sábado, 20 de outubro de 2012

Direito, o jovem confuso


WALTER CENEVIVA


Ainda estamos longe do enunciado e da interpretação uniforme das regras jurídicas



DE TEMPOS em tempos crescem as reclamações contra a aplicação oficial do Direito. Apontam defeitos nas interpretações conflitantes, criadas para cada item de ajuste do caso concreto aos percalços da lei. O mensalão está aí para estimular a discussão.
Não existem, na arte/ciência jurídica, informações sobre toda sua evolução. Tomando arbitrariamente o Código de Hamurabi, editado ao redor de 1760 a.C., é possível dizer que, nos milhões de anos do planeta Terra, foi a primeira formulação ordenada do Direito. A iniciativa de Hamurabi, nascido por volta de 1792 a.C. e falecido em 1750 a.C., sexto soberano da Babilônia, há uns 38 séculos, é quase nada na longa vida do planeta. É muito tempo na aventura do Direito. Apesar disso, estamos longe do enunciado e da interpretação uniforme das regras jurídicas. Continuam parecendo confusas para a maioria dos povos, inclusive o nosso.
A dificuldade seria maior se pudéssemos ir mais longe na carreira dos ancestrais humanos, de quando o primeiro deles se sustentou em pé. Pensando na maçã terrestre, a pobreza de dados concretos é grave no hemisfério norte. É imensa, descomunal, ao sul. Entre as poucas informações chegadas aos nossos dias, há segmentos esparsos, colhidos no Egito, também anteriores à era cristã. Viemos todos da civilização composta ao norte da linha do Equador, na Europa e na Ásia. Os informes disponíveis não definem nem mesmo toda a estrutura e organização social egípcia, embora seja a que deixou maior número de sinais, sob controle dos faraós.
Abaixo do Equador foi pior. Há menos de 600 anos, porém, a "civilização" da metade norte avançou para o segmento meridional da Terra. Tribos da América do Sul, habitantes espalhados por ilhas e terras do oceano Pacífico, da Austrália e, genericamente, abaixo do trópico de Capricórnio foram "civilizados" ou mortos pelos dominadores.
O Direito no Código de Hamurabi continha normas sobre a família, a propriedade, a criminalidade, os crimes e suas penas, sendo frequente a de morte. No Oriente Médio brotaram mecanismos da ordem constituída de hoje. No Egito, acima da horda de escravos, havia os primeiros mecanismos dessa estruturação sugerida na Pedra de Roseta. Recebeu inscrições (decifradas por Champolion) nesse sentido, mas apenas de 200 a 150 anos antes de Cristo. Não é exagerado dizer que naquele tempo o direito privilegiava os soberanos e suas famílias, os religiosos e os militares, todos integrados à estrutura de mando. A grande massa do povo tinha poucos direitos, sendo a escravatura absolutamente aceita em todos os povos.
Parece razoável admitir que o salto do homem das cavernas para os antecedentes imediatos do Homo sapiens, até o Direito conforme o conhecemos, talvez tenha 5.000 anos. É um nada, ou quase nada, na comparação entre a Idade da Pedra e o restrito tempo em que o Direito foi apresentado à maioria dos seres humanos. Pense o leitor que o Brasil não tem nem dois séculos como país independente. É mais um dado a sugerir que, embora pareça estranho, na curta vida do Direito não se possa exigir mais clareza nas muitas vias de sua interpretação. Trata-se de jovem muito confuso.


Sintonia entre direção e texto é diferencial de 'Avenida Brasil'


OPINIÃO

Sintonia entre direção e texto é diferencial de 'Avenida Brasil'

MARIA CARMEM JACOB DE SOUZA

ESPECIAL PARA A FOLHA

Costuma-se dizer que somos uma nação de 190 milhões de técnicos de futebol e roteiristas de telenovelas.
Mas, muitas vezes, falta a esses milhões de apreciadores de novelas que somos a real percepção do que está por trás de um bom folhetim, aqueles guardados em nossa memória como os especiais, os inesquecíveis.
Pois bem, estes são, em geral, fruto de um encontro misterioso e bem sucedido entre os responsáveis pela sua criação. Os realizadores de ficção audiovisual, tão valorizados no cinema, podem passar despercebidos aos consumidores de telenovelas.
No entanto, é a conjugação, cada vez mais cuidadosa e eficiente, das parcerias entre o roteirista titular (e sua equipe) -que são vulgarmente chamados "o autor"- e os diretores (o de núcleo, o geral e sua equipe) que nos garante a novela amada.
São estas parcerias que estabelecem a perspectiva estética da história a ser contada e que convocam os profissionais que estarão em condições de conduzi-la: atores, direção de fotografia, produção de arte e tantos outros que juntos fazem parte da confecção dos folhetins.
São muitos meses de trabalho em condições desafiadoras onde a qualidade desse time faz a diferença.
No sistema altamente complexo da fabricação de uma novela, é cada vez mais evidente o lugar peculiar dos diretores, que, ao conduzirem com maestria os elementos cênicos e visuais, transformam a boa história contada numa instigante experiência sensorial para o espectador.
Nos anos 1990, entrou em cena um rol especial de diretores-gerais que estavam sendo formados nas emissoras. No caso da Globo, Jayme Monjardim, Dennis Carvalho, Luiz Fernando Carvalho, Jorge Fernando, Denise Saraceni e Ricardo Waddington.
Hoje temos como responsáveis pela encenação das tramas uma nova geração que foi sendo formada por esse primeiro time.
Está aqui uma das marcas memoráveis que "Avenida Brasil", que terminou ontem, vai deixar.
A direção de núcleo que acompanhou João Emanuel Carneiro em "A Favorita" (2008) trouxe novamente a marca de Ricardo Waddington e a direção-geral de Amora Mautner e de José Luiz Villamarin.
Mautner vem de recente trabalho memorável na novela "Cordel Encantado" (2011).
Villamarin já trabalhou em mais de uma dezena de folhetins e minisséries e na êxitosa série "Força-Tarefa".
"Avenida Brasil", mais uma vez, consolida na historia da telenovela brasileira o lugar especial da direção e reafirma que a encenação é também autoral.
Muitos momentos excepcionais foram oferecidos.
A cena inaugural dos primeiros minutos que apresentaram o Divino, bairro fictício na zona norte do Rio, onde se passou a trama, no primeiro capitulo (que é sempre decisivo), por exemplo.
A primeira semana que coloca na ribalta as personagens Carmem Lúcia, Max, Rita e o universo do lixão, deixando a certeza de que nos meses seguintes os momentos seriam de arrebatamento total.
Muito mais pode ser dito. Fica-se com a certeza que "Avenida Brasil" perpetuou uma coleção vasta de excelentes momentos da teledramaturgia nacional.

