sexta-feira, 28 de junho de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      MANDRADE
MANDRADE

Sabatina Folha/UOL Caio Martins e Mariana Toledo do MPL

folha de são paulo
É difícil fazer protesto pacífico, diz Passe Livre
INTEGRANTES DO MOVIMENTO CULPAM REPRESSÃO POLICIAL PELA VIOLÊNCIA E DEFENDEM QUE CONTRIBUINTE FINANCIE TARIFA ZERO
DE SÃO PAULO
O MPL (Movimento Passe Livre) afirma que a realização de protestos pacíficos no país é difícil devido à violência vinda do Estado e descartou colaborar com a polícia para identificar vândalos.
O grupo classificou ainda de "oportunismo" a proposta feita pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para criar um passe livre para estudantes, e defendeu que a tarifa zero seja financiada pelo contribuintes.
As afirmações foram feitas ontem por Caio Martins, 19, e Mariana Toledo, 27, integrantes do MPL, em sabatina realizada pela Folha e pelo portal UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha.
O debate ocorreu no Museu da Imagem e do Som, no Jardim Paulista (zona oeste de São Paulo). Foi mediado pela repórter especial Patrícia Campos Mello, com a participação de Alan Gripp, editor de "Cotidiano", Uirá Machado, editor-assistente de "Opinião", e da repórter do UOL Notícias Janaina Garcia.
"É muito difícil conseguir uma manifestação pacífica na rua [no Brasil] porque o Estado é violento", disse Martins, 19. Estudante de história da USP, ele diz que experimentou exagero da polícia desde que começou a militar no MPL, em janeiro de 2011.
Citou ainda uma integrante do movimento que perdeu parte de um dos dedos devido aos estilhaços de uma bomba de efeito moral lançada pela polícia em uma das manifestações do grupo.
Questionado se o ataque à Prefeitura de São Paulo tinha sido crucial para a revogação no aumento da passagem, o estudante afirmou que o motivo principal do recuo na tarifa foi "a presença popular": "Tinha centenas de milhares de pessoas saindo às ruas."
VIOLÊNCIA
Ao lado de Martins na sabatina, Mariana, pós-graduanda em sociologia da USP, disse que "não é uma questão de condenar ou apoiar, achar legítimo ou não [a violência]. É que a gente perceba como a população está descontente com a violência da polícia, da tarifa".
Sobre a presença de anarquistas ligados ao "black bloc", movimento que prega o uso da violência em manifestações, a ativista disse que a presença do grupo "é mais fantasia do que outra coisa".
Mariana reforçou a posição do MPL contrária à "depredação do patrimônio público e disse que tenta evitar que isso ocorra. No entanto, afirmou que o movimento jamais ajudará a polícia a identificar vândalos.
"Uma coisa é tentar, auto-organizadamente, restringir [a violência]. Ajudar a polícia a criminalizar quem quer que seja é outra coisa", disse ela.
VIDA PESSOAL
Como tem sido praxe, os porta-vozes do MPL evitaram dar detalhes de suas vidas pessoais e comentar outros temas que são alvos de manifestações, como a PEC 37, projeto que restringia o poder de investigação do Ministério Público e foi barrado terça-feira na Câmara.
"A gente é um movimento social que discute transportes", repetiu Mariana.
"Não interessa saber o que o Caio e a Mariana pensam. Fomos destacados pra uma tarefa específica, de falar com a imprensa", disse Martins, que acusou os meios de comunicação de tachar o MPL de "vândalos" no início da realização dos protestos.
De organização "horizontal", o MPL não tem líderes. Os porta-vozes foram escolhidos pelo grupo, de cerca de 80 integrantes. Outras tarefas incluem a interlocução com a polícia e a redação de documentos e panfletos.
CRÍTICAS POLÍTICAS
Os dois integrantes do MPL foram duros tanto com as reações de Calheiros quanto a da presidente Dilma Rousseff (PT), com quem o movimento se reuniu, em Brasília, na última segunda-feira.
"A gente vê o projeto do Renan de passe livre estudantil como algo ligeiramente oportunista, cuja tentativa é menos enxergar o transporte como direito e mais uma tentativa de desmobilizar os estudantes", afirmou Mariana.
TARIFA ZERO
O MPL defendia o passe livre estudantil quando foi organizado nacionalmente, em 2005. Com o tempo, porém, passou a defender a tarifa zero, com base no projeto criado, mas não implantado em São Paulo em 1990, na gestão da então prefeita Luiza Erundina, na época no PT.
"A Dilma [Rousseff] disse que não existe tarifa zero: ou paga o usuário ou paga o contribuinte, mas isso é óbvio. O que a gente quer, justamente, é que o contribuinte pague", defendeu Martins.
Ele citou o aumento no IPTU como uma das fontes de financiamento possíveis e disse que o transporte público deveria estar no mesmo patamar de serviços públicos, como saúde e educação, fornecidos gratuitamente pelos governos.
"A reunião foi frustrante, pró-forma, do tipo vocês estão na rua, então vou chamar pra conversar'", disse Mariana, após a sabatina, sobre o encontro com Dilma.
O MPL negou que deixará de convocar mais protestos, mas disse que o foco agora será em outras atividades, como a aula pública realizada ontem, em frente à Prefeitura de São Paulo.
O movimento também promoverá o projeto de lei que prevê a implantação do transporte gratuito em São Paulo.
ESTÉTICA
Uma das perguntas do público que mais empolgaram o MPL foi sobre a "estética" dos protestos, questão classificada de "muito séria".
O movimento define o roteiro da marcha durante a manifestação e, ao invés de usar carro de som, faz jograis durante a passeata --prática em que um integrante grita um recado e os outros manifestantes repetem, juntos, em voz alta, para que todos no protesto possam escutar.
O grupo também tem uma fanfarra durante os atos. Outro recurso é a queima de catracas, compradas em ferros-velhos. "A catraca como símbolo, é a marca do apartheid urbano, por isso a destruição da catraca", disse Martins.
Os ativistas disseram que as redes sociais, principalmente o Facebook foram "fundamentais para a massificação da luta contra o aumento", mas lembram que várias cidades já haviam feito protestos grandes antes da existência desse recurso.

