quarta-feira, 2 de abril de 2014

MEMÓRIAS DA DITADURA - Artur Xexéo

O Globo 02/04/2014

Talvez tenha sido um dia
depois do golpe. É difícil
precisar. Afinal, até hoje
ninguém sabe direito
em que dia aconteceu o
golpe. S empre soube
que foi no dia primeiro
de abr il, mas que, ao
contar a história, os militares o anteciparam
para o dia 31 de março, para que não
coincidisse com o Dia da Mentira. Leio
agora, entre as muitas reportagens que
marcam o 50º aniversário do fato, que foi
na madrugada de 2 de abril. Então deve ter
sido no dia 3 de abril de 1964, uma sextafeira,
primeiro dia de aula depois do golpe.
Quando entrei na sala do colégio em
que estudava em São Paulo, estava lá, com
letra bonita, toda redondinha, escrito no
quadro-negro: “Para uma fortaleza vermelha,
só mesmo um Castelo Branco”.

A frase nunca fez sentido. O medo de
uma “fortaleza vermelha” foi justamente o
que justificou o golpe que levou Castelo
Branco ao poder. Por isso, nunca achei
que ela tinha sido escrita por um dos irmãos
maristas que nos davam aula. Aquela
bobagem só poderia ter sido de autoria
de algum colega de classe. Alguém que tivesse
12, no máximo 14 anos e estava ali
cursando o segundo ano ginasial. Alguém
que confiava em trocadilho mesmo que
ele não fizesse sentido político. O irmão
que entrou conosco na sala para a primeira
aula da manhã mandou alguém apagar
rapidamente o quadro-negro. Foi apagado.
Mas não da minha memória. Ainda
hoje, quando me lembro do golpe, dos primeiros
dias do golpe, o que me vem à cabeça
é aquela sentença desconexa: “Para
uma fortaleza vermelha, só mesmo um Castelo
Branco”.


Na semana seguinte, começou a crise lá em
casa. Deixa eu explicar: meu pai era oficial
do Exército. Era um tenente-coronel. Não
era o que se chamava naqueles tempos de
um revolucionário. Ou golpista. Mas era um
militar. Respeitava hierarquia. Então, respeitava
o que chamávamos naqueles tempos de
Revolução. Minha mãe, de alguma maneira,
sentia-se ligada a Jango. Uma de suas irmãs,
a Dinda, trabalhava com Maria Teresa Goulart.
Minha mãe foi antirrevolucionária de
primeira hora. De algum lugar, fez saltar
uma veia jornalística e passou a escrever,
madrugadas adentro, em folhas de papel almaço,
artigos contra os militares. Ela os mostrava
para meu pai, que ficava irritado. Não
ficava bem uma mulher de militar expor assim
seu pensamento contra a Revolução. Ela
resolveu a parada assinando os artigos com
um pseudônimo, Madame X, e continuou varando
as madrugadas escrevendo, escrevendo,
escrevendo e aguardando a volta triunfal
de Jango e Brizola. O plano era enviar os textos
a algum jornal que já estivesse na oposição.
Aqueles artigos nunca foram enviados
para jornal algum.

De manhã, ela os rasgava, insatisfeita com o
resultado, e começa a escrever de novo. Eu tentava
fugir das brigas indo ao cinema. Naquela
semana, vi “Sherlock de saias”, no cine Jamor, logo
ali no Jabaquara, com Margareth Rutheford
interpretando a Miss Marple de Agatha Christie.


A crise passou rápido. Minha mãe abandonou
o talento de articulista político, meu pai
voltou à hierarquia e íamos vivendo em paz
até que o Golpe me mandou para a Avenida
Atlântica. Já disse que minha tia trabalhava
com a primeira-dama? Pois então, como
acreditava que seu exílio seria rápido, Jango
pediu para a Dinda cuidar do apartamento
que ele mantinha na Avenida Atlântica.
E lá fui eu, durante minhas férias escolares,
exilar-me no Edifício Chopin. Tecnicamente,
não era o Chopin. Era um dos
outros dois prédios anexos ao famoso edifício
das festas de réveillon. Um se chama
Prelúdio; o outro, Balada. Acho que o apartamento
do Jango ficava no Prelúdio, com
vista para a piscina do Copacabana Palace.
Não me lembro de muitos resquícios de
Jango e Maria Teresa no lugar. Dela, havia
um massageador, eletrodoméstico das
dondocas da época que caiu em desuso, no
quarto principal. Dele, uma biblioteca vistosa.
Nunca vi ninguém lendo livro algum
daquela biblioteca. Acho que era só decorativa.
Daquelas bibliotecas que só têm
lombadas, sabe? Isso durou dois ou três
anos. Depois, quando Jango percebeu que
sua temporada no Uruguai seria bem mais
longa do que previa, um cunhado dele —
não, não era o Brizola, era o irmão de Maria
Teresa — pediu o apartamento de volta.
E assim acabou nosso exílio na classe alta.


Pouco tempo depois, testemunhei minha
tia recebendo um telefonema do irmão de
Maria Teresa. Ele tinha dado por falta de algumas
toalhas de banho no apartamento
do ex-presidente. A Dinda mandou o cunhado
presidencial à merda, e nunca mais
tive contato com os Goulart. Para mim, a ditadura
risonha e franca acabou ali. Em seguida,
a barra pesou. Uma prima querida
que vivia na clandestinidade foi presa, entrei
em conflito com alguns militares da família
e... Bem, mas isso é uma outra história
que fica para uma outra vez.

MARTHA MEDEIROS - “Pedindo”

Zero Hora - 02/04/2014

Estava caminhando pelo corredor do supermercado quando reparei na roupa da mulher à minha frente: ela estava de calça legging e um top de lycra. Naturalmente, dali iria para a academia de ginástica, ou havia acabado de voltar de uma. Como vou muito cedo ao súper, é comum eu encontrar várias mulheres em trajes esportivos, todos ajustados ao corpo por causa do material com que são confeccionados. Foi então que me dei conta de que eu estava vestida do mesmo modo, já que em seguida teria aula de pilates. Contei: éramos algo em torno de sete mulheres no súper de manhã, de idades diversas, todas correndo risco de serem atacadas sexualmente assim que saíssemos de lá. Afinal, estávamos “pedindo”.

Corta para a saída do colégio da minha filha. O sinal bateu. Pelo portão, saem duas, três, nove adolescentes. Quase todas de short e blusa de alcinhas, aproveitando os últimos dias de calor pós-verão. Algumas iriam a pé para casa, outras de ônibus, circulando pelas ruas com pernas e barrigas de fora. Naturalmente, “pedindo”.

Acreditamos que as pessoas “pedem” para sofrer consequências. O menino que detesta futebol está pedindo para ser alvo de piadas homofóbicas, o ciclista que pedala numa rua movimentada está pedindo para ser atropelado, o turista que deixa seus pertences na areia enquanto mergulha no mar está pedindo para ser roubado. É um vício de linguagem que divide a culpa da violência entre todos – ninguém é vítima absoluta. Algo na linha “perdoa-me por me traíres”. Se você foi sacana comigo, é porque mereci.

Há uma grande diferença entre a contribuição que dou ao que acontece comigo – claro que isso existe – e o que é maldosamente confundido com contribuição a fim de atenuar a penitência do agressor. O resultado da pesquisa do Ipea que revelou que boa parte da população acredita que o modo de vestir de uma mulher justifica o estupro, é chocante e indefensável. Um homem que se prevalece desse argumento (“ela estava pedindo”), além de criminoso, é um covarde.

Da mesma forma, o fato de estarmos alarmados com os índices crescentes de corrupção e de a sociedade estar se organizando em manifestações contra o governo não significa que estejamos “pedindo” a volta da ditadura. Violentar a democracia também seria um estupro.

Má-fé. É ela que faz com que pessoas que não toleram a liberdade tentem reprimi-la usando a desculpa de estarem atendendo a “pedidos”. Liberdade ainda é uma palavra que assusta. Pessoas livres são consideradas irresponsáveis, por isso o impulso de enquadrá-las. Mas de responsabilidade os repressores entendem nada. Se entendessem, assumiriam os seus atos e pagariam integralmente por eles, em vez de tentarem repartir a conta da brutalidade com inocentes que estão apenas exercendo seu direito à cidadania.