MARIA CARMEM JACOB DE SOUZA é doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP, professora da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e líder do grupo de pesquisa A-tevê - Análise da Teleficção

Leia artigo do estudioso Claudino Mayer em

A exclusão do negro e a negação das raças


JOSÉ VICENTE

TENDÊNCIAS/DEBATES

Devem ser criadas cotas para negros também no serviço público?

SIM

A exclusão do negro e a negação das raças

O regime escravocrata criou um sistema para se justificar que era político, psicológico e simbólico. Ele naturalizava a desumanização e a demonização do negro.
A finalidade era garantir a segurança do regime, os lucros da acumulação, o usufruto dos privilégios e as vantagens sociais para os membros do "establishment", ou seja, o senhor branco e sua parentela.
A república instalada um ano depois da abolição não arrefeceu e não modificou, como não podia fazer, a mentalidade e a prática escravagista do senhor e do escravo.
Pelo contrário, ela reproduziu a presença do senhor branco como superior e depositário natural dos privilégios dos cargos e empregos públicos. Ela excluiu o negro, ex-escravo e inferior, da legitimidade e da possibilidade de participação na gestão e no acesso à burocracia estatal, apesar de politicamente serem os cidadãos iguais em direitos.
Enquanto o Estado se recolheu na ambiguidade da neutralidade, a elite republicana preferiu o silêncio perante o Apartheid social.
Quando não pôde calar, como na substituição da mão de obra negra pelo imigrante, tentou negar que o racismo e a discriminação contra os negros constituíam um projeto de poder e manutenção de privilégios, justamente porque éramos uma democracia racial forjada na mistura tripartida e generosa de raças.
Diante dos incontroversos indicadores sociais, negando a existência das raças, essa elite esgrimiu as desigualdades raciais como fato socioeconômico, subordinando a sua resolução exclusivamente às políticas universalistas. O acesso às oportunidades e a distribuição de vantagens deveriam ser igualizadas somente pelo mérito puro, fossem as pessoas em questão iguais ou desiguais.
Os concursos públicos envolvem testes de conhecimento linear adquirido através de preparação intensiva, à custa de pesados investimentos financeiros. As graves distorções e desigualdades sociais, econômicas, raciais e educacionais que atingem os mais pobres -70% são negros- tornam impossível uma disputa justa para o emprego público de prestígio e status relevantes.
Isso aprofunda a exclusão entre grupos e pereniza a presença dos negros no baixo escalão. O resultado é a concentração de renda em um só grupo, pervertendo os fundamentos de mobilidade e justiça social.
Justamente por isso, o emprego público relevante se tornou prisioneiro de grupos sociais fechados, tenha isso acontecido de maneira intencional ou involuntariamente.
Ele acabou dominado por um grupo com uma produção e reprodução de valores, trajetórias, históricos, estéticas e códigos de relacionamento totalmente apartados da miscigenação, sem representar os negros do país.
Acresça-se o fato de que o mérito do conhecimento e habilidade é só um lado da questão. Isso não explica o grande número de cargos comissionados sem provas ou títulos que, da mesma forma, não expressam nem contemplam nossa diversidade racial.
Por isso, são indispensáveis as cotas nos concursos públicos, principalmente naqueles de mais prestígio e remuneração, imprescindíveis para o desenvolvimento do Brasil.
Além de colocar o Estado intencionalmente ao lado dos mais desfavorecidos, elas permitirão introduzir um mecanismo de equilíbrio na distribuição das oportunidades e na expansão dos talentos individuais.
Trata-se de um verdadeiro choque de gestão para combater decisiva e corajosamente as desigualdades raciais, igualizar na partida os desiguais e promover justiça, democracia, valorização e reconhecimento da contribuição dos negros na construção, enriquecimento e grandeza do nosso país.

JOSÉ VICENTE, 53, advogado e doutor em educação pela Universidade Metodista de Piracicaba, é reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

NÃO

Legislação racial sempre tem frutos funestos
Cotas raciais, em minha opinião, são ilegítimas. A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial é uma instituição que desequilibra os princípios democráticos por entronizar a "raça", quando a única maneira de enfrentar o racismo e combatê-lo é destruir a própria ideia de "raça". Continuo advogando que o país é feito de cidadãos com direitos universais sem distinção de "raça", credo, condição social e demais atributos especificados na Constituição de 1988.
Em 2012 o STF decidiu, por unanimidade, a constitucionalidade das cotas raciais. Depois desta resolução, abriu-se a porta para que o país instituísse a "raça" como critério de distribuição de justiça.
O Congresso Nacional aprovou o Estatuto da Igualdade Racial, com a aquiescência de todos os partidos. Este, ao lado da decisão do STF, foi o passo mais radical no sentido de mudar o estatuto legal da nação. Determinaram-se aí cotas raciais em todas as esferas da vida dos cidadãos, que agora são definidos por sua "raça" com direitos diferenciados. Não somos mais brasileiros, legalmente somos negros, brancos ou indígenas.
Seguindo os ditames do Estatuto Racial, além da obrigatoriedade das cotas no ensino superior para egressos de escolas públicas com renda inferior a um salário mínimo e meio per capita e para pretos, pardos e indígenas, o governo anuncia que instituirá cotas raciais no serviço público federal, inclusive em cargos comissionados.
Quer, ainda, obrigar empresas privadas a adotarem essa política. É absolutamente transparente a intenção de afastar-se dos consagrados princípios universais que regulam a vida das nações.
Se já é triste ver o país caminhar para a racialização das políticas para o ensino superior, mais triste ainda será ver o povo brasileiro ter de lutar por vagas no mercado de trabalho segundo esse critério.
Em nome da luta contra o racismo, estão produzindo uma política de alto risco porque, historicamente, todas as vezes que um Estado legislou com base na "raça", as consequências foram funestas.
O mais estranho de tudo é saber que os EUA -que em muito influenciaram as políticas raciais aqui adotadas- se afastam cada vez mais da preferência racial na adoção de políticas públicas e enfatizam o critério social ou de classe.
Como noticiou o "The New York Times" do dia 13 de outubro, os juízes da Corte Suprema americana estão repensando a constitucionalidade das ações afirmativas.
No caso da estudante Abigail Fisher, que alega ter sido prejudicada no acesso a uma vaga na Universidade do Texas por ser branca, o argumento de seus opositores não é mais a justiça -ou seja, o tratamento desigual para aqueles que tiveram seus direitos negados por tanto tempo (os afro-americanos), pedra fundamental da política de ação afirmativa nos EUA. Passados quase 50 anos da instituição das ações afirmativas, a alegação passou a ser a necessidade de intensificar a diversidade nas salas de aula.
Porém, segundo os juízes da Corte Suprema, a verdade é que as ações afirmativas beneficiaram os mais ricos entre os afro-americanos, em detrimento dos pobres tanto brancos quanto negros. Para os juízes, elas contribuíram para o aprofundamento da separação entre os grupos de diferentes "raças", legalmente definidos em função delas.
Por isso, a Suprema Corte americana caminha para adotar critérios de classe no combate às injustiças, e não critérios raciais.
O Brasil, cego ao debate internacional, marcha célere no sentido inverso, criando leis que dividem os brasileiros. Leis que, em vez de erigir pontes e aproximar as pessoas, trazem no seu bojo o ovo da serpente da discórdia, da luta entre aqueles que se pensavam iguais.

