domingo, 7 de setembro de 2014

Magia - Martha Medeiros

Zero Hora - 07/09/2014

Sim, vou falar de novo sobre Woody Allen, então, se você não o suporta, pode pular para a página seguinte, ou me ler com ressalvas por eu ser tão tendenciosa, ou simplesmente me dar outro voto de confiança: o filme Magia ao Luar não é extasiante e não vai concorrer ao Oscar em nenhuma categoria (figurino, talvez), e nem mesmo Colin Firth arrebata (pouco à vontade no papel, meio afetado), mas quem se importa?

Trata-se de um legítimo produto Woody Allen, que a cada novo trabalho leva para as telas as conclusões pessoais que vem colhendo no transcorrer de sua vida. Isso é o que me fascina, diferentemente do que os críticos profissionais analisam. Eu viajo para dentro da cabeça desse homem que acompanho desde que ele tinha 36 anos e eu uns 10.

Hoje Woody Allen, aquele neurótico apavorado com a morte, buscando incessantemente um sentido para a vida, cético de carteirinha, é um senhor de quase 79 anos. Se eu, com 26 menos, já abandonei alguns questionamentos irrespondíveis, imagine quem está, teoricamente, mais próximo de apagar a luz.

É natural que cultivemos milhares de indagações, mas a tendência é aceitar as simplificações que a maturidade traz - no final das contas, o que sobra de uma vida são os resultados que não buscamos, mas que aconteceram mesmo assim.

Magia. Truque. Ilusionismo. Depois de uma vida regida por planos, metas e racionalismo, o inacreditável é que ficará marcado em nossa biografia.

Durante muito tempo, Woody Allen não acreditou em nada que não pudesse explicar, mas aos poucos ele relaxou e passou a duvidar de si próprio, foi se dando alta e desfrutando de uma leveza que deixou de ser sinônimo de pequenez, mas de facilitação.

Quem é que aguenta brigar infinitamente contra si mesmo, quem é que tem fôlego para uma busca incessante por respostas que nunca serão conclusivas? Muito melhor é admitir que as respostas mudam com o tempo e que o comprometimento com nossa imagem se torna patético. Mais vale relaxar e levar a sério apenas o que se sente, porque as teorias se tornarão uma teimosia de estimação, nada além.

Eu também sempre fui muito cética, até que mudei. Virei a casaca, deixei de torcer pelo nada e resolvi torcer pelo tudo. Astrologia, anjos, telepatia, acaso, vibrações, energia: hoje respeito toda a família Imponderável da Silva. E vou além, acredito profundamente num troço chamado Amor, que não tem lógica, não tem explicação e não tem racionalidade que o justifique. Basta um sorriso para fazer a mágica funcionar.

Parece que me esqueci de falar do filme, mas o filme é sobre isso, e se não for, que Woody Allen me perdoe as elucubrações: são tantos anos de fidelidade ao seu trabalho que já me permito invadir sua alma sem permissão.

EM DIA COM A PSICANÁLISE » A natureza selvagem‏

Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 07/09/2014




O documentário China selvagem, da BBC, exibiu episódio muito interessante sobre o povo chinês, apontando sua origem e modificações fisionômicas herdadas dos africanos. Incrível, não? Quem diria que aqueles olhos puxados e as maçãs do rosto salientes seriam oriundos dos negros africanos! Pesquisas realizadas na China – não saberia dizer fontes precisas agora – e testes sanguíneos comprovaram a herança genética. Os resultados surpreenderam os pesquisadores chineses, que não apostavam nessa conclusão.

Tais estudos chineses mostram que os orientais, considerados o povo mais exótico do planeta, seriam todos descendentes desses ancestrais africanos. Foi analisado o êxodo do Homo Erectus africano, anterior ao Homo Sapiens, em direção à Ásia. Eles buscavam a sobrevivência e, atrás da caça, sua principal fonte de alimentação, por lá se espalharam, chegando aos lugares mais inóspitos, de temperaturas baixíssimas. Até hoje, existem bandos de nômades vivendo em regiões de difícil acesso, sob temperaturas baixíssimas.

