terça-feira, 30 de abril de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      JUNE
JUNE

Poesia


Me salva, por favor
Das mesmices do dia
Do comezinho das gentes
Das mãos que não tocam
Da carta de amor que não chega
Me salva, por favor
Da matemática precisa das faltas e excessos
Das águas revoltas com o que fizemos
Das trovoadas em noite de breu
Me salva, por favor
Descortinando os véus
Me mostrando as estrelas
Que dos seus olhos felizes
Pularão pros meus

Nizan Guanaes

folha de são paulo

Os dados estão lançados
Nem tudo é exato; os dados servem para nos formar e informar, mas a intuição é a mãe da invenção
Se você acha que as coisas mudaram muito nos últimos anos, prepare-se porque elas ainda não pararam de mudar. Nem vão parar. O fluxo será constante, ubíquo e cada vez mais rápido.
A última próxima grande coisa tem grande até no nome: "big data". E quem entende disso diz que isso vai mudar ainda mais o que já está mudando.
"Big data" é a capacidade de armazenar e trabalhar de forma inteligente a quantidade avassaladora e crescente de dados disponíveis em todos os níveis, dos "likes" despretensiosos publicados no Facebook até bancos de dados imensos dentro das empresas, das organizações, dos governos, dos laptops, dos tablets, dos fones inteligentes, dos chips dos carros e TVs, dos cartões de crédito, dos mecanismos de busca, da nuvem.
A lista de veículos de produção e registro de informações não termina. Nossa pegada de comunicação cresce dia a dia, post a post, tuíte a tuíte, compra a compra, segundo a segundo.
Antigamente, algumas pessoas tinham o hábito de escrever diários para si que eventualmente mostravam a pessoas próximas. Hoje, bilhões de pessoas pelo mundo todo escrevem esse mesmo diário, só que em público e para o público. Eles são fontes inesgotáveis e em tempo real de tendências sociais, hábitos de consumo e muito mais.
Pesquisadores já mostraram que só usando os "likes" publicados pelos usuários do Facebook é possível traçar perfis precisos das pessoas, preciosos para comunicação de alto impacto.
Outras pesquisas concluíram que as tendências de busca no Google relacionadas ao setor de habitação nos Estados Unidos conseguem prever a venda de casas no próximo trimestre com mais precisão do que os economistas especializados no setor imobiliário.
Essa agregação e essa análise inteligentes da informação disponível em escala global estarão cada vez mais acessíveis para um número cada vez maior de empresas e organizações.
O McKinsey Global Institute, o braço de pesquisa da reputada consultoria de negócios, chamou o "big data" de a próxima fronteira para inovação, competitividade e produtividade.
No famoso estudo que fez sobre o assunto, a McKinsey destacou que por cerca de US$ 500 era possível comprar um disco rígido com capacidade de armazenar toda a música do mundo!
Tanta informação disponível e armazenável, para a McKinsey, passará a ser analisada e usada sistematicamente, produzindo uma nova onda de revolução tecnológica depois da dos computadores, da web, da web 2.0, do "mobile".
Uma nova revolução que turbinará novamente a produtividade e reabrirá oportunidades imensas a novos entrantes por tornar muito mais acessível quantidade enorme de inteligência de informação antes restrita a grandes corporações.
Claro, nem sempre softwares e complexos modelos matemáticos acertam. Já vimos na última crise econômica mundial o estrago que os algoritmos conseguem fazer nas finanças.
E ainda não inventaram nada mais criativo e inteligente que a sensibilidade humana.
"Big data" sem intuição é como aquele personagem de Charlie Chaplin em "Tempos Modernos" apertando parafusos como se fosse extensão da máquina. O cérebro humano não pode ser a extensão do software. Sua intuição será cada vez mais a sua profissão. O resto será feito por coisas e programas.
Por isso abri uma nova agência de propaganda em que a intuição é base de tudo, com zero de burocracia e quase zero de pesquisa. A pesquisa e a informação precisam estar a serviço da geração de ideias, não no controle delas.
Às vezes, é preciso deixar de lado a mania de querer provar. Nem tudo é exato. Os dados servem para nos formar e informar, mas a intuição é a mãe da invenção. E intuição é quando as pessoas parecem falar uma coisa e você percebe que elas estão dizendo outra. Assim pode entregar o que elas querem antes mesmo de elas pedirem.
Mas, se você quiser fazer tudo de olhos abertos, seus olhos vão lhe enganar. Por cima de todas as informações e análises, é preciso ouvir, sentir, usar todos os sentidos mais do que nunca. Porque dados sem sentidos não fazem sentido.