YVONNE MAGGIE, 68, doutora em antropologia social pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é professora titular da mesma instituição
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


Marina Lima


"Voz por voz não me interessa"

Em livro de memórias e divagações, cantora Marina Lima fala de música, crises e desejos

SILAS MARTÍ

DE SÃO PAULO

"Teria que ser com alguém que saberia compreender o meu temperamento esquisito, a minha maneira difícil de ser." Marina Lima escreveu esses versos na primeira canção que assinou, "Maneira de Ser", em 1979. Agora, mais de três décadas depois, ela escolheu o nome dessa música para batizar seu primeiro livro.
"Não é uma biografia, é um livro que lida com assuntos que me tornaram o que sou hoje", diz Marina, 57, à Folha. "Isso é o que eu trouxe comigo, é o que permaneceu. Não sou apegada ao passado, vou jogando tudo fora, e isso é o que ficou, o essencial."
Essencial ou não, Marina fala de música, qualidade do ar em São Paulo, seus animais de estimação, seu apoio à legalização da maconha, a união de pessoas do mesmo sexo, a classe média do Brasil de Lula e Dilma, amigos que nunca saem de perto.
Desde que se mudou para a capital paulista há três anos, cansada da "bela vista" do Rio, ela diz ter ficado mais quieta, longe das festas e do mar, mergulhada na seleção de textos e nos escritos para o livro que lança agora.
Foi um tempo que casou com silêncio. Da "voz do Brasil dos anos 80" ou "esfinge cool e suingante", como críticos já a descreveram, Marina está hoje na sua, distante dos holofotes, focada na rotina de exercícios no Ibirapuera e concentrada em estudos compenetrados de timbres e frequências sonoras para seu novo disco, que deve sair só no ano que vem.
"São Paulo me dá a sensação de que eu tenho tudo aos meus pés", diz a cantora. "Aqui eu pude olhar para dentro de mim e posso falar sobre isso sem tanta distração, sem tanta coisa que possa me embriagar. Gosto de estar aqui, é quase como morar no estrangeiro, só que sempre falando a mesma língua."
Essa língua franca parece ser algo encontrado agora. Do hiato na carreira, problemas com a voz e turnês canceladas, ela fala com parcimônia. Durante a entrevista, escolhe a dedo metáforas para explicar o que a levou à reclusão no fim da última década.

A SEREIA E O LÁPIS

"O canto é uma coisa que hipnotiza. Ulisses, um grande guerreiro, podia ter morrido pelo canto de uma sereia", diz Marina. "Eu quis ser sereia e ouvinte, eu quebrei o lápis, e o lápis era eu. Não vale seduzir por seduzir, tem gente com uma voz linda e que não diz nada. Voz por voz não é algo que me interessa."
Entre nomes com lindas vozes que, para ela, dizem algo, estão Billie Holiday (1915-59), Elis Regina (1945-82), Maria Bethânia e, agora, Ivete Sangalo. No livro, não economiza elogios à cantora baiana -"sinto a dignidade e a verdade dela, porque ela não está cantando para seduzir".
Marina, aliás, não quer estar mais nesse lugar da sedução. Diz que não voltaria à cena dos grandes shows e turnês se tivesse que "mexer em pilares essenciais". "Minha função agora é passar adiante as coisas que eu percebo, importantes para traduzir o momento que a gente vive."
E essa tradução não virá pela música. Marina, que se diz "enlouquecida pelo ouvido", nega que esteja pensando em desistir da música, mas confessa que o livro "abre uma janela" e que escrever um blog tem sido seu canal de expressão mais forte.
Tem a ver com sua ideia de paraíso. Nas suas palavras, esse seria uma "ilha com sombra e frio (às vezes), ondas, internet e som (às vezes), e uma gente que eu adore".

MANEIRA DE SER
AUTOR Marina Lima
EDITORA Língua Geral
QUANTO R$ 53 (232 págs.)

Televisão - Outro Canal - Keila Jimenez


TELEVISÃO - OUTRO CANAL

KEILA JIMENEZ

keila.jimenez@grupofolha.com.br / folha.com/outrocanal

Produtores brasileiros miram parceiros internacionais

A Associação Brasileira de Produtores Independentes de TV (ABPTIV) já estabeleceu novos alvos internacionais para as suas coproduções audiovisuais.
As negociações, que evoluíram muito na última Mipcom, feira internacional de audiovisual, realizada em Cannes, no início do mês, serviram para o grupo estabelecer um ranking de países que podem render novas parcerias no setor.
São eles Inglaterra, Alemanha, Canadá, EUA, Coreia do Sul e África do Sul.
"Fechamos um acordo de cooperação com a Inglaterra e na conversamos muito na Mipcom com produtores da Coreia", diz Rachel do Valle, responsável pelo Brazilian TV Producers, que organiza esses acordos. "Com o Canadá, as nossas conversas evoluem para mais parcerias na área de animação."
O desenho "Escola pra Cachorro" (Nickelodeon e TV Cultura) é fruto de uma parceira entre Brasil e Canadá.
Rachel conta que foi grande a procura de produtores internacionais por informações sobre as novas leis de TV paga no Brasil e sobre as cotas de produção nacional.
"Alguns estão bem informados sobre a lei, outros querem saber como podem participar dessas cotas, fechar parcerias para lançar produtos que atendam essa demanda", diz Rachel.

História A novela das 18h da Globo, "Lado a Lado", vai abordar a Revolta da Chibata. O personagem Zé Maria (Lázaro Ramos) estará na Marinha e fará parte da revolução.

