quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Marina Colasanti-No Chaco, crianças e poesia‏


Estado de Minas: 12/09/2013 


Luisa Chang viajou de avião durante 34 horas para vir a Resistência, no Chaco, falar de poesia chinesa. Luisa é catedrática de literatura na Universidade de Taiwan. Não sei quanto tempo levou Orlando van Bredam, da Universidade Nacional de Formosa. Nem que distância percorreram tantos que ali estavam, da Europa, da América Latina e os muitos vindos de ônibus de outras províncias argentinas. Mas a distância deixava de ser um diferencial, uma vez que todos havíamos chegado, prontos para começar o trabalho.

No imenso salão do Centro de Convenções, que se inaugurava com nosso Foro pelo Fomento do Livro e da Leitura, 1,3 mil professores nos esperavam. E no cerne de tantas falas que se apresentariam nos três dias seguintes, a mesma preocupação: como fazer crianças leitoras, que livros escolher para elas.

As crianças do Chaco fui encontrá-las em um colégio. “Qual é o livro seu de que você mais gosta?”, me perguntou o menininho. E colegas dele me perguntaram também com que idade eu havia começado a escrever, quanto tempo levo para escrever um livro, de onde tiro as ideias para as minhas histórias. Exatamente as mesmas perguntas que me fazem as crianças brasileiras quando visito escolas e que me fizeram na Colômbia e na Guatemala. Nunca me perguntam se tenho cachorro, se sei nadar ou se já caí de bicicleta. Nunca sequer me perguntam se tenho irmão.

Não conheço Taiwan e esqueci de perguntar a Luisa se as crianças de lá têm o mesmo tipo de curiosidade quando interrogam um escritor. Teria sido interessante saber. Pois a repetição das mesmas perguntas em geografias diversas pode significar duas coisas: uma, que as crianças são iguais em qualquer parte do mundo; duas, que apesar de diferenças curriculares, a escola equaliza as crianças.

Não tenho a resposta, embora me incline pela segunda hipótese. Sei, pelos colegas, que as perguntas são as mesmas para eles também. Com isso, podemos crer que diante de um escritor, seja ele quem for, as crianças em sala de aula não se sentem diante de uma pessoa como qualquer outra, mas sim diante de um modelo humano chamado escritor. Desse modelo não interessa saber sobre seu amor aos cães ou suas habilidade natatórias, o cotidiano é irrelevante. As únicas perguntas consideradas válidas pelos professores dizem respeito à profissão. E, sem conhecimento do que seja uma vida de escritor, o jeito é recorrer a perguntas tão estereotipadas quanto o modelo.

O desafio do escritor acaba sendo o mesmo, quer ao responder perguntas em escolas, quer ao escrever os livros que as crianças das escolas lerão: sair do modelo preestabelecido, ignorar o estereótipo e despertar nos leitores a curiosidade genuína, aquela que se ancora na emoção.

Foi disso que se falou no foro organizado pela Fundação Mempo Giardinelli? Não dessa maneira, mas, como no jogo do bicho, cercando o tema da leitura pelos sete lados. Cada um dos mais de 40 escritores e especialistas convidados trouxe sua contribuição e deixou sua imagem em tantas câmaras e celulares .

Luisa Chang ainda enfrentaria muitas horas de ônibus até Assunção, para de lá tomar o avião e começar a contar as 34 horas da volta. Mas sorria radiante, enquanto as professoras do Chaco conservavam, talvez para sempre, o ilustre nome do poeta Li Pó.

Tereza Cruvinel - A oração de FH‏

A academia deve propiciar momentos de deleite intelectual a seu novo membro, mas ganhará muito mais com sua presença


Estado de Minas: 12/09/2013 


Da fala do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao tomar posse anteontem como membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), o que mais ecoou na mídia foi a parte final, em que louvou a ainda nascente democracia, mas fez advertências graves sobre suas disfuncionalidades, que vêm frustrando uma sociedade civil mais exigente, beneficiada pelo novo acesso à informação, levando às ruas cidadãos “economicamente integrados, mas politicamente insatisfeitos” com governos e instituições. Destaque natural, diante da trajetória política dele e do momento singular que vivemos. Mas o todo, foi além.

À vontade dentro do fardão, admitindo certo estranhamento com os ritos, mas destacando a importância deles na cultura – o que teria aprendido com a “ilustre antropóloga” com quem foi casado, Ruth Cardoso –, FH fez um discurso monumental, erudito, mas não pernóstico, que não deixou dúvidas sobre as razões de sua escolha. A academia, dizia Joaquim Nabuco em carta a Machado de Assis, segundo contou o acadêmico Celso Lafer em sua afetuosa, mas densa saudação, não devia abrigar apenas grandes nomes da literatura em seus diversos gêneros, mas também os maiores de seu tempo, em diferentes áreas do pensamento e da ciência.

Algo que o próprio FH realçou, ao começar falando dos que o antecederam na cadeira 36: Afonso Celso (intelectual, poeta e político), Clementino Fraga (médico), Paulo Carneiro (químico e diplomata), José Guilherme Merquior (filósofo) e João Scatimburgo (escritor). De seu perfil político e intelectual, mas não artístico, ele mesmo falou no início, revelando, talvez, um imperceptível incômodo com registros a esse respeito, pelos que entendem a academia apenas como casa de literatos. Revisitou brevemente suas raízes familiares, mencionando o pai, tios, avô e bisavô que, desde o império, atuaram na vida militar e política do país em construção.