Conselho da USP aprova bônus racial para o vestibular

folha de são paulo
Proposta também aumenta bonificação para egressos de escola pública; ideia é atingir metas de inclusão do governo
Documento ainda vai passar pelo Conselho Universitário da USP; Unesp e Unicamp já aprovaram suas metas
SABINE RIGHETTIFÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULOO Conselho de Graduação da USP aprovou ontem a criação de bônus de 5% no vestibular para candidatos de escolas públicas que se declararem pretos, pardos ou indígenas. Hoje, não há benefício específico para esse grupo.
Haverá ainda aumento do bônus para os demais candidatos da rede pública. A pontuação máxima pode ir dos atuais 15% para 20%.
Ou seja, um aluno autodeclarado preto, pardo ou indígena que cursou o ensino básico na rede pública poderá ter um acréscimo de até 25% na sua nota no vestibular. Hoje, ele só pode chegar aos 15%.
A instituição aposta no aumento dos bônus no vestibular para atingir as metas do projeto apresentado em dezembro pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).
O governo quer que 50% dos calouros de cada curso das universidades estaduais paulistas --USP, Unicamp e Unesp-- sejam egressos de escolas públicas, sendo pelo menos 35% deles pretos, pardos e indígenas. O plano é atingir essas metas em 2016.
Hoje, 28% dos aprovados na USP estudaram na rede pública. A universidade pretende alcançar as metas em 2018.
O documento ainda passará pelo Conselho Universitário no próximo dia 2. Se aprovado, valerá já para o próximo vestibular.
CURSINHO
A USP aprovou ainda um reforço escolar --curso pré-vestibular-- para alunos da rede pública. Serão mil vagas, 35% delas em cota racial.
O documento aprovado na USP, ao qual a Folha teve acesso com antecedência, é uma síntese das sugestões feitas pelas suas 42 unidades.
A USP foi a última universidade estadual paulista a aprovar as metas do governo.
A aprovação da Unesp foi em abril. Em junho, a Unicamp dobrou os bônus no vestibular para estudantes do ensino médio público e aos pretos, pardos e indígenas.

    Vinicius Torres Freire

    folha de são paulo
    O ambiente econômico da rua brava
    Economia não levou pessoas as ruas, mas mediocridade até 2014 não deve ajudar a desanuviar o clima
    O BANCO CENTRAL do Brasil prevê uma inflação média rodando em torno de 5,5% em 2013 e 2014. Perdoe-se e releve-se a imprecisão decimal. O cansaço com anos de inflação nesse patamar desbastava lentamente o prestígio do governo na "Era AP" (antes dos protestos).
    Segundo o Banco Central, a coisa não vai ser muito diferente até 2014, na média. Decerto mudanças relativas de preços podem ocorrer, aliviando a pressão. Por exemplo, a inflação da comida pode não subir tanto quanto nos últimos anos. Nos últimos meses, o preço da comida subia ao ritmo anual de 15% ano, por aí, quase o dobro dos aumentos de salários.
    A diferença deste biênio final de Dilma Rousseff é que a taxa de juros será maior.
    A taxa de desemprego em tese deveria subir ligeiramente neste período. Mas, dadas as esquisitices recentes da economia brasileira, nem isso dá para prever.
    Sim, o crescimento será maior do que a miséria de 2012. Em termos políticos e sociais, não fará assim diferença para o cidadão comum. A julgar pelo lento andar da carruagem, o crescimento virá um pouco mais de investimento do que de consumo, o que é bom, mas tal mudança não aparece para mulheres e homens da rua.
    A dúvida politicamente mais relevante diz respeito ao ritmo de aumento dos salários, que está diminuindo. Mas tal resposta depende, óbvio, do que vai acontecer com o emprego, bem incerto, como se observou linhas acima. De qualquer modo, não parece razoável esperar que os salários passem a crescer mais do que agora.
    O cálculo da probabilidade de o protesto ter algum efeito econômico é uma pilhéria ainda maior. Por ora, parece que não vai ser bom. Governos acuados, politicamente tontos, para não dizer ineptos, estão acumulando alguns problemas fiscais (desequilíbrios entre receitas e despesas). Isso ainda vai pingar algumas gotas azedas num cenário econômico na melhor das hipóteses medíocre.
    No mais, a especulação sobre o efeito da rua na economia é ainda mais pretensiosa, embora a demagogia e o oportunismo das respostas de governos e parlamentos sempre nos permitam esperar o pior.
    E daí? O protesto da rua dificilmente foi uma reação geral à deterioração das condições econômicas. A gente mal vê reivindicação de salários, embora apareçam ali e aqui queixas sobre o custo de vida.
    Mesmo nas pesquisas realizadas durante os protestos as pessoas se disseram "satisfeitas ou muito satisfeitas" com sua vida em 71% dos casos.
    Ainda assim, mais um ano e meio de mediocridade econômica com redução do poder de compra (ou estagnação do processo de melhorias) certamente não vão desanuviar o ambiente.
    Observe-se ainda que nem toda a população teve ganho de renda "na média". Pessoas com nível de renda bem acima da média e abaixo dos raros ricos, vamos dizer o "quinto" ou o "décimo" realmente classe média não progrediram tanto assim. Estava aí o bastião do azedume contra o governo, são daí muitos dos manifestantes da rua, pelo menos das ruas centrais das cidades. Essas pessoas parecem mais iradas do que o restante dos seus concidadãos.
    vinit@uol.com.br