História 2 As cenas da revolta serão gravadas na Restinga da Marambaia, no Rio. A equipe de cenografia está construindo a proa de um navio, nos moldes dos usados em 1910, inspirado nas fragatas Minas Gerais e São Paulo. As cenas terão acabamento de computação gráfica, com imagens da Baía da Guanabara.

Susto Com exceção de "Avenida Brasil", nesta semana, as novelas da Globo registraram audiências muito inferiores as de suas antecessoras no horário. "Malhação" está marcando apenas 11 pontos. Cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande SP.

Susto 2 "Guerra dos Sexos" chegou a registrar 24 pontos na quinta-feira. A trama anterior na faixa, "Cheias de Charme", batia a casa dos 30 pontos.

Tela A atriz Dira Paes, o músico Paulinho Moska e o crítico de cinema Marcelo Janot serão os jurados do festival de curtas-metragens Cel.U.Cine 2012.

Tela 2 O júri vai escolher os quatro melhores filmes nas categorias ficção, documentário, animação e música. Os vencedores serão exibidos em um programa do Canal Brasil com a OiTV.

Visto Na próxima terça, às 22h30 estreia a nova temporada de "220 Volts" no Multishow. No episódio de estreia, Paulo Gustavo apronta em Nova York.

Laertevisão



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Estado de graça


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Biografia, coletânea de textos inéditos e homenagens celebram os 120 anos de Graciliano Ramos
Folhapress
O escritor Graciliano Ramos
O escritor Graciliano Ramos


MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO

Graciliano Ramos, fosse ainda vivo, teria motivos de sobra para ficar acanhado nos próximos meses.
Sertanejo de alma desconfiada, o escritor alagoano era avesso à autopromoção e tinha por costume depreciar a própria obra.
Mas, a partir da próxima semana, duas efemérides colocarão o autor de "Vidas Secas" no centro das atenções.
Ele faria 120 anos no dia 27. Em 20 de março de 2013, sua morte completa 60 anos.
Iniciando as celebrações, chegam às livrarias uma nova edição da biografia "O Velho Graça", de Dênis de Moraes, e "Garranchos", coletânea de textos inéditos em livro organizada por Thiago Mio Salla.
A Record, que edita a obra do autor, também vai promover seminários sobre ele. Em 2013, novos eventos estão programados (veja abaixo).
Os apreciadores da obra do escritor bem sabem que os festejos são mais do que justos. Graciliano, talvez, pudesse achá-los excessivos para um "literato medíocre", como se referia a si próprio.
"Mas isso era tudo da boca para fora, ele tinha completa consciência do valor da própria obra", esclarece o biógrafo Dênis de Moraes.
Elucidar mitos que cercam Graciliano foi a motivação do professor de estudos culturais e mídias da UFF ao publicar "O Velho Graça" há 20 anos, por ocasião do centenário do autor.
O título narra com detalhes saborosos o processo de criação, os embates políticos, as dificuldades financeiras e a vida familiar do escritor.
A nova edição preserva, nas contas do professor, 90% do texto original. O restante é ocupado por três acréscimos que, acredita, ajudam a delinear o perfil do artista.
O primeiro deles traz trechos de cinco das raras entrevistas que o autor concedeu.
Em uma delas, na qual o jornalista Homero Senna praticamente laçou o fugidio escritor durante uma caminhada pelo Rio, Graciliano só soltou a língua depois da segunda dose de cachaça.
Os outros dois acréscimos abordam a conturbada relação do escritor com a ditadura de Getúlio Vargas. Em 1936, Graciliano foi vítima de um "arrastão" promovido pelo governo para prender pessoas associadas ao comunismo. Permaneceu encarcerado por dez meses, mesmo sem que houvesse acusação formal contra ele.
Moraes relata que Graciliano e Vargas se encontraram uma única vez, durante um passeio noturno, meses depois de o escritor sair da cadeia. "Boa-noite", cumprimentou Vargas. Graciliano prosseguiu sem nada dizer.
"Passou em silêncio por seu algoz. Foi uma demostração do estilo graciliano: contido, mas firme e implacável", conta o biógrafo.
NOVAS FACETAS
Outro tópico resgata a história da carta que escreveu a Vargas, mas nunca enviou, em agosto de 1938.
No texto, Graciliano fazia um relato bastante irônico de sua passagem pela prisão e tratava o presidente como um colega de profissão -na época, Vargas lançava um livro com seus discursos.
"Ficou a imagem de que fosse um homem pessimista, intratável. Mas ele tinha uma fina ironia, era um homem terno, romântico", diz Moraes.
É também múltiplo o Graça -como era chamado pelos amigos- que salta das páginas de "Garranchos".
O pesquisador Thiago Mio Salla reuniu em livro 81 textos inéditos escritos entre 1910 e 1950. Além de crônicas, críticas e discursos, há um conto, "O Ladrão" (1915), e o primeiro ato da peça "Ideias Novas" (1942), que nunca seria concluída.
Agrupados em ordem cronológica, os textos flagram a trajetória intelectual de Graciliano e as questões políticas em que esteve envolvido.
Colaborando com publicações do Estado Novo, por questões financeiras, ou do Partido Comunista, por ideologia, sempre preservou, ainda que a duras penas, sua independência artística.
"As diretrizes do PCB para a literatura eram muito restritivas. Alguns textos, ainda que de forma velada, deixam evidentes as tensões com o partido", conta Salla.
Outra curiosidade são os textos de juventude, nos anos 1920, que descortinam um Graciliano galhofeiro como poucos vezes se verá depois.
No jornal "O Índio", em Palmeira dos Índios (AL), ele comentava, em tom zombeteiro, muitos dos problemas da cidade, já antecipando sua atuação como prefeito.
Nos dois anos que passou administrando Palmeira, notabilizou-se pelo rigor nos gastos públicos e ganhou fama pela qualidade literária dos relatórios de sua gestão.
"Por qualquer ângulo que se analise, seja obra ou vida pública, é difícil não admirar Graciliano", avalia Moraes.
Mais um elogio que deixaria o modesto escritor mais do que encabulado.