Elegante, tangenciou a luta política, mesmo contra a ditadura, mas lançou algumas farpas. Falou do Plano Real como primeiro passo civilizatório e das políticas sociais iniciadas em seu governo. Reconheceu que foram ampliadas “por governos que me sucederam”, com aumentos contínuos para o salário mínimo e políticas compensatórias, “as famosas bolsas”, permitindo avanços na redução da desigualdade. “Isso não começou há 10 ou 20 anos, começou muito antes”, disse em clara referência ao discurso do PT sobre seus feitos no poder. Só então, falou dos perigos que rondam democracia, como a apropriação da insatisfação por grupos violentos por autocracias falsamente democráticas. Uma aula, reverencialmente ouvida. A Academia deve propiciar momentos de deleite intelectual a seu novo membro, mas ganhará muito mais com sua presença.

Suspense no STF

Ficou para hoje a decisão crucial do Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento do mensalão, sobre a pertinência dos embargos infringentes, que poderão permitir, se acolhidos, a reconsideração das penas dos réus absolvidos, em alguns crimes, por pelo menos quatro ministros. O placar provisório de ontem, de 4 a 2 a favor da validade dos recursos, dá a medida do dilema da Corte. Rejeitando-os, contentará os que cobram a consumação do julgamento, ansiosos por ver punhos ilustres algemados. Admitindo-os, atenuará o estigma de ter realizado um julgamento excepcional, como disseram em carta aberta lançada ontem alguns luminares do meio jurídico. Negando os recursos, disseram eles, o tribunal “não fará história pela exemplaridade no combate à corrupção, mas, sim, coroando um julgamento marcado pelo tratamento diferenciado e suscetível a pressões políticas e midiáticas”.

Mas no plenário, as armas continuarão sendo os argumentos técnicos sobre a prevalência do regimento, onde tais embargos estão previstos, ou da posterior Lei 8.030, que instituiu procedimentos para o STF e o STJ, calando-se sobre eles. A omissão revogou ou manteve a norma regimental? Teria o regimento força de lei, como pensam Roberto Barroso, Teori Zavascki, Rosa Weber e Dias Toffoli, os que votaram pelo acolhimento? Mas, ao abrir a dissidência em relação a voto contrário do relator Joaquim Barbosa, o que disse Barroso, de mais eloquente, foi que não encontrou nos anais questionamento anterior sobre a validade de tais recursos, só agora levantada, provocando uma crispação facial em Barbosa.

Na véspera, os conhecedores da Corte diziam que tudo dependeria do voto dos dois ministros recentes, Barroso e Teori, e das duas ministras, Rosa Weber e Cármen Lúcia, que têm grande afinidade jurídica. Os dois votaram a favor, seguidos por Rosa. Cármem ainda não se posicionou. Como o ministro Ricardo Lewandowski já externou posição favorável, e o ministro Gilmar Mendes, posição contrária, as grandes especulações são em relação a Celso de Mello e Marco Aurélio. O decano Celso já expressou durante o julgamento entendimento de que os infringentes vigoram. Mas como tem sido especialmente duro, afastando-se de sua histórica posição “garantista”, vai negar o que já disse? Marco Aurélio fez um aparte aparentemente restritivo ao voto de Barroso, mas é certo seu incômodo com a dosimetria adotada em alguns casos, produzindo penas que considera exorbitantes.

Tv Paga


Estado de Minas: 12/09/2013 


 (Vinny Filmes/Divulgação)

Brasil na tela


Cinco filmes completam hoje a relação dos finalistas do 8º Grande Prêmio de Curtas do Canal Brasil. A partir das 22h, serão exibidos Linear, de Amir Admoni; A galinha que burlou o sistema, de Quico Meirelles; A cidade, de Liliana Sulzbach; L, de Thaís Fujinaga; e O duplo, de Juliana Rojas. Mas a maior novidade de hoje com relação ao cinema nacional é a estreia da comédia O diário de Tati, com Heloisa Périssé (foto), às 20h15, no Telecine Premium. E ainda tem O homem do futuro, com Wagner Moura, em reprise às 22h, no Telecine Fun.

Muitas alternativas na
programação de filmes


Quinta-feira é dia também do Clube do filme, às 22h, na Cultura, hoje com o clássico musical Hello Dolly, dirigido por Gene Kelly e estrelado por Barbra Streisand. No mesmo horário, o assinante tem mais 10 opções: Zumbilândia, no Studio Universal; O último portal, no TCM; Nova York sitiada, no Telecine Action; A estranha vida de Timothy Green, no Telecine Pipoca; O hobbit – Uma jornada inesperada, no Telecine Premium; Nixon, no Telecine Cult; You don’t know Jack, na HBO Signature; Possessão, na HBO 2; O artista, na HBO HD; e Inverno da alma, no Max. Outras atrações da programação: À procura da felicidade, às 19h50, no Universal Channel; Casa da mãe Joana, às 22h35, no Megapix; e O último grande herói, às 23h, no Comedy Central.

Comediantes abrem seus
corações no +Globosat


Sarah Silverman e Garry Shandling são os entrevistados do sexto episódio de Por dentro da comédia, às 22h, no canal +Globosat. Em uma verdadeira sessão de terapia comandada por David Steinberg, Garry se abre ao falar sobre sua mãe e Silverman culpa seu pai por sua busca por atenção. “Quando eu tinha 3 anos ele me ensinou vários palvrões e me incentivava a usá-los. Os adultos achavam hilário e acabei ficando viciada em causar choque nas pessoas”, diz Sarah.

A dança continua em
alta na grade do SescTV


O SescTV continua com o especial da oitava edição da Bienal Sesc de Dança, exibindo esta noite, às 23h, a coreografia Sapatos brancos, com os bailarinos do Núcleo Artístico Luis Ferron, de São Paulo, baseada em pesquisas culturais sobre o carnaval paulistano e os elementos performáticos dos mestres-salas e das porta-bandeiras. Como aperitivo, a emissora apresenta, às 21h30, mais um programa da série Coleções, também dedicada à dança, mostrando a ciranda do mestre Antonio Baracho e da pernambucana Lia de Itamaracá.