      Luiz Carlos Mendonça de Barros

      folha de são paulo
      O pibinho americano
      Os números do PIB americano trouxeram um pouco de bom-senso aos espíritos dos mais afobados
      A imprensa brasileira tem usado a expressão "pibinho" para descrever --e ridicularizar-- o nosso crescimento econômico na era Dilma. Muito dessa expressão representa uma reação bem brasileira ao eterno excesso de otimismo do ministro da Fazenda ao falar sobre o futuro da economia.
      Pois a divulgação final dos números do crescimento nos Estados Unidos, no primeiro trimestre do ano, foi recebida com o mesmo sentimento de frustração pelos mercados financeiros. Esperava-se um aumento do PIB da ordem de 2,4% ao ano e o número final foi de apenas 1,8% ao ano, um verdadeiro "pibinho".
      Na métrica usada pelo IBGE no Brasil, teríamos na maior economia do mundo, nestes primeiros três meses do ano, um crescimento de 0,45%, ante 0,60% no Brasil.
      Mas é importante entender que os EUA vivem uma dinâmica econômica bastante diferente da brasileira e, nessas condições, comparar taxas de crescimento pode levar a conclusões erradas e perigosas.
      No Brasil, a dificuldade de crescer vem principalmente do esgotamento de um ciclo criado pela ocupação de espaços ociosos de oferta na economia, em resposta principalmente a estímulos fiscais e de crédito criados pelo governo.
      Nos Estados Unidos, ainda é muito grande a ociosidade em partes importantes do tecido econômico, principalmente no mercado de trabalho e no sistema bancário, e por isso a economia vem trabalhando bem abaixo de seu potencial.
      Por outro lado, a política fiscal nesta primeira metade do ano tem sido um fator de contração da demanda, com uma redução importante do deficit das contas públicas.
      A atividade econômica, medida apenas no setor privado da economia, cresceu nestes primeiros três meses do ano a uma taxa anual bem mais elevada (2,75%). Ou seja, a política fiscal de ajuste do deficit orçamentário, depois de vários anos de política fiscal expansionista anticíclica, está reduzindo em mais de 1% ao ano o crescimento americano em 2013.
      Mesmo com esse freio funcionando deliberadamente, a economia já se encontra em uma fase inicial de recuperação do crescimento, depois de mais de cinco anos de crise financeira. Um fato que deve ser comemorado por todos os países, desenvolvidos ou emergentes, com entusiasmo.
      Foi nesse ambiente de retomada de um crescimento sustentado que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, comunicou ao mercado que começaria a normalizar a política monetária até o fim de 2013.
      Em entrevista logo após a reunião do Fomc --equivalente ao nosso Copom--, o presidente do Fed descreveu uma agenda muito cuidadosa e cheia de qualificações dos próximos passos na direção de uma política monetária clássica.
      Claramente ele temia uma reação exagerada dos mercados e que uma alta nos juros americanos, muito acima da desejada pela autoridade monetária, poderia abortar essa recuperação.
      Apesar do cuidado de suas palavras, essa decisão provocou um abalo importante nos negócios financeiros pelo mundo afora. Os juros dos títulos do Tesouro americano de dez anos de prazo --que já vinham aumentando em razão das expectativas-- deram um pulo de mais de 0,5 ponto percentual, arrastando nesse movimento as Bolsas de Valores no mundo todo e as moedas dos países emergentes.
      Na rudimentar opinião dos mercados, uma normalização dos juros nos EUA vai fazer com que a maior parte do dinheiro que circula hoje em países como o Brasil volte correndo para Wall Street, deixando à míngua essas economias.
      Mas números do PIB norte-americano, divulgados anteontem, trouxeram um pouco de bom-senso aos espíritos dos mais afobados ao mostrar que a tão cantada normalização dos juros vai ter que esperar dias melhores na maior economia do mundo.
      Com isso, certa calma voltou aos mercados emergentes, com queda nos juros, fortalecimento das moedas desses países e uma tímida recuperação dos preços das ações.
      Minha expectativa é que nas próximas semanas essa percepção de que o dia do ajuste final só ocorrerá em 2014 consolide esse movimento de recuperação dos mercados emergentes.