RAIO-X - GRACILIANO RAMOS

VIDA
Nasce em 27/10 /1892 em Quebrangulo, em Alagoas. Morre de câncer do pulmão, no Rio, em 20/3/1953

POLÍTICA
Em 1928 torna-se prefeito de Palmeira dos Índios (AL). Os rigorosos relatórios de prestação de contas de sua gestão ficariam famosos pela qualidade literária

PRINCIPAIS LIVROS
"Caetés" (1933), "São Bernardo" (1934), "Angústia" (1936), "Vidas Secas" (1938), "Infância" (1945), "Memórias do Cárcere" (1953)

PRISÃO
Em 1936 é detido em Maceió durante "arrastão" promovido pelo governo Vargas para prender pessoas associadas ao comunismo. Fica encarcerado por dez meses no Estado do Rio

COMUNISMO
Filia-se ao PCB em 1945. Em 1952 visita a União Soviética


CRÍTICA ANTOLOGIA

Trabalho minucioso faz jus à importância do autor alagoano

Numa época de banalização, ele continua a ser um exemplo extraordinário de homem de cultura

WANDER MELO MIRANDA

ESPECIAL PARA A FOLHA

A primeira impressão da leitura dos textos de Graciliano Ramos ora reunidos em livro confirma a coerência de sua variada atividade como escritor de crônicas, ensaios e discursos.
Em conjunto, articulam-se como um amplo painel da primeira metade do século 20, composto por uma sensibilidade muito especial, capaz de unir compromisso político e fazer literário, sem cair em soluções fáceis ou armadilhas panfletárias.
Desde as contribuições para jornal nos anos de 1910 até os discursos como militante comunista a partir de 1945, o que esses textos revelam é uma incontida paixão pelo real, submetido com força de persuasão ao rigor da forma literária.
Com a mesma ironia investe contra os políticos de província e os literatos de plantão, reclamando de uns e outros maior atenção para com a realidade circundante: a distribuição de luz elétrica em Palmeira dos Índios, a possibilidade de utilização do álcool como combustível, o voto das mulheres, a necessidade de expressão popular ou a afirmação dos negros no romance de Jorge Amado.
ROMANCE DE 30
O elogio que faz ao então principiante Guimarães Rosa, cuja primeira versão de "Sagarana" examina num concurso literário, é elucidativo da posição assumida.
Entusiasma-se com o autor mineiro porque nele é "tudo real, nacional e bárbaro".
Vale destacar a reflexão que Graciliano empreende sobre a literatura, por condensar as preocupações norteadoras de sua a tarefa como intelectual e artista.
Insiste na importância dos romancistas de 30, por deslocarem o centro geográfico e simbólico do poder literário, trazendo o sertão e a periferia das cidades à cena do texto e da então capital federal do país.
Bate-se contra a introspecção dos romancistas "católicos" com a mesma força com que se opõe ao descritivismo documental.
"Por muito realistas que sejamos, não temos a pretensão de apanhar a realidade pura. Dela sabemos o que os nossos nervos transmitem, mas como a experiência alheia não nos desmente, apossamo-nos de uma pequenina verdade relativa, verdade contingente e humana."
Essa parece ser a verdade do intelectual Graciliano Ramos, premido entre o jogo de classes e o engajamento político, no limite estreito de sua relação com o partido ou na relação conflituosa entre seus pares na Associação Brasileira de Escritores (ABDE), sem falar na experiência carcerária que sofreu e nos seus desdobramentos.
Em todos os momentos, reafirma a necessária profissionalização do escritor, como no discurso que faz na célula Theodore Dreiser do PCB. "Essa certeza de que o escritor é um profissional é que precisamos fortalecer em torno de nós."
Numa época de banalização da literatura, Graciliano Ramos continua a ser um exemplo extraordinário de homem de cultura.
O trabalho minucioso do organizador Thiago Mio Salla faz jus à importância do escritor, ao recuperar referências essenciais para melhor compreensão de sua trajetória luminosa.

WANDER MELO MIRANDA, professor de teoria da literatura na UFMG, é autor de "Folha Explica Graciliano Ramos" (PubliFolha).

GARRANCHOS

AVALIAÇÃO ótimo



Narrativa de "Os Hungareses" está aquém de sua temática


CRÍTICA ROMANCE

Narrativa de "Os Hungareses" está aquém de sua temática

Livro venceu Prêmio SP de Literatura 2012 na categoria romance de estreia

NOEMI JAFFE

ESPECIAL PARA A FOLHA

"Os Hungareses", vencedor do Prêmio SP de Literatura deste ano na categoria romance de estreia, é uma história de "peregrinos gregários", como o próprio livro denomina os ciganos que um dia acorreram em massa a uma aldeia no interior da Hungria.
São, fundamentalmente, personagens errantes que, apesar de sua inconstância, estão sempre atrás de algum tipo de pertencimento.
Habitantes de uma pequena cidade húngara, que um dia passa ao controle da antiga Iugoslávia, são proibidos de falar sua língua natal, o que os obriga a aguçarem os outros sentidos -olfato, paladar e audição.
Rosália, a personagem principal, e mais Rosza, Maria, Gedeon, Jószef e Imre são todos peregrinos que, por razões distintas, não aceitam limites fixos e estão sempre partindo em busca do desconhecido e do novo.
Mas, por caminhos tortuosos e misteriosos, também estão sempre voltando, até chegarem ao Brasil onde, finalmente, se estabelecem no sítio dos "Hungareses". Ali, reproduzem em parte os hábitos e a cultura húngara, criando uma comunidade singular no interior do país.
A história, as idas e vindas, o destino e a índole "cigana" de um grupo de húngaros no Brasil são todos cativantes, tanto do ponto de vista histórico quanto do ficcional, já que o romance equilibra invenção e realidade. A narrativa, entretanto, não alcança o mesmo interesse da temática.
O duplo foco narrativo, feito principalmente pela filha da protagonista, mas entremeado de falas de sua mãe, Rosália, é explorado de forma pouco imaginativa: as entradas da mãe, que poderiam dar um sentido polifônico ao romance, são como paráfrases da trama contada pela filha.
Essa trama, por sua vez - a própria história da formação dos "Hungareses"- é constantemente representada pela metáfora da costura, da tessitura, dos fios, um recurso já bem conhecido: "seguindo o fio dos relatos"; "costurar bem costurada a história"; "entrelaçar fios invisíveis com os dedos"; "a infindável teia que a conduzia"; "os fios do destino que vão se emaranhando", dentre inúmeros exemplos.
Já os personagens, quase todos bastante densos e complexos, são muito parecidos em suas melancolias e inadaptações, o que acaba subtraindo suas individualidades.
A estrutura da narrativa poderia ter coincidido mais e melhor com os aspectos mágicos e poéticos dessa comunidade que teve sua voz sequestrada e que, pelos descaminhos do século passado, veio parar no Brasil.
NOEMI JAFFE é doutora em literatura brasileira pela USP e autora de "Quando Nada Está Acontecendo" (Martins).
OS HUNGARESES
AUTORA Suzana Montoro
EDITORA Ofício das Palavras
QUANTO R$ 30 (192 págs.)
AVALIAÇÃO regular