Novos artistas rendem
homenagem a Cazuza


Para fechar, duas de música. Às 21h30, no Canal Brasil, Moska recebe a cantora Tiê, que fala de suas referências musicais, do medo da composição no início de carreira e ainda canta Passarinho, Pra alegrar meu dia e Sweet jardim, em mais um programa Zoombido. Às 22h, no Multishow, um grupo de músicos da nova cena independente carioca regrava canções pouco conhecidas do repertório de Cazuza, com imagens dos ensaios e bastidores da produção do disco, depoimentos dos participantes do projeto e o show em homenagem ao artista. 

CARAS & BOCAS » Disputa acirrada Simone Castro


Estado de Minas: 12/09/2013 


Ninho (Juliano Cazarré) ficará rico e lutará para retomar a filha em Amor à vida  (Bob Paulino/TV Globo-21/5/13)
Ninho (Juliano Cazarré) ficará rico e lutará para retomar a filha em Amor à vida



Bruno (Malvino Salvador) e Paloma (Paolla Oliveira) se casam e esperam viver felizes para sempre ao lado de Paulinha (Klara Castanho). Mas nos próximos capítulos de Amor à vida (Globo) vão constatar que nada dura para sempre. É que Ninho (Juliano Cazarré) retorna à cena e decide lutar para ficar com a filha. Agora, ele é um homem rico, disposto a lutar de igual para igual. Até o visual do riponga é repaginado e surpreende o amigo Valentim (Marcelo Schmidt), que vai recebê-lo no aeroporto, quando o rapaz desembarca dos Estados Unidos. “Mas que transformação é essa? Essas roupas...”, pergunta o garçom. “Valentin, deu tudo certo. A diretora da galeria de Nova York me recebeu superbem. A gringa me deu a maior força. Fiz duas exposições, na primeira vendi tudo. Na segunda, tinha até fila para comprar os meus quadros”, explica Ninho. E ele vai logo avisando que voltou para brigar pela filha. “Quero ficar com a minha filha. Sou o pai da Paulinha. Nunca esqueci os dias que eu passei com aquela baixinha. Vim para tomar a minha filha. Tenho os meus direitos e quero a minha filha para mim.” Mais tarde, ele dá o mesmo recado a Félix (Mateus Solano), que pede para ele esquecer o assunto. Mas o artista é irredutível: “Criei muita afinidade com ela. Sou o pai. Quero a Paulinha para mim. E você vai me ajudar a tomar a Paulinha da sua irmã”.

SEM CENSURA RECEBE O
SAMBISTA ARLINDO CRUZ


O cantor e compositor Arlindo Cruz é um dos convidados de hoje do programa Sem censura, às 16h, na Rede Minas e na TV Brasil. Considerado uma das figuras mais importantes do samba na atualidade, ele vai falar sobre o DVD Batuques do meu lugar e a viagem que fez pelas sonoridades brasileiras. Em mais de 30 anos de carreira, Arlindo – que comemora 55 anos no sábado – construiu um vasto repertório com cerca de 550 composições. Na atração, ele mostrará alguns sucessos, como O bem e Meu lugar.

SE EU FOSSE VOCÊ VIRA
SERIADO NO CANAL FOX


A partir de 1º de outubro, começa a ser exibida na Fox (TV paga) a série Se eu fosse você, baseada em filme homônimo. Saem Glória Pires e Tony Ramos, protagonistas do longa-metragem dirigido por Daniel Filho, e entram Paloma Duarte e Heitor Martinez. O lançamento é uma das atrações que comemoram os 20 anos da Fox no Brasil. O canal também planeja transformar em série o filme Bruna Surfistinha, estrelado por Deborah Secco. A estreia pode ser no ano que vem e a atriz que ficará com o papel ainda não foi escolhida.

NA MORAL VAI DISCUTIR
OS LIMITES DO HUMOR


Cada um no seu estilo, comediantes tomam a palavra no Na moral, nesta noite, na Globo, para debater o que faz rir e os limites do humor. O trapalhão Renato Aragão, Hélio De La Peña, Bruno Mazzeo e Gregório Duvivier conversam sobre piadas, suas inspirações e o que faz a brincadeira perder a graça. Alguns esquetes de Os trapalhões, Casseta & Planeta, urgente!, Vida ao vivo show e Porta dos fundos serão exibidos e servem de base às discussões sobre os
temas que faziam rir há alguns anos e que hoje não passariam pelo crivo do politicamente correto.

BRUNO DE LUCA FECHA
CICLO E DEIXA A GLOBO


Depois de 20 anos na Globo, onde estreou em 1993 na novela Fera ferida, e há quatro anos integrava a equipe do Vídeo show, Bruno de Luca desligou-se da emissoa. “Ele já cumpriu o ciclo dele no Vídeo show, então entendeu que era hora de sair. Foi tudo feito em consenso”, disse Lúcia Colucci, empresária de Bruno, ao site Caras online. Segundo ela, a decisão foi tomada em agosto. Bruno continuará no Multishow (TV paga), que pertence à Globosat. “São contratos separados. Ele ainda está no grupo, continua no Vai pra onde? e vai apresentar o Rock in Rio para o Multishow”, explicou.

TERRA DE ONÇA


O Globo ecologia deste sábado vai mostrar lugares que recebem turistas do mundo inteiro e que são referência na preservação ambiental, como Bonito (MS), que se transformou no melhor destino de ecoturismo do país. Com cachoeiras para banhos relaxantes, grutas, lagos com águas cristalinas e atividades em cavernas submersas, o paraíso recebe até 80 mil pessoas durante o carnaval. O programa revela ainda detalhes do projeto Onçafari, que está sendo implantado próximo à cidade, com oobjetivo de selecionar e treinar as onças-pintadas para que se habituem à presença dos turistas passeando em
seus territórios.

VIVA

Saramandaia (Globo): remake, que não segue original à risca, não fica nada a dever à primeira versão. Ótimo resultado.

