terça-feira, 16 de abril de 2013

Um lugar para beijar - Malu Fontes


Diante da morte do estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da UFBA, Itamar Ferreira, em virtude das circunstâncias em que o corpo e a roupa foram encontrados, não há como não pensar em uma morte dupla, medieval e com a assinatura nítida do preconceito, seja ela deixada por ladrões comuns que queriam roubar gadjets e deixar pistas falsas após golpeá-lo, ou por um homofóbico típico capaz de tudo. O que quer que tenha acontecido para matar Itamar, o que houve naquela cena do crime representa uma morte dupla, marcada pela assinatura da homofobia, encenada ou patológica.

Todos os dias ladrões matam pessoas, movidos pelo desejo de levar seus objetos.  Já homofóbicos matam exclusivamente homossexuais e o fazem movidos pelo ódio sexual, embora haja quem pregue que toda morte causada por homofobia não passa de latrocínio comum. A assinatura perversa deixada na morte dupla de Itamar é traduzida na forma como ele foi largado dentro de uma fonte de praça pública, já morto ou deixado inconsciente para afogar-se após uma agressão na cabeça, mas com um detalhe extra para marcá-lo e matá-lo de novo, dessa vez moralmente: a bermuda abaixada até os joelhos.

Assim como assassinar uma pessoa com vários tiros no rosto significa, no código do crime, ajuste de contas, vingança por traição, jogar um homem morto numa praça com as calças arreadas é uma assinatura a serviço dos argumentos de quem vive alimentando o preconceito contra gays. Quantos não irão repetir coisas do tipo: ‘estão vendo? A homossexualidade é coisa do diabo e Deus pune’. Não são de frases assim que são feitas as declarações de Felicianos e Malafaias? A forma como a roupa de Itamar foi deixada não lhe dá, perante os preconceituosos para quem os gays procuram a morte por desafiar as leis da natureza sexual ou de Deus, o direito de ser vítima. E quem o matou, por mais tosco que seja, queria justamente isso. Não bastava matá-lo e levar suas coisas. Era preciso deixá-lo humilhado após a morte, condenar sua sexualidade mesmo morto, matá-lo moralmente perante o mundo Feliciano.

 Independentemente do contexto que levou Itamar à morte, ele é, foi, vítima. E se ele tiver provocado ou aceitado uma paquera em relação a quem o matou? Ora, em que isso o torna moralmente culpado? Quanto a isso, vale citar um filme fundamental para entender o preconceito contra os gays. Em 2009, a jornalista Neide Duarte, da Rede Globo, lançou um documentário que, em tempos de tanta gente que não se constrange em ofender homossexuais, é uma aula. O documentário chama-se “Um lugar para beijar”, pode ser visto no Youtube e mostra como o preconceito, inclusive o familiar, empurra os gays, principalmente os mais pobres, para as zonas de risco da vida: as áreas escuras da cidade, os botecos copos-sujos, onde nada no entorno soa familiar e seguro, pois é somente nesses espaços de perigo e nas madrugadas desertas que encontram alguma privacidade. Afinal, quem aqui é macho o suficiente para saber o que é poder beijar outro homem à luz do dia numa área nobre? Do xingamento a uma tacada de golfe na cabeça, a imprensa mostra todo dia que tudo é possível. Sobra o gueto, o escuro e a madrugada ameaçadora.


Malu Fontes é jornalista e professora de jornalismo da UFBA.
Salvador, terça-feira, 16 de abril de 2013

Adolescentes que malham demais podem ser vítimas de transtorno psiquiátrico

folha de são paulo

AMANDA LOURENÇO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A rotina do estudante carioca M.V., 15, inclui musculação seis vezes por semana e pesquisa diária na internet sobre exercícios e suplementação alimentar. Tudo para ficar maior e mais forte.
O adolescente pesa 78 quilos e tem 1,81 m. "Não acho que 15 anos seja muito cedo para malhar. Quanto mais eu treinar, mais facilmente chegarei à meta." A meta, no caso, é aumentar o diâmetro do seu braço de 39 cm para 55 cm.
A página de M.V. no Facebook é igual a de muitos meninos dessa idade: cheia de fotos de corpos musculosos, frases motivacionais e chacotas com "frangos" ou "filés de borboleta" (jovens sem os músculos estufados, típicos de quem vive em academia).
Estudo feito com 1.307 adolescentes e publicado no jornal americano "Pediatrics", em novembro de 2012, constatou que 90% deles se exercitam para ganhar músculos. A enquete foi feita em Minesota (EUA), mas os dados podem ser extrapolados todo o país, diz a pesquisa.
Até aí, tudo bem. A questão, mostram estudos internacionais e locais, é que a insatisfação dos meninos com seus corpos está em alta e, é claro, ligada à malhação exagerada. Exemplo: em pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina com 641 jovens de 11 a 17 anos, 54,3% dos garotos se declararam insatisfeitos com sua imagem.
O educador físico Marcus Zimpeck observa a tendência em academias paulistanas: "Vários adolescentes que querem ganhar corpo exageram, mas nem se dão conta".
Edson Lopes Jr./Folhapress
O estudante G.P., 17, na academia onde treina, na Grande São Paulo
O estudante G.P., 17, na academia onde treina, na Grande São Paulo
NO ESPELHO
O hebiatra (médico especializado em adolescência)Alberto Mainieri, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, concorda: "Há um crescente exagero não só na frequência do esforço muscular como na intensidade. Não são mais casos isolados". Segundo ele, o excesso de treinamento nessa fase da vida é perigoso e pode caracterizar vigorexia.
"É um vício que vai aos poucos interferindo na vida social", afirma Zimpeck. O instrutor acha que o transtorno está subdiagnosticado.
Quem tem o distúrbio nunca se satisfaz com o corpo que tem e treina obsessivamente. "Muitos pesquisadores consideram a vigorexia um subtipo de dismorfofobia", diz o psiquiatra Celso Alves dos Santos Filho, do Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares da Unifesp.
A dismorfofobia é uma alteração na autoimagem. No espelho, a pessoa se enxerga de forma negativa, o que não condiz com a realidade.
É o que relata o estudante G.P., 17: "Todo mundo diz que estou bem assim: ganhei 12 quilos de músculos em oito meses, mas, quando me olho, não gosto do que vejo. Em algumas fotos até me acho mais forte, mas depois olho melhor e vejo que ainda falta muito". Ele pesa 70 quilos e quer chegar aos cem. "Mas, se ainda estiver ruim, subirei a meta para 109 quilos", diz.
G.P. admite que pensa nos treinos em tempo integral e que os amigos reclamam do seu novo hábito. Ele se sente culpado se não puder malhar. "Se falto, penso que vou perder muito peso e não vou atingir nunca minha meta."
A vida social de G.P. também foi alterada pelos treinos: "Só volto para as baladas quando ficar mais forte".
O surgimento do transtorno nessa faixa etária é favorecido pelas alterações físicas e psicológicas que ocorrem. "Adolescentes sentem necessidade constante de aceitação, até da aparência. Não é à toa que dismorfofobia e vigorexia têm início nessa fase", diz o psiquiatra.
A psicanalista Dirce de Sá Freire, membro do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro, vê nessa dedicação ao físico uma demonstração de autodomínio: "O adolescente abraça a teoria de que o corpo pode ser moldado numa tentativa de controlar a própria vida, já que não pode controlar seu entorno".
O diagnóstico de vigorexia é difícil. A fisiatra Isabel Chateubriand, coordenadora da Reabilitação do Hospital Sírio-Libanês, diz atender pacientes com lesões causadas por excesso de musculação em um quadro claramente vigoréxico: "Explico ao jovem que está treinando errado e tem transtorno de imagem, mas ele não aceita. O máximo que faz é mudar temporariamente o treino até resolver o problema específico da lesão que o fez buscar ajuda".
As consequências desses excessos são difíceis de prever. "A curto prazo não identificamos os malefícios no corpo, pois aos olhos da sociedade o paciente é saudável, faz esporte. Se não fizermos os exames certos, nem saberemos que há alterações, já que adolescentes têm uma reserva de energia muito grande", diz Chateubriand.
D. D., 15, montou uma academia em casa e prepara suas séries sozinho: "Não preciso de instrutor. Qualquer dúvida, consulto a internet", argumenta ele, que treina há um ano, quatro vezes por semana, mas só exercita a parte superior, por causa de uma cirurgia para retirar um tumor na tíbia, feita aos 11 anos.
A mãe de D. D. diz se preocupar com o filho: "Os jovens de hoje querem ficar muito musculosos. Acho perigoso ele tomar suplementos, mas D. não me ouve". A dieta proteica que ele segue foi escolhida com base em informações recolhidas da internet.
METROS DE TÓRAX
Alguns dos adolescentes entrevistados para a reportagem pretendem participar de campeonatos de fisiculturismo, como I.C., 17, que acabou o segundo grau e quer estudar educação física.
Ele treina os sete dias da semana e conta que seus pais não aprovam isso: "Eles dizem que se eu ficar maior vou ficar feio, mas discordo. Ficarei como me sentir bem; meu objetivo é chegar aos dois metros de tórax", provoca.
O desejo de ganhar músculos em pouco tempo, passando por cima da genética, leva jovens a recorrerem a anabolizantes, é lógico --apesar de o tema ser tabu, mesmo para entrevistados protegidos pelo anonimato: "Desculpe, não falo sobre isso", diz I.C.
Zimpeck alega que a maior parte dos adolescentes que diz querer ser atleta de "bodybuilding" não sabe onde está se metendo: "Desconhecem como é difícil ser fisiculturista, ainda mais no Brasil, onde não se ganha para isso".
G. P. nunca pensou em ser fisiculturista. Seu interesse é ficar mais atraente mesmo: "Acho legal chegar na escola bem grande e os colegas comentarem. Eu me sinto mais seguro. É um sacrifício, mas acho que vale a pena".
Para Chateubriand, adolescentes obcecados por músculos cumprem o papel social imposto a eles: "São fruto das nossas crenças, estão sendo coerentes. É preciso mudar o conceito de exercício, de estética para saúde".
Editoria de Arte/Folhapress