Mônica Bergamo


MÔNICA BERGAMO
monica.bergamo@grupofolha.com.br

LAÇOS DE FAMÍLIA
Lucas Lima/Folhapress
A atriz e cineasta mineira Petra Costa, 29, assina o documentário "Elena", que tem exibição hoje, às 21h, no Cinesesc; no longa, ela busca refazer os passos da irmã mais velha, Elena, que se suicidou aos 20 anos

LETRAS DOBRADAS
A Justiça determinou suspensão da distribuição do livro "Mentes Ansiosas", que chegou à lista dos dez mais vendidos. Autora do livro, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva está sendo processada por plágio pelo colega Tito Pais de Barros Neto, que escreveu "Sem Medo de Ter Medo" (Casa do Psicólogo). A decisão é liminar e ainda pode ser revertida.

JÁ LI ISSO
A sentença fala de "enxertos longos com o mesmo conteúdo" nos dois livros. "Meu cliente, doutor Tito, publicou a obra dele em 2010, enquanto o da autora Barbosa Silva só saiu um ano depois", diz o advogado José de Araujo Novaes Neto. A editora Objetiva, que publica o livro suspenso, diz que vai "acatar a decisão até a resolução da questão". Ana Beatriz Barbosa Silva foi procurada pela Folha, mas não respondeu até o fechamento da edição.

MOTIVOS BÍBLICOS
A minissérie bíblica "Rei Davi" foi um dos motivos usados pela Record para não adiantar o horário do debate do dia 22, que acabou cancelado após José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) não concordarem em entrar no ar depois de 23h. Já o debate SBT/UOL, que acontece no dia 24, às 18h, vai derrubar "Chaves" da programação.

DÁ UMA FORÇA?
O presidente do PRB, Marcos Pereira, que apoiou a neutralidade de seu partido no segundo turno em SP após derrota de Celso Russomanno, diz ter pensado "muito" antes de reproduzir, no Facebook, notícia antiga em que Paulinho da Força (PDT) dizia que Serra "nunca gostou de trabalhador".
Hoje Paulinho endossa a candidatura do tucano.

SE MOVE COMO JAGGER
Anne Vyalitsyna, a 11ª no ranking de modelos mais sexy do mundo segundo o site Models.com, desembarca hoje em São Paulo. Vem fazer editoriais de moda para duas revistas.
A russa é ex-namorada do roqueiro americano Adam Levine, do Maroon 5.

QUINTA AVENIDA
Carolina Ferraz irá tirar dois meses de férias agora que "Avenida Brasil" terminou. A atriz vai para a Suíça se encontrar com a filha, que mora lá.
A dupla viaja pela Europa antes de Carolina ir para Nova York, fazer curso de atuação e de culinária.

AMOR SEM PRESSA
O escritor Lourenço Mutarelli, de "O Cheiro do Ralo", vai recomeçar do zero o romance que escreve há cinco anos sobre Nova York, para o projeto Amores Expressos. "Eu tinha terminado e entregado, mas a Companhia das Letras não gostou de algumas coisas e pediu modificações. Decidi refazer tudo", afirma o autor.

E OS MENIRES, HEIN?
O cineasta alemão Werner Herzog preparou um leque de assuntos para a aula que dará no CCBB do Rio, na segunda: "O século 20 foi um erro? Como foram levantados os pré-históricos e colossais menires da Bretanha? Como você moveria um barco a vapor para que ele subisse uma montanha? Por que o turismo é pecado? Por que viajar a pé é uma virtude?".

MOSTRA MAIS
A 36ª edição da Mostra Internacional de Cinema de SP foi aberta anteontem. A diretora do evento, Renata de Almeida, recebeu os produtores Yael Steiner e Daniel Dreifuss e a atriz Carolina Ziskind. Andrei A. Tarkóvski, filho do cineasta russo Andrei Tarkóvski, também foi ao Auditório Ibirapuera.

REGINA, REGINA
A atriz Regina Duarte estreou anteontem a peça "Raimunda, Raimunda". Os atores Adriana Lessa e Daniel Alvim foram ao teatro Raul Cortez para assistir ao espetáculo.

CURTO-CIRCUITO

Estreia hoje o documentário "Francisco Brennand", às 19h, na Cinemateca Brasileira. Livre.
A galeria Emma Thomas abre hoje novo espaço, nos Jardins. Com a exposição do artista Nazareno.
O chef Tsuyoshi Murakami faz performance no MAM, com projeção de Regina Silveira. Hoje, às 14h.
Lolita Zurita Hannud lança nova coleção hoje.
Lulu Librandi comemora aniversário, hoje, com festa no bar do Nelson.
com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, CHICO FELITTI e LÍGIA MESQUITA

Painel da Letras


PAINEL DAS LETRAS

RAQUEL COZER

raquel.cozer@grupofolha.com.br

Linha de chegada

A concorridíssima corrida pelo mercado de livros digitais no Brasil deve fazer com que Amazon, Google, Kobo e Apple estreiem aqui em novembro com poucos dias de diferença. Quem conhece a Amazon acha improvável que ela compre a Saraiva, conforme rumores recentes, mas acredita na estreia da amazon.com.br, com venda de e-books em português, no mês que vem. Embora a venda do Kindle no Brasil esteja indefinida, há 300 mil usuários do Kindle Books em português no mundo, o que torna a venda só de e-books um bom negócio por ora.
A empresa já fechou com quase 200 editoras nacionais, a maior parte representada pela distribuidora Xeriph, mas ainda não com as seis representadas pela DLD, que respondem por cerca de 35% dos best-sellers no país. A mesma DLD, no entanto, fechou com Kobo -que estreia já com um modelo de e-reader- Google e Apple.

LIVRO, OBRA DE ARTE

A organização da participação brasileira na Feira de Frankfurt 2013 estuda fortalecer a presença do país com estandes em vários pavilhões, além do estande principal, de 500 m². Já foi solicitada à feira área de 100 m² no pavilhão de livros de arte para a mostra "Além da Biblioteca", com obras artistas como Lucia Mindlin Loeb, Marilá Dardot e Odires Mlászho, feitas a partir do objeto livro.