São caçadores de renas selvagens, que montam acampamento seguindo a rota das renas, sua única fonte alimentar. Andam atrás das manadas e caçam durante todo o dia, na medida da necessidade. Se não têm sucesso, sacrificam uma das renas que domesticaram. Bebem o sangue ainda quente, usam a gordura, pele, chifres e comem carnes cozidas. Sua alimentação é somente a proteína da rena. Houve uma adaptação fisiológica para essa forma de vida. Tudo é coletivo. Mesmo sendo homens na natureza, o fato de se tratar de seres de linguagem os exclui da natureza, do instinto, e os situa no lado da cultura.

Vendo aquele documentário em que os homens vivem de forma tão primitiva, ocorreu-me que nós, que nos consideramos civilizados e modernos, talvez sejamos mais bárbaros do que esses bandos primitivos. Ali não existe essa mediação do dinheiro, da moeda; não existe consumismo nem objetos do desejo para estimular o inútil. Não tem TVs nem telefones; lojas, nem pensar! Parece inconcebível uma vida tão rudimentar. Creio que no Brasil poucas tribos indígenas vivem em tamanho isolamento da civilização.

 Nos afastamos da natureza, do uso da força bruta para garanti-la. Pagamos a intermediários para buscarem na natureza o que precisamos para sobreviver. Nas prateleiras dos supermercados tem de tudo, o útil e o fútil, não precisamos nem pensar de onde vêm tantos produtos. Mas é interessante pensar que hoje continuamos caçadores. Caçadores da moeda de troca, mas muito distantes das razões iniciais. Agora, vivemos atrás de dinheiro para a sobrevivência, e muito além dela, todas as mercadorias que hoje nos escravizam. Quem somos nós sem um celular? Sem internet?

Somos mais modernos e civilizados, temos muito conforto. Como disse João Ubaldo, no livro A ilha do pavão, na voz ilário índio Gaudino: branco acha que índio é burro? Não é. Índio também gosta de ‘çúcara’, índio gosta de ‘mufada’, índio não gosta de graveto, pedra, chão batido não!

Mas, mesmo assim, no fundo ainda somos selvagens. Selvagens e dotados de grande agressividade. Por não sermos animais guiados pelo instinto como os outros, porém agressivos e perigosos porque o individualismo nos afasta do coletivo. Sacrificamos o outro pelos nossos interesses e abandonamos a ética quando nos interessa enquanto lá, naquelas tribos, eles dividem tudo o que têm e é pouco, carne, peles, cabanas.

Aqui, nós civilizados, nem sempre compartilhamos o que temos porque desejamos ter mais, ser melhores e estar em vantagem. Queremos acumular mesmo se não pudermos consumir tanto e apesar da distribuição injusta. E desejamos poder mais.

Agora, pensando bem: quem serão de fato os primitivos?

TeVê

TV paga
Estado de Minas: 07/09/2014 04:00

 (Arte 1/Divulgação)

Sonoras
Domingo é dia de música, muita música. No SescTV, o pianista e compositor carioca Ricardo MacCord está em Passagem de
som e Instrumental Sesc Brasil, a partir das 21h. Na Cultura, às 12h, a série Clássicos apresenta o especial Glenn Gould toca Bach. No Film&Arts, a atração é o concerto Appalachian journey, no Avery Fisher Hall, em Nova York, com o violoncelista Yo-Yo Ma, o violinista Mark O’Connor e o baixista Edgar Meyer, às 17h45. No Bis, às 21h30, tem The Who ao vivo no Kilburn, em 1977. E no Arte 1, às 22h, vai ao ar um documentário sobre a diva do jazz Billie Holiday (foto).

Fim de papo
Da música para a dança, o canal Film&Arts exibe hoje, às 19h, o último episódio da série Breaking pointe, que desvenda a intimidade de bailarinos da companhia Ballet West, de Salt Lake City (EUA). Christiana está com problemas em seu casamento, o que a faz começar a se questionar sobre a vida e Allison terá que acertar as contas com Rex, que sofreu uma queda na estreia do espetáculo. 