Frei Betto - Brasil pós-ditadura‏

Brasil pós-ditadura

Nada estranho que haja arruaças em manifestações. Ainda somos o país do futuro. O presente requer um novo projeto Brasil

Frei Betto

Estado de Minas: 02/04/2014



Faz 50 anos que o golpe militar, respaldado pela Casa Branca, implantou uma ditadura no Brasil. E 29 que os generais voltaram às casernas. E agora, José, vivemos uma verdadeira democracia?

Devagar com o andor, pois o santo é de barro. Cracia, sim; mas demo... Os generais deixaram o poder. Não de ter poder. Falam grosso nos quartéis e ainda têm a petulância de batizar turmas de formandos de Agulhas Negras com o nome de “Emílio Garrastazu Médici”, o mais sanguinário de todos os ditadores.

Comissões da Verdade trabalham arduamente para apurar os crimes da ditadura. Como não são também da Justiça, atuam manietadas. Não têm poder nem projeto de punir ninguém. “Homem mau dorme bem”, intitula-se um filme de Akira Kurosawa. O que dá às Forças Armadas a prerrogativa de não prestar satisfações à nação e manter sob sigilo os arquivos do regime militar, como fazem com os documentos da Guerra do Paraguai. Mas ninguém escapa de prestar contas à história.

Passadas quase três décadas do fim da ditadura, o Brasil nem sacudiu a poeira nem deu a volta por cima. Quem é hoje a figura majestática do PMDB, o maior partido do Brasil e principal aliado do governo petista? José Sarney. Quem era o presidente da Arena, partido de respaldo à ditadura e aos crimes por ela cometidos? José Sarney.

Nossas estruturas ainda conservam fortes resquícios dos 21 anos (1964-1985) de atrocidades. Em especial na política, que mantém o mesmo número de senadores por estado, malgrado a desproporção populacional, e aprova o financiamento de campanhas eleitorais por empreiteiras, bancos e empresas. Sei que nem tudo é como dantes – temos pluripartidarismo e a Constituição de 1988 – mas ainda trafegamos à sombra do quartel de Abrantes.

Houve mudanças! O impossível aconteceu: Lula eleito presidente e o PT há 11 anos no poder. Lá chegou graças aos movimentos sociais que minaram os alicerces da ditadura. Como já disse, o poder, a cracia, ganhou novos protagonistas. Porém, a demo... o povo, ficou de fora!

Nossa democracia ainda é predominantemente delegativa (delega-se, pelo voto, poder ao eleito); tendenciosamente representativa (vide os lobbies do agronegócio e dos grandes meios de comunicação); e nada participativa.

A social-democracia chegou ao Brasil, paradoxalmente, pelas mãos do PT, e não do PSDB. A pobreza extrema sofreu significativa redução; a escolaridade ampliou-se; a saúde socorreu-se na importação de médicos estrangeiros. No Nordeste, trocou-se o jegue pela moto. A inflação ficou sob controle; o salário mínimo teve crescimento expressivo; a linha branca, desonerada e facilitada pelo crédito, encheu os domicílios populares de geladeiras, fogões e máquinas de lavar.

 Quem nunca comeu melado... Cadê os benefícios sociais? Transporte coletivo precário e congestionado; saúde pública infeccionada por falta de recursos; educação sem qualidade; segurança despreparada e insuficiente.

Em 11 anos de governo petista, nenhuma reforma de estruturas. Nem a agrária, nem a política, nem a tributária. Como fazia a ditadura, os megaprojetos atropelam as exigências ambientais (transposição do São Francisco; hidrelétricas como Belo Monte; Copa), enquanto a Amazônia perde o fôlego asfixiada por lavouras movidas a agrotóxicos e ampliação dos pastos abertos a serra elétrica.

Eis que, de repente, o Brasil se dá conta de que não está deitado em berço esplêndido. E o gigante adormecido acorda nas manifestações de rua!

Se os 11 anos de governo petista promoveram considerável inclusão econômica, falta propiciar a participação política. Ao contrário, temos um governo despolitizante, que acredita que só de pão vive o homem. Nada estranho que haja arruaças em manifestações. Ainda somos o país do futuro. O presente requer um novo projeto Brasil.

TeVê

tv paga
Estado de Minas: 02/04/2014
 (Imagem Filmes/divulgação)


Mãe Joana

O Telecine Premium exibe às 22h a comédia Casa da Mãe Joana 2 (foto), com José Wilker, Paulo Betti, Betty Faria e Antônio Pedro. Depois de despejados do apartamento em Copacabana, Juca, PR e Montanha seguiram rumos diferentes. PR voltou a investir em coroas ricas, Juca resolveu tirar um período sabático em busca da Cannabis perfeita e Montanha, finalmente, escreveu um livro de sucesso e ficou rico. Hoje, ele mora numa antiga mansão no Alto da Boa Vista e vai receber os amigos Juca e PR, que se envolveram em confusões pelo mundo.
 FILHOS DE GANDHY
GANHAM DESTAQUE

Filhos de Gandhy, documentário de Lula Buarque, será exibido às 20h30 no canal Arte 1. Criado por um grupo de estivadores comunistas de Salvador, o bloco carnavalesco completou 50 anos em 1999. O filme remonta à história do grupo a partir do depoimento de seus fundadores. Gilberto Gil, vice-presidente do bloco, é coprodutor do projeto.

CAÇADORES DE INFRAÇÕES
EM SÉRIE DO CANAL A&E

Em Proibido estacionar, série do A&E que estreia às 22h, homens e mulheres que trabalham no Departamento de Trânsito da Filadélfia (EUA), encarregados de fazer com que as leis sejam cumpridas, mostram que a rotina deles não é tão simples assim. O canal exibe especial de uma hora com os melhores casos de confronto entre os caçadores de infrações de trânsito e os infratores habituais, que depois de cometer todo tipo de barbaridade no trânsito tentam justificar suas falhas aos berros.

CONHEÇA O INDIANA
JONES DA VIDA REAL

Em pequenos povoados e em regiões isoladas da América há relíquias a serem descobertas. E por trás delas, incríveis personagens e histórias a serem desvendadas. E esse é um trabalho para a dupla Mike Wolfe, historiador, e Frank Fritz, arqueólogo, que retornam ao History na quarta temporada de Caçadores de relíquias, às 21h. No episódio de hoje, no Arkansas, eles topam com um posto de troca antigo incrível. Mais tarde, no hospital do Dr. Smith, fechado há décadas, encontram uma porção de artigos médicos superinteressantes. E, finalmente, no caminho de volta, a estrada mais parece uma loja radical de tranqueiras, e Mike não quer perder nada.

CAÇA-FANTASMAS
EM NOVO EPISÓDIO

A equipe de investigação Sindicato Paranormal visita alguns locais mal-assombrados e utiliza sua abordagem única para coletar e registrar uma evidência tangível de atividade paranormal. No canal Bio, às 21h30, será exibido o episódio Cara a cara com fantasmas. O grupo investiga o local onde aconteceu um dos assassinatos mais terríveis e brutais da história, em uma tentativa de se comunicar com os membros falecidos da família Borden. Será que Lizzie Borden ainda reside nesta antiga casa de campo?

SEGUNDA TEMPORADA DE
CHEGOU HONEY BOO BOO!

Estreia às 20h40 no TLC a segunda temporada de Chegou Honey Boo Boo!. O programa alcançou uma das maiores audiências do canal TLC nos EUA, com médias entre dois e três milhões de telespectadores por semana. A primeira temporada da série elevou Honey Boo Boo ao status de ícone da cultura pop. Todos querem saber de onde vem o carisma que conquistou a atenção do mundo todo e a resposta pode estar na infância simples que Alana (mais conhecida como Honey
Boo Boo) vive.