PMs fuzilaram presos, diz nº 2 do Carandiru na época do massacre

folha de são paulo

Segundo testemunha, policiais entraram e atiraram nos detentos, até nos que estavam 'nus e rendidos'
Defesa afirma que eles reagiram a agressões; para perito, 90% dos disparos ocorreram dentro das celas
DE SÃO PAULOPrincipal testemunha de acusação a depor no primeiro dia do júri do Massacre do Carandiru, Moacir dos Santos, 64, autoridade nº 2 no comando do presídio na época, disse ontem que o que houve em 2 de outubro de 1992 no pavilhão 9 foi uma "execução". Foram mortos 111 detentos.
Santos era diretor da Divisão de Segurança e Disciplina; quando necessário, substituía o diretor, José Ismael Pedrosa.
Segundo ele, não havia rebelião ou tentativa de fuga, e os policiais, ao entrarem, fuzilaram os detentos, inclusive os que estavam rendidos e nus. "Vi um tapete de corpos", disse. "Às primeiras rajadas, os policiais do lado de fora comemoram como um gol."
A defesa dos 26 policiais réus no primeiro júri do caso (haverá ainda outros dois) afirma que eles reagiram a agressões dos presos, que estavam rebelados, armados e planejavam fugir. A advogada Ieda de Souza disse que só se pronunciará após o júri.
Santos disse que foi avisado às 13h de uma briga entre grupos rivais do pavilhão 9.
Nenhum servidor havia se ferido ou tornado refém, afirmou. Após tentar convencê-los a encerrar a briga, Santos deixou o local e acionou o alarme, avisando a Polícia Militar.
Quando o reforço chegou, formou-se uma espécie de comitê de autoridades, que combinou que Pedrosa faria uma negociação por megafone e os PMs lhe dariam cobertura com escudos."Eles não seguiram o acordo. Arrombaram a porta e já foram metralhando."
Santos só pôde entrar no pavilhão às 19h. Para ele, os PMs mataram a maioria dentro das celas e, depois, fizeram os presos removerem os corpos, para alterar a cena. Muitos dos que levaram corpos foram fuzilados depois, disse.
O depoimento foi similar ao de três presos sobreviventes, também ouvidos ontem.
Outra importante testemunha a falar foi Osvaldo Negrini Neto, perito criminal na época. Ele disse que 90% dos disparos ocorreram dentro das celas. Também relatou o cenário que viu. "Tinha sangue até as minhas canelas."
O júri continua hoje com o depoimento de testemunhas da defesa. (ROGÉRIO PAGNAN, TALITA BEDINELLI E LEANDRO MACHADO)

    ANÁLISE JULGAMENTO DO CASO CARANDIRU
    Futuro de acusados será decidido mais por ideias do que por provas
    Estereótipos de policiais e de presidiários serão mais considerados do que exames, laudos e testemunhos
    Passamos a ter praticamente só homens julgando homens, tanto réus quanto vítimas
    ANA LÚCIA PASTORE SCHRITZMEYERESPECIAL PARA A FOLHADiferentemente do que ocorre nos Estados Unidos e na França, em que, antes de votarem, os jurados discutem o caso e expõem suas opiniões uns aos outros, no Brasil vigora o princípio da incomunicabilidade absoluta.
    Para alguns, esse preceito assegura o livre pensamento e a livre decisão. Mas será mesmo que os jurados brasileiros pensam e decidem com mais liberdade simplesmente por passarem horas ou dias de julgamento enclausurados no fórum, impedidos de fazer e receber ligações telefônicas, ler jornais, acessar a internet, ver TV e conversar sobre o caso?
    Certo é dizer que brasileiros, "de notória idoneidade", maiores de 18 anos e no gozo de seus direitos políticos não chegam aos tribunais livres das mais diversas influências.
    Estereótipos de réus e de vítimas povoam a imaginação da população e são reiterados nas narrativas de profissionais do direito.
    Não será diferente no júri do "Massacre do Carandiru".
    Representações sociais de policiais militares que receberam e executaram ordens de seus superiores, bem como de presidiários e de rebeliões prisionais serão consideradas mais do que exames, laudos e provas testemunhais.
    A decisão dos jurados sinalizará quais estereótipos fazem mais sentido para eles.
    O fato de o Conselho de Sentença contar agora com seis homens e uma mulher talvez interfira nessas percepções, pois passamos a ter praticamente só homens julgando homens (tanto réus quanto vítimas).
    A advogada dos policiais e o promotor de Justiça talvez tenham de repensar algumas de suas estratégias discursivas devido à nova situação.
    Resta a insolúvel dúvida sobre se os jurados mudariam seus votos caso tivessem a oportunidade de discutir entre si suas conclusões.

      Antes minoria, homens agora dominam júri
      DE SÃO PAULOO perfil do júri que avaliará o destino dos policiais militares réus do Massacre do Carandiru mudou radicalmente ontem em relação ao formado na semana passada, quando o julgamento teve início e foi adiado depois que uma jurada passou mal.
      Seis homens e uma mulher foram sorteados para julgar os 26 PMs denunciados nessa parte do julgamento, formação considerada mais favorável aos policiais.
      Na semana passada, o júri foi composto por cinco mulheres e dois homens, o que havia sido considerado mais favorável à acusação --mulheres, em geral, costumam ser vistas pelas partes como mais emotivas e propensas à defesa dos direitos humanos.
      O sorteio dos novos jurados, obrigatório após o adiamento, foi feito sem a presença dos jornalistas. Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça, durante o sorteio, a defesa rejeitou duas mulheres e o Ministério Publico, três homens. Cada parte pode rejeitar até três pessoas sem ter que justificar.
      De acordo com o Tribunal de Justiça, a maioria dos jurados tem entre 20 e 30 anos. No primeiro dia de júri, eles foram muitos participativos e fizeram perguntas a todas as testemunhas chamadas.
      O comportamento dos 24 réus que se apresentaram no plenário também mudou em relação à semana passada.
      Na última segunda-feira, antes do adiamento do júri, eles aparentavam descontração e riam entre eles. Ontem, estavam sérios --um deles passou as 11 horas de depoimentos segurando a Bíblia.
      Hoje, devem ser ouvidas as testemunhas de defesa. Dez foram convocadas, entre elas o ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho. (LM, RP E TB)

        SP propõe pena maior para crime com jovens

        folha de são paulo

        Proposta de Alckmin agrava punição para adultos em delitos com menores de idade
        FLÁVIO FERREIRADE SÃO PAULOO governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), vai propor hoje ao Congresso a alteração de um artigo do Código Penal para que a participação de menores de idade em crimes leve ao aumento da punição para os adultos envolvidos nos delitos.
        A proposta integrará um pacote de sugestões prometidas pelo tucano logo após a morte do universitário Victor Hugo Deppman, 19, baleado na cabeça em frente de casa, na zona leste de São Paulo.
        Ele foi morto por um jovem de 17 anos na semana passada, mesmo após entregar seu celular e não reagir ao roubo.
        Alckmin também vai sugerir mudanças no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Uma delas é para aumentar de três para oito anos o prazo máximo de internação em instituições de ressocialização como a Fundação Casa (antiga Febem).
        Outra nova proposta é a criação de um regime especial para separar os menores de idade daqueles infratores que atingirem a idade adulta no período de internação.
        A equipe de Alckmin fechou ontem à noite os planos de mudanças legislativas.
        Eles serão entregues hoje em Brasília para os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com quem Alckmin vai se encontrar hoje.
        Também serão repassadas para líderes partidários para que eles colaborem e deem suporte para a aprovação das alterações no Congresso.
        AGRAVAMENTO
        Uma das ideias é acrescentar um novo texto ao inciso 2º do artigo 61 do Código Penal, que trata das circunstâncias agravantes dos crimes.
        Pelo projeto de Alckmin, passa a configurar uma situação de agravamento da pena o fato de o adulto "ter cometido o crime com a participação de menor de 18 anos".
        A legislação penal não estabelece limites para que os juízes aumentem as penas com base nas circunstâncias do artigo 61 do Código Penal. Ou seja, hoje fica a critério de cada juiz definir o tamanho do agravamento das penas.
        Em relação à proposta para estender o prazo máximo de internação para oito anos, o governo estadual defende que a punição mais severa seja aplicada somente nos casos de crimes hediondos.
        Na semana passada, após Alckmin defender punição mais rigorosa para jovens infratores, representantes do governo Dilma Rousseff (PT) discursaram de maneira contrária ao endurecimento.
        O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu cautela --sob risco, afirmou, de sobrecarregar as prisões.
        Segundo ele, há "verdadeiras escolas da criminalidade em muitos presídios".
        "Projetos de lei que respondem a situações têm que ser ser muito bem analisados. Temos que tomar muito cuidado com o calor do momento."