Em alta 1 A Companhia das Letras fortalece seu time de jovens autores. De Andrea del Fuego, 37, contratou romance inédito e ainda comprou "Os Malaquias" (Língua Geral, 2010), vencedor do Prêmio José Saramago.

Em alta 2 A editora assinou também com a roteirista Juliana Frank, 27, que estreou como romancista em 2011 com "Quenga de Plástico" e lança em breve "Cabeça de Pimpinela", ambos pela 7Letras. A Companhia prevê para 2013 o inédito "Meu Coração de Pedra Pomes".

Tons digitais Em dez meses no mercado digital, a Intrínseca comercializou 28 mil e-books. Quase um terço disso, cerca de 9.000, diz respeito às vendas dos dois primeiros títulos de "Cinquenta Tons" só em setembro.

Força Na Feira de Frankfurt, a Sextante adquiriu os direitos de "Davi e Golias", que Malcolm Gladwel começou a escrever após publicar na "New Yorker" artigo explicando que em quase um terço das batalhas os mais fracos vencem se forem criativos.

I'll be back Também na feira, Marcos Pereira, sócio da Sextante, ouviu de Arnold Schwarzenegger a notícia de que virá ao Brasil em maio para promover um evento de fisiculturismo no Rio e divulgar a biografia "Total Recall", que a casa carioca lança no mês que vem. O ator esteve num fórum de sustentabilidade em Manaus em 2011.
Todo mundo quer Sem editor no Brasil, o chinês Mo Yan deve permanecer assim por algum tempo devido a uma briga internacional. Com o anúncio do Nobel, a mega-agência Wylie disse estar negociando a obra dele com vários países. Mas a agente americana Sandra Dijkstra afirma que representa Mo Yan "desde o começo".

Outro chinês Enquanto isso, a Estação Liberdade adquiriu em Frankfurt romance de outro chinês inédito no Brasil, Chen Zhongshi. "No País do Cervo Branco", volume de 800 páginas sobre clãs rivais na China rural no século 20, levou em 1997 o Prêmio Mao Dun -o mesmo que Mo Yan ganhou em 2011 pelo romance "Wa".

Poço seco 1 "A literatura era, no final das contas, um recurso não renovável -como o petróleo, a água- que foi drenado e consumido a cada nova geração", argumenta o filósofo britânico Lars Iyer, em texto na "Serrote #12", que chega às livrarias no dia 29. "Chegamos a um ponto em que o modernismo e o pós-modernismo encontraram o poço seco."

Poço seco 2 Iyer defende que vivemos uma "inflação" de autores e leitores e que nos resta "perseguir os rastros do literário". Antes de a revista chegar, o editor Paulo Roberto Pires fala sobre a relação de editores com a filosofia, no dia 23, na Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia, em Curitiba.


Duzentos anos de medicina


DRAUZIO VARELLA

Duzentos anos de medicina

Apenas no início do século 20 surgiram as técnicas de assepsia e os rituais nas salas de operação

"The New England Journal of Medicine", a revista de maior circulação entre os médicos, completa 200 anos.
Publicado em 1802, o primeiro número trazia um artigo de John Warren (1753-1815), um dos fundadores da Harvard Medical School. Nele, o médico descrevia os sintomas e o tratamento de um religioso que se queixava de dores fortes no peito, aos menores esforços.
Do ponto de vista científico, a descrição dos sintomas de insuficiência coronariana é impecável, mas o tratamento realizado é de assustar. O paciente, um "clérigo pletórico", foi tratado com estimulantes, sangria e aplicações locais de éter. Em seguida, "recebeu novas sessões de sangria, ópio, laxativos poderosos e agentes cáusticos aplicados sobre a pele do esterno".
Como os sintomas persistiram, Warren tentou uma resina de asafétida -planta caracterizada pelo odor pútrido- e aplicou nitrato de prata nos braços e nas coxas, com a intenção de abrir fissuras na pele para drenar os maus fluidos.
Embora sejam consideradas absurdas, é preciso entender que essas práticas pareciam sensatas numa época em que os médicos e a população acreditavam que os estados de saúde e doença dependiam do equilíbrio entre o fluxo dos quatro humores corpóreos: sangue, fleuma, bile negra e bile amarela.
Para eles, um bom remédio deveria provocar sintomas suficientemente intensos para restaurar a harmonia entre os humores. Por exemplo, alguém convencido de que suas agruras resultavam do mau funcionamento dos intestinos, sentiria alívio ao receber vomitórios e laxantes. Eram os tempos da "medicina heroica", segundo a qual quanto mais grave a enfermidade, mais agressivo o tratamento.
Em 1812, o "The New England" recomendava "sangria copiosa" nos casos de ferimento por arma de fogo, estratégia bizarra, mas que conseguia diminuir os sinais de inflamação e a temperatura corpórea, dando a impressão de que não ocorreriam complicações supurativas ou gangrena. O mesmo procedimento era indicado para abaixar a febre da malária.
Ainda na primeira metade do século 19, o francês Pierre Louis (1787-1872) criou o "método numérico", ao comparar dois grupos de pacientes com pneumonia tratados com ou sem sangria, sem encontrar diferença na evolução entre eles.
A partir daí, a filosofia de ceticismo que tomou conta da prática médica encontrou em Oliver Holmes (1809-94) sua maior expressão. Em 1860, ele afirmou: "Se toda a matéria médica, como hoje é empregada, fosse afogada no fundo do mar, seria muito melhor para a humanidade -e muito pior para os peixes".
Essa postura niilista, no entanto, jamais se tornou popular, porque nenhum médico encontra permissão moral para cruzar os braços diante do sofrimento humano.
Em 1846, a revista publicou o artigo em que William Morton (1819-68) descrevia a anestesia com éter. A descoberta, no entanto, demorou mais de cinquenta anos para revolucionar a prática cirúrgica, porque os cirurgiões precisavam decidir se a analgesia justificava os riscos de morte por septicemia.
Apenas no início do século 20 surgiram as técnicas de assepsia e os rituais das equipes nas salas de operação, responsáveis pela redução das complicações infecciosas.
Em 1912, quando a revista completou cem anos, Paul Ehrlich (1854-1915), em Berlim, sintetizou um composto dotado de ação contra a sífilis, o Salvarsan. Foi a primeira prova do conceito de que os medicamentos deveriam ser específicos para a doença e não para cada doente em particular.
A descoberta teve impacto limitado, porque a especificidade do Salvarsan era mais teórica do que empírica. Apesar de beneficiar alguns pacientes, a droga provocava efeitos colaterais intensos e não agia em todos os casos de sífilis.
O pioneirismo do Salvarsan também se manifestou ao expor pela primeira vez as limitações da abordagem reducionista em medicina: a sífilis não se restringia ao Treponema pallidum, envolvia comportamento sexual, aspectos morais e discriminação social. Destruir a bactéria era condição necessária, mas não suficiente para combater a epidemia.
A revolução da farmacoterapia ainda levaria pelo menos trinta anos para acontecer. Apenas na década de 1950, cerca de 4.500 drogas novas entraram no comércio, nos Estados Unidos.
O impacto dessas descobertas analisaremos na próxima coluna.