CARAS E BOCAS » Primeiro beijo



Laerte (Gabriel Braga Nunes) e Luiza (Bruna Marquezine) se rendem à irresistível atração  (Estevam Avellar/TV Globo)
Laerte (Gabriel Braga Nunes) e Luiza (Bruna Marquezine) se rendem à irresistível atração

Em cena prevista para ir ao ar no dia10, o que Helena (Júlia Lemmertz) mais temia vai ocorrer: sua filha Luiza (Bruna Marquezine) e seu ex-noivo Laerte (Gabriel Braga Nunes) vão trocar o primeiro beijo na trama de Em família. Eles não conseguirão mais resistir à atração que sentem um pelo outro desde que se conheceram. De acordo com o site oficial da novela, tudo começará na aula de flauta no Galpão Cultural. Laerte se aproximará de Luiza para ensiná-la a respirar corretamente. No final, ele se oferecerá para levá-la em casa. A estudante relutará a princípio, mas acabará aceitando. Na porta do prédio em que a jovem mora, o músico estaciona o carro e os dois se olham com admiração. Na hora de se despedirem, eles se confundirão e quase se beijarão. Chica (Natália do Vale) passará de carro e avistará a neta, que ficará incomodada com o olhar de reprovação que receberá. Para evitar comentários, Luiza decidirá esperar um pouco mais no carro. E, então, os dois acabarão se beijando para valer. Ao site, Júlia comentou sobre a expectativa da reação de Helena ao saber do beijo: “Não sei como será, mas acho que vai ser difícil, porque a construção (da personagem) é para isso. Ela vai dar uma pirada”, diz. Em capítulos anteriores, Helena ficará furiosa em duas situações: primeiro, descobrirá que a filha ganhou uma flauta de Laerte e que a toca, à noite, às escondidas, depois que todos dormem. Dias depois, Luiza avisará à família que decidiu sair de casa e que vai alugar um apartamento com Alice (Erika Januzza). “Sinto-me perseguida, sem privacidade”, dirá a filha de Virgílio (Humberto Martins), referindo-se à mãe, que não a deixa em paz por causa do relacionamento com Laerte.


ATRIZ DE JOIA RARA EM
TEMPORADA NO TEATRO

Prestes a se despedir da cantora Serena, de Joia rara (Globo), que termina na sexta-feira, a atriz Simone Gutierrez e o ator Edu Berton darão início à turnê da peça Aípod, comédia interativa e multimídia. Nos dias 5 e 6, por exemplo, a dupla estará em Uberaba, Minas. Com 90 minutos de duração, o espetáculo gira em torno de uma emissora de rádio chamada Rádio, que conta com um casal de locutores insanos, interpretado por Paulinho Correia (Edu Berton) e Rita Londres (Simone Gutierrez). Além de uma crítica engraçada ao que se ouve hoje nas programações das emissoras de rádio, os locutores não só atendem os ouvintes que
ligam como também fazem as vozes deles.

SÉRIE SOBRE ENFERMEIRA
JACKIE TEM MAIS UM ANO

A duas semanas da estreia da sexta temporada, o canal Showtime anunciou, anteontem, a renovação de mais um ano da série Nurse Jackie, com estreia prevista para abril de 2015. O que motivou a sétima temporada foram os ótimos resultados obtidos com a quinta, em que a série teve aumento de 14% em sua audiência, comparada com o ano anterior, quando já era um dos seriados mais vistos da emissora. A trama gira em torno da enfermeira Jackie, vivida por Edie Falco, que questiona o comportamento de alguns médicos, o que gera problemas de relacionamento entre eles. Ainda por cima, ela vive com problemas financeiros, sofre com dores e é viciada em analgésicos. No Brasil, Nurse Jackie é exibida no Studio Universal (TV paga).

JULIANA SE CASA PARA
FICAR COM CRIANÇA

Um casamento vai abalar os capítulos de Em família. Juliana (Vanessa Gerbelli) se casará com Jairo (Marcello Melo Jr.) no cartório e, assim, terá a menina Bia (Bruna Faria), filha do rapaz, de volta à sua casa, realizando seu grande sonho. Com o enlace, a avó de Bia, Iolanda (Magdale Alves), não terá mais como impedir que a neta viva com o pai e a madrasta. Assim que trocam as alianças, Juliana pressiona Jairo para que busquem a menina na casa da avó. Lá, Iolanda alfineta a mulher: “Pode levar a Bia. Eu ia mesmo mandar ela para sua casa, nem precisava se casar com esse malandro. Se tivesse vindo falar comigo, a gente teria se entendido, mas quem vinha era esse daí, querendo me enrolar”. Na saída, ela avisa a Juliana que irá visitar a criança quando tiver vontade. Já em casa, Juliana, com a ajuda de Guiomar (Jessica Alves), prepara uma festinha para comemorar a volta de Bia.

DOIS PERSONAGENS GAYS
CONFIRMADOS EM TRAMA

O autor Aguinaldo Silva já confirmou dois personagens gays em sua próxima trama, Falso brilhante,  que vai substituir Em família. Um deles, um homossexual enrustido, será interpretado por José Mayer. Já Xana Summers, assumidíssima e engraçada, será dona de um salão de beleza. A intenção é que o papel ficasse com o humorista Paulo Gustavo, que pode não ter como assumi-lo por conta de compromissos já acertados no teatro.  

MEMÓRIA » Morre Jacques Le Goff‏

MEMÓRIA » Morre Jacques Le Goff
Estado de Minas: 02/04/2014


O historiador francês renovou os estudos sobre o período medieval (Record/Divulgação)
O historiador francês renovou os estudos sobre o período medieval


Se a Idade Média não é mais considerada uma era de trevas, mas um período dinâmico e rico de significações culturais, boa parte se deve ao trabalho do historiador francês Jacques Le Goff, que morreu ontem, na França, aos 90 anos. Para o historiador, o período medieval teria fornecido os fundamentos para a civilização ocidental moderna. Seguindo a tradição dos grandes historiadores de seu país, Le Goff era também um analista atento das questões contemporâneas.

Autor de centenas de artigos e mais de 40 livros, Jacques Le Goff nasceu em 1º de janeiro de 1924, em Toulon. Em 1972, sucedeu Fernand Braudel na direção da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais. Foi um dos pais do movimento Nova História, que realizava uma reflexão sobre a profissão do historiador e que livros que se tornaram clássicos, como Fazer história e História e memória.

O historiador foi ainda um intelectual atuante fora da universidade, tendo apresentado programa sobre história em uma estação de rádio pública da França, além de atuar como consultor para filmes, incluindo a adaptação do livro de Umberto Eco, O nome da rosa. Le Goff também foi editor-chefe do jornal voltado para historiadores Annales.

O professor francês pertencia à terceira geração de historiadores da Escola dos Annales, criada por Marc Bloch e Lucien Febvre no final dos anos 1920. Sua concepção de antropologia histórica e o seu interesse pela história da cultura e das mentalidades – com temas mais próximos da vida cotidiana – foram fundamentais na criação de novos modelos de interpretação histórica, que se distingue dos estudos centrados em questões econômicas, que dominavam o cenário intelectual de seu tempo.

Entre suas obras mais importantes estão O nascimento do purgatório, A civilização do ocidente medieval, O imaginário medieval, Os intelectuais na Idade Média, Novo conceito de Idade Média e duas biografias que fizeram muito sucesso entre leitores e especialistas, São Francisco e a monumental São Luís. No Brasil, os lançamentos mais recentes de obras de Jacques Le Goff foram Idade Média e o dinheiro (Civilização Brasileira) e Homens e mulheres na Idade Média (Estação Liberdade).