          Gratidão e fé - Francisco Daudt


          Folha de São Paulo
          A encrenca mora na expectativa de retorno; na religião, pelo menos se livrar do inferno é esperado
          Quer ficar pobre, mas pobre mesmo? Aplique todo o seu capital comprando ações da gratidão. São os papéis que mais rapidamente desvalorizam no mercado, com a vantagem de se tornarem negativos. Ou seja: você começa no lucro e acaba devendo.
          Há inúmeras ilustrações disso, aqui vão algumas. Quino, cartunista argentino da Mafalda, publicou nos anos 1970 quadrinhos retratando a chegada de um médico para atender uma criança doente. Os pais o veem como um anjo salvador quando ele põe a criança em bom estado. Na hora em que mostra a conta, já está visto como o "demo".
          Em "Hamlet", Shakespeare fez Polonius dar conselhos a seu filho que partia em viagem. Entre eles estava: "Não empreste dinheiro a amigo. Quem o faz, perde o dinheiro e perde o amigo".
          Conta a lenda que um monge budista caminhava por uma estrada quando foi esfaqueado pelas costas. Antes de morrer, conseguiu ver o rosto do assassino e comentar: "Curioso... Não me lembro de ter te feito nenhum bem na vida".
          Ainda há o sapo e o escorpião atravessando o rio, o homem que salvou a cobra do congelamento e outras histórias.
          O que há com a gratidão para provocar reações tão contrárias ao intuitivo? Logo na nossa espécie, que tem como seu melhor aspecto a capacidade de altruísmo recíproco, aquele fazer o bem com a esperança de algum retorno? (E não me venham dizer que o verdadeiro altruísmo não espera nenhum retorno, já que são Francisco de Assis, o ícone do altruísmo, rezava que "é dando que se recebe; é perdoando que se é perdoado").
          A encrenca mora no retorno. Se você faz algo por alguém que não pode lhe retornar com facilidade ou se o favor é tão grandioso que é uma dívida impagável ("Eu te dei o maior presente de todos: a vida! E agora você quer sair com aquela sirigaita?"), a tendência, já que ninguém ama um credor, é que você seja odiado, deletado, esquecido, e agradeça aos céus se não for assassinado.
          "O combinado não sai caro" e "boas contas fazem bons amigos" são princípios de troca muito claros e presentes na cultura americana. Que brasileiro responderá a um favor com "Fico te devendo uma", como eles fazem?
          De modo que, se um amigo precisa de dinheiro e não pode devolver a você, dê de presente, não de empréstimo. E se você quiser fazer o bem, deixe claro que o feito traz sua recompensa em si (e traz!), sem dívidas. O que vier (quando e se) é lucro, não pagamento de dívida.
          E a fé? Por definição, ela é a entrega amorosa a uma crença absurda, ilógica. Ressurgiu dos mortos no terceiro dia? Subiu aos céus? Nasceu de uma mulher que não conheceu varão? Grande doação é necessária para se acreditar nisso. Mais que isso, é preciso ter um dom, tão difícil que é.
          Às vezes, sua motivação não é o amor, mas o medo. Você viu os enlutados pela morte do ditador coreano? Aquilo é amor?
          Reparou como na fé existe expectativa de retorno? Nem sempre tão explícita como certos bispos a colocam: "Doe seu dízimo, quanto mais você doar, mais receberá de volta!" Mas, pelo menos, se livrar do inferno é esperado.
          Crer na gratidão, creio, é uma espécie de fé.
          www.franciscodaudt.com.br

            Entrevista Christine Lagarde [Diretora-gerente do FMI]

            folha de são paulo

            Brasil precisa destravar já os gargalos de infraestrutura
            Diretora-gerente do FMI afirma que obras são prioridade para recolocar O país no rumo do crescimento econômico
            LUCIANA COELHODE WASHINGTON
            O Brasil pode usar a política monetária --subir juros-- para conter a crescente inflação, mas a prioridade do país deve ser desatar os nós que travam a produção e a exportação, disse à Folha a chefe do FMI, Christine Lagarde.
            Já a "guerra cambial", bandeira constante do país no Fundo Monetário Internacional, é um temor que se dissipa --e nunca chegou a guerra, expressão que ela atribui ao excesso de "paixão" de Guido Mantega ao falar.
            Primeira mulher a comandar o Fundo, Lagarde recebeu o jornal brasileiro e o mexicano "El Universal" ontem, véspera da reunião ministerial do FMI, para falar de crise, crescimento lento e do peso da organização que chefia, em reforma. A seguir, suas principais respostas à Folha:
            Folha - As coisas parecem melhores após cinco anos de crise, mas a recuperação patina. O que falta para engrenar?
            Christine Lagarde - A recuperação tem três velocidades. Um grupo avança mais rápido --os emergentes e os países de baixa renda; um segundo surpreendeu positivamente --como EUA e a Suécia-- e consertou parte das áreas combalidas; e um terceiro vem atrás, a zona do euro. O Japão é a incógnita.
            Há crescimento, o que precisa ser feito é estabelecer a cooperação entre os diferentes países e grupos. Os emergentes e os de baixa renda têm de aproveitar para refazer seus "amortecedores" e assegurar que os fluxos de capitais sejam bem geridos, para não ter risco de bolha.
            Nos EUA, há necessidade de um rumo fiscal no médio prazo, mais do que de cortes. E a zona do euro precisa continuar as reformas, sobretudo a integração bancária.
            Juntos, precisamos completar a reforma do setor financeiro --muito ainda precisa ser feito no mercado de derivativos [estopim da crise], que carece de transparência e de supervisão ainda.
            A sra. citou o avanço emergente. No Brasil, apesar de incentivos e corte de juros, o crescimento foi apático, e teme-se a inflação. Como a sra. avalia a atual política econômica?
            Apesar de baixo, o crescimento avançou, e prevemos que 2013 será melhor --embora estejamos revisando isso um pouco para baixo. Também achamos que o Brasil usou de modo eficaz as ferramentas fiscais e monetárias. A preocupação com a inflação pode ser tratada de forma sensata, talvez com a política monetária [juros], o que deve estar em consideração.
            A questão é que há muito a ser feito sobre os gargalos, em portos, aeroportos, rodovias... O fornecimento e o escoamento de mercadorias é limitado por gargalos em quase todo o território. Aprimorar a infraestrutura poderia melhorar muito a situação do país, e é isso que sugerimos que seja priorizado.
            A previsibilidade do ambiente de negócios também é importante. Eu adoro esportes, e vocês terão a Copa e a Olimpíada --é a justificativa perfeita para melhorar a infraestrutura e o transporte.
            O governo brasileiro tomou medidas fiscais para estimular a indústria, ao passo que critica a "guerra cambial" [o aumento do dinheiro em circulação nos países ricos, que baixa o valor de suas moedas]. Esse paradoxo tem custo político internacional para o país?
            Todo mundo sempre presta muita atenção ao que diz meu colega, o ministro [da Fazenda Guido] Mantega, e às vezes ele fala com tanta paixão que usa palavras fortes. O que ele chama de "guerra cambial" eu chamo de preocupação cambial, e entendo que ela exista.
            Vi também que ele disse não estar preocupado com o fluxo de capitais [externos], sinal de que o mercado brasileiro está absorvendo esse capital, e as ferramentas de controle estão sendo usadas. Mas vejo o discurso de guerra já se dissipando. E as preocupações têm de ser tratadas por todos.
            Voltando o foco para o FMI: a reforma do sistema de cotas, que aumentará o peso e a voz dos países emergentes, em detrimento dos ricos, é factível?
            Claro que é! A reforma, decidida com todos os chefes de Estado presentes em 2008, tem a aprovação necessária.
            Mas, para a reforma de governança, que detona a implementação da de cotas, ainda não temos os 85% de aprovação, pois falta um grande [faz um gesto indicando os EUA].
            Dado o impasse político nos EUA, é viável mirar em 2014?
            É prioritário para os membros do FMI aceitar que é crítico para o ambiente multilateral e a estabilidade global ter todos os integrantes [do Fundo] em sintonia. Faço o que posso, mas quem decide são os países-membros.
            O FMI pode perder relevância? Os Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e Áfica do Sul] acabam de anunciar o próprio fundo...
            Os europeus têm seu banco, e o Leste da Ásia também tem seu acordo. Esses arranjos intergovernamentais e regionais são totalmente compatíveis com o FMI. Não vejo o FMI perdendo energia, pois temos quase 70 anos de experiência em lidar com crises.
            O FMI recuperou seu peso com a crise, mas, para a reunião desta semana, não há tanta expectativa como em 2012. Qual o próximo passo?
            Em 2012 o foco foi levantar fundos. Neste ano está um pouco melhor, mas precisamos demais de cooperação. Não há outro fórum em que todos os países-membros --não só os Brics entre si, ou as economias avançadas-- prestem contas uns aos outros.
            Este o rumo que quero dar, o de prestação de contas. Acordos regionais são bons, mas é preciso garantir coordenação, cooperação e prestação de contas entre os países. Isso é mais difícil.
            Leia a íntegra
            folha.com/no1263165


            RAIO-X - CHRISTINE LAGARDE
            IDADE
            57 anos
            FORMAÇÃO
            Advogada, com mestrado em ciência política
            CURRÍCULO
            Atual diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), foi ministra das Finanças (2007 a 2011), Agricultura e Pescas (2007) e Comércio Exterior (2005 a 2007) na França

              FRASES
              "Mantega às vezes fala com tanta paixão que usa palavras fortes. O que ele chama de 'guerra cambial' eu chamo de preocupação cambial, e entendo que ela exista"
              "Previsibilidade do ambiente de negócios também é importante. Vocês terão a Copa e a Olimpíada --é a justificativa perfeita para melhorar a infraestrutura e o transporte"