Paulo Vanzolini participou de fatos centrais da ciência do país - Marcelo Leite

folha de são paulo

ANÁLISE - O CIENTISTA
Teve participação direta em momentos-chave da ciência nacional
MARCELO LEITEEDITOR DE OPINIÃOA especialidade de Paulo Emílio Vanzolini, na sua identidade menos conhecida de pesquisador, eram cobras e lagartos. O afiado zoólogo foi um dos maiores herpetologistas do Brasil e teve participação direta em momentos cruciais da ciência nacional.
A pesquisa biológica, como um lagarto, caminha pela natureza impulsionada sobre dois pés por vez: teóricos e sistematizadores, de um lado, naturalistas e taxonomistas, de outro. Vanzolini serpenteava com destreza entre os dois campos, aliando como poucos as faculdades de observador detalhista e de generalizador arguto.
Na descrição de espécies de répteis e seus hábitos ecológicos, avançou sobre terreno quase virgem, aplicando com afinco a formação obtida na Faculdade de Medicina da USP e no doutorado na Universidade Harvard (EUA). Foi fundamental para o Museu de Zoologia da USP, que amou e dirigiu por muitos anos.
O conhecimento acumulado sobre a distribuição de cobras e lagartos foi empregado como apoio empírico para a chamada teoria dos refúgios (1969 e 1970). Vanzolini a desenvolveu com o geógrafo Aziz Ab'Sáber.
A imensa diversidade de espécies na Amazônia, segundo a teoria, decorreria da alternância de períodos secos nos últimos 2 milhões de anos (Quaternário). Com a intromissão de línguas de cerrado (savana), a floresta densa teria sido confinada em redutos.
Isolados nas ilhas de mata ("refúgios") durante milênios, animais teriam evoluído de forma independente até se tornarem espécies distintas.
Hoje, no entanto, acredita-se que a exuberância e a distribuição da biodiversidade amazônica não podem ser explicadas só pelas variações climáticas do Quaternário. Elas têm raízes muito mais profundas no tempo.
A colaboração com Ab'Sáber nasceu de sua admiração por Vanzolini ter participado do grupo que criou a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) em 1960. Vanzolini foi um dos que lutaram por padrões rígidos, como limites orçamentários para o gasto administrativo --o grosso dos repasses governamentais tinha de ir para a pesquisa-- e o julgamento dos projetos por pareceristas anônimos.
Eram usos e costumes estranhos à ciência nacional, mais afeita à camaradagem. Vanzolini também a praticava, mas nos lombos de burro e nas canoas em que se embrenhava pelos cafundós do Brasil.
Numa de suas incursões pelo rio Paraná, compôs com Antônio Xandó uma estrofe complementar para "Cuitelinho" (espécie de beija-flor), entoada por um pescador. Estão ali talvez os versos mais formosos de uma das mais bonitas melodias do cancioneiro nacional: "A tua saudade corta como aço de navalha / O coração fica aflito, bate uma, a outra falha / E os olhos se enchem d'água, que até a vista se atrapalha".
A letra é triste, mas o encontro de Vanzolini com a cultura popular não poderia ter sido mais feliz.

    Lição de desrespeito - Aluna de 13 anos de colégio particular denuncia assédio sexual praticado por colegas