MEMÓRIA » Da lama ao clássico

MEMÓRIA » Da lama ao clássico 
 
Primeiro disco de Chico Science e Nação Zumbi faz 20 anos. Marco fundador do movimento manguebeat, o álbum da banda pernambucana trouxe novo paradigma para o pop nacional

Camila Souza e Raquel Lima
Estado de Minas: 02/04/2014


Chico Science (c) e os companheiros da banda Nação Zumbi mesclaram o pop aos sons do Brasil profundo (Diário de Pernambuco/arquivo)
Chico Science (c) e os companheiros da banda Nação Zumbi mesclaram o pop aos sons do Brasil profundo


Recife – O produtor paulista Pena Schmidt foi pioneiro em detectar o potencial da banda pernambucana Chico Science & Nação Zumbi, a CSNZ. O contrato de sua pequena gravadora, a Tinnitus, foi o primeiro a chegar às mãos do compositor Francisco de Assis França. Ele nem sequer imaginava que ali surgia o primeiro disco de um dos principais grupos de nosso pop contemporâneo, gestado por rapazes que subiam em palcos improvisados no Recife e em Olinda.
A Tinnitus não fechou com a CSNZ, mas a banda recebeu contrato de R$ 40 mil do selo Chaos, da Sony Music. Semanas depois, em outubro de 1993, começava a surgir o emblemático Da lama ao caos, disco que completa 20 anos este mês. A assinatura com a gravadora garantiu adiantamento importante. Com ele o guitarrista Lúcio Maia e o contrabaixista Dengue compraram os primeiros bons instrumentos de sua carreira.

A Nação Zumbi se hospedou em um apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro. Por um mês os rapazes encararam 12 horas diárias de trabalho, de segunda-feira a sábado, no estúdio Nas Nuvens. A ficha técnica do álbum traz os nomes de Dengue (baixo), Canhoto (caixa), Chico Science (voz), Gilmar Bola 8, Gira e Jorge Du Peixe (alfaias), Lúcio Maia (guitarra) e Toca Ogan (percussão e efeitos).

O produtor dos sonhos da CSNZ era o guitarrista norte-americano Arto Lindsay. Mas a Sony escalou para o posto o contrabaixista Liminha, dos Mutantes, dono do Nas Nuvens. “Arto representava a cultura pop, conhecia bem o linguajar de Pernambuco por ter morado em Garanhuns. Entretanto, Liminha acrescentou algo que Arto não poderia: a experiência em estúdio. Ele soube tirar leite de pedra”, conta Dengue.

“Eles chegaram verdes, mas muito compenetrados e profissionais”, lembra Liminha. “Era um som diferente, deu muito trabalho. Quando fui masterizar o álbum em Los Angeles, sentiram falta da bateria, mas esse é um fator diferencial. O som era fechado”, explica o produtor.

FESTIVAL Em 9 de abril de 1994, a banda apresentou o disco na segunda edição do Abril pro rock, no Recife. “A Sony Music veio em peso, distribuímos LPs e CDs para o público. Na segunda-feira, depois do festival, embarcamos para o Sudeste para fazer shows e participar de programas de TV – do Faustão a Jô Soares”, recorda o produtor Paulo André Pires, empresário da CSNZ na época.

Ao apresentar as 14 faixas de Da lama ao caos, a viagem de Chico Science & Nação Zumbi sacramentou o movimento que ficaria conhecido como manguebeat e começou a desorganizar a música brasileira. “O disco fala de um estado caótico, na lama ou em grandes centros urbanos. É como se um homem-caranguejo saísse do manguezal para o centro urbano em busca de novo modo de vida, mas, de um modo ou de outro, ele é sempre castrado em seus direitos, é sempre roubado. Da lama ao caos é isto: a cara do Recife”, explicava Chico Science em vídeo. Em 1997, aos 30 anos e consagrado, o cantor e compositor perdeu a vida num acidente de carro.

Manguebeat A CSNZ soube mesclar a cultura de artistas do povo, como Mestre Salustiano, Velho Faceta e Lia de Itamaracá, à sonoridade do hip-hop e do rock. Assim nascia o manguebeat, entre o pop e o Brasil profundo do coco e do maracatu.
“O popular estava no ostracismo, totalmente renegado”, lembra o baterista Pupillo, que ingressou na banda no fim da turnê internacional de Da lama ao caos. “Houve uma recolocação no mercado. O maracatu, a ciranda e o coco foram redescobertos”, explica Jeder Janotti, que pesquisa a cultura pop e dá aulas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“O disco e o movimento mangue serviram para o resgaste da autoestima do Recife. Eles projetaram a cultura local a partir da linguagem pop, influenciando outras bandas no Brasil. Houve uma redescoberta do mercado”, afirma Janotti.
No entanto, o feito não se materializou imediatamente em vendas. Em dois anos elas não chegaram a 30 mil cópias. As rádios foram o primeiro entrave. “Emissoras de rock do eixo Rio-São Paulo eram unânimes: ‘Isso é regional. Não tocamos’. Já as populares diziam: ‘É rock’. Fomos vítimas da ignorância”, relembra o produtor Paulo André.

Tambor Críticas apontavam: pesou contra o álbum o fato de as alfaias – responsáveis pela impactante sonoridade nos shows – perderem força em estúdio. “A gente esperava um pouco mais dos tambores, mas a qualidade dos arranjos ultrapassou as deficiências”, afirma Renato L, coautor do Manifesto Mangue, uma espécie de “carta de intenções”, divulgada com o álbum, que explicava a proposta estética dos pernambucanos.

O esquema de distribuição do selo Chaos, braço alternativo da Sony, foi outro problema. Discos da CSNZ chegavam às lojas em combo ao lado de produtos dos bem-sucedidos Skank e Gabriel, O Pensador. “Como Da lama ao caos demorava mais para sair, as lojas não repunham. À medida que circulávamos pelo país, recebíamos reclamações de que faltavam álbuns nas lojas”, conta Paulo André.

A virada veio em fevereiro de 1995, na turnê internacional da CSNZ, viabilizada por André e pelo grupo – incansáveis em enviar faxes e discos para produtores de vários países. Foram 32 apresentações em 54 dias. Graças ao show no Central Park, em Nova York, os pernambucanos receberam o primeiro cachê em moeda estrangeira: US$ 1,5 mil. O New York Times elogiou a banda brasileira, que também brilhou nos festivais Montreaux Jazz e Sphinx, em Bruxelas. O disco foi lançado no Japão, nos Estados Unidos e nos principais países da Europa.

As faixas de Da lama ao caos também ganharam versões das bandas O Rappa e Sepultura. E assim a revolução mangue conquistou as ruas.


três perguntas para...


Como foi o primeiro contato com a CSNZ?
O pessoal da Sony me falou da banda. Disseram que tinha um som interessante e me mandaram a fita. Ouvi e gostei, embora estivesse mal gravada. A primeira impressão foi de que Chico fazia algo paralelo ao álbum Selvagem (1986), dos Paralamas do Sucesso. Herbert Vianna assumiu toda a brasilidade ali, com uma junção de rock inglês e ritmos daqui. Chico veio para desencadear isso com mais força.

Foi um desafio produzir o álbum?
A ideia era muito boa, o conteúdo também. Mas eles não tinham experiência de estúdio. Era uma pedra bruta a ser polida. Por outro lado, deram o sangue, cresceram na gravação. O problema é que quando você os via ao vivo, os tambores tornavam tudo muito maior do que realmente era. Minha missão foi fazer aquilo tocar direito em uma caixa de som menor.

Como você lidou com as críticas pós-lançamento?
Diziam que o disco era menor e a banda era maior ao vivo. Mas aí é que está. Não havia imagens para dividir a atenção. Quando conversei com Alexandre Kassin, ele disse: ‘Os tambores não têm som’. Porra! Ainda bem que alguém percebeu. Tive a maior dificuldade para tirar som daquilo, não tinha graves. Mas gostei do resultado. Tenho o maior orgulho de ter trabalhado com Chico. Ele está no mesmo patamar de Gilberto Gil, dos Titãs. O CD está no meu cartão de visitas. 



Antônio Nóbrega
multiartista

“Hoje, não tenho mais a visão reticente com que recebi o álbum na época de seu lançamento. Valorizo, principalmente, duas atitudes que se refletem naquela obra: a utilização dos ritmos populares, como o maracatu e o coco, e o teor político e contestatório contido nas letras. Ambas contribuíram para os jovens se aproximarem mais da cultura e dos problemas brasileiros.”