ENLATADOS » Antes de Batman



Setembro ainda está começando, mas o mês promete. Das estreias mais esperadas da nova temporada, Gotham chega
por aqui dia 28, na Warner, uma semana depois dos Estados Unidos. Criada por Bruno Heller (The mentalist, Roma),
a produção adapta personagens introduzidos em HQ de Bill Finger e Bob Kane. O detetive James Gordon e o órfão Bruce Wayne se conhecem nos tempos turbulentos que antecedem a chegada do Cavaleiro das Trevas. Com um elenco composto por Ben McKenzie, Donal Logue, Jada Pinkett Smith e Sean Pertwee, a série acompanha a ascensão de Gordon de detetive novato
a chefe de polícia, conforme vai descobrindo os esquemas de corrupção que ditam os rumos da cidade. A Netflix também comprou a série e promete exibi-la em 2015, assim que a exibição na TV terminar.

Poderosos – Autoridades americanas vão se juntar ao FBI para salvar a vida dos filhos de grandes empresários na série Crisis, que estreia hoje, às 10h, no FX. No primeiro episódio, um grupo de estudantes de escola frequentada por bambambãs, inclusive o filho do presidente, é sequestrado durante passeio em uma isolada estrada rural. O incidente dá início a uma intrincada crise nacional.

Encerramento – The leftovers, aquela série que uns adoram e outros odeiam, chega ao fim esta noite, aqui e nos EUA.
No último episódio, Kevin (Justin Theroux) recebe a ajuda de um aliado inesperado para sair de uma situação complicada perto da cidade do Cairo. Enquanto isso, uma elaborada iniciativa dos Guilty Remnant para comemorar o Memorial
Day faz Mapleton mergulhar no caos.
Os episódios 9 e 10 serão exibidos em sequência, na HBO, a partir das 21h.
A série já teve confirmado o segundo ano.

ASSIM SEJa – Outra produção que termina hoje é a inglesa Padre Brown, às 21h, no Film&Arts. O protagonista (Mark Williams, o Arthur Weasley de Harry Potter) cairá em uma armadilha ao tentar salvar a valiosa
Cruz Azul de sua igreja do temido criminoso Flambeau (John Light), que percorre toda
a Europa atrás de artefatos raros.

CARAS&BOCAS » Menina dos olhos

Simone Castro
simone.castro@uai.com.br


 (Lourival Ribeiro/SBT)

Larissa Manoela é uma estrela. E vai ganhar seu primeiro papel de protagonista em breve, no remake de Cúmplices de um resgate, substituta de Chiquititas a partir de junho do ano que vem, no SBT/Alterosa. Atualmente, ela brilha na série Patrulha salvadora, destaque do canal aos sábados. Larissa encarna uma heroína, uma das mentoras de uma espécie de liga da justiça, em que ao lado de outras crianças tenta resolver os problemas da fictícia Kauzópolis. Ela vive sua personagem Maria Joaquina (foto), que reinou quase que absoluta na festejada novela Carrossel, no papel às avessas, ou seja, uma vilãzinha que dava muito trabalho. Larissa é queridinha de Sílvio Santos e companhia. E, por isso mesmo, não se pensou em mais ninguém para o papel principal da trama infantojuvenil que vai ocupar o horário das 20h30. A produção já começou e a seleção para formação do elenco teve início no mês passado. O folhetim foi criado pela Televisa, no México, em 2002, e no Brasil será adaptado por Íris Abravanel. Larissa Manoela vai encarar um desafio interpretando gêmeas.