                Nizan Guanaes

                folha de são paulo

                Precisa-se de roteiristas
                Como os engenheiros, os roteiristas serão essenciais para formar o novo Brasil
                Cada um cria a sua própria história. Não espere ninguém para fazer a sua. O mundo é tão diverso quanto o número de pessoas que o habitam. Todo dia nasce gente e todo dia nascem histórias.
                O Brasil tem uma das maiores populações do planeta, somos já quase 200 milhões. E o Brasil é um dos países mais ricos e diversos do mundo. Temos muitas histórias para contar e agora temos mais meios para contá-las, mais meios e mensagens, porque o Brasil mudou, o Brasil é novo de novo.
                As coisas quase nunca acontecem de forma reta, lógica, perfeita. As coisas acontecem do jeito delas. Sou um defensor entusiasta da livre iniciativa e também um defensor tão entusiasta quanto da cultura. Dentro das dificuldades históricas que temos para produzi-la, que não são só do Brasil, mas de grande parte dos países, inclusive grandes produtores culturais, como França e Itália, é preciso reconhecer a necessidade de algum apoio oficial e defesa de mercado.
                A produção audiovisual, principalmente cinema e programas de TV, é uma grande oportunidade para as marcas brasileiras e para a imagem do país aqui dentro e lá fora. Basta ver o que o cinema fez pelos Estados Unidos ou imaginar James Bond trocando o tradicional dry martini por uma caipirinha.
                Como bem sabe a propaganda, imagem e som é a mistura mais eficiente para contar histórias e emocionar plateias.
                Por isso fiquei muito feliz ao saber outro dia que estamos sofrendo de falta de... roteiristas. Sim, pela primeira vez na história do Brasil faltam roteiristas. Não é maravilhoso isso? Um país que precisa de criativos.
                A nova legislação do setor audiovisual aumentou exponencialmente a necessidade de conteúdo nacional na TV paga. E isso no momento em que esse setor cresce a uma taxa de 26% ao ano e já a- tinge mais de 16 milhões de brasileiros.
                Para atender à nova legislação e alimentar esse público com conteúdos brasileiros, governo, operadoras e programadoras privadas dos canais de TV por assinatura estão realizando investimentos cada vez maiores na formação e na prospecção de roteiristas e roteiros.
                A proteção do mercado ocorre no momento de explosão do mercado. A demanda por histórias brasileiras será enorme e tem bons precedentes. Basta ver sucessos como "Tropa de Elite", "Avenida Brasil", "Gonzaga - de Pai pra Filho" e tantos outros. Se tiver um bom produto na frente, o brasileiro consome o nacional com o mesmo gosto que consome megaproduções hollywoodianas.
                De qualquer forma, a deman- da está dada por lei, goste-se ou não. É uma oportunidade imensa para a nossa cultura e os nossos criativos.
                Estou seguro de que nos próximos 20 anos a cultura brasileira será mais apreciada no Brasil e no mundo. O "jeitinho brasileiro", tão depreciado, deve evoluir benignamente para o "brazilian way", tolerante, inovador, original e específico como nosso país.
                Mas, se nosso mix populacional e geográfico, nosso conservadorismo atrevido, nossa tolerância exorbitante e nossa diversificada economia nos tornam únicos, a essência brasileira ainda está em formação com a emancipação mesmo que tardia das massas, a emergência nos últimos anos de dezenas de milhões de brasileiros ao mercado consumidor, movimento que transforma a economia, a sociedade e também a cultura.
                Essa enxurrada de novos programas, novos filmes, novas séries, novos documentários dará vez, voz e palco a esse novo Brasil.
                É um Brasil que pode seduzir o mundo, com Copa das Confederações daqui a dois meses, Copa do Mundo no ano que vem e Olimpíada logo depois.
                O Brasil não quer dominar o mundo, o Brasil quer seduzi-lo. Não somos apenas um mercado emergente, somos também um estilo emergente.
                E nada melhor que bons roteiros e boas histórias para levar tudo isso às massas. Do Brasil e do mundo.
                Precisamos de roteiristas. Assim como os engenheiros, eles serão essenciais para formar o novo país.

                  Clovis Rossi - Ou diálogo ou ingovernabilidade

                  folha de são paulo

                  Maduro, contestado tanto pela oposição como pelos aliados, precisa tentar reverter o 'coro de rancor'
                  CLÓVIS ROSSINicolás Maduro sai das eleições de domingo quase 700 mil votos mais magro do que Hugo Chávez, na comparação com a presidencial de faz apenas seis meses.
                  Mais magro e mais fraco, já desafiado por Diosdado Cabello, tido como líder da ala militar do "chavismo", que cobrou, mal divulgados os resultados, "uma profunda autocrítica", em um primeiro tuíte, logo seguido por outro em que pedia: "Busquemos nossas falhas até debaixo das pedras".
                  Cabello não deixou espaço para que seus companheiros culpem os "oligarcas" pelo resultado, ao dizer que "é contraditório que o povo pobre vote por seus exploradores de sempre". Aceita, pois, que uma parte importante do "povo pobre" votou contra Maduro. De quem pode ser a culpa, se não de Maduro e de suas esquisitices durante a campanha? Inferência lógica: o presidente eleito não é feito de madeira de lei boa o suficiente para liderar o "chavismo" sem Chávez.
                  A Venezuela amanheceu com um presidente contestado pela oposição, o que era perfeitamente previsível, dada a magra diferença, e também pelo poderoso setor militar do oficialismo, que governa 11 das 23 províncias (12, se incluído o oposicionista Henry Falcón, também militar) e ocupa em torno de 1.500 cargos na inchada máquina pública venezuelana.
                  Já seria um formidável desafio se a situação econômica fosse tranquila. Como há problemas sérios em pelo menos três áreas que afetam o cotidiano (desabastecimento de gêneros essenciais, inflação descontrolada e violência em grau de calamidade), a Venezuela flerta com a ingovernabilidade.
                  Resta a Maduro tentar ao menos atenuar a crispação política que Chávez levou ao paroxismo. Dialogar, enfim, como aconselhou um mestre nessa arte, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
                  Disse Lula, ainda antes da votação: "Maduro vai ter de cuidar mais da relação política; vai ter de cuidar mais das alianças com outros setores, vai ter de tentar colocar mais pessoas em torno da mesa para poder construir, de forma orgânica, a força que o carisma de Chávez construiu na Venezuela".
                  Ecoam os chineses, os mais novos amigos de infância do "chavismo", por meio da agência oficial Xinhua: "Se não se conseguir reverter o grave sentimento de rivalidade entre governo e oposição, ver-se-á claramente prejudicado o fundamento da governança de Maduro e serão afetadas a economia nacional e a vida da população".
                  Do lado oposicionista, parece haver predisposição ao diálogo, de que dá prova afirmação do escritor Leonardo Padrón, bem-sucedido autor de telenovelas e que se considera de esquerda: "Estamos esgotados de tanto desencontro, de tanta agressão mútua. A rua é um desafinado coro de rancor", disse a "El País", na véspera do pleito.
                  Quando fica demonstrado que a Venezuela está rachada rigorosamente ao meio, ou se baixa o volume desse coro ou se abrirá um período de turbulência que fatalmente transbordará para os países vizinhos, dadas as paixões que tanto o "chavismo" como o "antichavismo" cultivaram nos últimos 14 anos.
                  crossi@uol.com.br

                    Maria Esther Maciel - A vez da poesia‏



                    memaciel.em@gmail.com


                    Estado de Minas: 16/04/2013 

                    Foi com indisfarçável surpresa que li, um dia desses, a notícia de que o livro Toda poesia, que reúne a obra poética do curitibano Paulo Leminski (1944-1989), tinha entrado para a lista dos mais vendidos no país, na categoria ficção, chegando a desbancar o best-seller Cinquenta tons de cinza na rede de livrarias Cultura. “Como assim?” “Um livro de poesia, e logo do Leminski?”, muita gente também deve ter se perguntado diante de tal novidade, que deixou perplexa até mesmo a editora que publicou a obra.

                    Leminski, como se sabe, foi um poeta avesso às convenções de qualquer espécie, que elegeu a liberdade como o principal ingrediente de sua vida e sua poesia, chegando a receber o rótulo de “poeta marginal”. Com descontração, engenho e muito humor, criou um estilo próprio, misturando referências da cultura pop com procedimentos de vanguarda. Reabilitou a rima, aliou capricho e relaxo, transitou em diferentes gêneros literários. Aliás, quem fez um estudo muito interessante sobre ele foi o poeta mineiro Fabrício Marques, no livro Aço em flor – a poesia de Paulo Leminski, de 2001.

                    Como era de se esperar, a entrada de Leminski no rol dos best-sellers brasileiros foi comemorada com euforia tanto por quem o admira quanto pelos que gostam de poesia em geral. Afinal, um livro de poemas se tornar best-seller no Brasil, sobretudo nestes tempos de consumismo desenfreado, é algo digno de comemoração.

                    Por outro lado, há uma grande ironia nessa história. E é isso que a torna mais intrigante. Se a entrada do livro na lista merece aplausos e nos dá a sensação de que Leminski bagunçou o coreto do mercado, ela também não deixa de gerar certo desconforto. Daí a pergunta: será que o próprio poeta, sempre tão rebelde em relação às normas sociais, culturais e políticas, não se sentiria um “peixe fora d’água” nesse rol dos mais vendidos? Leminski, que considerava a poesia uma espécie de “inutensílio”, um tipo de arte que não serve para nada em termos utilitários, foi coerente com essa proposta, mantendo-se o tempo todo em dissonância com a lógica de produção e consumo do mundo capitalista. E agora, por ironia do destino, torna-se campeão de vendas no mercado de livros.

