quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Lavras - Eduardo Almeida Reis

E queria me levar para sua cidade, aos beijos e abraços, no belo carro em que viajava com o maridão


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 19/02/2015




A PM de Lavras recebeu um drone de R$ 8 mil para tristeza de dois irmãos da sociedade lavrense, um advogado e um nutricionista, que plantavam alguns pés de maconha nos vasos dispostos ao lado da piscina de sua casa. Presos, fotografados, expostos à execração pública, foram chamados de traficantes, perdão, suspeitos de traficar, quando na verdade são canabiscultores comercializando sua produção no mercado.

Tenho pela cidade sul-mineira o maior apreço e a lembrança de um pileque antológico, digno de figurar no Guinness dos recordes. Hospedei-me na casa de um amigo para festejar a formatura de dois dos seus filhos na Universidade Federal de Lavras, “Cidade dos Ipês e das Escolas”. Bem de vida, o saudoso amigo entupiu uma das geladeiras com 48 garrafas de champanhe Veuve Clicquot brut para o almoço do dia seguinte. Claro que não fui à festa de formatura, que terminou alta madrugada: fiquei dormindo. Manhã seguinte já estava na cozinha, barba feita e banho tomado, caçando jeito de preparar o meu café.

Na geladeira vejo aquele monte de garrafas deitadinhas, geladinhas, e desando a philosophar. Se estou aqui é porque sou amigo do dono da casa. Tive um avô, que não conheci pessoalmente, alemão de 1,90m conhecido pelo hábito de tomar champanhe desde cedo no período em que andou bem de vida. É justo que o neto imite o alemão para saber de onde vem a quarta parte dos seus genes.

Procurei uma flute, que não sou homem de beber champanhe em copo comum, lavei-a bem lavada e fui à luta. Um segundo hóspede, senhora paulista, casada, “dona” de uma das melhores cidades do interior de São Paulo, quando chegou à cozinha já me encontrou terminando a primeira bouteille e aderiu à ideia genial. Resumindo, por volta das 11 horas já não havia uma garrafa de Veuve Clicquot na geladeira.

Passamos para os vinhos tintos e o pileque coletivo merecia o Guinness. Durante o almoço, um médico amigo comentou: “Eduardo, esta mulher está de olho em você”. Estava. E queria me levar para sua cidade, aos beijos e abraços, no belo carro em que viajava com o maridão.

Explico. Seu marido era sócio do então governador de São Paulo, falava sem parar e monopolizava as atenções do pessoal sentado à mesa, enquanto o philosopho conversava com a milionária sem ouvir uma palavra do que ela dizia, tamanha a barulheira. Isto é, olhava para ela e fingia conversar. Casada com o tal sujeito falante, que lhe cobrava 10% para administrar os bens da família, não creio que a paulista tenha tido a oportunidade de conversar com ele. Abriu-se comigo, não escutei uma palavra, e se apaixonou. Beijou-me e beijei-a com sofreguidão, mas voltei para casa porque sou burro e muito ajuizado.

Síntese
Paulistano brilhante, o jornalista William Waack escreve muito bem e tem admirável poder de síntese. No programa Painel, da GloboNews, entrevista cidadãos sobre assuntos complicadíssimos, os entrevistados dão explicações complicadas em blocos de alguns minutos e Waack, de bate-pronto, sintetiza a explicação em duas fases: “Você quis dizer isto”.

Nas redes sociais ou lá no que isto signifique, Waack tem sido acusado de dar “patadas” em alguns colegas de trabalho, coices mais que justificados quando se sabe que os seus colegas continuam chamando de suspeitos cavalheiros vistos, filmados e fotografados praticando crimes. Foi o que ocorreu com aquele palestino que esfaqueou 12 pessoas num ônibus em Israel. O palestino foi visto esfaqueando por um policial, que atirou no “suspeito” atingindo-o numa perna.

Volto ao Waack para dizer que invejo suas sínteses. Ontem à noite, na tevê, um economista explicou que os juros altos reduzem e acabam com a inflação. Como? Havia na tela um quadro com uma porção de geladeiras. Juros altos desanimam compradores de geladeiras. Sem compradores, as geladeiras baixam de preço. Pronto: acabou a inflação. Simples, né?

O mundo é uma bola

19 de fevereiro de 197: início da Batalha de Lugduno entre as forças do imperador romano Septímio Severo e do usurpador Clódio Albino. Você talvez tenha ouvido referência à Batalha de Lyon, porque Lugduno era Lyon na França. Com a vitória, Severo passou a ser o único imperador do Império Romano. Essa batalha foi considerada a maior, a mais renhida e sangrenta de todos os confrontos entre os romanos. O historiador Dião Cássio falou em 300 mil envolvidos, número contestado por outros estudiosos, porque em 197 representaria três quartos de todos os soldados do Império Romano. É amplamente aceito que o número de soldados e pessoal de apoio tenha ultrapassado os 100 mil, podendo chegar a 150 mil, gente pra chuchu naquele tempo.

Em Portugal, no dia 19 de fevereiro de 1766, começou a funcionar o Colégio dos Nobres, criado por carta régia em março de 1761. Oficialmente Real Colégio dos Nobres era reservado aos moços fidalgos portugueses entre os 7 e os 13 anos de idade, e o seu corpo docente era constituído, em sua quase totalidade, por mestres estrangeiros. Extinto em 1837, em suas instalações funciona hoje a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Hoje é o Dia do Desportista.

Ruminanças

“Devemos estudar e aprender durante toda a vida, sem imaginar que a sabedoria vem com a velhice” (Platão, 428-348 a.C.).