KARIN HILS É UMA DAS NEGAS
DA NOVA SÉRIE DE FALABELLA

Sexo e as negas (Globo) é o próximo trabalho de Karin Hils (foto). O seriado, que leva a assinatura de Miguel Falabella, estreia neste mês e faz uma sátira ao americano Sexy and the city. As quatro protagonistas são atrizes negras. Karin divide a cena com Lílian Valeska, Maria Bia Martins e Corina Sabbas. Integrante do extinto grupo Rouge, banda que foi formada em reality musical do SBT/Alterosa e fez sucesso entre 2002 e 2004, Karin, além de cantora, também participou da novela, Aquele beijo (Globo, 2011), no papel de Bernadete, e da série Pé na cova (Globo), como Soninja, ambas escritas por Falabella. Corina Sabbas é cantora e atriz e atuou em diversos musicais no teatro, entre eles Fame e o recente O rei Leão. Ela e as outras duas, Bia Martins e Lílian Valeska, farão sua estreia na TV. A personagem de Karin é a camareira Zulma, uma divertida moradora do subúrbio carioca, na qual identifica semelhanças com Soninja. “São personagens muito próximas. Mulheres negras, batalhadoras e que enfrentam diversos conflitos amorosos”, diz. 


ESTRADEIRA É DESTAQUE EM
UM DOS TESTES DO VRUM

O telespectador acompanha no Vrum deste domingo, às 8h30, no SBT/Alterosa, o teste da Ducati Hyperstrada, uma estradeira que não deixa a desejar em esportividade, com Téo Mascarenhas. Já Enio avalia o Renault Clio, um automóvel que se propõe
a ser um dos mais econômicos do país. Confira, ainda, o lançamento japonês que tem tudo para
empolgar: o Suzuki Swift.

MÍRIAM LEITÃO BATE PAPO
COM MARÍLIA GABRIELA

O Marília Gabriela entrevista deste domingo, às 22h, no GNT (TV paga), recebe a jornalista Míriam Leitão. Ela fala sobre a
estreia como romancista com o livro Tempos extremos. A obra envolve temas como escravidão, isolamento, ditadura militar, medo e a sombra do passado. Míriam também conta sobre o depoimento recente, em que relatou como foi presa e torturada, quando estava grávida, durante a ditadura militar. Questionada sobre um possível depoimento para a Comissão da Verdade, ela afirma: “Acho importante o registro histórico, mas nunca procurei indenização, sou uma pessoa feliz, superei, sou bem-sucedida. O que temia quando saí da prisão, era isso se refletir no meu filho, mas não  aconteceu”, explica a jornalista.

GRAVIDEZ VAI  SURPREENDER
TODOS NA NOVELA IMPÉRIO

Por essa Maria Marta (Lília Cabral) e José Alfredo (Alexandre Nero), o Comendador, não esperavam: vão ser avós. A notícia da gravidez de Du (Josie Pessoa) vai pegar todos de surpresa, nos próximos capítulos de Império (Globo). A jovem se envolve com João Lucas (Daniel Rocha), de quem é amiga e curte uma paixão platônica, e será mãe de uma menina. Eles passarão a noite juntos depois de uma festa e ela engravidará. SÉRIE SOBRE HISTÓRIA DA TVJÁ TEM NOMES ONFIRMADOS

O autor Jorge Furtado e o diretor Guel Arraes já têm dois nomes confirmados para encabeçar o elenco da série que preparam
sobre a história da TV e que irá ao ar na Globo. Os protagonistas serão Débora Falabella e Vladimir Brichta. As gravações começam em 2015, depois do encerramento de Tapas & beijos.

GLOOB ESTREIA AMANHÃ A
ANIMAÇÃO DESENCANTADOS

Estreia amanhã, às 16h15, no Gloob (TV paga), a série Desencantados. A animação conta a história de três adolescentes:
Júnior, filho baixinho do gigante João e o Pé de Feijão; Lancelote, sobrinho de Merlin e mágico atrapalhado; e Fúria, a filha
que não voa da Fada do Dente. Dispostos a se ajustar  ao mundo de fadas de Encantópolis, o trio almeja escrever suas próprias histórias enquanto se divide entre a rotina escolar, os encontros em família, os amigos e as redes sociais. 