    folha de são paulo

    Episódio recente de violência sexual envolvendo alunos de uma escola particular paulistana evidencia a falta de reflexão, de princípios éticos e de limites entre os adolescentes
    ELIANE TRINDADECOLABORAÇÃO PARA FOLHAJULIANA VINESDE SÃO PAULOA vítima tem 13 anos. Os agressores, 14. Todos são alunos de uma tradicional escola particular paulistana. No último mês, são o centro de um enredo que põe à prova o papel de pais, educadores e da própria instituição e que abre o debate sobre violência sexual entre adolescentes.
    A garota, do oitavo ano, diz ter sido assediada sexualmente por três meninos do nono ano. Segundo ela, os meninos mandaram uma mensagem de celular falsa, em nome de um amigo dela, marcando um encontro para depois da aula de inglês.
    Chegando lá, em uma praça perto do colégio, na zona oeste, ela conta ter sido cercada e agarrada contra a vontade pelos três. Conseguiu se desvencilhar e foi direto à escola fazer a denúncia.
    A instituição suspendeu os meninos por sete dias e se viu na obrigação de debater o fato, já que versões aumentadas ganharam os corredores. Uma orientadora percorreu as turmas do quinto ao nono ano esclarecendo 500 alunos.
    "É grave, mas não se trata de estupro", informou a direção da escola. Para não expor os envolvidos, a Folha preservou o nome da instituição.
    "Não houve violência física, mas desrespeito. Estamos trabalhando a questão e acreditamos ser possível reverter a situação dentro da escola", disse a coordenação.
    A família da garota decidiu não levar o caso à polícia. "Estamos tomando as decisões com o colégio", diz a mãe da menina, que é professora na mesma instituição.
    Os pais dos meninos não quiseram se manifestar. A garota também não quer mais tocar no assunto. Sua mãe diz respeitar a decisão, mas afirma: "Escolhemos viver a situação, e não esquecê-la. Estamos atentos às consequências e abertos ao diálogo".
    BRINCADEIRA BOBA
    Há duas semanas, em outra escola particular na mesma zona oeste, dois meninos de 12 anos foram suspensos por terem feito "uma brincadeira" com alunas da mesma idade. "Eles chegam por trás, põem a mão no ombro das meninas fingindo que vão abraçar e descem até os seios", descreve a orientadora. Só que uma reclamou. "Chegou com olhos cheios de lágrimas, disse que pegaram no seu peito."
    Um dos garotos assumiu e quis pedir desculpas à colega, que não aceitou. Os pais foram chamados e os meninos, afastados por um dia.
    Situações como essas são, sim, violência sexual, segundo a psicóloga Renata Coimbra Libório, pesquisadora da Unesp. "Não precisa consumar o estupro. O toque sem consentimento é abuso."
    Tempos atrás, um aluno distribuiu na sua escola um vídeo em que ele fazia sexo consensual com uma colega de 13 anos. Ele foi separado da turma até a conclusão do semestre e, depois, convidado a se retirar do colégio.
    Casos de adolescentes que passam dos limites são frequentes e não acontecem só na escola, mas em festinhas e baladas, lembra a psicóloga Rosely Sayão, colunista daFolha. "A sexualidade desses jovens está muito exacerbada e eles não têm noção de respeito. Acham normal passar a mão nas meninas e beijar não sei quantas", diz.
    A fase dos 13 anos é a pior, segundo Sayão. É quando a efervescência hormonal se junta à hiperestimulação.
    "Há estímulos o tempo todo, na TV e na música", diz Neide Saisi, psicopedagoga e professora da PUC-SP.
    Muitos desses estímulos não são positivos, segundo Antonio Carlos Egypto, psicólogo especialista em orientação sexual. Basta assistir a um programa de humor ou a peças publicitárias para perceber que "a imagem da mulher-objeto é usada de maneira escancarada", diz ele.
    "Os adolescentes falam que vão pegar' alguém. A gente só pega objetos", complementa Sayão.
    A desvalorização da mulher é reforçada pela família e pela escola mesmo sem saber, segundo Renata Libório: os pais valorizam o comportamento garanhão dos meninos e a escola pensa estar prevenindo a violência aconselhando as meninas a usar roupa larga e saia comprida.
    "Por que não ensinar o menino a respeitar a menina, não importa a roupa que ela use?", pergunta.
    PREVENÇÃO
    A prevenção da violência sexual nessa faixa etária depende de uma discussão sobre papéis e gêneros, segundo Egypto. E isso é responsabilidade da escola e da família. "Não tem só que discutir a prevenção de gravidez na adolescência. É preciso falar do prazer, de como conter os impulsos. Não podemos fingir que o desejo não existe."
    Dá para contar nos dedos as escolas particulares de São Paulo que têm projetos específicos de sexualidade, de acordo com Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, entidade que faz trabalhos em educação sexual.
    O tema está previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais. "Não é o que acontece. A sexualidade deve estar em palestras e no dia a dia dos professores, na forma como tratam todos os temas."
    No Gracinha (Escola Nossa Senhora das Graças), a professora de ciências e a orientadora são responsáveis por falar com as turmas sobre sexo.
    "Tenho uma aula por semana e falamos de sexo, internet e outros assuntos", diz Nausica Riatto, orientadora do sexto ao nono ano. Ela considera que o colégio faz um trabalho de prevenção, mas, mesmo assim, todo ano acontece uma polêmica relacionada a sexo na escola, como casos de exibição de imagem na internet.
    No Colégio Bandeirantes, a bióloga Estela Zanini coordena há 16 anos um programa de educação sexual que inclui aulas semanais. "Eles têm muita informação sobre sexo, o problema é que nem sempre essa informação é contextualizada, muitas vezes é cheia de preconceitos."
    O que falta talvez não seja educação sexual, mas o ensino de valores morais.
    De acordo com a pedagoga Luciene Tognetta, pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral, o tema é alvo de um jogo de empurra entre escola e pais. "Não cabe só à família ensinar respeito e regras de convivência", afirma.
    Os pais deveriam passar valores ligados ao espaço privado. A escola deveria ensinar regras da vida pública. "É no relacionamento com pessoas de fora da família que desenvolvemos princípios éticos apurados e aprendemos a respeitar qualquer um."
    Para Tognetta, o ensino moral deve ser espalhado por todas as disciplinas e servir de vacina contra a violência.
    "Ainda pensam que a moral é ensinada em aula de religião. É preciso debater, fazer com que o aluno pense nas suas atitudes. A escola tem esse dever."
    Mas a instituição sozinha não faz tudo, lembra Sayão. "A escola precisa de apoio, está acuada e impotente, e que apoio a sociedade tem dado? Não vejo ninguém como vítima ou culpado nesse caso. A sociedade é cúmplice dessa história."