      Sem censura, regime cairia em 1 dia, diz 'Assange chinês'

      folha de são paulo
      Conhecido por divulgar um esquema de corrupção do governo, jornalista Zhu Ruifeng diz que Snowden errou ao ir para Hong Kong
      MARCELO NINIODE PEQUIMO local escolhido por Zhu Ruifeng para o encontro com a Folha no centro de Pequim, um café com mesas separadas por grossas cortinas, lembra o cenário de um filme de espionagem.
      "Eu costumava marcar em outro lugar, mas o governo descobriu e passou a vigiar meus encontros", conta o jornalista independente.
      Há poucos meses, Zhu, 43, virou celebridade na China --e uma pedra no sapato do governo-- após divulgar o vídeo de um chefão do Partido Comunista fazendo sexo com uma amante de 18 anos.
      O vídeo --e outros divulgados na sequência-- acabou revelando um esquema de suborno na cidade de Chongqing (sul) e levaram à demissão de 12 autoridades.
      A fama rendeu a Zhu várias visitas da polícia, bloqueios constantes de seu site e mais de um milhão de seguidores no popular microblog Weibo, versão chinesa do Twitter.
      Alguns jornais estrangeiros chegaram a chamá-lo de "Julian Assange chinês", numa referência ao fundador do site WikiLeaks.
      Zhu rejeita a comparação. "Sou apenas um jornalista. Talvez eu pareça diferente porque toda a imprensa serve de porta-voz do governo."
      Ele vê com ironia o fato de o americano Edward Snowden ter buscado refúgio justamente em Hong Kong, território sob domínio da China, após revelar um programa secreto de espionagem do governo dos EUA.
      "Para mim Snowden é um herói", diz Zhu. "Mas foi um erro ele achar que estaria protegido em Hong Kong."
      Embora funcione sob forte restrição, a internet na China permite um fluxo de informação que seria impossível há alguns anos.
      Com o auxílio de tecnologias capazes de driblar a censura, os "netizens" (cidadãos da rede, na expressão em inglês), como Zhu, tornaram-se uma alternativa à imprensa oficialista do país.
      Para Zhu, a censura é medida de sobrevivência. "Se a internet e a imprensa fossem livres, o governo não duraria nem um dia", acredita. "Para ser franco, o Partido (Comunista) provavelmente seria destruído."
      Para monitorar um universo de quase 560 milhões de internautas, o governo mobiliza um verdadeiro Exército. Só para vigiar o Weibo, a estimativa é de 4 mil censores.
      Os usuários de internet criaram uma linguagem própria para evitar cair na vigilância do governo. Palavras sensíveis, que acionam o radar eletrônico da censura, são substituídas, diz o estudante de jornalismo e blogueiro Zhang Zhongdi, 23.
      "Em vez de escrever 4 de junho (início dos protestos antigoverno na praça da Paz Celestial, em 1989), coloco 35 de maio. Jiang Zemin (ex-presidente) vira imperador aposentado", conta. "Aos poucos os truques vão sendo descobertos e criamos outros".
      Mas há quem defenda o controle da internet. Li Hong, presidente da Associação de Controle de Armas e Desarmamento da China, acha que há um exagero nas críticas à censura. "Trata-se de uma nova mídia, e é preciso regulação para evitar o caos", diz. Para Li, o caso Snowden comprova que a China, frequentemente acusada pelos EUA de patrocinar ataques cibernéticos, é, na verdade, uma vítima da prática.
      Com o controle restrito do Estado, quem ousa pular a muralha da censura sabe que corre riscos. Zhu diz não se importar: "Quarenta e nove funcionários corruptos foram punidos graças ao que fiz. Mesmo que me matem, minha vida já valeu a pena."