VAIA

Resgate de Paloma (Paolla Oliveira) em clínica psiquiátrica, em Amor à vida. Parece comédia bem ao estilo pastelão. 

CINE CEARÁ » Uma reflexão sobre a loucura‏


CINE CEARÁ » Uma reflexão sobre a loucura Documentário do mexicano Solar Luna mostra o drama de um paciente encarcerado por 23 anos em um hospital psiquiátrico 


Mariana Peixoto *

Estado de Minas: 12/09/2013 


O longa-metragem O paciente interno apresenta o relato de Carlos Castañeda de La Fuente: inocente ou culpado? (Cine Ceara/Divulgação)
O longa-metragem O paciente interno apresenta o relato de Carlos Castañeda de La Fuente: inocente ou culpado?

Fortaleza – Em 2 de outubro de 1968, centenas de estudantes foram mortos na Cidade do México. A 10 dias do início dos Jogos Olímpicos naquele país, a ação dos manifestantes, que ecoavam o que ocorria no mundo, foi reprimida com truculência pelos militares, no que veio a se chamar Massacre de Tlatelolco. O país era governado por Gustavo Díaz Ordaz Bolaños, que, sob pressão, fez um mea culpa um ano mais tarde. Pois em fevereiro de 1970, durante um ato público e já em fim de governo, Díaz Ordaz teria sofrido um atentado.

O autor seria Carlos Castañeda de La Fuente, que estaria vingando os estudantes mortos e desaparecidos – dezenas segundo números oficiais; centenas de acordo com grupos de direitos humanos. O presidente, que governou o México de 1964 a 1970, nada teria sofrido. A única certeza diante de tudo, já que não há nenhuma documentação sobre o ato em si, é que Castañeda ficou encarcerado 23 anos em um hospital psiquiátrico. Depois de um trabalho impecável de investigação, o mexicano Alejandro Solar Luna apresenta essa história em O paciente interno, documentário exibido anteontem na mostra competitiva do Cine Ceará.

Pesquisa A história de Castañeda era praticamente desconhecida. O realizador tomou contato com ela por meio de uma reportagem publicada em um jornal em 2004, sobre um homem que havia atentado contra a vida de Díaz Ordaz e que vagava pelas ruas da Cidade do México. “Guardadas as devidas proporções, ele é o nosso Pinochet”, disse o diretor sobre o antigo presidente. Mais do que mostrar a trajetória de Castañeda, o diretor realiza um trabalho de denúncia contra o antigo sistema psiquiátrico.

Livre do encarceramento desde 1993, Castañeda é um morador de rua que exibe as sequelas de uma vida à base de antipsicóticos e enclausuramento. Luna, que começou efetivamente a pesquisa do documentário em 2008, foi encontrá-lo um ano mais tarde, depois de contratar um investigador particular. Só tinha uma foto antiga de Castañeda e a ajuda de uma advogada que havia tentado tirá-lo do hospital. “Em cinco minutos de conversa, ele me disse que tinha tentado matar o presidente. Perguntei se ele queria contar sua história e ele aceitou”, conta Luna. A motivação seria um delírio de Castañeda. Muito religioso, ele teria achado que se o massacre havia matado jovens e o México era um país católico, então ele tinha que vingar os católicos matando o presidente.

Com 69 anos, às vezes lúcido, outras vezes desconexo, o personagem revelou seu passado. Castañeda ficou internado quatro anos no Pavilhão 6 do Hospital Psiquiátrico Samuel Ramírez Moreno – na verdade, uma solitária de onde os próprios enfermeiros não tinham a chave – e 19 no Pavilhão 5, destinado aos pacientes inimputáveis. Com uma câmera onipresente, mas nunca ostensiva, Luna vai acompanhando a vida de Castañeda. A vida em um albergue, o encontro com o irmão, a relação com outros internos. As imagens são intercaladas com depoimentos de advogados, psiquiatras, enfermeiros e até o tutor legal de Castañeda, que não aceitou ser filmado, e só aparece em gravação de áudio.

“Mais do que uma denúncia, esse filme é uma reflexão sobre a loucura”, afirmou Luna, que há mais de um ano perdeu Castañeda de vista. Tenta encontrá-lo passando nos lugares que sabe que ele costuma frequentar para lhe mostrar o filme. O paciente interno estreia no circuito comercial mexicano no próximo dia 27. O diretor espera polêmica, ainda mais porque o Partido Revolucionário Institucional, do presidente Díaz Ordaz, voltou ao poder em 2012 com a eleição de Enrique Peña Nieto.


* A repórter viajou a convite da organização do Cine Ceará

Jornalista edita crônicas - Carlos Herculano Lopes


Estado de Minas: 12/09/2013 


Leila Ferreira volta a BH depois de ter vivido três anos em Araxá (Gabriela Araujo/Divulgacao-4/7/13)
Leila Ferreira volta a BH depois de ter vivido três anos em Araxá

Depois do sucesso de Mulheres: por que será que elas...?, que ficou durante um bom tempo na lista dos mais vendidos, a jornalista e escritora Leila Ferreira lança mais uma coletânea de crônicas, Viver não dói (Editora Globo/Principium, 276 páginas), que ela autografa hoje, no Teatro Sesiminas. Se depender dos temas universais que ela explora, como amor, sexo, solidão, envelhecer, perdas e alegrias, com certeza o livro também será sucesso.

No livro não faltam ainda as viagens que Leila fez pelo mundo, as experiências adquiridas e os encontros com famosos, como nas vezes em que esteve com a escritora chilena Isabel Allende, uma em Ouro Preto e três outras em Nova York. Em algumas crônicas nota-se também uma pontinha de melancolia, tão própria do ser humano, mas nada que a autora não tire de letra.