                    A ironia, obviamente, também afeta esse monstro sem rosto chamado mercado. Por tanto tempo ele marginalizou os livros de poesia, sob o argumento de que “poesia não vende”, por não se afinar com o tipo de literatura que as pessoas em geral consomem, e agora tem que “engolir” uma obra poética na lista dos mais vendidos do mês.

                    Tendo-se em vista os dois lados da moeda, fica a dúvida: será que a poesia venceu o mercado ou o mercado venceu a poesia de Leminski? Talvez, as duas coisas. Ou, mais provavelmente, nenhuma delas. O fato é que fenômenos desse tipo tendem a desafiar nosso poder de compreensão. Basta citar, como outro exemplo, o livro Eu, de Augusto dos Anjos, grande sucesso editorial no país por vários anos, apesar de sua linguagem difícil e seu tom sombrio. Há também o recente caso de Finnegans Wake, de James Joyce, que se tornou best-seller na China assim que foi publicado por lá.

                    Assim, diante do fenômeno editorial de Toda poesia de Paulo Leminski, só nos resta dizer, como Guimarães Rosa: “Não há o que não haja”.

                    TV PAGA

                    Estado de Minas - 16/04/2013

                    Boa música

                    O Movimento violão, do SescTV, abre hoje sua temporada 2013 com show do Duo Assad, dos irmãos violonistas Sérgio e Odair Assad. A dupla é reconhecida pela sua criatividade ao fazer a ponte entre a música erudita e a popular. A exibição será às 20h e serve como aperitivo para o especial da irmã Badi Assad, no domingo. E ainda hoje, às 21h, o Multishow transmite a apresentação que Ziggy Marley fará no Rio de Janeiro, com transmissão ao vivo também pelo multishow.com.br.

                    Muitas novidades nos  canais AXN, Syfy e Fox


                    Além da estreia de Hannibal, às 22h, no AXN, outras novidades chegam hoje à telinha. Às 20h, o canal Syfy exibe episódio especial, com duas horas de duração, da série de ficção científica Defiance, ambientada num planeta Terra completamente transformado depois da devastadora guerra entre os humanos e sete raças alienígenas. Na Fox, às 22h30, é a vez de Da Vinci’s demons, que centra o foco na figura de Leonardo Da Vinci em um período pouco conhecido de sua vida, dos 18 aos 32 anos. E ainda tem a estreia da terceira temporada de Body of proof, às 21h, no AXN.

                    Antropólogo defende os direitos dos ciganos

                    Na edição de hoje de Provocações, às 23h, na Cultura, Antônio Abujamra vai entrevistar o antropólogo Nicolas Ramanush, presidente da Embaixada Cigana do Brasil. A organização luta por um objetivo comum às minorias sociais: “Queremos acima de tudo o direito de cidadania. Se somos brasileiros de etnia diferenciada, temos direito à cidadania brasileira acima de tudo”.

                    Canal Off passa a régua  em mais quatro séries

                    Mais quatro programas do canal Off encerram temporada hoje: Irmãos Vaz, às 19h; Quatro remos, às 19h30; Kaiak, às 21h; e A vida que eu queria, às 22h30. No Canal Brasil, o cineasta Samir Abujamra continua sua viagem ao redor do mundo com seu Projeto sumir, às 18h45, hoje mostrando Ouagadougou, que foi capital de um dos mais poderosos impérios africanos, o Reino Mossi, até ser ocupada pelos franceses, e que hoje faz parte de Burkina Faso, um dos países mais pobres do mundo.

                    Ação, drama e comédia  no pacotão de cinema


                    Por falar em África, o mesmo Canal Brasil dá sequência à Mostra África hoje, exibindo o documentário Doce vida africana, à 0h15. Mais cedo, às 22h, a emissora estreia o drama A última estrada da praia, de Fabiano de Souza. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: O homem do futuro, no Telecine HD; O anjo do desejo, no Telecine Pipoca; Coração de tinta – O livro mágico, na Warner; Minha super ex-namorada, no FX; Tudo pela fama, no Glitz; Polissia, no Max; Sequestrados, no Space; e Gladiador, na MGM. Outras atrações da programação: O retrato de Dorian Gray, às 21h, na HBO; Tudo por um segredo, também às 21h, no Cinemax; Pânico na neve, igualmente às 21h, no ID; O Falcão está à solta, às 22h30, no Comedy Central; e Sem vestígios, às 23h, no AXN.

                    Ficção sobre Coreia do Norte leva Pulitzer

                    folha de são paulo

                    Após edição sem nenhum romance premiado, júri elege obra de Adam Johnson, lançada no fim de 2012 no Brasil
                    Prestigiosa premiação de produções artísticas e jornalísticas premiou o "New York Times" em quatro categorias
                    DE SÃO PAULOPrincipal prêmio voltado a produções artísticas e jornalísticas americanas, o Pulitzer anunciou ontem "The Orphan Master's Son", de Adam Johnson, 45, como vencedor na categoria ficção.
                    No Brasil, a obra saiu no fim de 2012, pela Lafonte, com o título "Jun Do" (nome de um personagem). Passou despercebida pela crítica.
                    O júri descreveu a obra de Johnson, professor de criação literária na Universidade Stanford, como "um romance requintado que carrega o leitor às profundezas do totalitarismo norte-coreano e aos íntimos espaços do coração".
                    O prêmio sai num momento em que as atenções mundiais se voltam para a Coreia do Norte, que tem feito ameaças de ataques nucleares.
                    No ano passado, sem consenso entre jurados, o Pulitzer de ficção não teve vencedor. A decisão incomodou livreiros e editores, já que a premiação alavanca vendas.
                    Nas outras categorias literárias deste ano, ficaram entre os agraciados "The Black Count", de Tom Reiss, uma biografia de Alex Dumas, pai do escritor Alexandre Dumas, e "Embers of War", de Fredrik Logevall, sobre a intervenção americana no Vietnã.
                    Em produções jornalísticas, o "New York Times" levou quatro das 14 categorias, incluindo jornalismo investigativo, por mostrar como a rede Wal-Mart recorreu a subornos para crescer no México, e internacional, por expor a corrupção na alta esfera do governo chinês.


                      PRINCIPAIS VENCEDORES DO PULITZER 2013
                      LITERATURA E ARTES
                      > Ficção: "The Orphan Master's Son", de Adam Johnson (no Brasil, "Jun Do")
                      > História: "Embers of War", de Fredrik Logevall
                      > Biografia: "The Black Count", de Tom Reiss
                      >Poesia: "Stag's Leap", de Sharon Olds
                      > Não ficção: "Devil in the Grove", de Gilbert King
                      JORNALISMO
                      > Investigativo: David Barstow e Alejandra Xanic, do "New York Times"
                      > Internacional: David Barboza, do "New York Times"
                      > Fotografia: Javier Manzano, free-lance

                      SERIADO » Cardápio indigesto - Mariana Peixoto‏


                      Mariana Peixoto

                      Estado de Minas: 16/04/2013 

                       A nova produção do AXN mostra a origem da série de crimes na vida do psiquiatra Hannibal Lecter (Brooke Palmer/NBC)
                      A nova produção do AXN mostra a origem da série de crimes na vida do psiquiatra Hannibal Lecter

                      Nunca houve um serial killer como Hannibal Lecter. E tampouco um intérprete do personagem como Anthony Hopkins. Uma das séries mais comentadas da temporada, Hannibal, que estreia hoje no canal pago AXN, só vem comprovar isso. Já explorado à exaustão pelo cinema, o personagem tem fôlego para continuar sua saga. Mas a que preço? Pois o episódio- piloto, no ar às 22h, não empolga. Ainda é cedo para dizer – nos Estados Unidos, só foram exibidos os dois primeiros episódios dos 13 previstos –, mas o personagem-título, pelo menos por ora, não traz empatia com o público – ao contrário do Hannibal de O silêncio dos inocentes, já que nos filmes posteriores o próprio Hopkins caiu no pastiche de si mesmo.

                      A narrativa é inspirada no primeiro dos quatro romances de Thomas Harris, Dragão vermelho – também já levado ao cinema, inclusive em uma primeira versão, de 1986, com Brian Cox no papel de Lecter. Mostra o início do envolvimento do psiquiatra canibal com Will Graham, igualmente brilhante. Este último é quem conduz o episódio. Ex-detetive e hoje professor, Graham náo é nada sociável (sofre de um tipo de autismo), porém consegue como ninguém se colocar no lugar dos criminosos, decifrando os mistérios com rapidez. É chamado por Jack Crawford, chefe da Unidade de Ciência Comportamental do FBI, para ajudar a descobrir quem é o assassino de uma série de jovens. Hannibal aparece no meio do episódio, como uma espécie de mentor de Graham, que, instável, acaba sendo muito afetado pelos crimes.

                      Sabe-se que os dois vão ter uma relação muito próxima, mas nesse início o interesse é todo de Hannibal, já que Graham tenta manter distância de qualquer ser humano – ele vive sozinho numa casa rodeado de cachorros abandonados. A série é produzida por Bryan Fuller (o mesmo de Dead like me e Pushing daisies, que misturam humor e fantasia) e o episódio de estreia, “Aperitivo”, foi dirigido por David Slade (de A saga Crepúsculo: Eclipse).

                      O dinamarquês Mads Mikkelsen, com seu rosto superanguloso, não precisa se esforçar muito para parecer maligno. Hugh Dancy parece tão atordoado quanto seu Will Graham e, pelo menos nesse episódio, quem se sobressai é Laurence Fishburne como Jack Crawford. Nesse início, Hannibal mais insinua do que mostra. Em mais de uma cena, o psiquiatra canibal saboreia bons nacos de carne. Noutra, maldosamente, ele divide seu café da manhã com um inocente Graham (ovos mexidos adivinha com o quê?), enquanto conversam sobre análise comportamental e outros assuntos nada digeríveis. Para o telespectador fica a expectativa do banquete, pois esse aperitivo deixou a desejar.

