quarta-feira, 9 de abril de 2014

Inclusão - MARTHA MEDEIROS

Zero Hora - 09/04/2014

Entre os 45 mil presentes na cerimônia de reabertura do Beira-Rio no último sábado, lá estava eu, emocionada com a sensação coletiva de “volta ao lar”. Vivi intensamente os anos 70 do clube e seus três títulos incendiários. Era uma colorada praticante, de ir ao estádio em todos os jogos. Depois diminuí a frequência, até que deixei de ir. Passei a assistir apenas às finais de campeonato, e ainda assim pela TV. A última vez que eu estive no Beira-Rio havia sido para assistir ao show do Paul McCartney. E o evento de agora não foi muito diferente. Aquele 7 de novembro de 2010 em que revivi minha paixão pelos Beatles teve o mesmo espírito deste 5 de abril de 2014 em que revivi outra forte paixão da adolescência.

Saudosismo não é doença geriátrica, e sim uma confirmação da nossa consistência emocional. Mas não é sobre isso que quero falar, e sim sobre a importância de milhares de pessoas reunirem-se num mesmo local, com a mesma finalidade. Muita gente se assusta com conglomerações, a ponto de evitá-las. Tem até um nome para isso: agorafobia. Pânico de estar num espaço público cercado de gente desconhecida. Mas quem vence esse medo recebe em troca uma energia que elimina qualquer desconfiança. Essa “gente desconhecida” faz parte de uma mesma família. O DNA não é o mesmo, mas a pulsão afetiva é direcionada para um mesmo objeto de culto, que pode ser uma banda, um esporte, uma ideologia. Ter interesses em comum com os outros dá uma arejada no egocentrismo.

Podemos ter algumas neuras particulares (neuras, aqui, funcionando como nome carinhoso para nossas manias, não necessariamente uma patologia séria) e isso nos impelir a uma vida mais reservada, mas sempre que radicalizamos na autoexclusão, acabamos por empobrecer a nossa história: é preciso compartilhar as alegrias para fortalecê-las. Por isso, são tão essenciais os encontros entre amigos, as festas de aniversário, tudo o que interrompe a monotonia do cotidiano a fim de celebrar quem fomos ontem e quem somos hoje, valorizando os sucessos e fracassos adquiridos pelo caminho – tudo o que nos constitui.

Vale para pequenos eventos particulares e grandes eventos públicos. Sair de casa vestindo uma mesma camiseta, de uma mesma cor e com um mesmo propósito é uma forma de deixarmos nosso narcisismo em casa para fazer parte de algo maior, algo que existe além de nós, ainda que nosso também: aquilo que nos representa.

Os que sofrem de agorafobia ou qualquer outra fobia que impossibilite a união com outros do mesmo time (seja esse “time” o do rock, o do surfe, o da moda, o da política, o do futebol, o do ciclismo), tratem-se, curem-se e se abram para o pertencimento. Não existe solidão que resista a uma voltinha para longe do próprio umbigo.

Frei Betto - Maioridade penal‏

Maioridade penal
O ingresso precoce de adolescentes em nosso sistema carcerário só faria aumentar o número de bandidos
Frei Betto

Estado de Minas: 09/04/2014


Voltou à pauta do Congresso, por insistência do PSDB, a proposta de criminalizar menores de 18 anos via redução da maioridade penal.

 De que adianta? Nossa legislação já responsabiliza toda pessoa acima de 12 anos por atos ilegais. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, o menor infrator deve merecer medidas socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida é aplicada segundo a gravidade da infração.

 Nos 54 países que reduziram a maioridade penal não se registrou redução da violência. A Espanha e a Alemanha voltaram atrás na decisão de criminalizar menores de 18 anos. Hoje, 70% dos países estabelecem 18 anos como idade penal mínima.

 O índice de reincidência em nossas prisões é de 70%. Não existe, no Brasil, política penitenciária, nem intenção do Estado de recuperar os detentos. Uma reforma prisional seria tão necessária e urgente quanto a reforma política. As delegacias funcionam como escola de ensino fundamental para o crime; os cadeiões, como ensino médio; as penitenciárias, como universidades.

 O ingresso precoce de adolescentes em nosso sistema carcerário só faria aumentar o número de bandidos, pois tornaria muitos deles distantes de qualquer medida socioeducativa. Ficariam trancafiados como mortos-vivos, sujeitos à violência, inclusive sexual, das facções que reinam em nossas prisões.