Formada em letras e jornalismo, mas atualmente dedicando-se à literatura, Leila Ferreira conta que se inspirou num verso de Emílio Moura para escrever o novo livro: “Viver não dói, o que dói é a vida que não se vive, tanto mais bela sonhada quanto mais triste perdida”. Leila explica: “Eu me apaixonei de cara pelo texto, pedi autorização à família do poeta e coloquei Viver não dói como título do livro”.

Mas e para você, Leila, viver dói ou não dói? “Dói, sim, mas é só soprar que passa. É claro que viver dói, mas não viver, ou viver pela metade, é muito mais doloroso ainda”, afirma a escritora. Para ela, que desde a adolescência teve de botar o pé na estrada na busca do próprio caminho, chegando com a cara e a coragem a Belo Horizonte, a dor de estar vivo é bem menor do que a dor de se viver anestesiado ou de não viver.

Viver não dói
Lançamento do livro de Leila Ferreira. Hoje, às 19h30, no Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia), dentro do Projeto Sempre um papo. Entrada franca. Informações: (31) 3261-1501 e www.sempreumpapo.com.br.


Em família

No evento de hoje, Leila Ferreira estará acompanhada do irmão, o cartunista e frasista Dirceu. Ele também lança o livro As máximas do Dirceu (Editora Autêntica). “Exilado há anos em Araxá”, como costuma dizer, Dirceu foi revelado por Ziraldo, trabalhou no Estado de Minas e em outros jornais e inspirou o famoso personagem Ubaldo, o paranoico, do também cartunista Henfil. 

Sono reparador de neurônios‏

Estudo americano indica que dormir bem aumenta a produção de substância que protege o sistema nervoso central. Desgaste dessa estrutura pode desencadear doenças autoimunes, como a esclerose múltipla 


Thaís Cieglinski

Estado de Minas: 12/09/2013 

Uma boa noite de sono é capaz de renovar o ânimo, descansar o corpo e a mente. Um estudo publicado no The Journal of Neuroscience acrescenta mais um motivo à lista de benefícios: dormir intensifica a produção da bainha de mielina, substância que envolve os neurônios e protege o sistema nervoso central. “O uso que fazemos do cérebro enquanto estamos acordados exige um período de descanso. Muitas funções cognitivas ficam comprometidas se nos mantivermos despertos por muito tempo, da atenção à memória, passando ainda pelo humor. Elas só conseguem ser reparadas se, de fato, adormecermos”, explica a neurocientista Chiara Cirelli, pesquisadora da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, e coordenadora do estudo.

As constatações foram feitas em experimentos com camundongos. Os dados levantados indicaram que a taxa de produção das células que dão origem à mielina, os oligodendrócitos, dobrou enquanto eles dormiam. Apesar de saber que muitos genes são ativados durante o sono – a exemplo dos hormônios do crescimento – , os cientistas ainda não conheciam o impacto do repouso sobre células responsáveis pela produção da substância branca “Agora, está claro que a maneira como operam outras células de apoio no sistema nervoso também muda significativamente se estivermos dormindo ou acordados”, detalha a especialista.

A capacidade de aprender e de ganhar novas habilidades é precisamente controlada pela mielina, que funciona como isolante de um circuito elétrico. Ela garante que os impulsos sejam transmitidos de forma rápida de uma célula para outra, podendo transmitir um sinal em velocidade superior a 100 metros por segundo, tão rápido quanto um carro de Fórmula 1. O desenvolvimento dos oligodendrócitos é iniciado durante o segundo trimestre de gestação, logo depois do surgimento da maioria dos neurônios; continua durante o nascimento e perdura pela vida adulta. Sem a bainha de mielina, no entanto, os neurônios são expostos e a transmissão dos impulsos nervosos fica comprometida. Podem ainda acontecer “curtos-circuitos” ou bloqueios da transmissão dos impulsos. 

É o que ocorre com portadores de doenças como a esclerose múltipla e a mielite transversa (leia Saiba mais). Em ambos os casos, a degradação da substância branca pode provocar um série de alterações físicas e cognitivas, como fraqueza muscular; formigamento ou dormência na face, nos braços e nas pernas; incoordenação motora, problemas na memória, desequilíbrio, incontinência urinária, entre outras. A desmielinização, no entanto, não se dá de forma homogênea, mas em focos localizados principalmente em áreas motoras e sensoriais.

Os ataques à mielina ocorrem em virtude de uma falha genética no sistema imunológico – responsável por proteger o corpo humano diante de um agente intruso, como um vírus ou uma bactéria –, que, por razões ainda desconhecidas, passa a atacar a substância branca. O sistema nervoso central tem a capacidade de reverter, até certo ponto, a degeneração da mielina, mas, com a progressão dos ataques, esse mecanismo perde força.

Novos tratamentos A descoberta dos pesquisadores norte-americanos pode, portanto, oferecer novos caminhos no tratamento dessas enfermidades. De acordo com o estudo, a maior produção de oligodendrócitos se deu durante a fase mais profunda do sono, o período REM (sigla em inglês para movimento rápido dos olhos). Em contrapartida, quando os ratos foram forçados a permanecer acordados, houve queda nessa taxa. Além de sintetizar a mielina, essas estruturas são responsáveis por mantê-la. 

“Na fase inflamatória de doenças autoimunes que atingem o sistemas nervoso central e periférico ou no caso de desmielinização muito intensa e persistente, não há chances de recuperação com os medicamentos atualmente disponíveis”, explica o neurologista Carlos Tauil, médico do Hospital de Base de Brasília. 

O próximo passo dos pesquisadores será analisar as taxas de produção de oligodendrócitos em humanos, em especial nas pessoas afetadas pela esclerose múltipla. A suspeita é de que a privação de sono pode agravar alguns sintomas da doença. Além disso, a equipe de Chiara Cirelli pretende analisar se a falta de sono, especialmente na adolescência, pode gerar efeitos nocivos, de longo prazo, para o cérebro.