      EUA e Canadá punem abuso sexual com expulsão de aluno
      SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULOEm solo norte-americano, um fato como o ocorrido recentemente em uma escola de São Paulo, em que três alunos tentaram agarrar à força uma colega, provavelmente resultaria na expulsão dos adolescentes agressores.
      "Fico assustado em saber que os garotos foram apenas suspensos", disse à FolhaWilliam Taverner, editor-chefe do periódico científico "American Journal of Sexuality Education".
      Nos EUA, as punições são aplicadas dependendo do caso, das regras dos Estados e da própria escola.
      "É preciso garantir a segurança da vítima e acompanhar o desenvolvimento dos garotos agressores antes que eles voltem à escola", afirma Maia Christopher, diretora da ONG ATSA (associação para tratamento de abusadores sexuais, na sigla em inglês).
      No vizinho Canadá, atentados sexuais, assim como porte de armas ou de drogas, são motivo de expulsão se acontecerem em escolas públicas --onde estuda a quase totalidade da população em idade escolar. Os estudantes expulsos de escolas canadenses recebem aconselhamento para que melhorem de comportamento e sigam para outra escola.
      Além de definir punições mais severas para violência sexual, os EUA investem na prevenção. Hoje, 22 dos 50 Estados norte-americanos, além do Distrito de Columbia, exigem que as escolas públicas tenham educação sexual como parte do currículo.
      Em algumas regiões, como na Califórnia, essas aulas obrigatórias começam já no jardim da infância. "É preciso ensinar quais os toques e as atitudes que são inapropriados", diz Christopher.

        'Suspensão é pena branda', diz educadora
        COLABORAÇÃO PARA A FOLHADE SÃO PAULOOs três estudantes que armaram uma emboscada para a garota de 13 anos foram suspensos por uma semana, punição considerada branda demais por alguns pais de alunos da escola.
        "Alguns pedem mais rigor, mas a maioria é solidária com a posição da instituição", diz a direção do colégio, que nem cogitou expulsar os meninos: "Seria tirar a questão da frente e jogá-la para a sociedade".
        Os debates têm sido calorosos na instituição. "É normal o rebu dentro da instituição. Expulsar os meninos, porém, é perder a oportunidade de educá-los", diz Neide Saisi, psicopedagoga e professora da PUC-SP.
        Já Ana Olmos, psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes, defende uma punição exemplar nesse tipo de caso. "Houve um abuso. A vida da menina está marcada. O mínimo que a escola pode fazer é expulsar sumariamente os garotos."
        A especialista, que acompanhou casos semelhantes em outras escolas, entende a expulsão como medida educativa para toda a comunidade. "Tratar a questão só na esfera administrativa reforça a velha saída de pais que preferem abafar o caso e passar a mão na cabeça dos filhos, dizendo que a culpa foi da menina que se insinuou."
        Segundo o juiz Eduardo Melo, ex-presidente da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores e Defensores Públicos da Infância e da Juventude, dependendo da gravidade do fato, a escola pode atuar como mediadora, mas casos de estupro devem ser levados à esfera judicial. "Se a vítima é adolescente, só o ato de agarrar ou apalpar já pode ser considerado estupro de vulnerável", afirma ele.
        Para a psicóloga Renata Coimbra Libório, da Unesp, punir não é a principal função da escola. "Escola não é delegacia. O papel da instituição é prevenir, é instigar uma discussão sobre o que aconteceu para que não aconteça de novo", afirma. "E, se a família da vítima quiser, pode ir até uma delegacia e fazer uma denúncia."
        Para a pedagoga Luciene Tognetta, o principal é que os meninos pensem no que fizeram. "Eles precisam reparar o erro. Podem fazer uma campanha sobre violência sexual, dar uma aula para a turma sobre sexualidade ou mesmo pagar a terapia da garota. É o que chamamos de justiça restaurativa."
        Já a vítima, além de receber apoio, deve ser encorajada a se indignar com a situação e se manifestar. "Ela não pode se sentir acuada por vergonha ou por discursos de adultos dizendo que ela vai ficar falada'", diz Olmos.