        Reforma imigratória avança nos EUA

        folha de são paulo
        Senado aprova proposta para regularizar até 11 milhões de pessoas, mas texto deve sofrer resistência na Câmara
        Projeto é uma das principais promessas de campanha de Obama e conta com apoio de empresas de tecnologia
        RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTONO Senado americano aprovou ontem, com 68 votos favoráveis e 32 contrários, a maior reforma imigratória do país em décadas. Agora o projeto vai para a Câmara dos Deputados, onde sofre maior oposição.
        Com o apoio de 54 democratas e apenas 14 republicanos no Senado, a reforma cria um processo de legalização escalonada, que pode levar até 13 anos, para os 11 milhões de imigrantes sem papéis nos Estados Unidos.
        Ela também aumenta gradualmente a emissão de vistos de trabalho H-1B para trabalhadores altamente qualificados, os que ganham acima de US$ 115 mil dólares (cerca de R$ 253 mil) por ano.
        Autoriza ainda o investimento de US$ 30 bilhões (R$ 66 bilhões) na segurança da fronteira do país com o México, uma das principais exigências da oposição republicana para aprovar a lei.
        Os 3.141 quilômetros de fronteira terão uma sucessão de muros e cercas, passando por quatro Estados americanos, e o número de guardas pulará de 21 mil para 40 mil --ainda que, nos últimos quatro anos, a entrada de imigrantes pela fronteira seja a menor em 30 anos.
        A reforma imigratória virou uma das maiores promessas de campanha da reeleição do presidente Barack Obama em 2012.
        Como 73% dos hispânicos votaram em Obama no ano passado, muitos republicanos achavam que era hora de se reconciliar com as minorias de imigrantes para reduzir a rejeição ao partido entre os latinos.
        Mas os republicanos encontram-se divididos. Muitos calculam que a reforma simplesmente dará voto a 11 milhões de possíveis eleitores democratas.
        Vários deputados republicanos foram eleitos em distritos majoritariamente brancos e com poucos estrangeiros, que se opõem à reforma.
        Mas tanto associações de empresários quanto sindicatos, antes contrários à reforma, apoiam a legalização. Sindicalistas dizem que imigrantes sem papéis são mais vulneráveis e puxam salários para baixo.
        VALE DO SILíCIO
        Facebook, Apple, Microsoft, Yahoo! e Google estiveram entre os maiores lobistas para a aprovação da reforma. Essas empresas criaram uma associação no início do ano para promover a reforma.
        Os empresários do setor se queixam que os 85 mil vistos concedidos anualmente para especialistas em tecnologia se esgotam em apenas 10 semanas. A reforma aumenta o número desses vistos a 180 mil.
        CÂMARA
        Agora, o projeto será votado na Câmara dos Deputados, onde os republicanos são maioria. Lá, a reforma não deve passar tão facilmente. Ted Cruz, deputado do Texas e estrela ascendente dos republicanos, já chamou a reforma de "anistia para criminosos".
          Para ex-secretário de Bush, republicanos precisam de mudança
          Carlos Gutierrez defende apoio a imigrantes para evitar que partido fique cada vez menor
          PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULOA sobrevivência do partido republicano americano depende da aprovação da reforma da imigração, que agora segue para votação na Câmara, onde a sigla tem maioria.
          Esse é o alerta de Carlos Gutierrez, ex-secretário de comércio do governo George W. Bush, que hoje preside o grupo "Republicans for Immigration Reform" (republicanos pela reforma imigratória).
          Veja os principais trechos da entrevista à Folha.
          Folha - Muitos republicanos que irão enfrentar primárias em 2014 temem ser atacados por candidatos da extrema direita se apoiaram a reforma...
          Carlos Gutierrez - Isso tem acontecido muito, e nós tentamos ser uma espécie de defesa para eles.
          Quem no partido republicano apoia a reforma?
          Principalmente empresários. Eles entendem que o que faz o partido poderoso é sua ideologia econômica ­--livre mercado, baixos impostos e redução do Estado-- e não questões sociais. Gastamos tanto tempo falando sobre tudo o que somos contra --aborto, imigração, gays... Ora, isso representa 50% da população.
          Foi como o senador Marco Rubio disse: os hispânicos podem até apoiar nossas propostas para a economia e os impostos, mas, se acharem que queremos deportar a avó deles, não vão votar na gente.
          Quem se opõe à reforma, além da extrema direita e quem tem medo das primárias?
          Também há quem acredita que os imigrantes ilegais são democratas sem documentos. Ou seja, por que dar a chance para eles votarem?
          A aprovação da reforma é essencial para a sobrevivência do partido republicano?
          Se o partido não apoiar a reforma e, consequentemente, não atrair o voto hispânico, vai ficar cada vez menor. Talvez possamos conseguir eleição em 2016, por causa da fadiga de Obama, mas em 2020, 2024, estamos condenados a virar um partido regional.
          O que você acha que vai acontecer na Câmara?
          A Câmara pode acabar aprovando uma lei que é tão extrema para a direita que não poderá ser "reconciliada" com a lei do Senado. Se for muito dura em relação à segurança da fronteira, mas não fizer concessões para a legalização dos 11 milhões de ilegais, por exemplo.
            Saúde de Mandela ofusca visita de Obama
            Presidente dos EUA chega hoje à Africa do Sul e tentará visitar o líder antiapartheid
            FÁBIO ZANINIENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGOO presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, inicia hoje uma aguardada, mas azarada, visita à África do Sul. Pela manhã estão marcados protestos organizados por aliados do mesmo governo que o recebe em Pretória.
            Nada deve importar muito, no entanto: a viagem deve ser totalmente ofuscada pelo estado de saúde do ex-presidente Nelson Mandela.
            Mandela, 94, permanecia ontem internado em estado crítico. Ao longo do dia, o governo sul-africano deu informações contraditórias sobre a situação dele, que sofre de crise respiratória. Pela manhã, o porta-voz da Presidência, Mac Maharaj, disse que a condição do líder havia se deteriorado muito.
            Mas, à tarde, o próprio presidente Jacob Zuma desmentiu o auxiliar, afirmando que Mandela estava "bem melhor", embora em situação ainda delicada.
            Uma visita de Obama a Mandela é improvável, para frustração do líder americano. Segundo assessores, ele contava com o encontro para simbolizar sua preocupação com a África e contraditar acusações de que negligencia o continente de seu pai (que era queniano).
            Obama esteve só uma vez na África subsaariana, em Gana, em 2009. Os EUA vêm perdendo espaço no continente, sobretudo para a China, hoje líder em investimentos nos países africanos.
            O presidente começou seu giro africano no Senegal e termina na Tanzânia. Ontem, ele pediu aos governos no continente que parem de criminalizar a homossexualidade e elogiou a decisão da Suprema Corte dos EUA que reconheceu benefícios federais aos casais gays. Para o presidente, foi uma "vitória da democracia".
            Em território sul-africano, além de encontro com Zuma, Obama deve visitar um dos locais mais associados à figura de Mandela: o antigo presídio de Robben Island, na Cidade do Cabo, onde o ícone antiapartheid passou 18 de seus 27 anos de prisão.
            A chegada de Obama deve coincidir com um protesto convocado pela Cosatu, maior central sindical do país, e pelo Partido Comunista Sul-Africano (SACP), além de grupos menores. Cosatu e SACP fazem parte do governo Zuma.
            O protesto, segundo Bongani Masuku, secretário de Relações Internacionais da Cosatu, tem vários alvos: a militarização da política externa dos EUA, sobretudo com o uso de drones (aviões não tripulados), o apoio a Israel e a relação econômica desigual Norte-Sul.
            "Não há constrangimento para o governo, porque não estamos protestando contra a pessoa de Obama, mas contra aspectos do poder americano", disse Masuku.
            A marcha deve terminar na embaixada dos EUA, em Pretória, e tem o título de "Nobama" ("Não a Obama").