 Já no sistema socioeducativo, o índice de reincidência é de 20%, o que indica que 80% dos menores infratores são recuperados.

 Nosso sistema prisional já não comporta mais presos. No Brasil, eles são, hoje, 500 mil, a quarta maior população carcerária do mundo. Perdemos apenas para os EUA (2,2 milhões), China (1,6 milhão) e Rússia (740 mil).

 Reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, e não a causa. Ninguém nasce delinquente ou criminoso. Um jovem ingressa no crime devido à falta de escolaridade, de afeto familiar, e por pressão consumista, que o convence de que só terá seu valor reconhecido socialmente se portar determinados produtos de grife.

 Enfim, o menor infrator é resultado do descaso do Estado, que não garante a tantas crianças creches e educação de qualidade; áreas de esporte, arte e lazer; e a seus pais trabalho decente ou uma renda mínima para que possam subsistir com dignidade em caso de desemprego.

 Segundo a Pesquisa nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o adolescente que opta pelo ensino médio, aliado ao curso técnico, ganha em média 12,5% a mais do que aquele que fez o ensino médio comum. No entanto, ainda são raros os cursos técnicos no Brasil.

Hoje, os adolescentes entre 14 e 17 anos são responsáveis por consumir 6% das bebidas vendidas em todo o território nacional. A quem caberia fiscalizar? Por que se permite que atletas e artistas de renome façam propaganda de cerveja na TV e na internet? A de cigarro está proibida, como se o tabaco fosse mais nocivo à saúde que o álcool. Alguém já viu um motorista matar um pedestre por dirigir sob o efeito do fumo?

Pesquisas indicam que o primeiro gole de bebidas alcoólicas ocorre entre os 11 e os 13 anos. E que, nos últimos anos, o número de mortes de jovens cresceu 15 vezes mais do que o observado em outras faixas etárias. De 15 a 19 anos, a mortalidade aumentou 21,4%.

Portanto, não basta reduzir a maioridade penal e instalar UPPs em áreas consideradas violentas. O traficante não espera que seu filho seja bandido, e sim doutor. Por que, junto com a polícia pacificadora, não ingressam, nas áreas dominadas por bandidos, escolas, oficinas de música, teatro, literatura e praças de esportes?

 Punidos deveriam ser aqueles que utilizam menores na prática de crimes. E eles costumam ser hóspedes do Estado, que, cego, permite que dentro das cadeias as facções criminosas monitorem, por celulares, todo tipo de violência contra os cidadãos. Que tal criminalizar o poder público por conivência com o crime organizado? Bem dizia o filósofo Carlito Maia: “O problema do menor é o maior”.

TeVê

TV PAGA » Quartas de beleza

Estado de Minas: 09/04/2014





Mais um dia recheado de estreias. No Discovery Home & Health, às 19h50, David Tutera (foto) assume o comando das cerimônias em Casamento dos sonhos. A cada episódio, a produção surpreende um casal e sugere alterações fundamentais para repaginar a festa e trazer elegância à cerimônia, em uma espécie de cruzada pelo bom gosto.

Maria Flor estreia na
direção com Só garotas


No Multishow, são duas as novidades. Às 21h30, estreia Só garotas, com Maria Flor na direção da série, que vai abordar questões amorosas, profissionais e cômicas de Clara (Flora Diegues), Fernanda (Vitória Frate), Mel (Julia Stockler) e Olívia (Liliana Castro). Às 22h, retorna a série Estranha mente, com Fernando Caruso, contando com a participação de Mateus Solano no quadro “Teste de novela”, em que tem que fazer testes para papéis bizarros.

Du Moscovis estrela
novo seriado do GNT

No canal GNT, o destaque é Questão de família, às 22h30. Eduardo Moscovis interpreta um juiz da Vara de Família que não tem uma rotina muito comum. Ele tem um passado conturbado e carrega problemas familiares, como a luta do irmão contra as drogas. Enquanto enfrenta seus próprios dilemas, ele vê passar diante de si, na sala de audiência, questões complexas: ex-cônjuges que lutam por bens materiais ou guarda dos filhos, filhos rejeitados e não reconhecidos e outros casos ainda mais complicados.