De acordo com o Centro Norte-Americano de Controle e Prevenção de Doenças, a privação de sono pode aumentar o risco de doenças crônicas – incluindo problemas cardiovasculares e diabetes –, de depressão, além de desencadear maior tendência à obesidade. Para quem sofre de doenças neurodegenerativas, o repouso é imprescindível. “O sono é um processo natural de renovação e equilíbrio de neurotransmissores e neurohormônios que agem em áreas do sistema nervoso que controlam a sensação de fadiga. Um ciclo circadiano e um sono eficiente são fundamentais, além de exercícios físicos e dieta adequada”, observa Carlos Tauil.

Mal raro e súbito

A mielite transversa é uma enfermidade neurológica rara que se inicia, habitualmente, com dor súbita nas costas, seguida de adormecimento e debilidade motora nas pernas. Os episódios podem avançar ao longo de vários dias e, se forem graves, gerar paralisia sensitivo-motora e perda do controle intestinal e da bexiga. Pode aparecer em qualquer idade, mas o maior número de casos é registrado entre 10 e 19 anos e depois dos 40. É comum os pacientes apresentarem febre pouco antes do início de sintomas neurológicos. Os primeiros casos foram descritos em 1882 e atribuídos a lesões vasculares e eventos inflamatórios agudos. Apesar de muitas pessoas se recuperarem com pouca ou nenhuma sequela, algumas sofrem prejuízos permanentes capazes de afetar a capacidade de executar tarefas simples, como andar. A maioria dos pacientes terá apenas um episódio da doença.

Cirurgia contra diabetes tipo 2‏

Operação bariátrica contra a obesidade tem tido sucesso 



René Berindoague

Cirurgião especializado em cirurgia do estômago, diretor técnico do Instituto Mineiro de Obesidade


Estado de Minas: 12/09/2013 


A comunidade médica tem voltado atenção cada vez maior para a utilização da cirurgia bariátrica ou metabólica, aquela para redução de peso, no tratamento do diabetes. Segundo a Federação Internacional de Diabetes, 285 milhões de pessoas no mundo têm a doença (uma prevalência de 6,4% entre adultos de 20 a 79 anos), que deve atingir 438 milhões dentro de duas décadas. A cada ano, sete milhões desenvolvem o problema. Dados atuais da Sociedade Brasileira de Cirurgia Metabólica e Bariátrica indicaram que 10% dos diabéticos morrem de problemas cardiovasculares todos os anos, caindo para 0,3% entre aqueles que fizeram a cirurgia bariátrica. Essa seria uma solução para diabéticos tipo 2, que precisam cuidar da disfunção, até então considerada incurável. A obesidade é apontada como um dos principais fatores de risco para o diabetes tipo 2. Estima-se que entre 80% e 90% dos indivíduos acometidos por essa doença são obesos. No Brasil, segundo dados divulgados ano passado pelo Ministério da Saúde, o número de brasileiros acima do peso passou de 42,7%, em 2006, para 48,5%, em 2011. No mesmo período, a proporção de obesos aumentou de 11,4% para 15,8%.

Mas por que uma cirurgia indicada para redução da obesidade pode ser útil para tratamento do diabetes? A explicação pode estar na modificação causada pela operação na produção de hormônios produzidos no estômago e no intestino. A produção da grelina, hormônio liberado pelo estômago com a finalidade de estimular o apetite, cai substancialmente nos operados. E o imediato aumento das substâncias incretinas passa a estimular o pâncreas a produzir novamente a insulina. Com isso, os níveis de glicemia voltam ao normal já nos primeiros dias de operado. Outra influência hormonal importante é a do GLP-1, produzido por células localizadas no intestino, que, entre outras funções, serve para estimular o pâncreas a produzir a insulina. Como a cirurgia deixa quase todo o estômago fora de circuito, o bolo alimentar é desviado diretamente para o intestino delgado, área a que os alimentos já chegam processados pelo suco gástrico. Esse novo estímulo faz as células do delgado produzirem mais GLP-1.

A cirurgia bariátrica pode ser utilizada também em alguns pacientes com índice de massa corporal (IMC) entre 30 e 35, o que significa obesidade leve. Os resultados são promissores. As rotinas médicas mostram que diabéticos com obesidade moderada perderam mais peso e tiveram um controle melhor da glicose, em até dois anos depois da cirurgia bariátrica do que com tratamentos não cirúrgicos, como dietas e medicamentos, que devem ser administrados por toda a vida.

A cirurgia, no entanto, não deve ser utilizada indiscriminadamente. Cada caso deve ser estudado, uma vez que cada organismo tem suas diferenças e limitações. Se decidido pela cirurgia, é necessário um acompanhamento multidisciplinar e a adoção de hábitos saudáveis, baseados na boa alimentação e na rotina de exercícios físicos. As pesquisas revelam que diabetes e obesidade podem andar lado a lado, em uma harmonia cirurgicamente solucionável. Eis que novos campos se abrem para cura e bem-estar de pacientes.

Força dos negros no empreendedorismo - Luiz Barretto


Estado de Minas: 12/09/2013 


O Brasil registra, na última década, a evolução de indicadores socioeconômicos que embasa a construção de uma sociedade mais desenvolvida e mais justa. Nesse processo, o empreendedorismo tem sido protagonista. Mais do que uma oportunidade de evoluir na vida, como ocorre em tantas economias mais desenvolvidas, aqui no país ele também é um fenômeno de inclusão social. Agora temos mais elementos para apostar no potencial de transformação do empreendedorismo. Os negros, grupo historicamente discriminado, aumentaram a participação em atividades empreendedoras e comandam quase a metade do total de empresas no Brasil.

A informação é de um estudo inédito do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae), que buscou detectar as principais características dos donos de negócio no Brasil, de acordo com a raça declarada por eles mesmos à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. O trabalho revelou que, entre 2001 e 2011, o número de empreendedores negros passou de 43% para 49%. A participação relativa dos brancos caiu de 56% para 50%. A categoria Outros, que inclui aqueles que se autodenominam amarelos ou indígenas, por exemplo, permaneceu na faixa de 1%.