                      Mads Mikkelsen é sempre lembrado como o vilão Le Chiffre de 007 - Cassino Royale (Brooke Palmer/NBC)
                      Mads Mikkelsen é sempre lembrado como o vilão Le Chiffre de 007 - Cassino Royale

                      HANNIBAL
                      Estreia hoje, às 22h, no canal AXN. A série é a primeira no Brasil a oferecer um aplicativo de segunda tela (second screen) que possibilita ao telespectador acesso a conteúdo extra e interação com redes sociais. O app poderá ser baixado gratuitamente pelo iTunes

                      SAIBA MAIS - O CANIBAL

                      Hannibal Lecter é obra do escritor e roteirista norte-americano Thomas Harris, que publicou quatro livros com o personagem: Dragão vermelho (1981), O silêncio dos inocentes (1988), Hannibal (1999) e Hannibal, a origem do mal (2006), todos editados no Brasil e adaptados para o cinema. A origem de sua história tenta explicar por que o psiquiatra se torna canibal. Nascido na Lituânia, ex-república soviética, é filho de um conde lituano e uma mulher da alta burguesia italiana. Durante a 2ª Guerra Mundial, a família Lecter é vítima dos nazistas. Só Hannibal e sua irmã, Mischa, sobrevivem. Acabam se envolvendo com os hiwis, lituanos que se unem aos nazistas e num inverno rigoroso eles matam Mischa para depois comê-la.

                      >>Festival de psicopatas
                      Fox/Divulgação
                      Fox/Divulgação

                      . Bates Motel – Como seria Norman Bates antes de se tornar Normal Bates? A produção do canal A&E mostra a adolescência do personagem eternizado por Alfred Hitchcock em Psicose (1960). Ele é vivido por Freddie Highmore e sua mãe por Vera Farmiga. Estreou em março nos EUA e já garantiu uma segunda temporada. O Universal Channel comprou a série, mas ainda não marcou a estreia.

                      . Criminal minds – Veterana no gênero, traz uma equipe de elite do FBI especializada em analisar as mentes de serial killers. No elenco, que já teve algumas mudanças, destacam-se Joe Mantegna, Thomas Gibson e Matthew Gray Gubler. Está em sua oitava temporada, ainda não renovada. É exibida às segundas-feiras, às 22h, no canal AXN.

                      . Dexter –Um especialista forense em análise sanguínea que trabalha para a polícia e mata criminosos que ela não consegue prender. Com uma ética muito pessoal, Dexter consegue ainda levar uma vida aparentemente normal. Cheia de ironias, a série, estrelada por Michael C. Hall (foto), é exibida aos domingos, às 23h, no canal FX. A oitava temporada estreia em 30 de junho, nos EUA.

                      . The following – Um dos sucessos da temporada, trata da relação entre um brilhante serial killer com pretensões literárias (James Purefoy), que, depois de matar 14 estudantes, é preso por um agente do FBI (Kevin Bacon, em sua estreia na TV). Anos mais tarde, organiza uma seita e foge. Seu perseguidor, hoje aposentado, é chamado para ir atrás dele, e tem início um jogo de gato e rato. Já com segunda temporada garantida, é exibido às quintas-feiras, às 23h, na Warner.

                      Painel - Vera Magalhães

                      folha de são paulo

                      O operador fala
                      O procurador da República Francisco Guilherme Bastos pediu, em 3 de abril, que a delegada da Polícia Federal responsável pelo inquérito instaurado para investigar eventual elo de Lula com o mensalão ouça de novo Marcos Valério. Nas palavras de advogados, o publicitário vai "esmiuçar'' os sete itens do depoimento dado em setembro. O pivô do escândalo disse a interlocutores que pretende detalhar os fatos que compilou num documento e que envolveriam o ex-presidente.
                      -
                      Barrados Na semana passada, advogados do ex-presidente tentaram obter cópia do inquérito com a delegada Andréa Pinho, em Brasília, mas ela negou acesso.
                      Telegrama Aécio Neves faltou à solenidade em que Lula recebeu ontem o título de cidadão mineiro. O senador tucano enviou mensagem alegando compromissos previamente agendados e cumprimentou o ex-presidente.
                      Psicografia Na solenidade, petistas lembraram José Alencar em tempos de tensão pré-Copom. "Ele faz falta. Se estivesse aqui estaria xingando essa campanha pelo aumento dos juros", disse o deputado Rogério Correia.
                      Reação 1 De volta da Europa, Marina Silva comanda a partir de hoje maratona contra o projeto que restringe o acesso de novas siglas --como sua Rede-- a fundo partidário e tempo de TV. Deve ir ao Congresso para conversas com líderes partidários.
                      Reação 2 Na internet, marineiros tratarão a manobra como golpe e responsabilizarão a base governista pela ofensiva contra a candidatura presidencial da ex-ministra do Meio Ambiente.
                      Cicerone Depois de convidar Eduardo Campos (PSB) para seu tradicional cozido em Pernambuco, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) será anfitrião de jantar do governador pernambucano com dez senadores de quatro partidos hoje, em Brasília.
                      Linha dura 1 Pesquisas encomendas pelo Bandeirantes estimulam Geraldo Alckmin a seguir adiante na proposta de mudar o ECA, aumentando o rigor com menores infratores. De olho nas sondagens, que atestam respaldo popular à medida, o tucano insistirá no projeto.
                      Linha dura 2 Em 2004, Alckmin já havia levado à Câmara texto semelhante, elaborado pelo então secretário de Justiça, Alexandre de Moraes. Depois de acenos favoráveis dos deputados na ocasião, a iniciativa naufragou. De novo, as chances de sucesso são consideradas reduzidas pelos parlamentares.
                      Bipolar Cotado para o STF, Luiz Fachin aceitou convite do governador Beto Richa (PSDB) para integrar a Comissão da Verdade paranaense. Além do tucano, interlocutores do Judiciário afirmam que o jurista tem apoio da ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) para a vaga de Carlos Ayres Britto.
                      Visita Joaquim Barbosa irá nesta sexta-feira ao Rio Grande do Norte para discutir com a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) o sistema carcerário no Estado. A conversa será fruto do segundo mutirão realizado pelo Conselho Nacional de Justiça previsto para terminar em maio.
                      Baldeação Escanteado pelo governo paulista após a investigação da licitação da Linha 5-Lilás, Sérgio Avelleda assumirá a presidência do Metrô do Rio de Janeiro.
                      Reverência Fernando Haddad prometeu ontem à ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) implantar em São Paulo "sítios de memória", espaços de homenagem aos que lutaram na ditadura. O petista recebeu em seu gabinete familiares de desaparecidos políticos.
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                      TIROTEIO
                      "Não compartilhamos da visão do Aécio de que ser oposição é tirar férias. Trabalhamos muito tanto no governo quanto na oposição."
                      DO MINISTRO PAULO BERNARDO (COMUNICAÇÕES), sobre o pré-candidato do PSDB à Presidência ter dito que está na hora de a oposição dar férias'' ao PT.
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                      CONTRAPONTO
                      Esqueceram de mim
                      O governador Sérgio Cabral ficou ilhado na Associação Comercial do Rio, na semana passada, depois que o prefeito Eduardo Paes usou o único elevador para descer. Os repórteres aproveitaram para questioná-lo sobre irregularidades na licitação do Maracanã e a disputa eleitoral.
                      Cabral pediu ajuda a um segurança da entidade.
                      --Cada um aqui tem uma pauta. Mas, além da pauta do editor que pensa que manda neles, chegam com uma novidade --ironizou o governador, que é jornalista.
                      Salvo pelo elevador, que finalmente voltou ao 14º andar, deixou o local sem responder às perguntas.

                        Tereza Cruvinel - O novo partido no xadrez‏


                        Estado de Minas: 16/04/2013 

                        O novo partido que deve surgir amanhã, a partir da fusão do PPS com o PMN, pode tornar-se um importante player na eleição presidencial. A esperada filiação do ex-governador José Serra afetaria também o xadrez da política paulista

                        Dois pequenos partidos, o PPS, que tem 14 deputados, e o PMN, que tem apenas três, devem formalizar amanhã a fusão das legendas, criando um novo partido de tamanho médio que pode se transformar num player importante na eleição presidencial, favorecendo a candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. A nova sigla pode ainda produzir importantes alterações do xadrez da política paulista, afetando tanto os planos do PT como os do presidenciável tucano Aécio Neves.

                        A filiação do ex-ministro e ex-governador José Serra, do PSDB, à nova legenda, continua sendo esperada. Mas, ao contrário do que foi cogitado, não para concorrer à Presidência da República, mas ao Senado, embora o PSDB já lhe tenha oferecido a vaga. Nessa condição, ele se tornaria o polo agregador de apoios à candidatura de Campos, com quem se encontrou há pouco mais de um mês. Emprestaria ao socialista o recall eleitoral que ainda tem no estado e seu trânsito nas elites empresariais e intelectuais do estado mais rico e populoso, que pela primeira vez depois da redemocratização não tem candidato a presidente.

                        Outra articulação em marcha, envolvendo o novo partido, também terá impacto sobre os rumos da política de São Paulo. O PSB e a nova sigla se coligariam, no plano estadual, com o PSDB do governador Geraldo Alckmin, que disputará a reeleição. Seu candidato a vice seria o deputado socialista e arqueiro da candidatura Campos, Márcio França. Aécio, neste caso, teria que se contentar com um palanque de seu partido no estado.