Miranda
produtor do primeiro disco da banda Mundo Livre S/A

“O disco foi uma decepção. A gente esperava algo parecido com o que rolava nos shows. Mas Liminha procurou um caminho diferente, mudou o som. A história transformou o disco em um grande álbum.”


Pedro Luís
compositor

“O álbum derrubou a mesmice das prateleiras da indústria fonográfica. Foi um alento. E me influenciou, ao me fazer ter orgulho de ser um artista contemporâneo com ideias que não se entregam ao caminho mais fácil.”


Dolores
DJ
“Esse disco ajudou a definir a música pop na década de 1990. Todo mundo sentia a pegada: brasileira e cosmopolita. Vários estados formaram bandas durante os shows de Chico. Era inspirador. Na época, ninguém trabalhava a cultura brasileira daquela forma tão internacional.”


Maciel Salu
músico, filho de Mestre Salustiano

“O disco foi uma tapa sem mão em Pernambuco e no mundo. Embora soubéssemos da cultura daqui, precisou alguém mostrar lá fora. Há 20 anos, o mercado não era como hoje. Chico trouxe os olhos das pessoas para cá.”


Herbert Vianna 
músico

“Não havia timidez
com valores brasileiros, era antropofágico”

ENTREVISTA/CARLOS NOBRE » Natureza em risco‏

ENTREVISTA/CARLOS NOBRE » Natureza em risco Colaborador do IPCC diz que o Brasil não pode se descuidar do combate ao desmatamento 

Paloma Oliveto
Estado de Minas: 02/04/2014


Brasília – Enchentes, secas extremas, tufões, terremotos. Gente morrendo de calor, outras sucumbindo a doenças infecciosas. Plantações devastadas, espécies animais sumindo do planeta. O que parece cena de filme catástrofe já está, de fato, ocorrendo no mundo. O alerta veio do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU responsável por elaborar relatórios que tracem os cenários atuais e futuros do planeta frente ao aumento de temperatura no globo.

Um dos autores do documento, recém-divulgado em Yokohama, no Japão, é o brasileiro Carlos Nobre. Secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o cientista climático foi nomeado, no ano passado, para o Painel de Alto Nível para Sustentabilidade Global, conselho que assessora diretamente o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. O texto que ajudou a compor deverá influenciar o selamento de um acordo climático mais enfático em 2015, quando ocorre a Conferência das Partes de Paris, a COP-21. Até lá, os países-membros das Nações Unidas ainda terão o encontro de Lima, daqui a sete meses, para discutir políticas de mitigação e adaptação.

O Grupo de Trabalho 2 do IPCC, cujo relatório acabou de ser divulgado, apontou os principais desafios para as diversas regiões do planeta, enfatizando a necessidade de gerenciar os riscos antes que seja muito tarde. Em entrevista ao Estado de Minas,  Nobre destaca a metodologia, que tornou mais fácil visualizar a contribuição das mudanças climáticas para a dinâmica do planeta. O cientista explica que, no que se refere às ameaças aos sistemas humanos, é possível reverter alguns impactos com a adoção de políticas de redução da vulnerabilidade social. Contudo, o secretário do MCTI lembra que o mesmo não vai ocorrer em relação a sistemas naturais. A ciência ainda desconhece estratégias de adaptação que evitem o rigor dos impactos climáticos sobre determinados hábitats, como os oceanos: “Para milhões de espécies do planeta, a vida pode não ser tão fácil”, alerta.

Na avaliação de Carlos Nobre, o Brasil está no rumo certo em relação às recomendações feitas pelo IPCC. O país é o único entre os em desenvolvimento a reduzir emissões de CO2, graças à queda do desmatamento. Mas o cientista adverte que a tendência positiva poderá se reverter ,caso se descuide das políticas de combate ao desflorestamento: “Essa é uma política que tem de ser implementada permanentemente”, diz.

As últimas edições das Conferências das Partes (COPs) frustraram pelos resultados modestos. O senhor acredita  que o relatório do IPCC servirá de instrumento de pressão para que o encontro de Lima seja mais expressivo?
Acredito que sim, não só agora, mas também em Paris, no ano que vem. O relatório do Grupo de Trabalho 2 traz um referencial conceitual mais forte, mais poderoso. Ficou mais fácil a comunicação desse relatório. Ele está em uma linguagem sintética e fácil de entender. Por exemplo, aparece um diagrama que liga o risco com a capacidade de combater aquele risco, com a adaptação. Ficou mais simples enxergar a mudança climática com relação aos geradores de risco, que são uma união de forças: uma é a ameaça climática, a outra é a vulnerabilidade, a pobreza, a inequidade, além da exposição. O risco é o produto dessas três coisas. Está mais fácil entender o peso das mudanças climáticas. Ficou muito pedagógico. Tudo foi elaborado em função desse conceito de gerenciamento de risco.

O relatório, inclusive, mostra que existem estratégias que podem combater esses riscos.
Isso, algumas. É muito interessante olhar alguns setores e ver que o espaço da adaptação para sistemas humanos é muito grande. Sem adaptação, na maioria dos cenários (com previsão de aumento de temperatura) para 2 e 4 graus, você tem um risco muito alto. Quando se coloca a adaptação, o risco cai para médio e até para baixo. Mas, em alguns setores, como os sistemas oceânicos, o conhecimento científico não consegue estabelecer medidas que diminuam significativamente o risco. São os limites da adaptação. Em algumas áreas, há limites de adaptação, principalmente quando tem a ver com sistemas naturais, como ecossistemas terrestres, zonas polares… Quando tem a ver com sistemas humanos, (para) quase todos os impactos previstos você consegue pensar em uma série de estratégias de adaptação, que são ou do lado do desenvolvimento, pelo qual você reduz muito a vulnerabilidade, ou pelo lado da redução da exposição também. Então esse é um aspecto bem interessante nesse documento.

Também assustador, não?
É assustador. Se você olhar uma das tabelas do relatório, da velocidade em que árvores, plantas, animais, insetos etc. podem buscar as zonas climáticas do equilíbrio, a média de quilômetros por década que uma árvore consegue seguir o clima é de um quilômetro. Quer dizer, você tem o clima mudando e as árvores naturalmente vão buscar o ótimo nível climático, mas uma população de árvores só consegue migrar um quilômetro por década. Quando você olha o cenário mais conservador, que praticamente é muito difícil de atingir, no qual a temperatura aumentaria 1,5 grau – ela já aumentou 1 grau, então aumentaria só mais 0,5 grau, quase uma estabilização –, esse cenário, que parece muito difícil, é o único que permitiria às árvores se adaptarem.

E em um cenário pior?
Já no outro cenário, em que a temperatura aumentaria uns 2 graus, 2,5 graus, as árvores já não se adaptariam, não conseguiriam acompanhar a mudança climática. Elas e as plantas herbáceas ficariam para trás. Isso significa um risco muito grande, uma ameaça. E para esse tipo de situação ecológica, ainda não existem soluções. A ciência e a tecnologia vão ter de avançar muito para começar a desenhar soluções para isso. Em termos humanos, é possível reduzir os riscos com a diminuição da exposição e também com o desenvolvimento, com a diminuição da vulnerabilidade que vem da pobreza, da falta de educação, da desigualdade de gênero… Mas, para as outras milhões de espécies do planeta, a vida pode não ser tão fácil assim, e ainda carecemos de estratégias de adaptação.