          Psiquiatra Flávio Gikovate prega extinção dos termos 'hetero' e 'homo' em sabatina

          folha de são paulo

          No futuro, haverá uma troca erótica "mais lúdica" entre as pessoas e a identidade sexual do parceiro não fará a menor diferença, quer dizer: definições como "homossexual" e "heterossexual" devem deixar de existir e todos poderão circular livremente entre relacionamentos afetivos com pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto.
          Essa é a mais nova e controversa ideia de "Sexualidade sem Fronteiras" (MG Editores, 136 págs., R$ 37,40), último livro do psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate, 70. O médico, que calcula já ter atendido mais de 9.000 pessoas em consultório, está acostumado a causar impacto e a fazer sucesso falando sobre sexualidade.
          Reflexões sobre os dilemas sexuais e amorosos de seus pacientes são os temas de grande parte de seus 32 livros publicados e das colunas que assinou em jornais e revistas.
          Sua estreia como conselheiro na mídia, em 1977, em uma revista para adolescentes, já ligava seu nome a polêmicas, porque seu texto insistia na separação entre sexo e amor. Hoje, é lugar-comum, mas a opinião era potencialmente escandalosa na época, quase 40 anos atrás.
          Jorge Araujo/Folhapress
          O psiquiatra Flávio Gikovate durante sabatina no Teatro Folha, em São Paulo
          O psiquiatra Flávio Gikovate durante sabatina no Teatro Folha, em São Paulo
          Na semana passada, Gikovate participou de sabatina promovida pela Folha, em São Paulo. Diante de cem pessoas, respondeu às perguntas das jornalistas Cláudia Collucci, Iara Biderman e Heloísa Helvécia, editora de "Equilíbrio", e da plateia e expôs conceitos que deram origem à tese básica do livro, como o lado agressivo, machista e negativo do desejo.
          *
          ORIENTAÇÃO SEXUAL
          O muro que separa a homossexualidade da heterossexualidade tem que cair. Não há impedimento para a troca de carícias sexuais.
          Preconceito é algo todo regulamentado. Na ausência de mulheres, homem transar com homem é ser muito macho. Na presença de mulher, é ser gay. Tudo burocracia.
          A orientação sexual vai seguir o encantamento amoroso. Se for orientada pela noção de desejo, será deixada por conta de coisas que têm a ver com agressividade, competição, rivalidade.
          SEXO LÚDICO
          Sexo lúdico são todas as trocas de carícias eróticas com qualquer tipo de parceiro. Tudo aquilo que as crianças também fazem. Sexo reprodutor é essencialmente heterossexual, está mais comprometido com a agressividade do que com o amor. Do ponto de vista da reprodução, é o macho mais agressivo o que consegue copular.
          O erotismo, sem estar ligado à reprodução, é um fenômeno pessoal. Começa no segundo ano de vida: a criança toca certas partes do corpo e sente a estimulação. Como é agradável, ela repete esse padrão de comportamento. A excitação é um prazer positivo, porque não serve para atenuar a sensação de desamparo: não é preciso um desconforto prévio para a pessoa poder curtir o erotismo. Já o desejo é um prazer negativo.
          DESEJO
          Desejo, especialmente o visual, é uma característica dos homens. As mulheres se excitam, mas desejo é uma coisa ativa, uma vontade de agarrar o outro.
          O desejo é de direita, não é de esquerda como se costumava colocar nos anos 1960, quando se acreditava que a liberação da sexualidade fosse trazer um mundo de paz, em que todos se sentiriam confortáveis, as moças não iam regular tanto o sexo.
          Elas continuaram regulando do mesmo jeito e tudo ficou um pouco mais tenso por conta da rivalidade entre as mulheres, para ver quem chama mais a atenção, e entre os homens, para ver quem consegue ter acesso às garotas mais interessantes. Trouxe um mundo de competição e tensões muito maiores do que antes. O mundo do desejo ficou comprometido com o do mercado e do capital.
          CASUAL E VIRTUAL
          O sexo casual não tem futuro, provavelmente vai ser substituído pelo virtual. Esse tipo de prática é infidelidade? Na internet as pessoas podem interagir, ter conversas íntimas com um parceiro determinado, aí o virtual e o real se aproximam. Só porque é virtual o indivíduo casado pode ficar namorando outra pessoa? Não tenho nenhuma simpatia por essas ideias, pelo que chamam de poliamor. E, na verdade, isso tem aceitação muito baixa: ciúme não desaparece por decreto.
          AMOR
          A sexualidade percorre um caminho que não é o do amor, o que explica tantas más escolhas sentimentais. O sexo, diferentemente do amor, é mais comprometido com a agressividade, e muitos homens acabam escolhendo suas parceiras em função do encantamento erótico.