A participação crescente dos negros no empreendedorismo acompanha a evolução desse grupo na população brasileira e é apoiada pelo crescimento geral da renda. No contexto do crescimento da classe média, que viabilizou a ascensão social de mais de 40 milhões de pessoas na última década, grupos historicamente mais pobres são destaque. Oitenta por cento dos novos membros da classe média são negros. A renda desse grupo, bem como de nordestinos, cresceu o dobro da média da classe C nos últimos 10 anos, segundo o instituto Data Popular. Esses dados mostram que a classe média cresce com redução da desigualdade.

É possível verificar um círculo virtuoso: o processo de inclusão social fortalece o empreendedorismo, que, por sua vez, viabiliza maior inclusão social. Exemplo disso é a relação entre microempreendedores individuais – categoria que tem faturamento bruto anual de até R$ 60 mil, ou R$ 5 mil por mês – e beneficiários do Bolsa-Família, programa voltado para famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. Atualmente, cerca de 10% de microempreendedores individuais são beneficiários do Bolsa-Família. Esse percentual tem evoluído gradativamente, demonstrando que esse grupo busca meios para gerar renda e não depender, exclusiva e indefinidamente, do programa do governo.

Por reconhecer o potencial empreendedor dos beneficiários do Bolsa-Família, o Sebrae tem atuado intensamente para capacitar microempreendedores individuais em todo o país. É de importância estratégica qualificar esse público, o que repercute positivamente não apenas nas famílias dessas pessoas, mas também nas economias local e nacional.

Os avanços merecem ser celebrados, mas há muitas estatísticas que precisam ser modificadas. Em geral, os negros ingressam mais cedo no mercado de trabalho e entre eles há uma proporção elevada de indivíduos que atuam em atividades mais simples, de menor valor agregado ou maior precariedade. No grupo dos brancos, verifica-se uma maior proporção de empreendedores que atuam em atividades mais especializadas e de maior valor agregado. Que fatores impactam decisivamente nessa diferenciação? O grau de escolaridade e a capacitação empreendedora estão entre os principais.

Não é possível dissociar o êxito no empreendedorismo do nível de capacitação do empresário. A atividade empreendedora deixou de ser um caminho emergencial para quem não tinha alternativa de renda e cada vez mais é buscada devido à identificação de uma oportunidade no mercado. Abrir uma empresa, porém, é apenas o primeiro passo. Para que o negócio tenha chances de consolidação e de longevidade, o empreendedor precisa ter iniciativa de se capacitar de forma contínua. Caso contrário, sua empresa não terá condições de enfrentar a concorrência, numerosa e bem preparada.

No Sebrae, buscamos oferecer cursos variados, com linguagem e didática segmentados para cada tipo de empreendimento: microempreendedores individuais, microempresas e pequenas empresas. Temos a convicção de que a melhoria da gestão proporciona uma série de impactos positivos. A empresa ganha competitividade e amplia o potencial de faturamento e os empresários passam a ter mais qualidade de vida. A elevação no patamar de renda de um grupo aumenta a capacidade de consumo, movimenta a economia local e beneficia o contexto socioeconômico nacional.

A redução das disparidades sociais no país está relacionada a avanços na educação, o que inclui valorização da capacitação empreendedora. A diminuição da desigualdade racial entre os donos de negócio no Brasil é uma evolução bem-vinda, mas todos sabemos que ainda há muito a ser feito para tornar nossa sociedade mais justa. Essa construção deve incluir o fortalecimento do empreendedorismo no país, alternativa de acesso cada vez mais democrático e atraente para todos os brasileiros.

Luiz Barretto Presidente do Sebrae Nacional

EDUARDO ALMEIDA REIS - Crime continuado II‏

Interrompi minha formação psiquiátrica antes de fazer o vestibular de medicina, quando descobri que não posso ver sangue



Estado de Minas: 12/09/2013 

Cuidei, na edição de ontem, do papel doloroso da mídia na tragédia paulistana da Vila Brasilândia. Mídia que aceitou e veiculou, repetiu e insistiu numa infinidade de besteiras. Teria aparecido – notem: “teria...” – uma vizinha que viu dois sujeitos, vestidos com fardas da PM, saltando o muro da casa dos mortos na mesma hora em que ilustre senhora que preside sofrido país expressava seu imenso respeito pelo ET de Varginha. De repente, quem pulou o muro foi o ET fantasiado de PM.

Um legista-cheguei, neandertaloide que sempre se mete onde não é chamado e continua sendo levado a sério pela mídia, atestou que a família não foi morta pelo menino, de mesmo passo em que um psicólogo-cheguei, também muito exibido, dizia que o perverso não se arrepende. Portanto, um menino perverso não se suicidaria horas depois de matar a família.

Ora, havia inúmeros depoimentos de colegas de escola do menino, levados à delegacia pelos pais, atestando que o coleguinha vivia falando em matar a mãe, o pai e uma professora, antes de se transformar em “matador” profissional. Sabe-se que o guri era diabético e sofria de uma doença genética, motivo pelo qual seus pais se abstiveram de ter outros filhos.

Até aí, tudo bem ou tudo mal, como queiram. Não me lembro de astrólogos explicando a tragédia pela conjunção dos astros, mas vi técnicos em tudo – tiro ao alvo, balística, pão de queijo, glúten, vitamina D e sexo virtual – opinando pela televisão, com a concordância entusiasmada de jornalistas e âncoras dos quais se tinha o direito de esperar um tiquinho de comedimento.

Não bastasse a tragédia, assistimos durante muitos dias ao crime continuado da mídia em busca de ibope – e vai ficar tudo por isso mesmo. Atrás de audiência vale apelar despudoradamente até para o legista-cheguei e o psicólogo-cheguei conhecidos de outros carnavais, carnavalescos que sempre foram.