Canal ID promove
investigação policial

No canal ID, mais duas novidades. Às 20h, estreia Crimes da escuridão, que começa investigando um duplo homicídio numa pequena cidade americana na fronteira com o Canadá. Às 21h, é a vez de Matadores frios, que reúne depoimentos de familiares das vítimas, de investigadores envolvidos nos casos, e dos próprios assassinos para contar histórias de crimes ocorridos em locais remotos, como o Alasca, cenário do primeiro episódio.

Arte 1 exibe drama
vencedor de Cannes


O Telecine Cult continua sua Madrugada faroeste com mais dois títulos do gênero:100 rifles (0h05) e Má companhia (2h05). Mas o grande destaque do dia é Entre os muros da escola, filme de Laurent Cantet que foi o vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2008, mostrando os conflitos culturais dentro de uma escola na periferia de Paris. Vai ao ar às 22h, no Arte 1.Outras atrações da programação: Um sonho de liberdade, às 20h55, na Warner; Minha vida sem mim, às 21h55, no Glitz; Prenda-me se for capaz, às 22h, no Telecine Touch; Amostra grátis, também às 22h, na HBO HD; Tá rindo do quê?, às 22h30, no Universal; e Match point – Jogo perigoso, à meia-noite, no Megapix.




CARAS & BOCAS » Momento mágico

Simone Castro


Zelão (Irandhir Santos) e seu lindo cavalo são algumas das atrações de Meu pedacinho de chão     (Renato Rocha Miranda/TV Globo-2/4/14  )
Zelão (Irandhir Santos) e seu lindo cavalo são algumas das atrações de Meu pedacinho de chão


Quer uma trama para aliviar o estresse do dia? Ou apenas para apreciar uma boa história, que ainda ofereça cenários belíssimos, figurinos caprichados e interpretações arrebatadoras? Então, se deixe levar pela magia de Meu pedacinho de chão (Globo). Bela, lúdica e sem perder o fio da meada: assim foi a estreia, anteontem, da nova novela das seis. Embalada pela maravilhosa trilha sonora do maestro Tim Rescala, um universo riquíssimo que mescla, além do lirismo, também a comédia e a tragédia – com incursões diferenciadas, como pela música da banda americana DeVotchka, entre outras –, e é um motor da narrativa, a novela, remake de Benedito Ruy Barbosa sobre seu próprio original, tem o toque de midas do diretor Luiz Fernando Carvalho. Sem desviar do tema principal, datado de 1971, a luta entre progresso e retrocesso com forte crítica social, Carvalho, especialista em transportar o telespectador para o mundo da fantasia, tem entre suas outras qualidades a competência na direção dos atores. Perfeccionista, ele trabalha para tirar o melhor de cada um. E consegue verdadeiros milagres como, por exemplo, com sua protagonista, Juliana Paes. Ela interpreta Maria Catarina, a Madame Epa, e levou para a telinha uma composição deliciosa. No meio de feras, como Osmar Prado (Coronel Epa), Antônio Fagundes (Giácomo), Irandhir Santos (Zelão), Emiliano Queiroz (Padre Santo) Flávio Bauraqui (Rodapé), Ricardo Blat (Prefeito das Antas), outra prova da direção milimétrica de Carvalho são os atores mais jovens, como Johnny Massaro (Ferdinando). Para quem torceu o nariz para sua escalação, esperam-se boas surpresas por aí. E se o público precisa de novidades, que tal acompanhar a trajetória da “mulher-homem” Gina, um achado nas mãos da atriz Paula Barbosa? Uma parceria a ressaltar é a de Rodrigo Lombardi, também ótimo como Pedro Falcão, e nossa gloriosa Inês Peixoto, do Grupo Galpão, sua esposa, Dona Tereza. Bruna Linzmeyer, que vem de um bom trabalho como a autista Linda de Amor à vida (Globo), agora interpreta a professora Juliana e terá que lidar com variadas emoções, já que será cortejada por nada menos do que três cavalheiros. Não se pode esquecer da dupla de pequeninos, Serelepe (Tomás Sampaio) e Pituquinha (Geytsa Garcia), que já mostrou a que veio.