Em comparação ao documento de 2007, os impactos previstos para o Brasil estão maiores, menores ou estáveis?
O relatório de 2014 é muito mais detalhado e avaliou a literatura científica sobre os impactos regionais, principalmente para os países em desenvolvimento e para a América do Sul. Ainda assim, (o volume de informações) é pequeno perto desse conhecimento que existe sobre a América do Norte, a Europa e a Austrália. Ainda temos um conhecimento científico pequeno, proporcionalmente falando, com relação a impactos. Também temos muito menos experiência com relação a colocar medidas de adaptação às mudanças climáticas no planejamento e na resposta a todos esses desafios. Mas não se compara o que conhecemos hoje com o que conhecíamos há oito anos. Então, como nosso conhecimento é muito maior, é preciso ter cuidado para não parecer que os impactos são muito maiores. Tem aquela história do número de roubos ser hoje maior no estado de São Paulo, mas parte disso é porque agora você pode fazer o boletim de ocorrência pela internet. Ou seja, a gente não sabe se aumentou o número ou se as pessoas que não iam à delegacia agora têm essa oportunidade. Voltando ao clima, temos uma documentação científica muito maior dos impactos na América do Sul. Houve um aumento gigantesco no conhecimento sobre os impactos no Brasil. Realmente, tínhamos muito pouco até 2006, 2007, contava-se nos dedos os estudos completos. Agora, nós temos algumas centenas. Então, a prova de que já estão acontecendo impactos e de que outros vão acontecer é muito maior.

Houve alguma revisão sobre o risco de savanização da Amazônia?
Não, isso não mudou muito. Continuam a ter várias evidências do processo de savanização – não de toda a Floresta Amazônica, mas de algumas partes dela. E essas informações continuam lá (no relatório do IPCC). O que se tem de entender é o seguinte: existe uma regra com que você deve avaliar os estudos científicos feitos naquele período. O que ocorreu é que, no período anterior, tinham sido publicados os primeiros trabalhos que mostravam o risco de savanização. Então, deu-se um certo destaque. Já no período subsequente, 2007-2013, o assunto amazônico que mais mereceu atenção foi a alternância de extremos: em 2005, uma megasseca; em 2009, uma megaenchente; em 2010, uma megasseca; em 2012, uma megaenchente… Então, em um curtíssimo intervalo, sete anos, nós tivemos as quatro maiores anomalias climáticas dos últimos 110 anos da Amazônia: as duas mais severas secas (2005 e 2010) e as duas maiores inundações (2010 e 2012). Isso, logicamente, a partir de 2005, chamou muito a atenção da comunidade científica. Houve dezenas de dezenas de artigos científicos que foram revisados, e uma enorme ênfase em entender o que está acontecendo na região. Os artigos que falam do processo de savanização continuam no relatório, mas, na hora de selecionar os pontos principais para o sumário, esse ponto (da alternância de extremos) foi o que chamou atenção. Então, não é que em 2007 identificou-se que havia o perigo de a Floresta Amazônica, por causa das mudanças climáticas, passar por um processo de savanização e, em 2014, esse risco não existesse mais. Esse risco existe e os artigos estão lá, mas o que vem para o sumário é o que tem mais destaque naqueles sete anos da literatura científica.

De forma geral, o Brasil já está seguindo as recomendações de adaptação apresentadas no relatório do IPCC?
Não só o Brasil está seguindo como está liderando essa questão globalmente. Na questão de ecossistemas, está liderando em várias dimensões. Na de mitigação global, é o único país em desenvolvimento  a reduzir emissões, por causa da acentuada redução de desmatamento na Amazônia e, pelo menos nos registros que nós temos, também de uma diminuição no desmatamento do cerrado. Isso é uma grande notícia. Além do mais, para a Amazônia, é uma diminuição das ameaças. Quanto mais fragmentada for a vegetação, mais ela será vulnerável à savanização. A diminuição do desmatamento diminuiu muito o risco de savanização. Por isso, é muito importante que essa política pública bem-sucedida dos últimos oito anos não perca prioridade, que ela seja sempre revigorada. O esforço contra o desmatamento tem de ser contínuo, não dá para descuidar um único mês, um único ano. Nesse sentido, o Brasil está no caminho certo. Poucos países em desenvolvimento podem dizer que estão reduzindo emissões. É lógico que isso também é uma medida muito importante para aumentar a resiliência. Vai nas duas direções: diminuir as emissões e aumentar a resiliência no ecossistema, que são os sentidos da mitigação e da adaptação. O Brasil é certamente um país que tem feito isso. Vai se ver isso mais detalhadamente no Grupo de Trabalho 3: a redução de desmatamento da Amazônia, marginalmente, também diminui o risco para as outras florestas tropicais do planeta, porque diminui as emissões de carbono. Agora, essa é uma política que tem de ser implementada permanentemnte. Não existe um momento em que você diz: “Pronto, agora não precisa fazer mais nada”. A gente pode dizer que, nessa política, estamos inflexionando a curva das emissões em todo o trópico, não só no Brasil. Porém, ainda não inflexionamos a curva dos combustíveis fósseis. Então, olhando o cenário global, nós pelo menos enxergamos uma tênue luz no fim no túnel na questão da alteração da vegetação, mas ainda procuramos essa luz no uso dos combustíveis.  

Operação na artéria do rim mostra resultados no controle da hipertensão

Hipertensão severa sob controle
 
Denervação renal com cateter, que tem o objetivo de bloquear estímulos do sistema nervoso simpático sobre o rim para controlar a pressão arterial, tem resultados positivos. Mas estudo divulgado recentemente põe em xeque o procedimento


Paula Takahashi
Estado de Minas: 02/04/2014



Silenciosa e com consequências profundas para o organismo, a hipertensão acomete mais de 30 milhões de brasileiros, número que pode superar os 40 milhões se considerados aqueles que têm a enfermidade, mas não sabem disso. Desses, entre 10% e 15% se enquadram na forma mais grave da doença, a chamada hipertensão severa. "São casos em que a pessoa precisa tomar três ou mais medicamentos", explica Marcus Bolivar Malachias, coordenador da campanha Eu sou 12 por 8, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, e professor da Faculdade de Ciências Médicas de Belo Horizonte. Mesmo com a associação de diferentes fármacos, inclusive diuréticos, a pressão ainda permanece em patamares elevados, o que coloca em risco o bem-estar e a saúde do paciente.



Lourdes precisa tomar cinco medicamentos diariamente para manter a pressão sob controle (Euler Júnior/EM/D.A Press)
Lourdes precisa tomar cinco medicamentos diariamente para manter a pressão sob controle

Desde 2011, a indústria de equipamentos médicos e a comunidade científica mundial se debruçam sobre um novo tratamento que promete trazer alívio para a parcela da população mais penalizada pela hipertensão. A denervação renal com cateter dedicado (veja procedimento completo no quadro ao lado), é um procedimento minimamente invasivo que tem como meta bloquear os estímulos do sistema nervoso simpático sobre o rim, um dos responsáveis pela regulação dos níveis de pressão arterial.

De forma equivocada, o cérebro avalia que a pressão está baixa e manda comandos para que o rim comece a atuar. "Um dos mecanismos utilizados pelo órgão para aumentar a pressão é a retenção de sal e água. Outro seria a produção de uma substância que causa vaso constrição, ou seja, o estreitamento das artérias", explica Alexandre do Canto Zago, médico cardiologista do Hospital Mãe de Deus e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O erro de comunicação justifica a alta descontrolada dos índices pressóricos.

Interromper essa troca de informações é, portanto, o principal objetivo da denervação renal, tratamento já realizado no Brasil desde novembro, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a comercialização do cateter no país. A maior parte dos procedimentos realizados por hospitais detentores de tecnologia de ponta ainda ocorre em protocolo de pesquisa. No Hospital Mãe de Deus, no Rio Grande do Sul, porém, a denervação renal já faz parte da rotina clínica. "Fizemos três procedimentos, todos com resultados positivos", afirma Zago, coordenador da equipe responsável.

MODESTA, MAS DECISIVA Em um homem de 71 anos, houve redução de 20mm/Hg na pressão sistólica e 10mm/Hg na diastólica, o equivalente a sair de 17/11 para 15/10. "Os resultados são compatíveis com os estudos. Os números podem parecer baixos, mas, no longo prazo, cifras dessa ordem podem ter efeitos sobre órgãos alvo, como coração e rins", observa Zago. Ao contrário do que se espera, a denervação renal não vai eliminar a necessidade de uso dos medicamentos, mas promete melhorar a qualidade de vida do paciente. "Conseguimos reduzir a quantidade desses remédios, principalmente aqueles com efeitos colaterais que não são tolerados", observa o cardiologista do Rio Grande do Sul. Segundo Luiz Bortolotto, membro da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) e diretor da unidade de hipertensão do Instituto do Coração (Incor), a média de sete remédios consumidos antes da intervenção pode cair para quatro.