                        Mas esses são movimentos que não serão revelados nem confirmados agora, quando o importante é dar à luz a nova sigla. Se depender do atual presidente do PPS, Roberto Freire, ela se chamará Partido da Esquerda Democrática. Há quem ache PED uma sigla muito feia. Além do mais, ela remete ao PT, onde designa o Processo de Eleições Diretas, o PED. Outros preferem Partido da Mobilização Democrática – PMD. Nome é importante, mas o essencial é garantir logo o registro da nova sigla, antes que os governistas consigam fechar a janela que, não impedindo sua criação, barraria a herança do capital que importa para Campos, o tempo de TV e os recursos do Fundo Partidário.

                        Nascendo com 17 deputados, a sigla ainda sem nome espera receber adesões de parlamentares em situação de desconforto partidário, chegando em breve as 35 cadeiras na Câmara. Como o PSB de Campos tem hoje 32 deputados, a coligação teria cerca de 70 deputados. Essa sim, já seria uma força nada desprezível na disputa. O PSDB, por exemplo, tem 49 deputados. Em coligação com o DEM, seu parceiro histórico, teria 77. Estariam se equivalendo no campo da oposição.

                        Vento de mudança

                        A vitória apertada do candidato chavista Nicolás Maduro na Venezuela anuncia não apenas tempos difíceis para seu governo, numa conjuntura econômica adversa. O placar de 50,66% a 49,07% é um indicador claro de que, sem Chávez, a divisão interna da Venezuela se aprofundou e o chavismo perdeu força, num movimento que pode ter reflexos na política da região, onde predominam há mais de 10 anos os governos de centro-esquerda…

                        Maduro não é Chávez, como dizia na campanha seu adversário Henrique Caprilles. Não tendo o carisma e a força do líder morto, falta-lhe também a estrutura de um partido popular suficientemente enraizado. Esta nunca foi uma prioridade de Chávez, que sempre se apoiou em duas siglas pouco estruturadas, o PSUV e o PCV, o que lhe rendeu muitas advertências de Lula. O pedido de recontagem de votos feito pela oposição e apoiado pela OEA e pelos Estados Unidos não deve ser acolhido pelo tribunal eleitoral venezuelano mas deixará a oposição armada com o discurso da suspeita de ilegitimidade.

                        A Constituição da Venezuela adotou o princípio do recall, ou referendo revogatório dos mandatos de todos cargos eletivos, no meio do período. Chávez os venceu sempre. Maduro, eleito por tão escassa maioria, enfrentando uma oposição fortalecida com a qual terá de negociar deve começar a se preparar para a batalha que enfrentará daqui a dois anos e meio.

                        No continente, o Paraguai deve eleger no domingo o candidato conservador Horacio Cartes, do Partido Colorado. O segundo colocado também é um liberal, Efrain Allegre. Embora a socialista Bachellet esteja liderando no Chile, o vento pode estar mudando na região. Há que se esperar, entretanto, o resultado das próximas eleições no Brasil e na Argentina.

                        CPI das gigantes

                        A oposição está incomodando o governo com a proposta de criação da CPI da Petrobras. Agora, o deputado governista Francisco Escórcio (PMDB-MA) colhe assinaturas para a criação da CPI da Vale do Rio Doce, que acusa de deixar um rastro de destruição social e ambiental nos estados onde atua, como no seu Maranhão.

                        INTOLERÂNCIA ACORRENTADA - Mateus Parreiras e Pedro Ferreira‏


                        INTOLERÂNCIA ACORRENTADA


                        Prisão de skinheads acusados de racismo e formação de quadrilha expõe rede de suspeitos de crimes de ódio relacionados à ideologia neonazista. Vítimas relatam as agressões em BH 


                        Mateus Parreiras e Pedro Ferreira

                        Estado de Minas: 16/04/2013 





                        Antônio Donato, que tem várias passagens policiais, foi preso ao desembarcar em Americana (SP) (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
                        Antônio Donato, que tem várias passagens policiais, foi preso ao desembarcar em Americana (SP)


                        As prisões em São Paulo e em Belo Horizonte, por racismo e formação de quadrilha, de três integrantes de uma gangue de skinheads que agia na capital mineira chamaram a atenção para uma situação ainda mais preocupante. Antes rivais, radicais paulistas e mineiros estão se aliando e podem intensificar suas ações. De acordo com a chefe da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) de São Paulo, Margarete Barreto, a mudança se deu quando o grupo ao qual é ligado Antônio Donato Baudson Peret, de 25 anos – detido no último domingo, em Americana (SP) –, assassinou um líder dos cabeças raspadas mineiros, o estudante de direito Bernardo Dayrell Pedroso, de 24, e sua namorada, de 21, em 2009, no Paraná, nas comemorações do aniversário de 120 anos do nascimento de Adolf Hitler.

                        Além de Donato – que causou revolta ao posar numa foto veiculada na internet estrangulando um homem negro, identificado como morador de rua, com uma corrente – foram presos, também no domingo, em Belo Horizonte, Marcus Vinícius Garcia Cunha, de 26, e João Matheus Vetter de Moura, de 20, que pertencem ao mesmo grupo skinhead na capital mineira. Uma quarta pessoa teve seu apartamento vasculhado pela polícia. Quatro suspeitos ainda são investigados.


                        A prisão de Donato em Americana foi feita pela Delegacia Especializada de Investigações de Crimes Cibernéticos (DEICC), de BH, e pela Guarda Municipal do município paulista. Donato foi detido no momento em que o ônibus de viagem em que estava chegou da capital, São Paulo, à rodoviária da cidade do interior paulista. O suspeito não reagiu à prisão, mas com ele foram encontradas um faca de cozinha, uma faca tática, um facão tipo machete e um soco inglês. A Polícia Civil de Minas Gerais informou que vai apresentar os suspeitos hoje.

                         

                        Apesar de estar sendo investigado por racismo e formação de quadrilha, Donato parece ser ainda mais perigoso do que essas acusações indicam. Só em Minas, segundo o Estado de Minas apurou junto à Polícia Militar, o rapaz se envolveu em pelo menos dez ocorrências, entre embriaguez ao volante, agressão, lesão corporal e ameaça. No estado, ele responde ainda a três processos por agredir homossexuais. Em São Paulo, são duas ocorrências por lesão corporal.
                        Um dos parceiros contumazes de Donato em São Paulo, segundo a Delegacia de Crimes Raciais, é Artur Ruda Gomes Fonseca, de 20. Os dois chegaram a ser presos no estado, em 2011, depois de terem agredido um grupo de 11 skatistas na Avenida Paulista, nos Jardins.

                        Clima de alívio na Região da Savassi


                        A prisão dos três rapazes que se identificam como skinheads, no domingo, sob a acusação de racismo e formação de quadrilha, trouxe alívio para as vítimas das agressões cometidas e para comerciantes da Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ferido a golpes de soco inglês no rosto quando tinha apenas 16 anos, o estudante A.A.M.C., hoje com 18, comemora a prisão de seu agressor, Antônio Donato Peret. “Sinto-me aliviado ao saber que não tem um cidadão como esse circulando mais pelas ruas da cidade. Tenho pena dele, pela cabeça que ele tem. ”

                        O estudante não consegue esquecer os momentos de terror que viveu ao ser atacado por Antônio Donato e outros três homens na Avenida Getúlio Vargas com Rua Tomé de Souza, na Savassi. “Fiquei completamente sem entender. Eram umas 21h e eu tinha saído de um shopping para encontrar amigos na Savassi. Alguém bateu no meu ombro e quando virei começaram a me agredir. Fiquei em choque”, conta. Para ele, Antônio Donato não tem condições de viver em sociedade.

                        A mãe do jovem, que é enfermeira, ficou impressionada com a violência do ataque. “Meu filho sofreu um ferimento na boca e levou oito pontos.” Ela espera que os suspeitos continuem presos. “São extremamente violentos, deram vários socos no estômago do meu filho e o chutaram.” O dono de um bar da Tomé de Souza chamou a polícia e os agressores foram presos.
                        Ex-colegas de trabalho de outro dos presos no domingo, Marcus Cunha, ficaram surpresos com a notícia de que ele estaria envolvido em um grupo neonazista. Marcos já trabalhou como coordenador de atendimento em um dos restaurantes mais tradicionais de Belo Horizonte, na Pampulha. “Estou perplexo com o que fiquei sabendo dele. Ele nunca deixou transparecer nada sobre esse seu comportamento no ambiente de trabalho”, disse o gerente operacional da casa, Ronaldo Costa.

                        Ronaldo conta que Marcus Cunha passou por avaliação psicológica antes de ser contratado, e que comandava uma equipe de 20 garçons e que o relacionamento entre eles era bom. “Ele pediu demissão por ter recebido uma oferta de trabalho melhor”, disse o gerente operacional.

                        Cansados de acompanhar a violência praticada por Antônio Donato e seu grupo contra gays, negros, moradores de rua e hippies, comerciantes da Savassi comemoraram a prisão de três dos acusados dos crimes. “Com eles presos, a Savassi vai ficar mais segura e tranquila. Antônio Donato sempre estava no meio da confusão”, disse o dono de um bar.