No mais, a destacar o figurino e a caracterização – que cria tipos estereotipados – com suas tintas carregadas, nos brindando com uma explosão de cor. O visual da personagem de Juliana Paes, por exemplo, é inspirado em Maria Antonieta, rainha consorte da França, ou seja, bem exagerado. Mas, no geral, buscou-se uma estética que remeta a um conto de fadas atemporal. O cenário é um detalhe à parte: é como se o telespectador desembarcasse em uma cidade de brinquedo, com suas esculturas de lata, cavalos coloridos, árvores igualmente coloridas com mantas de crochê e aquele galo estilizado saudando a chegada à linda Vila Santa Fé. Vale lembrar que é a cidade vista pelos olhos do menino Serelepe, que não desgruda de sua luneta, daí o mundo mágico. Figurinos e cenários de uma trama passada no interior – e o sotaque é tudo de bom! – nos aguçam a curiosidade a cada cena. Quer saber? Deixe-se levar por essa magia. Como não se trata de uma minissérie, uma dúvida paira no ar: será que o autor e Luiz Fernando Carvalho conseguirão manter o fôlego durante toda a novela, mesmo em uma trama mais curta do que as outras? É a prova de fogo.

NARRADOR RENOVA E
FICA ATÉ A OUTRA COPA


Não. A Copa do Mundo de 2014 no Brasil não será a última do narrador Galvão Bueno. Ele acaba de renovar com a Globo por mais cinco anos. Ou seja, ele estará à frente da cobertura da Copa do Mundo de 2018, que será realizada na Rússia.

MISSÃO EM CAMPO
A série Homeland vem aí em sua quarta temporada. A emissora Showtime divulgou novidades sobre a atração, que terá gravações na Cidade do Cabo, na África do Sul. Na trama, Carrie, a agente vivida por Claire Danes, será enviada para uma das mais perigosas estações da CIA no Oriente Médio, onde voltará a lutar contra terroristas. A agente também terá missões em campo, ao contrário das temporadas anteriores. Homeland conta a história da agente da CIA Carrie Anderson e sua luta para tentar localizar e capturar os principais terroristas que ameaçam os Estados Unidos, especialmente os seguidores de Abu Nazir. Os fãs da série se surpreenderam no final da terceira temporada com a morte de Nicholas Brody (Damian Lewis), um dos principais nomes do programa. No Brasil, Homeland é exibida pelo canal FX (TV paga).


viva
Ainda que não seja o melhor filme do ator e diretor, valeu pela homenagem a José Wilker a exibição de Giovanni Improta. E, depois, o Programa do Jô, mostrando participações especiais de Wilker.

vaia
O Vídeo show (Globo) reestreou, anteontem, o quadro “Novelão”, um dos preferidos do público. Mas trocou o nome da série Anos dourados, em exibição, por Anos rebeldes.
Não dá, né?


simone.castro@uai.com.br

Os lusíadas em curta‏

Os lusíadas em curta
Estado de Minas: 09/04/2014


 O português Manoel de Oliveira volta a filmar aos 105 anos  ( MIGUEL RIOPA/AFP)
O português Manoel de Oliveira volta a filmar aos 105 anos

O decano mundial dos cineastas, Manoel de Oliveira, que em dezembro completou 105 anos, volta ao trabalho esta semana no Porto, sua cidade natal, para filmar um curta-metragem.
"Finalmente, ele conseguiu o financiamento que esperava há vários meses", declarou Adelaide Maria Trepa, filha do cineasta.

As filmagens do novo curta, também confirmadas pela produtora O som e a fúria, serão na cidade do Porto, onde Oliveira começou a trabalhar nos anos 1930 com o filme Douro, faina fluvial, documentário mudo sobre as margens do Rio Douro.

 O novo filme, que tem o título O velho do Restelo, é inspirado em um personagem do poema épico Os lusíadas, escrito no século 16 por Luís de Camões para relatar as grandes descobertas marítimas dos navegantes portugueses.

 O projeto de Manoel de Oliveira foi adiado por um contexto muito difícil para o cinema português, que sofre com os cortes orçamentários do governo para atender as exigências dos credores internacionais do país.
O diretor, que tem mais de 50 longas-metragens de ficção e documentários no currículo, e que foi hospitalizado em várias ocasiões em 2012 por complicações depois de uma infecção, não quer ouvir falar de aposentadoria.
"Está muito concentrado nas filmagens", explicou a filha.