          Lanche infeliz - Rosely Sayão

          folha de são paulo

          "É hora do lanche!". Essa frase, que era dita quase aos gritos pelas crianças quando soava o sinal na escola anunciando o intervalo, costumava ser uma alegria.
          Depois de mais ou menos duas horas estudando ou brincando com os colegas e sendo conduzidas pelos professores, tomar o lanche trazido de casa e feito com carinho e dedicação pelos pais ou pelos avós, às vezes pela empregada da casa, era tudo o que as crianças precisavam.
          O lanche na escola faz mais do que alimentar a criança ou matar sua fome. É ao fazer aquela refeição que o aluno relaxa e se lembra, nem sempre de modo consciente, da segurança de sua casa e da presença e do afeto dos pais. E é isso que refaz a energia da criança e permite que ela retome o seu período de trabalho escolar com mais coragem e mais confiança.
          Eu tenho observado o tipo de lanche que os alunos tomam atualmente nas escolas.
          Bem, primeiramente temos de lembrar que hoje há dois tipos de escola: aquelas que ainda preservam a tradição de a criança levar seu alimento de casa e aquelas que já oferecem o lanche para os seus alunos.
          Por que tantas escolas privadas assumiram mais esse encargo em seu trabalho? Bem, pelo que sei, por dois motivos bem diferentes.
          Algumas poucas dessas instituições se preocuparam com a qualidade da alimentação das crianças e assumiram a responsabilidade de educar seus alunos também nesse quesito.
          Essas escolas, que atendem principalmente os menores de seis anos, preparam o lanche em seus próprios espaços e não se preocupam apenas com a refeição balanceada e/ou com a oferta de alimentos saudáveis para as crianças. Elas incentivam os alunos, ensinam a experimentação e oferecem uma merenda saborosa, bonita e com um aroma que dá água na boca de qualquer adulto! E as crianças se deliciam nessa hora. Dá para perceber a alegria delas na hora do lanche.
          Há outras escolas que decidiram oferecer o lanche por solicitação dos pais. Elas contrataram nutricionistas ou empresas que levam os lanches para a escola e, sinto informar: as opções que conheci não pareciam muito apetitosas, não. Tampouco saudáveis do jeito que se fala.
          Certamente há nutricionistas por trás desses lanches, mas pode ser que esses profissionais se preocupem mais com o aspecto nutricional dos alimentos do que com as crianças e com sua educação.
          Por fim: tenho observado lanches que os alunos levam de casa e tenho ficado impressionada com o que tenho visto. Sucos industrializados, bolos, bolachas recheadas, salgadinhos, bisnagas etc.
          De vez em quando, consigo ver alguns alunos comendo frutas ou um bolo caseiro no intervalo. Mas essa cena tem sido cada vez mais rara, tanto quanto a alegria das crianças no momento de comer o lanche.
          Preparar o lanche de um filho é um ato amoroso. Nestes tempos em que os pais declaram tantas vezes seu amor pelos filhos, por que é que as lancheiras que vão de casa para a escola têm sido assim tão pouco amorosas?
          Não vale justificar o problema com a falta de tempo dos pais. Talvez a explicação esteja mais para falta de disponibilidade, não é?
          Afinal, preparar qualquer refeição para os filhos exige isso: disponibilidade e amorosidade. E dá trabalho.
          Mas ter filhos pressupõe mesmo muito trabalho. Inclusive na hora de preparar o lanche que ele irá comer longe de casa. E amor aos filhos se declara dessa maneira: cuidando deles, fazendo-se presente na ausência e, de vez em quando --de vez em quando!--, demonstrando esse sentimento com beijos, frases e abraços. E isso, de preferência, quando eles aceitarem essas manifestações de bom grado.
          Rosely Sayão
          Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Equilíbrio".

