os de médio e alto risco, está absolutamente comprovado que, ao tratar o LDL para esses índices estabelecidos, os benefícios são enormes. Eles morrem menos e têm menos infartos”, afirma Xavier.

O bom moço Entre os tópicos propostos na nova diretriz da SBC, o colesterol bom, HDL, deixa de dividir a cena com o LDL. O primeiro não é mais considerado um objetivo de tratamento e passa a ser visto apenas como um fator de risco de grande força. A diferença entre os dois tipos presentes na células é que o LDL é menos denso e se deposita nas paredes dos vasos. Já o HDL absorve os cristais de colesterol que começam a ser depositados nas paredes arteriais e retarda o processo arterosclerótico. Por esse motivo, quem tem HDL muito baixo também tem maior chance de ter a doença cardíaca.


“Mas não há remédios hoje capazes de aumentar os níveis de HDL e, com isso, ter influência direta na mortalidade dos pacientes. Isso não está comprovado, e dessa forma optou-se por não considerar o HDL como meta de tratamento, mas sim como um fator de risco. Ele é um fator protetor, mas não conseguimos influenciar em seus índices por terapia”, explica Xavier.
O coordenador do Laboratório de Dislipidemia do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia do Rio de Janeiro, Rodrigo Moreira, lembra que, nos últimos anos, vários estudos foram realizados avaliando o impacto da redução de triglicerídeos e do aumento de HDL, contudo, nenhum conseguiu provar que essas frentes realmente funcionavam. “Mas todas as vezes que foi proposta a redução do LDL, sempre víamos que a prevenção a doenças cardiovasculares era maior”, diz Moreira, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).


O quadro deixa pacientes que já não conseguem atingir essas metas, mesmo com a mudança de estilo de vida, sem muita saída senão aumentar as doses de medicamentos. “Temos consciência clara de que mais pessoas precisarão de remédio, mas é muito importante que elas também reduzam os níveis de colesterol”, considera Xavier. Para ele, não adianta ter uma medida em que bastam a dieta e a atividade física, sendo que essa redução é de apenas 10%. “Isso é muito pouco para quem tem risco. Esse paciente vai ter que assumir um novo momento. Temos que fazer a população e os médicos entenderem que é preciso trazer as pessoas para níveis mais baixos de colesterol, para que haja uma atividade de prevenção eficaz.”


Segundo Moreira, atualmente, os medicamentos mais utilizados para tratamento são da classe das estatinas. Essas substâncias são capazes de fazer com que o fígado retire o LDL da circulação sanguínea, evitando que ele se deposite nas paredes das artérias. “Sabemos que as estatinas mais potentes e com doses altas conseguem até diminuir o tamanho da placa de aterosclerose. Com esses medicamentos mais fortes conseguimos uma redução de até 70%, dependendo da dose.” Ele alerta, porém que a mudança do estilo de vida é essencial. “Não há como tratar uma pessoa com colesterol alto sem que ela tenha uma mudança grande de estilo de vida, o que envolve uma dieta equilibrada, a prática de atividades físicas e que ela pare de fumar. Esses são os três pilares principais do tratamento.”



Tendência mundial

A Sociedade Internacional de Aterosclerose (IAS, em inglês), no início deste semestre, também publicou algumas recomendações globais quanto aos níveis desejáveis de colesterol LDL no sangue para pacientes de risco. A proposta é a mesma implementada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, mostrando uma tendência internacional rumo à diminuição dessas taxas. O documento foi produzido de 15 especialistas de renome internacional presididos por Scott M. Grundy. 



palavra de
especialista



Avaliação
individual


“O documento segue uma tendência internacional de outras diretrizes já publicadas de prevenção de doença cardiovascular que classifica a população por faixa de risco. É uma forma de individualizar os valores de colesterol, principalmente os de LDL.
Nas outras diretrizes, isso fica menos definido, mas agora (a avaliação) se torna mais exigente para a população de alto risco. Os últimos trabalhos enfatizaram o valor do mau colesterol em detrimento do bom colesterol, alguns chegaram até a questionar se o chamado bom colesterol realmente traz o benefício.”