Transparência nos rótulos [Alergia alimentar pode matar]

Transparência nos rótulos
Alergia alimentar pode matar. Famílias lançam movimento na internet, para que informação nas embalagens dos produtos seja obrigatória. Apoio da população é fundamental


Valéria Mendes
Do Portal Saúde Plena
Estado de Minas: 09/04/2014



Alergia alimentar deve ser levada a sério e os riscos de choque anafilático e fechamento de glote, entre outras reações graves, existem e fazem vítimas Brasil afora. Pesquisa desenvolvida na Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), em 2009, mostra que 39,5% das reações alérgicas estão relacionadas a erros na leitura de rótulos dos produtos. A alergia alimentar atinge 8% das crianças e entre 3% e 5% dos adultos. Um estudo feito em uma década nos Estados Unidos (1997-2007) indicou aumento de 18% nos casos de alergia alimentar na faixa etária até 18 anos. Diante da ausência no Brasil de uma legislação específica para os rótulos de alimentos, que indiquem a presença de ingredientes considerados mais potentes para desencadear uma reação alérgica – oleaginosas e lactose, por exemplo –, cerca de 600 famílias se engajaram em uma campanha pelas redes sociais intitulada #poenorotulo, que tem o objetivo de tornar obrigatória a rotulagem correta e completa dos alimentos no país.

A ação na internet (acesso pelo www.facebook.com/#poenorotulo) quer também chamar a atenção da população não alérgica para a importância dessa informação. Pessoas públicas, como o ator Mateus Solano e o músico Toni Belloto, apoiam a campanha. Nesse contexto, é importante destacar que o alérgico alimentar pode morrer dependendo do grau de sensibilidade. A insistência de haver na rotulagem a indicação de traços ou ingredientes que podem causar reações é importante porque nas indústrias alimentícias há uma prática comum de compartilhamento de maquinário para produção de vários produtos. Esse compartilhamento gera o que é denominado de “traços de alérgenos”, ou seja, alguns produtos como pão ou biscoitos podem não conter exatamente um determinado ingrediente, mas podem ter “traços”, por serem fabricados na mesma máquina, mesmo que esta seja higienizada. Alérgeno é um tipo de alimento que pode desencadear reações alérgicas.

LONGA ANGÚSTIA A pedagoga Marcela Bracarense, de 33 anos, sabe bem o que é passar meses angustiada, investigando o que levava o filho, Augusto, a ter tantos problemas. Ela passou a noite de 31 de dezembro de 2011 ao lado do berço, pois temia que ele, na época com 1 ano e três meses, parasse de respirar e morresse. “Ele já tinha ido ao hospital e estava medicado há três dias com antibiótico. Os médicos disseram que não tinha o que ser feito, que teríamos que aguardar a medicação fazer efeito e fomos para casa”, recorda-se. O diagnóstico era sinusite, faringite e laringite. “Ele dormia e parava de respirar. Eu o acordava e dizia: ‘respira, Augusto, respira’. Ele dormia mais um pouquinho, parava de respirar de novo e eu lá, massageando e pedindo para ele respirar. Naquela noite eu decidi que descobriria o que ele tinha”, afirma.

E assim foi feito. Em 1º de janeiro de 2012, depois de uma pesquisa na internet, Marcela se convenceu que o filho tinha tido uma reação alérgica. O réveillon daquele ano caiu em um final de semana e a mãe só conseguiria um médico na segunda-feira. Apreensiva, recebeu uma doação de uma fórmula alimentar de aminoácidos livres indicada para alergias severas. Três dias depois, o filho era outra criança. “Ele passou a dormir sem crises de apneia, sem roncar. Comecei a conhecer meu filho de outra forma. Troquei de gastropediatra e também de pediatra e fui acolhida por uma médica que abraçou minha tentativa de buscar o diagnóstico de alergia alimentar”, conta.

Naquele início de 2012, Marcela descobriu que o filho tinha alergia às proteínas do leite e a soja. “O diagnóstico não aparece nos exames específicos de sangue, chama-se alergia alimentar não mediada. Suspendi o leite, todos os derivados e ele se tornou outro menino. Na época, descobrimos que ele estava, inclusive, desnutrido”, relata. A partir daí, a família precisou passar por um processo de adaptação até que a saúde de Augusto se estabilizasse. “Foram tantas vivências... Depois de março de 2013, quando ele teve o choque anafilático com edema de glote durante uma tentativa de reintrodução do leite de vaca na dieta, ficamos ainda mais apreensivos com possíveis ingestões acidentais. Mais do que nunca, depois desse episódio, redobramos nossa atenção aos rótulos de industrializados”, afirma a pedagoga.