          Megafones - Denise Fraga

          folha de são paulo

          "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." Acho que muitas namoradas não conseguiram terminar seus falidos namoros adolescentes por culpa da famosa e melosa frase de Saint-Exupéry. Se o namorado fosse loiro como o Pequeno Príncipe, então, era quase impossível. Lá vinham os campos de trigo se misturando aos cabelos do rapaz e o rompimento ficava de novo para o sábado seguinte.
          Fui uma delas. E, quando finalmente consegui dar adeus ao meu namoradinho cansado, ele deixou a frase grudada por fora no vidro da janela do meu quarto para que eu nunca mais pudesse olhar o horizonte sem a culpa necessária pelo que eu estaria deixando para trás.
          Alguns anos de análise cuidaram disso. Esqueci a frase, perdoei Saint-Exupéry e devo ter acumulado, como qualquer um de nós, uma lista de pessoas cativadas abandonadas por minha responsabilidade.
          Mas, dia desses, o Pequeno Príncipe apareceu em minha cabeça num curioso embate com Carlinhos Brown e Marisa Monte. "Eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem..."
          Assim, isolados, os versos da canção dos Tribalistas me pareceram a trilha perfeita para as redes sociais. Nós nos livramos do peso da frase do Pequeno Príncipe ao seu cativante aviador, mas, mesmo se assim desejássemos, não daríamos mais conta de nutrir tantos seres cativados por nossos posts, tuitadas e cliques. Nossa responsabilidade pelo que cativamos já pode até ser medida em número de "curtidas", mas o retorno personalizado ao curtidor fica cada vez mais raro.
          Viramos todos oradores em praça pública. Outro dia, ouvi numa conversa: "Não dá mais pra falar para uma pessoa só. É perda de tempo". E foi aí que a frase adolescente ressurgiu para mim cheia de sentido e desprovida de todo o açúcar.
          Nós nos tornamos responsáveis pelo que cativamos porque é no outro que nos reconhecemos. Como que refletidos em espelhos variados, garantimos a certeza da nossa existência a partir de onde reverberamos. É a partir do outro que tomamos posse de quem somos. Do outro. E não dos outros. Um de cada vez montando o rico mosaico que compõe nossa personalidade.
          Porque não existe Fulano. Existe o Fulano que se lê nos olhos de quem o recebe. Dois olhos e não milhares. Porque senão não é pessoa, é persona. Uma imagem de si que se irradia sem se alterar pela convivência, pelo recebimento, pela relação com o alheio. Um Fulano a partir de si, que mal se reconhece, mesmo com um bilhão de curtidas.
          Arquivo Pessoal
          Denise Fraga é atriz e autora de "Travessuras de Mãe" (ed. Globo) e "Retrato Falado" (ed. Globo). Escreve a cada duas semanas na versão impressa do caderno "Equilíbrio".

          Remédio reduz em 38% risco de câncer de mama

          folha de são paulo

          MARIANA VERSOLATO
          DE SÃO PAULO

          Uma revisão de estudos com dados de mais de 83 mil mulheres apontou que moduladores hormonais reduzem em 38% o aparecimento do tumor em mulheres saudáveis com alto e médio risco de desenvolver a doença.
          Trata-se da primeira análise de estudos clínicos envolvendo esses remédios, que evitam que o estrogênio faça as células da mama se multiplicarem no caso de tumores de mama hormonais. Cerca de 70% dos tumores têm esse perfil.
          As drogas podem ser indicadas se a mulher, mesmo saudável, tiver histórico importante de doença na família, lesões precursoras do câncer e/ou mutações genéticas que aumentam a chance de desenvolvê-lo.
          Em geral, o tratamento é oferecido a mulheres que estão na pós-menopausa.
          Segundo os autores da pesquisa, publicada hoje na revista médica inglesa "Lancet", já se sabia que esses remédios reduziam o risco de câncer de mama em mulheres com risco elevado da doença, mas a duração do efeito protetor das drogas era desconhecida.
          O novo trabalho agora confirma o benefício por pelo menos cinco anos depois do fim do tratamento.
          Neste mês, o US Preventive Services Task Force, grupo de pesquisadores ligado ao governo americano, recomendou que os médicos ofereçam esses remédios a mulheres com alto probabilidade de ter câncer e baixo risco de desenvolver derrames e coágulos --possíveis efeitos colaterais dessa drogas.
          No Brasil, segundo Max Mano, oncologista do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), esse tratamento é pouco usado, ainda que sua frequência seja maior do que na Europa.
          No setor privado, porém, a profilaxia é discutida rotineiramente, segundo Artur Katz, coordenador de Oncologia Clínica do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.
          "Com mulheres que têm alto risco de ter a doença, temos a obrigação de discutir, caso a caso, os prós e contras do tratamento."
          Ele afirma que há quem prefira usar a medicação, ser acompanhada de perto ou até fazer a retirada das mamas.
          Editoria de Arte/Folhapress
          EFEITOS TÓXICOS
          Apesar da conhecida eficácia das drogas, há um receio em prescrever os moduladores hormonais por causa dos seus efeitos colaterais.
          O novo estudo aponta que mulheres que usaram a mais conhecida dessas drogas, o tamoxifeno, tiveram uma incidência maior de câncer de endométrio do que as que receberam placebo.
          Além disso, os quatro medicamentos analisados aumentaram a ocorrência de trombose.
          "O risco do câncer de útero é estatisticamente real, mas é o fator que menos assusta porque a doença tende a ser pouco agressiva e é descoberta precocemente. Um derrame ou uma trombose preocupam mais porque não mandam aviso", diz Katz.
          Mas, segundo Max Mano, a quimioprevenção ainda é controversa.
          "O remédio não dá a garantia de prevenção, ele reduz a chance. E, para isso, você expõe uma mulher saudável ao risco de ter outras doenças como efeito colateral. Tem que colocar na balança pra ver se vale a pena."