              Tv Paga


              Estado de Minas: 28/06/2013 

              Criador de super-heróis

              O History homenageia o homem que se tornou uma lenda viva no mundo dos quadrinhos no especial Stan Lee (foto), de duas horas, que vai ao ar hoje, a partir das 16h45. O programa apresenta a trajetória de Stan, com início no período da Grande Depressão dos Estados Unidos, sua inspiração e criatividade, que deram origem a um grande número de super-heróis que acompanham gerações. E exibe transcrições originais, ilustrações, fotografias e seus primeiros gibis.

              Araquém Alcântara em
              papo com Zé do Caixão


              No programa O estranho mundo de Zé do Caixão, à meia-noite, no Canal Brasil, o cineasta Zé do Caixão entrevista o fotógrafo Araquém Alcântara. Candomblecista declarado, ele fala sobre a Amazônia, lugar mais estranho a que já foi, dos óvnis que viu por lá e das horripilantes lendas indígenas. José Mojica Marins, o lendário Zé do Caixão – personagem que este ano completa 50 anos – revela curiosidades e histórias sobre o lado escondido das celebridades.

              Dose dupla de
              Steven Seagal


              O A&E apresenta, a partir das 20h, uma maratona de episódios do reality Steven Seagal: o homem da lei e, às 22h, o longa O homem sombra. No filme, Seagal encarna um antigo membro da CIA, Jack Foster, que entra num complô mortal sem saber. Para piorar, o conflito afeta sua filha (Eva Pope), que ele leva para tirar férias em Bucareste, onde ela é sequestrada por um misterioso agente estrangeiro.

              Curioso incomoda
              a rotina de alunas


              A série Surtadas na yoga destaca hoje, às 22h30, no GNT, o episódio: Vão esticar aonde?. Na produção, um voyeur misterioso anda bisbilhotando as alunas usando um espelhinho e isso gera apreensão em todas. Elas desconfiam da Leda, que monta uma armadilha na qual Marion cai, gerando uma trama que envolve mentiras, acusações e revelações.

              Tim Burton promete
              bastante chocolate


              O HBO exibe, às 22h05, A fantástica fábrica de chocolate. Na produção, o excêntrico Willy Wonka promove um concurso para crianças, cujo prêmio é um passeio por uma fábrica de chocolate de sua propriedade. O longa-metragem dirigido por Tim Burton traz no elenco nomes como Jonny Depp e Freddie Highmore.

              Homem violento
              vai mudar de vida


              O filme Os brutamontes é a atração das 22h no Telecine Premium. Na comédia, Doug não está satisfeito com sua vida, e, aparentemente, seu único talento é bater nas pessoas. Quando vai a um jogo de hóquei e espanca um dos jogadores, o técnico de um time fracassado vê em Doug o potencial para levantar a equipe. Dirigido por Michael Dowse, é estrelado por Sean William Scott e Jay Baruchel.