UTENSÍLIOS SEPARADOS Para se ter uma ideia da rotina da família que tem entre seus entes uma pessoa alérgica, Marcela conta que, como o pai de Augusto continuou consumindo laticínios, na casa deles há utensílios específicos para o filho. Até a bucha para lavá-los é diferente. “Dedico-me pessoalmente à cozinha e à higiene dos utensílios. Demorei mais de um ano para descobrir que alguns episódios de alergia do Augusto, mesmo depois do diagnóstico, eram causados por traços dentro da minha própria casa.”

Ao ter de aprender a se adaptar, Marcela garante que o filho, além de ter muita qualidade de vida, desfruta de momentos felizes em festas, com os amiguinhos. “Tem aniversário de colega em pizzaria? Eu faço a pizza, ele leva e come junto de todo mundo. No Natal, fiz um panetone especial para ele, que comeu com toda a família. Até brigadeiro para festa de aniversário é possível adaptar.”


Caneta de adrenalina sempre na bolsa

A jornalista Mariana Claudino, de 40 anos, conhece bem a gravidade da situação de uma alergia alimentar e passou a integrar a coordenação da campanha #poenorotulo. No ano passado, o filho dela, Mateus, de 4, teve dois episódios de pré-choque. “Ele tem alergia gravíssima a leite de vaca e às proteínas do leite. À medida que ele foi tendo pequenos contatos com esses alimentos, a alergia foi ficando mais potente até chegar à área respiratória.” Pipoca e giz de cera foram os responsáveis pelo susto da família em 2013. “Perguntei ao pipoqueiro se ele havia usado manteiga ou óleo. Ele respondeu que só no óleo, mas não contou que tinha queijo. O Mateus começou a inchar, ficou com dificuldade de respirar, foi grave, mas conseguimos controlar. Em outra ocasião, ele brincava com os colegas da escola no pátio com giz de cera. Toda criança brinca de giz. Só que na composição desse giz tinha caseína, um das proteínas do leite. A ação foi igual a de veneno de cobra. Ele inchou, começou a tossir, a coordenação da escola me ligou desesperada, mas também superamos esse episódio”, narra.

Depois dos acontecimentos, Mariana decidiu que o filho precisava ter uma caneta de adrenalina na escola para usar em situações como a do giz. “A caneta não é vendida no Brasil, é muito cara e para importar mais barato é preciso pedir judicialmente”, diz. A pedagoga Marcela Bracarense também usa essa estratégia. “Tenho um kit de adrenalina sempre comigo, caso seja necessário novamente”, diz, acrescentando que o lado positivo de tudo isso é que, em função de Augusto, a família aprendeu a consumir mais alimentos frescos e orgânicos, a ler rótulos não apenas para identificar alérgenos, mas para consumir industrializados de marcas que se preocupam com quantidade de sódio e de açúcar. “Em função de um sistema de rotulagem precário no Brasil, muitas famílias têm optado por consumir importados pela garantia de informação correta nos rótulos. “Certamente, essa necessidade de recorrer a esses produtos diferenciados pesa muito no orçamento doméstico e não se faria presente caso a rotulagem dos produtos nacionais fosse mais segura”, conclui Marcela.

Eduardo Almeida Reis-Coparticipaçáo‏

Em Buerarema, Bahia, ficarão as seleções da Alemanha e da Suíça às voltas com os conflitos entre índios e produtores rurais


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 09/04/2014






Certos espetáculos envolvem tantos investimentos, tantos interesses, tantos ganhos, comissões e ladroeiras, que não podem ser imputados a um só cidadão, por pior que seja: exigem coparticipação. Há sempre um núcleo responsável pelo que acontece. Mesmo nos regimes ditatoriais extremos é difícil acusar unicamente Hitler, Stálin, Mao, Fidel, Pol Pot de todos os crimes cometidos. Em torno deles havia grupos de apoio aos crimes que todos vimos ainda no século passado.
Temos, agora, a suprema imbecilidade da Copa 2014 num país carente de hospitais, escolas, estradas, energia elétrica, portos, saneamento, aeroportos, e carente até de bom futebol: há jogos da primeira divisão em que a assistência não chega a mil pagantes.