O primeiro estudo realizado para comprovação da eficácia da denervação renal ocorreu em 2011 e revelou redução de cerca de 30mm/Hg da pressão sistólica e de 12mm/Hg a 15mm/Hg da diastólica. A grande surpresa para a comunidade médica mundial foi divulgada em janeiro, quando uma nova pesquisa colocou em cheque os reais benefícios do procedimento. "Surpreendentemente, não houve diferença entre os resultados dos dois grupos estudados, um que realmente fez a denervação e outro que fez uma intervenção com caráter de placebo", explica o cardiologista Marcus Bolivar Malachias. O detalhamento completo da pesquisa ainda não foi publicado e, por isso, há grande apreensão no meio sobre as circunstâncias que justificam o resultado.

A expectativa agora gira em torno dos próximos estudos, previstos para serem divulgados nos congressos internacionais ao longo do ano. "Apesar do desânimo da última pesquisa, estamos com expectativa de que os novos estudos venham mostrar resultados importantes. Ainda há otimismo", garante Malachias. A principal dúvida a ser respondida é qual tipo de cateter alcançará maior eficácia. "Pode ser que o mecanismo de radiofrequência não seja o melhor. Já há possibilidades com ultrassom", antecipa o especialista.

NORMATIZAÇÃO Para Luiz Bortolotto, também é crítica a necessidade de estabelecer um protocolo exato de aplicação clínica do procedimento para que não seja realizado sem necessidade. "É preciso reforçar que os casos devem ser muito bem selecionados e deixar claro qual será o paciente realmente beneficiado", pondera. Isso porque, diante da novidade da intervenção e das dúvidas que ainda pairam sobre sua eficácia, não há previsão de quando será coberta pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nos planos de saúde, tratamentos como esses podem demorar até dois anos para entrar no rol de cobertura. "Quando há um estudo não favorável, como o publicado recentemente, dificulta -se ainda mais esse processo. A eficácia deve ser incontestável", pondera o cardiologista Alexandre do Canto Zago.

Enquanto o paciente não tem qualquer amparo público ou privado para arcar com o tratamento, o custo gira em torno de R$ 25 mil, dos quais R$ 20 mil apenas para a aquisição do cateter.

A doméstica Lourdes Ferreira, de 47 anos, trata da hipertensão há 14 anos e é uma entre os milhares de brasileiros que poderiam se beneficiar do tratamento, no caso de ser incorporado à cobertura médica. "Tomo cinco medicamentos e minha pressão ainda fica em torno de 14 por 8 quando estou tranquila", conta. Episódios críticos em que a pressão sistólica passa de 15 obrigam-na a recorrer ao atendimento hospitalar e não são evitados pelos vários fármacos. "Sinto muita dor de cabeça e mal-estar. Quando a pressão sobe muito, ainda tenho náuseas", descreve.

indícios de benefícios

Há indícios de que a denervação renal também traga efeitos positivos na redução dos índices glicêmicos e de colesterol. "Poderia melhorar a insuficiência cardíaca, arritmias e até tendência de melhora metabólica, como a redução do nível de glicose", afirma o cardiologista Marcus Bolivar Malachias. Pesquisas dedicadas a comprovar os demais benefícios do procedimento começam a ser realizadas nos principais centros hospitalares do país. 

Mais apoio à assistência às grávidas‏ -

Mais apoio à assistência às grávidas 
 
Maria Inês de Miranda Lima
Presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig)
Estado de Minas: 02/04/2014


Cerca de 40 milhões de mulheres no mundo não receberam nenhum tipo de assistência profissional ao dar à luz, conforme dados de 2012 da fundação internacional Save The Children. A maioria delas é pobre, faz parte de minorias étnicas, tem poucos anos de estudo ou vive em áreas rurais, sendo grande parte localizada no continente africano. O relatório ainda aponta que a presença de um profissional de saúde no momento do parto poderia ter evitado a morte de 950 mil bebês por ano. A Save The Children estima que faltam cerca de 7,2 milhões de profissionais de saúde para suprirem o atendimento a gestantes e recém-nascidos no mundo. Além de garantir os cuidados necessários, durante e após o nascimento, os profissionais são essenciais para cerca de 10% de casos em que os recém-nascidos precisam de ajuda apenas para respirar.

O Brasil está na 4ª posição, entre os 75 países analisados no relatório, com 98,9% dos partos assistidos por um profissional. É o melhor índice entre os seis países da América Latina e do Caribe, analisados pelo estudo, revelando que o governo está ampliando sua oferta de atendimento a grávidas, mesmo em locais de difícil acesso.

O cenário também é positivo em Minas, uma vez que dados do Ministério da Saúde revelam uma redução na Razão de Mortalidade Materna (RMM), sendo que, em 2011, foram 32,09 óbitos para cada grupo de 100 mil nascidos vivos, número 29% menor que os 44,69 para cada 100 mil nascidos vivos, apurados em 2010. Os índices demonstram que as ações desenvolvidas para a promoção da saúde da mulher e da criança estão atingindo respostas positivas. Entretanto, ainda assim, é preciso reduzir os números da mortalidade materna com mais e novas ações e estratégias.

Recentemente, a Secretaria Estadual de Saúde lançou o Programa de Qualificação da Assistência Perinatal, em parceria com a Fundação Educacional Lucas Machado, a Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais e a Sociedade Mineira de Pediatria, entre outras entidades ligadas à saúde da mulher. O projeto é uma ação da Rede Viva Vida/Mães de Minas para garantir maior atenção e acompanhamento, melhorando e qualificando o acolhimento no serviço público. O programa capacitará e treinará mais de 6 mil profissionais da saúde, como médicos, gestores, enfermeiros e técnicos de enfermagem, visando aprimorar, cada vez mais, as condições de atendimento.

Os cursos e a capacitação serão focados nas doenças e morbidades que mais matam em Minas, como enfermidades hipertensivas, infecções e hemorragias. A prematuridade, más-formações, infecções e asfixia são os grandes causadores de óbitos no período neonatal, que poderiam ser evitados com uma prevenção e abordagem interdisciplinar no pré-natal, parto, puerpério e período neonatal.

As ações, como as do Programa de Assistência, reforçam a atenção e o cuidado que governo, entidades públicas, universidades e sociedade devem ter com a saúde das mães, e estimulam a contínua manutenção de parcerias público-privadas para a qualificação dos profissionais ligados à ginecologia e obstetrícia.

Reinserção da pessoa presa‏

Reinserção da pessoa presa
Reincidência de crimes pode ser reduzida com oferta de emprego
Zé Silva
Secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Mônica Coelho
Ouvidora-geral adjunta do Estado de Minas Gerais
Estado de Minas: 02/04/2014


As parcerias podem mitigar grandes entraves nas políticas públicas. No sistema prisional, elas podem ser utilizadas para a criação de empregos, visando evitar a reincidência de crimes. Acreditando nessa premissa e no poder transformador que advém da união de esforços, a Ouvidoria-Geral do Estado de Minas Gerais (OGE), por meio da Ouvidoria do Sistema Penitenciário, tem se empenhado em articular parcerias que transformem a realidade das unidades prisionais, tendo como foco a capacitação da pessoa presa, com o objetivo de oferecimento de mão de obra especializada ao mercado de trabalho. As oportunidades de trabalho e estudo oferecidas à população carcerária é um dos fatores que mais contribuem para o sucesso da reinserção dos presos na sociedade. Estudos comprovam que a reincidência de crimes pode ser drasticamente reduzida ao se investir na qualificação técnica das pessoas privadas de liberdade. Entre os que trabalham e estudam, segundo especialistas, a taxa de reincidência cai, em média, de 70% para 20%.