                        Confira como surgiu e a trajetória do movimento skinhead até sua propagação em BH


                        Publicação: 16/04/2013 06:00 Atualização: 16/04/2013 07:11
                        Origem
                         Surgiu na década de 1960, em Londres, entre jovens brancos e negros (jamaicanos) insatisfeitos com a falta de oportunidades econômicas e reunidos pela música (ska, reggae, rude boys, entre outros). Contemporâneos dos hooligans, protagonizaram brigas em estádios de futebol. Por manterem a cabeça completamente raspada, foram apelidados pela imprensa de skinheads (cabeças peladas). O visual com botas tipo coturno e suspensórios tem origem nessa época. No fim da década de 1970, o movimento punk entrou em declínio e engrossou as fileiras de skinheads na Europa e Estados Unidos

                        No Brasil

                        Surgiu na década de 1980, em São Paulo, com o movimento Carecas do Subúrbio, formado por negros e mulatos suburbanos. A falta de perspectivas econômicas impulsionou o estilo como forma de protesto. Na década de 1990, a imigração em massa somada à falta de oportunidades levou o movimento a posturas racistas contra negros, nordestinos e judeus. Paradoxalmente à violência e à intolerância, os grupos tentam se autoafirmar como trabalhadores e pessoas não drogadas ou ociosas. Conflitos com hippies e punks tiveram início, em uma manifestação de intolerância com a anarquia e o aspecto considerado desleixado dos componentes desses movimentos

                        Na década de 2000, aproveitando a difusão permitida pela internet, grupos skinhead nacionalistas e neonazistas propagaram suas ideias e ganharam adeptos. Houve tentativas de se infiltrar em meios políticos em São Paulo e em Santa Catarina. Dissidências, no entanto, não permitiram essa articulação. Em 2009, um estudante mineiro que estava à frente de uma das vertentes foi assassinado com a namorada, em Quatro Barras (PR), por rivais paulistas. De 2010 a 2013, braços mais agressivos de skinheads passaram a agir com maior frequencia contra punks, nordestinos e homossexuais. Em São Paulo eram frequentes os ataques no metrô, em praças e até na Parada do Orgulho Gay. Outras cidades também registraarm agressões, fizeram prisões e apreenderam material de inspiração neonazista

                        Ataques em Belo Horizonte
                        Em Março de 2013, foto do que seria um morador de rua sendo estrangulado com uma corrente por Antônio Donato (foto) circula nas redes sociais. No mesmo mês, fotos de trote com cenas de inspiração racista e de nazista na Faculdade de Direito da UFMG postadas nas redes sociais causam revolta

                        Em 27 de outubro de 2012, um jornalista de 33 anos e um amigo, de 29, são espancados por uma dupla de skinheads na Praça da Savassi

                        Em 7 de setembro de 2011, Antônio Donato e um adolescente de 17 anos espancam com chutes e soco inglês um casal homossexual na Praça da Liberdade. Os dois são presos e a segurança noturna é reforçada no local

                        Em 15 de abril de 2011, o grupo de Antônio é preso por espancar com socos e chutes um adolescente de 16 anos, na Savassi

                        Em 5 de janeiro de 2009, homossexual de 19 anos é espancado na Savassi. O grupo de Antônio Donato é suspeito de ter atacado a vítima

                        ESCALA DO ÓDIO

                        Com a facilidade de propagação de informações via internet, páginas, sites e fóruns relacionados ao neonazismo passam de 2 milhões no país. Donwloads crescem 400%
                        Alessandra Mello
                        Publicação: 16/04/2013 04:00

                        Foto em uma rede social mostra grupo neonazista exibindo colete de um  'adversário'. Um dos comentários diz que dono da peça teve braço quebrado (Fotos: Facebook/Reprodução da internet)
                        Foto em uma rede social mostra grupo neonazista exibindo colete de um 'adversário'. Um dos comentários diz que dono da peça teve braço quebrado


                        Negros, gays, judeus e nordestinos são as principais vítimas dos crimes de ódio que crescem no Brasil, sob as vistas grossas das autoridades e da sociedade civil, que muitas vezes tende a encarar manifestações de preconceito como liberdade de expressão ou atos de desequilibrados. No entanto, com a multiplicação do acesso à internet, a difusão de manifestações contra esses grupos ganharam terreno fértil. Desde 2002, a antropóloga Adriana Dias, professora da Universidade de Campinas (Unicamp), estuda a atuação dos grupos neonazistas no Brasil, que perseguem suas vítimas na web, principalmente nas redes sociais.

                        Segundo ela – que durante anos se infiltrou em grupos neonazistas –, em 2002, quando começou sua pesquisa sobre o assunto, havia cerca de 7 mil páginas de internet com conteúdo neonazista no Brasil. Em 2011, data do ultimo levantamento, já eram cerca de 40 mil. A antropóloga afirma que esses endereços estão associados a cerca de 2 milhões de páginas secundárias e fóruns de discussão de ultradireita. Os simpatizantes dessas teorias chegaram a criar um rede social própria, “uma espécie de Facebook nazista”, conta ela, e um canal exclusivo de vídeos na web. “Mas o mais impressionante nesse período foi o aumento do dowload de material de cunho nazista.”

                        De acordo com a professora, a atividade cresceu cerca de 400% no Brasil de 2002 a 2011. Adriana Dias diz que seu monitarmento da baixa de arquivos de conetúdo nazi-fascista contabiliza apenas quem baixou pelo menos 100 arquivos sobre o assunto. Ela alerta para a disseminação dessas ideologias no Brasil. Do Rio Grande do Sul, segundo a especialista, vinha a maioria absoluta do conteúdo neonazista produzido no país, mas nos últimos anos esses movimento têm crescido vertiginosamente em Minas Gerais, no Distrito Federal e em São Paulo.

                        Também tem aumentado no país o número de denúncias de material preconceituoso e racista na internet. A organização não governamental Safernet Brasil, que monitora e denuncia crimes e violações aos direitos humanos na internet desde 2005, confirma o aumento desses casos. Em 2006, quando a ONG começou a contabilizá-los, foram 11.444 casos de denúncias de conteúdo ofensivo com cunho homofóbico, xenófobo, racista, nazista e de intolerância religiosa. No ano passado, o número passou para 21.033 casos, um aumento de cerca de 45%. Somente sobre neonazismo foram 222.785 denúncias anônimas, envolvendo 21 mil sites.

                        “Temos constatado um crescimento expressivo dos crimes de ódio, não só nas redes sociais, contra as minorias historicamente discriminadas. Tem aumentado também o número de células organizadas que propagam esses ideais”, alerta Thiago Tavares, diretor-presidente da Safernet Brasil. A maioria do material alvo de denúncias, segundo ele, vem do Sul e do Sudeste do Brasil, principalmente de São Paulo, onde a atuação dos skinheads (cabeças raspadas, em inglês) – como se autoproclamam os simpatizantes do nacional-socialismo difundido por Adolf Hitler – é mais organizada.

                        Mensagem de cunho racista pichada em muro da Zona Norte de BH ( Facebook/Reprodução da internet)



                        Rastreamento após mortes em Curitiba

                        O pico das denúncias no Brasil sobre conteúdo neonazista na internet ocorreu em 2009, quando foram registrados 4.176 casos. Foi naquele ano que a Federação Israelita de Minas Gerais começou a monitorar crimes de ódios no estado. Tudo por causa do assassinato de um casal de universitários de BH em uma festa na Região Metropolitana de Curitiba que comemorava o aniversário de Hitler. Eles teriam sido mortos em uma disputa de poder entre grupos neonazistas extremamente organizados.

                        Naquele mesmo ano, a Polícia Federal apreendeu material de cunho nazista em grande operação contra um grupo radical acusado de disseminar teorias racistas na Região Metropolitana de BH. A PF chegou ao grupo graças a denúncias de internautas que encontraram perfis e comunidades nazistas no site Orkut. Também em 2009, a Federação Israelista mineira foi alvo de um ataque com bombas e muros foram pichados com citações contra judeus.

                        No ano passado a Biblioteca Pública, na Praça da Liberdade, foi pichada com a suástica e com sinais característicos de grupos skinheads, notórios simpatizantes e divulgadores da ideologia do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Um muro perto da Estação São Gabriel, Zona Norte da capital mineira, também foi pichado com a frase “Vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas” e uma suástica.
                        Duas pessoas de BH foram denunciadas pelo Ministério Público Federal em Minas, em 2010 e no ano passado, por distribuição de material com apologia ao nazismo. Recentemente, mais casos foram registrados, como o trote com referências racistas e nazistas na Universidade Federal de Minas Gerais e o ataque de skinheads a gays e moradores de rua em Belo Horizonte.

                        O diretor-executivo da Federação Israelita mineira , Jaime Aronis, se diz alarmado com o que ele chama de escalada de crimes de ódio no Brasil e em Minas. Para ele, as autoridades ainda são muito tímidas na repressão a essas práticas. Aronis alega que esse aumento não ocorre apenas no país, mas no mundo todo. “É difícil entender porque isso acontece. Afinal, somos todos seres humanos.”

                        Saiba mais

                        Símbolos e
                        códigos nazistas


                        Os símbolos nazistas são proibidos no Brasil e em várias partes do mundo. Para burlar essa probição, grupos neonazistas criaram outras forma de identificação, como a combinação numérica 14/88. O número 14 refere-se às 14 palavras de um frase em inglês: “We must secure the existence of our people and a future for white children”, que em português significa “Devemos assegurar a existência de nosso povo e um futuro para as crianças brancas". Já o 88 é uma referência à oitava letra do alfabeto, o H, que duplicado representa a saudação nazista “Heil Hitler”. A pichação na Biblioteca Pública de Belo Horizonte, feita ano passado, continha esse símbolo. Parte do slogan das 14 palavras foi pichado em um muro no Bairro São Gabriel, na capital mineira, também no ano passado.


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