Houve núcleos responsáveis pela ideia de realizar a Copa no Brasil. Deles fazem parte pessoas e empresas que já faturaram bilhões, repassando comissões a políticos, dirigentes de federações e outros do mesmo naipe. Fala-se em “legado da Copa” como se espetáculos do gênero, por aqui, legassem algo além de ruínas e maus exemplos.
Mais grave que isso: relatórios do próprio governo, que promete a Copa das Copas, temem pelo que possa acontecer em certas regiões. Em Buerarema, Bahia, ficarão as seleções da Alemanha e da Suíça às voltas com os conflitos entre índios e produtores rurais. O keeper Manuel Neuer, da Alemanha, um dos melhores do mundo, tem quase 2 metros de altura e deve ser alvo fácil para uma flechada.

Na Mata de São João, sede dos croatas, quilombolas reivindicam área de 30 mil hectares. Fosse francesa a seleção, a reivindicação quilombola seria apoiada no maior entusiasmo. Há mais craques afro-gauleses atuando nos times franceses do que nas equipes africanas.


Lição

 Logo que fui admitido no Globo, então vespertino que rodava às 9h, incumbiram-me de fazer matéria sobre as favelas cariocas. No entusiasmo dos jovens repórteres, pensei em alugar pequena casa numa favela para sentir o problema in loco ou in situ, o que significa dizer “no próprio local”. Naquele tempo, a loucura ainda seria possível.
Entrei em contato com diversas assistentes sociais e fui abastecido de tantos dados, tantos estudos, que em poucas semanas havia uma pilha de escritos de leitura impossível. Foi quando um velho repórter me disse: “Solta logo, menino, antes que alguém te fure”. Não era furar no sentido de ser espetado por um punhal na favela, mas furo jornalístico “notícia importante, publicada por um órgão de imprensa antes dos demais”.

No recente episódio do desaparecimento do Boeing da Malaysia Airlines lembrei-me do conselho do velho colega. Ali pelo décimo dia do sumiço pensei em fazer um suelto comparando o avião com as seis vigas da Perimetral do Rio, cada uma pesando 40 toneladas em aço especial suposto de durar 300 anos, vigas que desapareceram sem deixar notícia.
Sumiço de avião com mais de 200 passageiros é coisa séria, que não permite graça, mas o roubo das vigas foi hilariante. Afinal, cada peça de 40 toneladas não cabe num caminhão comum, nem mesmo nos grandes, e depende de guindaste para ser posta em cima de uma carreta. Não no meio do Oceano Índico, ou na Oceania, mas no centro da cidade do Rio de Janeiro. E as vigas, somando 240 toneladas, sumiram sem deixar endereço.

Pois bem: o avião ainda estava desaparecido e um rapaz chamado Queiroz comentava o fato, através da internet, comparando-o com o roubo das vigas de 240 toneladas, justificando o conselho do velho colega de redação: “Solta logo, menino, antes que alguém te fure”.


O mundo é uma bola

9 de abril de 1555: o cardeal Marcelo Cervini é eleito papa Marcello II e seu pontificado dura exatos 21 dias, provando que eleição de papa quase sempre equivale a uma sentença de morte. Em 1691, forças francesas capturam a cidade de Mons na Bélgica.

Em holandês e alemão Bergen, em picardo, Mont – Mons, é uma cidade francófona da Bélgica situada na região da Valônia. Picardo, como é do desconhecimento geral, é o dialeto francês da Picardia, que suponho fique perto da Valônia. Picardia, substantivo feminino em língua portuguesa, tanto pode significar garbo, elegância, como ação de velhaco, desfeita acintosa, logro, desconsideração. Prometo descobrir os motivos que levaram as forças francesas, em abril de 1691, a capturar Bergen, Mons ou Mont. Se foi pelos biscoitos belgas, obraram muito bem.

Em 1721 um terremoto mata 250 mil pessoas na Pérsia, atual Irã. Em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, as tropas de Portugal sofrem severa derrota na Batalha de La Lyz. Pudera: os portugueses enfrentaram as forças imperiais alemãs. Em 1928 o islamismo deixou de ser religião estatal na Turquia, mas tenho cá as minhas dúvidas. Em 2005, casamento de Charles, príncipe de Gales, com a idosa Camila Parker-Bowles, nascida Camila Rosemary Shand no ano de 1947. Em 1954 nasceu Joyce Pascowitch, colunista social brasileira de família judaica. Hoje é o Dia Nacional do Aço e o Dia da Biblioteca.


Ruminanças

“Há pessoas que têm uma biblioteca
como os eunucos têm um harém” (Victor Hugo, 1802-1885).