              Moisés Naím

              folha de são paulo
              Se Snowden fosse equatoriano...
              Snowden e Assange têm sorte: não são jornalistas equatorianos e denunciam Obama e não Rafael Correa
              Em meio a suas vicissitudes, Julian Assange e Edward Snowden podem alegrar-se com a boa sorte em ao menos um aspecto: não são jornalistas equatorianos. Ambos têm sorte pelo fato de o presidente do país prejudicado por seus vazamentos ser Barack Obama e não Rafael Correa.
              O presidente Correa, autoungido protetor dos delatores globais, não vê com bons olhos repórteres equatorianos que denunciam a corrupção e os abusos de seu governo.
              Em 2012, segundo o grupo equatoriano Fundamedios, houve 173 "atos de agressão" a jornalistas, incluindo uma morte e 13 ataques.
              Em 16 de fevereiro de 2012, a relatora especial para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Catalina Botero, e o relator especial das Nações Unidas para a liberdade de opinião e expressão, Frank La Rue, expressaram preocupação com uma decisão da Corte Nacional de Justiça do Equador.
              No julgamento de três executivos e um jornalista do jornal "El Universo" pela publicação de uma coluna que ofendeu Correa, eles foram sentenciados a três anos de prisão e ao pagamento de US$ 40 milhões.
              A Associação Interamericana de Imprensa descreve nova lei equatoriana de mídia proposta pelo presidente como "o mais grave retrocesso para a liberdade de imprensa e de expressão na história recente da América Latina". O Comitê para Proteger Jornalistas diz: "Esta legislação promulga um objetivo chave da Presidência: amordaçar os críticos."
              No entanto, numa explosão de hipocrisia e de dois pesos, duas medidas, o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, em discurso na Organização dos Estados Americanos em agosto de 2012, disse: "O asilo concedido ao sr. Assange é a luta pela liberdade de expressão, pelos direitos humanos, a luta para que o asilo seja respeitado em qualquer lugar do mundo". Isso mesmo.
              Sobre um encontro com Assange, ele disse: "Pude lhe dizer cara a cara, pela primeira vez, que o Equador continua firmemente comprometido com a proteção de seus direitos humanos. Durante o encontro, falamos sobre as ameaças crescentes à liberdade das pessoas para se comunicar e saber a verdade, que vêm de certos Estados que põem toda a humanidade sob suspeita."
              Seria agradável se o ministro se preocupasse com igual determinação com os direitos humanos e as ameaças à liberdade de expressão de seus compatriotas equatorianos.
              Ao mesmo tempo em que o governo equatoriano agressivamente amordaça seus críticos internos, apresenta-se no palco mundial como campeão do direito de criticar os governos. Jornalistas que sofreram com o comportamento agressivo de Correa sabem que a propaganda dele e de Patiño por Assange e Snowden não passa disso --propaganda política vazia e hipócrita.
              E todos sabemos que, por enquanto, os vazamentos alvejaram um governo apenas: o dos Estados Unidos. Aguardamos com grande interesse e expectativa a versão do WikiLeaks ou de Snowden sobre as comunicações secretas dos governos russo, iraniano, chinês ou cubano. Ou mesmo do governo equatoriano.
              @moisesnaim

                Mostra Internacional de Música – Mimo chega à sua 10ª edição-Eduardo Tristão Girão‏

                Ouro Preto recebe de 29 de agosto a 1º de setembro a programação do Mimo, um dos mais importantes festivais de música instrumental do país, que também chega a Paraty e Olinda 


                Eduardo Tristão Girão

                Estado de Minas: 28/06/2013 

                Sem dúvida um dos mais distintos festivais musicais do país, a Mostra Internacional de Música – Mimo  http://www.mimo.art.br/   chega à sua 10ª edição com ambicioso objetivo em vista: transformar o Brasil num polo aglutinador de destaques da música mundial, sem a obrigação de ancorar sua grade de atração em medalhões tradicionais, como os do jazz norte-americano – e sem esnobá-los. O evento, que prima por bancar outros nomes de peso (os cubanos do Buena Vista Social Club, o baixista camaronês Richard Bona, o minimalista americano Philip Glass, os franco-argentinos do Gotan Project), este ano será realizado nas cidades históricas de Ouro Preto (MG), Olinda (PE) e Paraty (RJ), entre 23 de agosto e 8 de setembro. Como sempre, brasileiros também marcarão presença.

                “Por causa do concerto de estreia da primeira edição do Mimo, com o pianista Nelson Freire numa igreja em Olinda, fiquei até com dor de estômago. Quando cheguei na porta, quase chorei de emoção. Eram 2 mil pessoas querendo entrar. Não estávamos nem preparados para tudo isso. A experiência que tenho contradiz tudo o que a gente ouve falar sobre o público. Estamos sempre administrando excesso de público. Existe muita gente interessada, o que falta são espaços e política que favoreça o acesso a essa música”, afirma a produtora cultural Lu Araújo, idealizadora e diretora-geral do Mimo.

                Dos 40 concertos desta edição, 12 serão em Ouro Preto, com palcos montados não apenas na Praça Tiradentes e na Casa da Ópera, mas também no interior da Basílica do Pilar e da Igreja de São Francisco de Assis. A programação da cidade mineira ainda está sendo fechada, mas já foram confirmados os nomes do tecladista Tareq al Nasser e grupo Rum (Jordânia), o multi-instrumentista Stephan Micus (Alemanha), o saxofonista Guillaume Perret & Eletric Epic (França), o trompetista Ibrahim Maalouf (França), Madredeus (Portugal) e, representando o Brasil, Gilberto Gil, que será acompanhado pela Orquestra de Sopros da Pro Arte.

                Todos os shows nas três cidades serão gratuitos, o mesmo valendo para o restante da programação, que inclui ainda palestras com os artistas, exposição sobre os 10 anos do evento e etapa educativa que contemplará também Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Deixando o Recife e João Pessoa de fora nesta edição, o Mimo começará por Paraty (de 23 a 25 de agosto), que abrigará parte da programação pela primeira vez, e depois passará por Ouro Preto (29 de agosto a 1º de setembro) e Olinda (de 2 a 8 de setembro).