Aquecimento forjou pior extinção da Terra


Aquecimento forjou pior extinção da Terra

Águas tropicais chegaram a 40ºC; nos continentes, temperaturas teriam atingido 60ºC

RAFAEL GARCIA

EM WASHINGTON

Um surto de efeito estufa há 250 milhões de anos foi uma das principais causas do evento de extinção mais catastrófico da história do planeta, sugere um novo estudo.
Analisando o peso atômico do oxigênio contido em fósseis da época, cientistas calcularam que a temperatura média anual de águas equatoriais chegou a um pico de 40°C, tornando a vida impraticável na maior parte das áreas tropicais.
O trabalho, publicado na edição desta semana da revista "Science", traz pela primeira vez evidências de que o calor contribuiu diretamente para a extinção -em vez de ter sido um coadjuvante de outros fatores, como a falta de oxigênio ou a deterioração da camada de ozônio.
Todos esses problemas geológicos estão ligados a um período intenso de atividade vulcânica na Sibéria. Em um primeiro momento, a poeira de vulcões faz a Terra resfriar. Mas, no longo prazo, o gás carbônico das erupções faz o planeta se aquecer.
É o que foi verificado na transição do período Permiano para o Triássico, estudada pelos pesquisadores, quando o planeta perdeu cerca de 90% de suas espécies.
"Quando se olha para a extinção em si, ela está ligada a atividades vulcânicas. Mas, depois do início da extinção, o aquecimento começou a dominar a tendência", diz Paul Wignall, da Universidade de Leeds (Reino Unido), um dos autores do trabalho.
A temperatura terrestre pode ter chegado a 60°C em algumas regiões. Segundo o estudo, de 252 milhões a 247 milhões de anos antes do presente, não havia quase nenhum vertebrado terrestre numa faixa de latitude que vai do Uruguai aos EUA.
A seleção natural acabou favorecendo animais menores, mais adaptados às temperaturas altas. Segundo o pesquisador, todas essas são coisas que devem ocorrer com o aquecimento global atual, em grau menor.
"Estamos mostrando o quanto um aquecimento global pode ser ruim", diz Wignall. "Mas não acho que veremos algo assim em nosso futuro próximo; certamente não nos próximos cem anos."
As temperaturas do fim do Permiano subiram em algumas poucas centenas de milhares de anos, o que é rápido em termos geológicos. "O que vemos acontecer hoje equivale a uma subida de temperatura instantânea."

Brasil participa da construção de superobservatório astronômico


Brasil participa da construção de superobservatório astronômico

Complexo terá cem telescópios em 10 km2; objetivo é estudar fenômenos como buracos negros
Argentina e Namíbia estão no páreo para sediar a instalação, que deve começar a funcionar em 2015
G. Pérez/IAC (SMM)
Concepção artística do observatório
Concepção artística do observatório
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

O Brasil e outros 26 países se uniram para construir um superobservatório de raios gama -a radiação mais poderosa já conhecida. Ela está intimamente ligada a alguns dos mais misteriosos e violentos eventos do Universo e, por isso, seu estudo é considerado estratégico.
Batizado de CTA (Cherenkov Telescope Array), o futuro observatório tem o objetivo pouco modesto de investigar as engrenagens de fenômenos como a matéria escura e os buracos negros.
Os temas a serem estudados, considerados "quentes" na astronomia e na astrofísica, têm potencial para turbinar a participação brasileira em artigos internacionais.
O plano final do CTA é ter dois centros em operação: um em cada hemisfério. A instalação da parte sul do conjunto é a prioridade.
Em vez de um grande e único telescópio, o observatório terá por volta de cem dispositivos menores, espalhados em uma área de quase 10 km².
"Esse arranjo dá muita flexibilidade para as observações. É possível voltar todos os telescópios para um único ponto e obter informações detalhadas ou, simplesmente, conseguir uma espécie de panorama do céu", diz Vitor de Souza Filho, astrônomo do Instituto de Física da USP de São Carlos e chefe da participação brasileira.
Ao colidirem com as camadas mais altas da atmosfera, os raios gama provocam uma espécie de "chuva" que pode ser captada pelos telescópios.
A partir do estudo dessas partículas, os cientistas conseguirão fazer o caminho inverso e descobrir informações sobre a luz original.
"Não estamos buscando um resultado específico. O objetivo é fazer ciência básica, abrir uma nova porta de investigações. A curiosidade humana nunca decepcionou", diz Souza Filho.
'OPEN SOURCE'
Ao contrário de outros centros, em que os dados coletados ficam restritos ao pesquisador que os solicitou, no CTA as verificações estarão abertas a todos os membros.
"Mais grupos de pesquisa vão ter acesso a isso, e mais material vai ser produzido. A coisa vai ser bem 'colaborativa' ", diz o astrônomo.
O local de construção ainda não foi definido. Dois países estão na briga: Argentina e Namíbia. As duas nações têm regiões com clima seco que facilita a observação. A escolha será feita no ano que vem. O início das operações está previsto para 2015.
Se os "hermanos" forem escolhidos, o Brasil será a opção natural para o fornecimento de equipamentos. Segundo a equipe brasileira, empresas nacionais já conseguem viabilizar a maioria dos componentes envolvidos.
O financiamento no país é feito em conjunto pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

País investe em colaborações internacionais
DE SÃO PAULO

Com limitações financeiras e climáticas para ter centros astronômicos só seus, o Brasil investe em colaborações nos grandes projetos internacionais.
O país assinou acordo para se tornar o primeiro membro não europeu do ESO (Observatório Europeu do Sul), que tem os maiores telescópios ópticos de solo do mundo.
Outro grande projeto é o DES (Dark Energy Survey), que desenvolveu a câmera digital mais poderosa do mundo para estudar a energia escura.
O país também tem uma colaboração com a Espanha, o Observatório Astronômico de Javalambre, em obras, para investigar a matéria escura.
(GM)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/72951-brasil-participa-da-construcao-de-superobservatorio-astronomico.shtml