Interrompi minha formação psiquiátrica antes de fazer o vestibular de medicina, quando descobri que não posso ver sangue (hematofobia), mas até o jacu que avoa aqui perto da janela do escritório sabe que surto psicótico é surto, é maluquice agravada; no caso, pelo fato de o menino ter dito diversas vezes aos colegas de escola que pretendia matar os pais. Portanto, foi surto prefaciado e deve ser estudado pelo pessoal da área psi. Imperdoável, no meu entendimento de philosopho, foi a reação de toda a imprensa.

Gastrô
Sugiro que o caro e preclaro leitor procure no Google o trabalho de Dora Jesus sobre O percebe e os percebeiros. No mesmíssimo Google há um vídeo mostrando o trabalho dos percebeiros, em que morrem vários por ano e outros muitos ficam gravemente feridos no embate das ondas contra as rochas em que se grudam os percebes, crustáceos cada vez mais procurados e valorizados no planeta gourmet.

Velha e querida amiga, especializada em champanhe no período em que foi sommelière no melhor restaurante paulistano e me ensinou a pronúncia de Taittinger, recebeu o vídeo que lhe mandei e respondeu dizendo que adora percebe /ê/ ou perceve /ê/, craca do gênero Lepas, de pedúnculo longo e comestível, e não vai deixar de degust[a-los apesar da brutalidade do trabalho dos percebeiros.

Também chamada caraca (!) ou glande-do-mar (!!), craca é designação comum aos crustáceos, exclusivamente marinhos, da classe cirrípedes, que vivem fixados a rochas, conchas, corais, madeiras e outros objetos flutuantes, encerrados em uma carapaça calcária semelhante a um pequeno vulcão. Pelo que entendi, se é que entendi alguma coisa, o percebe é privativo das rochas marítimas da Espanha e de Portugal. Não é “bonito”, mas boniteza é virtude noutros locais geralmente cobertos de colchões e lençóis, se bem que o ditado reze: quem ama o feio, bonito lhe parece.

O planeta grastrô tem coisas esquisitíssimas, como aquele prato buenairense feito com as tripas do boi e o que nelas se contém, antes de se transformarem em esterco. Num acesso de insensatez e muito álcool, encarei uma buchada, que felizmente não era de bode, mas de Abaeté, MG, preparada pelo Paulo Laborne em seu estúdio fotográfico. Admito que o prato ficou gostoso. A buchada nordestina é cozinhado de bucho, miúdos, tripas, sangue e cabeça de cabrito, carneiro, ovelha ou bode.

Estive presente no dia em que um advogado nordestino, casado com mulher muito rica e feia, anunciava sua viagem à terra natal “para comer uma buchada de bode”. Um nissei fluminense, que não gostava do causídico, observou com a proverbial sutileza nipônica: “O senhor não come todo dia porque não quer”.

O mundo é uma bola
12 de setembro: faltam 110 dias para acabar o ano. Em 1720, criação da capitania de Minas Gerais. Em 1814, Francis Scott Key compõe o hino dos Estados Unidos. Em 1936, inaugurada a Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
Em 2007, terremoto de magnitude 7,9 na Indonésia. Em 1880, nasce H. L. Mencken, jornalista americano dos bons. Em 1888 veio ao mundo Maurice Chevalier, ator, cantor e humorista nascido em Paris. Em 1894 foi a vez do nosso Vicente Celestino, aliás Antônio Vicente Filipe Celestino.
Em 1996 morreram Eleazar de Carvalho e Ernesto Geisel.

Obama responde ao Brasil‏

EUA dizem que governo Dilma tem preocupação "legítima" sobre espionagem de dados 


Gabriela Walker e Adriana Caitano

Estado de Minas: 12/09/2013 


Brasília – O governo de Barack Obama afirmou ontem que o Brasil levantou “questões legítimas” ao interpelar a Casa Branca sobre as atividades de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) a respeito da presidente Dilma Rousseff e da Petrobras e prometeram “trabalhar junto” com o governo brasileiro para resolver as tensões provocadas pelo tema.

A declaração foi dada em comunicado após encontro na Casa Branca entre o chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, e a conselheira de Segurança Nacional norte-americana, Susan Rice, para tratar do assunto. Pelo lado brasileiro, as conversas com Rice foram consideradas suficientes e continuam hoje. Após o encontro, servidores da embaixada brasileira participaram de uma reunião para discutir as informações passadas pelos norte-americanos. Na nota, a Casa Branca argumentou que algumas reportagens “distorceram” as atividades da NSA e outras “provocaram questões legítimas” que criaram “tensões na muito próxima relação com o Brasil”.

O encontro entre Figueiredo e Susan Rice tinha sido acertado entre os presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama durante a reunião do G20, na semana passada, na Rússia. Na ocasião, Obama manifestou disposição para atender às demandas brasileiras e disse a Dilma que trabalharia pessoalmente para resolver a crise diplomática.

Ontem, enquanto ainda aguardava explicações, a presidente pediu urgência constitutional para a votação do marco civil da internet, projeto que deve regulamentar o tráfego de dados no Brasil. “Ela considerou importante que os dados sejam armazenados dentro do território nacional, para deixar claro que a lei que proteger os internaurtas brasileiros será aplicada aos dados coletados no país”, comentou o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), relator do projeto sobre marco civil. A proposta tramita no Congresso desde 2001, mas não avança por falta de consenso.

Na Câmara dos Deputados, a Comissão de Relações Exteriores aprovou por unanimidade o envio de uma missão parlamentar à Rússia, para buscar mais informações com o ex-analista de inteligência Edward Snowden, autor das revelações sobre o rastreamento da telefonia e da internet pelos EUA e recebeu asilo temporário do presidente Vladimir Putin. (Com agências)