                As cidades terão shows únicos, como é o caso de Paraty, que receberá o pianista norte-americano Herbie Hancock, peso-pesado do jazz que mostrará trabalho, no mínimo, diferente. Dia 23, ele tocará ao ar livre com os jovens Flying Lotus (produtor especializado em música eletrônica e rapper) e Thundercat (pseudônimo do eclético baixista Stephen Bruner), o baterista Vinnie Colaiuta (craque que acompanha Hancock há anos) e Zakir Hussain, indiano que, desde os anos 1970, é o nome maior da tabla (instrumento de percussão típico).

                RENOVAÇÃO

                No caso da programação de Ouro Preto, chama a atenção a presença de dois artistas de origem árabe, ambos dedicados a renovar a música de sua região, ainda hoje marcada por tradicionalismo e estereótipos. De um lado, o jordaniano Tareq al Nasser (dia 31, na Casa da Ópera), que tem experiência com trilhas sonoras e aposta na fusão de instrumentos e gêneros de seu país e do Ocidente, acompanhado por orquestra de 20 integrantes. Do outro, o libanês Ibrahim Maalouf (dia 29, na Praça Tiradentes), que traz o molho árabe para o trompete, posicionando-o de forma moderna no jazz.

                “Uma das nossas maiores conquistas é fazer com que o público do Mimo tenha a mesma curiosidade pela música que eu tenho. Os concertos estão sempre lotados”, comemora Lu Araújo, uma das responsáveis pela escolha dos artistas que virão para o evento. Outro nome que também chamou a sua atenção foi o de Stephan Micus, que trabalha apenas com instrumentos étnicos. “Ele entra numa cultura, procura o que é forte e esteja em extinção, aprende a tocar o instrumento em questão e depois funde isso a outras referências”. Ele tocará na Basílica do Pilar na abertura do Mimo, dia 29.

                Ela também destaca a vinda do saxofonista francês Guillaume Perret, autor de som bastante particular, que se apresentará dia 29, na Praça Tiradentes. “Ele faz um som bastante diferente. Meio rock and roll, mas instrumental e com o seu saxofone”, conta a produtora. Será a estreia do artista no Brasil. Segundo Lu, a escolha dos nomes desta edição do Mimo reflete sua preocupação em manter o evento sintonizado ao que mais desperta interesse atualmente em termos de música, independentemente de onde venha. Para o ano que vem, adianta, já há três grandes atrações confirmadas.

                NA REDE

                Aspirando não ficar restrito às datas dos shows, o Mimo prepara este ano série de ações para manter em alta o interesse do público pelo música que promove. O portal do evento na internet (www.mimo.art.br) passa a ter conteúdos de música, patrimônio histórico e cinema, além de informações sobre o festival e a cobertura da programação em tempo real.

                A webradio própria, por sua vez, terá playlists de artistas de diversas partes do mundo. Há, ainda, aplicativos sobre as cidades históricas (que servirão de guias turísticos), ciclos de palestras, exposição de fotos sobre os 10 anos do festival e programas educativos em seis cidades.

                três perguntas para...

                Tareq al Nasser
                músico e compositor


                Sua música tem elementos ancestrais e modernos, orientais e ocidentais. Como você faz essa fusão e quais são os limites?
                Há algo chamado música global, que ainda não foi definido, e há elementos estéticos quando são usados vários tipos de música. Isso é o que me faz sentir que não há limites, que a música tornou-se conectada à humanidade e à história. Essa coisa de “sem limite” encoraja e dá mais espaço e visão. Falamos em fusão, mas não podemos ignorar a originalidade, já que ninguém pode mudar isso. Quando a fusão é feita entre duas culturas diferentes, há limites e eles previnem qualquer violação de originalidade, uma vez que nenhuma cultura pode ofuscar o outra. Fusão acrescenta mais beleza à música, onde quer que ocorra.

                Algumas de suas composições foram originalmente escritas para a TV. Escrever para a TV é diferente de escrever para o grupo Rum?
                Música absoluta é diferente de música de estúdio, uma vez que a segunda é uma ciência em si. A música absoluta se beneficiou da música de estúdio, mas isso me afetou pessoalmente. Houve efeitos positivos e negativos, mas prefiro ver os efeitos positivos, pois me fizeram experimentar diferentes mundos musicais. No meu caso, não há muita diferença entre elas, pois ambas são originadas no fundo do coração, apesar de os instrumentos utilizados em ambas serem diferentes. A música de estúdio me deu oportunidade de descobrir tipos diferentes de instrumentos, mas não métodos musicais.

                Além de você, quem são os artistas que estão renovando a música árabe hoje?
                Há muitos artistas tentando renovar a música árabe, mas não tenho certeza sobre o resultado. Estamos no caminho para essa renovação e alguns artistas têm feito grandes progressos. Muitos fizeram tentativas bem-sucedidas, como Ziad Rahbani, filho da famosa cantora libanesa Fairuz. Ele nos levou na direção da renovação da música árabe e foi influenciado pelo jazz e jazz latino. Eu o tenho em alta estima. Omar Khairat, compositor egípcio, introduziu a música árabe para nós e ela ainda preserva sua autenticidade, espírito e aspectos orientais. Renovar a música árabe é importante para renovar nossas almas
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