          A coroação da primeira rainha europeia de origem argentina é motivo de festa, piadas e polêmica em Buenos Aires

          folha de são paulo

          Cerimônia gera piadas e polêmica em Buenos Aires
          SYLVIA COLOMBODE BUENOS AIRESA coroação da primeira rainha europeia de origem argentina é motivo de festa, piadas e polêmica em Buenos Aires. A festa é por conta dos hotéis e lojas chiques, principalmente do bairro da Recoleta, que se preparam com eventos e lançamentos de produtos vinculados a Máxima.
          No Buenos Aires Grand Hotel, haverá um café da manhã com doces holandeses, enquanto a marca Andrea Frigerio lançou um perfume em edição limitada chamado Tulip & Hyacinth (tulipas e jacintos).
          Uma loja fez uma série de camisetas tendo Máxima como tema. Assinados por uma artista plástica, trazem as inscrições: "Viva o rei e a rainha".
          Há anos, Máxima é assunto preferido das revistas de celebridades. Sua vida é acompanhada de perto pelas revistas "Hola" e "Caras". Ambas soltaram suplementos especiais.
          A internet também está celebrando, com piadas e provocações a Cristina, como "Argentina, um país com um papa e duas rainhas" e referências ao ciúme que a presidente teria da "nova rainha".
          O vice-presidente, Amado Boudou, será o representante do governo na coroação. Sua viagem está sendo criticada pelo fato de ele estar levando comitiva de 12 pessoas que ficará em hotéis de luxo.

          Os juros, a dívida e os búzios - Clovis Rossi

          folha de são paulo

          Estudos de economistas com "lamentáveis deslizes" são, no entanto, tomados como a palavra de Deus
          Em maio de 2003, resumi, na página A2 desta Folha, um alentado estudo publicado pelo Fundo Monetário Internacional em 1999, que desmontava a sabedoria convencional que diz que aumentar os juros derruba a inflação e vice-versa.
          O leitor e pesquisador Jacques Dezelin mergulhou em 1.323 casos de 119 países e verificou que, na maioria absoluta dos casos, a inflação caiu, tenha o respectivo Banco Central aumentado, diminuído ou mantido a taxa de juros.
          A maior porcentagem de êxito (ou seja, de casos em que a inflação caiu) se deu justamente quando o BC reduziu os juros. Nesse caso, a porcentagem de sucesso foi a 62,18% dos 476 casos examinados, contra 50,75% dos 398 casos em que a inflação caiu quando a taxa de juros aumentou.
          Mais: a segunda maior porcentagem de sucesso se deu quando não se mexeu nos juros (53,45%).
          Conclusão de Dezelin: "O que os dados estatísticos do FMI apontam é o caráter meramente aleatório da relação (ou melhor, a ausência de relação) entre a variação da taxa de juros do BC e a inflação".
          É uma afirmação tão temerária quanto assumir, como fazem os economistas ortodoxos e, a bem da verdade, a grande maioria de todos os demais, que é sempre necessário e até inevitável aumentar os juros para combater a inflação.
          Talvez o mais lógico, acrescentava eu e reafirmo agora, seja examinar caso a caso, país a país, circunstância a circunstância. Ou, posto de outra forma, aumentar os juros como reflexo condicionado pode ser tão científico quanto jogar os búzios.
          Rememoro o episódio para deixar claro como é fácil aceitar como palavra de Deus estudos nada santos.
          É o que está se vendo agora com o trabalho de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, dois renomados economistas da grife Harvard, que sustentaram a tese de que endividamento acima de 90% do PIB torna inviável o crescimento econômico.
          Com isso, as políticas de austeridade para reduzir a dívida ganharam o seu Santo Graal. Afinal, quem vai duvidar de dois ex-FMI, ainda por cima com todo o lustro de Harvard?
          Até que surgiu Thomas Herndon, estudante de 28 anos, doutorando em Economia (Universidade de Massachusetts), que "desmascarou a mentira macroeconômica mais significativa dos últimos anos e sobre a qual os EUA e a Europa se apoiaram em sua campanha pela austeridade fiscal e o corte drástico do gasto público", como escreveu domingo "El País".
          Reinhart e Rogoff cometeram erros básicos. Omitiram que Canadá, Austrália e Nova Zelândia tiveram dívida superior a 90% e nem por isso deixaram de crescer.
          Outro erro, aliás primário: uma trapalhada com planilhas Excel para fazer certos cálculos.
          Os dois economistas admitiram que cometeram um "lamentável deslize" mas juram que os erros não "afetam a mensagem central".
          Pode ser, pode não ser, mas vamos combinar que, também no jogo de búzios, de repente a mensagem central pode igualmente ser certa.
          Ah, quantas análises de economistas brasileiros resistiriam a um estudante determinado como Herndon?
          crossi@uol.com.br