A cooperação entre órgãos do governo, entidades da sociedade civil e empresarial vai ao encontro do princípio da dignidade da pessoa humana no âmbito da execução penal, uma vez que possibilita o engajamento dos envolvidos nas atividades de execução da pena. Vale lembrar os benefícios que advêm dessa cooperação: os presos são capacitados e ganham uma profissão e, como trabalham dentro da unidade prisional, existe uma redução significativa de custos para os empresários – não há despesas com aluguel, IPTU, luz, água e com os encargos trabalhistas. Para concretizar esse objetivo, ante a função precípua e as competências legais da OGE, que é o canal de comunicação entre cidadão e governo, mobilizamos as secretarias estaduais de Agricultura, Pecuária e Abastecimento; de Defesa Social; de Desenvolvimento Econômico; de Desenvolvimento Social, por meio da Subsecretaria do Trabalho e Emprego, além das empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), e de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Celebraremos termos de cooperação técnica, com metas e prazos definidos para viabilizar os planos de trabalho e com o objetivo de profissionalizar e ressocializar os presos do Sistema Prisional, por meio da captação de empresas para oferecer vagas de trabalho. Essa medida também tem o condão de solucionar o problema da escassez de mão de obra existente em segmentos da indústria e do comércio. A importância do fomento a novas parcerias encontra respaldo no atual quadro de ociosidade existente na população carcerária.

Mudar essa realidade exige esforço e coragem para reconhecer que os atuais arcabouços legal, burocrático, de infraestrutura e logística devem ser reconsiderados. Com as parcerias, a atração de novos investidores deve passar por esferas referentes aos aspectos contratuais; de infraestrutura das unidades prisionais e disponibilidade de servidores; e de divulgação dos benefícios das parcerias em unidades prisionais para empresas. Acreditamos que os empresários mineiros irão se sensibilizar para oferecer novas vagas de emprego. As parcerias nas unidades prisionais e a inclusão de seus presos ao mercado de trabalho representam um elo entre a oportunidade de sanarmos o déficit de mão de obra qualificada e a necessidade social.

GOLPE DE 64 » Forças Armadas vão investigar tortura‏

GOLPE DE 64 » Forças Armadas vão investigar tortura
 
Sete instalações do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, apontadas pela Comissão da Verdade como locais onde foram violados os direitos humanos na ditadura, vão ser alvo de sindicância


Daniel Camargos
Estado de Minas: 02/04/2014


Quartel do 12º RI em Belo Horizonte. De acordo com o dossiê Brasil Nunca Mais, 74 pessoas foram torturadas no local durante o regime militar     (Marcos Michelin/EM/D.A PRESS)
Quartel do 12º RI em Belo Horizonte. De acordo com o dossiê Brasil Nunca Mais, 74 pessoas foram torturadas no local durante o regime militar
Pressionadas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), as Forças Armadas instauraram comissões de sindicância para investigar o uso das instalações militares para a prática de violações de direitos humanos, como tortura e assassinatos de presos políticos durante a ditadura militar (1964-1985). Serão apuradas as violações em sete unidades, sendo uma delas o Quartel do antigo 12º Regimento de Infantaria do Exército (12º RI), no Barro Preto, em Belo Horizonte, hoje 12º Batalhão de Infantaria. A investigação foi requisitada pela CNV no dia 18 de fevereiro. A resposta veio ontem – data do aniversário de 50 anos do golpe –, em um telefonema do ministro da Defesa, Celso Amorim, para o coordenador da comissão, Pedro Dallari.

A CNV também recebeu um ofício do ministro com as respostas enviadas ao ministério pelos comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, em que os militares informam quais serão as providências tomadas. “Em atenção ao requerido, considerando a importância e urgência que o assunto requer, informo a V. Exa que este comando determinou a abertura da respectiva sindicância”, escreveu o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri.

O quartel do 12º RI é apontado no dossiê Brasil Nunca Mais, elaborado em 1985, como palco de tortura de 74 pessoas. Dois torturadores denunciados por dezenas de vítimas davam expediente no quartel. Um deles, Octávio de Aguiar Medeiros, depois de barbarizar nos porões chegou a ser chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e postulou uma candidatura a presidente. Medeiros, como ficou conhecido pelas vítimas, foi o responsável pelo inquérito do Comando de Libertação Nacional (Colina), um dos grupos em que a presidente Dilma Rousseff (PT) militou. O outro torturador é o capitão Hilton Paulo Cunha Portella, que veio do Rio de Janeiro e atou no 12ºRI em 1969 e 1970. Era conhecido pelo codinome de Doutor Joaquim e pelo menos 18 vítimas apontam que ele atuava com requintes de crueldade e sadismo.

A assistente social Gilse Cosenza lembra que quando foi presa, em 17 de junho de 1969, foi levada debaixo de uma série de bofetões para o 12º RI. Gilse militava na Ação Popular e quando chegou ao local se deparou com uma sala repleta de militantes. “Lembro de militares com armas apontadas para nós e as cadeiras cheias de gente que eu conhecia”, recorda Gilse. A militante não foi torturada nas dependências do 12ºRI, mas foi brutalmente agredida em um lugar ermo, que ela não sabe precisar. “Era um posto policial na beira de uma estrada”, recorda Gilse.

Um estudo, ainda em andamento, coordenado pela professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e assessora da CNV Heloísa Starling, confirma a existência, até agora, de 36 locais de tortura – incluindo áreas militares, delegacias e casas – em sete estados brasileiros. No entanto, outra pesquisa, feita pelo historiador Rubim Aquino, já falecido, e lançada em 2010, aponta 212 endereços onde os presos políticos sofreram todo tipo de violência.

A partir dos depoimentos dos presos foram listados ainda 6.016 tipos de tortura de toda a sorte, incluindo violência física e sexual, uso de aparelhos elétricos e mecânicos e até animais, como ratos, baratas, cobras e cachorros, com a intenção de obter informações e confissões dos detidos. Os anos 1969 e 1970 foram o auge da violência contra presos políticos. Nesse período, durante o governo do general Emílio Garrastazu Médici, foram colhidas 2.233 denúncias de sevícias de todos os tipos. A maioria das vítimas eram homens entre 22 e 35 anos.

Gesto Para o coordenador da CNV, Pedro Dallari, a resposta das forças armadas "é um gesto muito importante, que pode representar um grande avanço para a apuração das graves violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar". No requerimento, a CNV ressalta que é "imperioso o esclarecimento de todas as circunstâncias administrativas que conduziram ao desvirtuamento do fim público estabelecido para aquelas instalações”. Para Gilse Cosenza, a elucidação das torturas e dos torturadores é essencial. “Continuamos reivindicando, pois a democracia não pode ser construída com segurança se não desvendarmos o que foi a tortura. É fundamental para que a sociedade possa definir isso como algo que não pode ser aceito nunca mais”, acredita ela.

Após ser acionado pela CNV, o Ministério da Defesa encaminhou o requerimento às três Forças. O Exército informou em 25 de março ter aberto a sindicância e, na véspera, já havia comunicado que buscará as informações disponíveis sobre o tema nos "órgãos de direção setorial" e junto aos comandos militares de área e que conduzirá as diligências necessárias solicitadas pela CNV. A Marinha e a Aeronáutica responderam ao requerimento ontem. O comandante da Aeronáutica, Brigadeiro Juniti Saito, designou por portaria o major-brigadeiro do ar Raul Botelho, comandante do Terceiro Comando Aéreo Regional (III Comar, Rio de Janeiro), como o encarregado da sindicância.

UNIDADES DO XÉRCITO QUE SERÃO INVESTIGADAS
  
Em Belo Horizonte
» Quartel do 12º Regimento de Infantaria do Exército - hoje 12º BI

No Rio de Janeiro
» Destacamento de Operações de Informações do I Exército (DOI/I Ex)
» 1ª Companhia de Polícia do Exército da Vila Militar
» Base Naval da Ilha das Flores
» Base Aérea do Galeão
  
Em São Paulo
» Destacamento de Operações de Informações do II Exército (DOI/II Ex)
  
No Recife
» Destacamento de Operações de Informações do IV Exército (DOI/IV Ex)