DE OLHO NA TELINHA » Mocinhos e bandidos



Jonas Marra (Murilo Benício) pode ser o vilão de Geração Brasil  (Paulo Belote/Globo)
Jonas Marra (Murilo Benício) pode ser o vilão de Geração Brasil

Os capítulos recentes mostraram novos rumos de Geração Brasil (Globo). Os nerds, até então foco principal da trama, com destaque para o par romântico Manu (Chandelly Braz) e Davi (Humberto Carrão), perderam espaço. E os pombinhos se separaram. O maior nerd de todos, Jonas Marra, vivido por Murilo Benício, o protagonista, tido como o bambambã do pedaço, pode desmontar totalmente diante do telespectador e se converter no grande vilão da trama.

Está certo que de bom moço ele nunca teve nada. Já está visto que na juventude deu golpes para conseguir lançar o Bro. E, nos Estados Unidos, tornou-se um megaempresário da tecnologia. Os próximos capítulos revelarão o verdadeiro conteúdo do tal envelope grená que agitou o início da trama e causou mortes, como a de Jack Parker (Miele).

Jonas é investigado por crimes cibernéticos e está na mira do FBI. Quando descobriu que poderia acabar preso, juntou a família e se mudou para o Brasil. Com isso, dá até para desconfiar da tal doença em estágio terminal, né? Ou seja, de um jovem nerd com um sonho, um homem bem-sucedido e prestes a deixar este mundo tão precocemente, Jonas se tornou um bandidão. Para não falar da paixão clandestina por Verônica (Taís Araújo) e da traição a Pamela Parker (Cláudia Abreu).

De outro lado, Herval (Ricardo Tozzi), sempre rondando Jonas, assim meio na sombra, parecia muito além do simples rival no amor de Pamela. Crítico do magnata desde o início da novela, se revelou alguém misterioso, disposto a tudo para acabar com a festa que Jonas promovia no Brasil. Ficou claro que ele urdia um plano para detonar com o sujeito e se mostrava o vilão da história de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira. Mesmo desenvolvendo um programa muito bacana de inclusão digital com crianças e jovens carentes na Plugar. Ninguém é tão bom nem tão ruim assim será a mensagem?

Pois, pode ser que Herval seja, na verdade, o mocinho da fita. É que nos capítulos que vêm aí o telespectador e Verônica ficarão sabendo quem realmente é Jonas. O cara traiu o amigo e sócio, LED, então o nome adotado por Herval no passado, e se beneficiou sozinho da fama do Bro. Como deu um golpe para criá-lo, deixou que o parceiro fosse preso injustamente. E o mentor da Plugar estaria disposto a destruir o inimigo, ajudando, inclusive, a polícia a levá-lo para a cadeia.

Mas como Manu, que não traiu Davi, como se pensava, pode ser que Jonas e Herval se revelem nem tão mocinhos nem tão bandidos. E que, equilibradas as forças, cada um pague o que deve. Tudo zerado, um recomeço. Do contrário, a dúvida: como é que ficam as mocinhas Verônica e Pamela, respectivamente, amores de Jonas e Herval no final das contas? (Simone Castro)

viva
Sandra Corveloni como a sofrida e bondosa Augusta de Boogie Oogie (Globo).


Vaia

Juju (Cris Vianna) não percebeu a má-fé da advogada traíra de Império (Globo). 

Velhos de guerra

Produtores e músicos de BH recorrem a equipamentos antigos para obter sonoridade especial. Gravadores de rolo, microfones jurássicos e amplificadores valvulados resistem à onda digital


Eduardo Tristão Girão
Estado de MInas: 07/09/2014



Anderson Guerra exibe um dos tesouros do estúdio Bunker: o microfone usado por Silvio Caldas  (Beto Novaes/EM/D.A Press)
Anderson Guerra exibe um dos tesouros do estúdio Bunker: o microfone usado por Silvio Caldas
Falar em som “quente”, “gordo”, com mais “profundidade” e maior “detalhamento” pode soar um tanto abstrato. Entretanto, como descrever as impressões deixadas por antológicas gravações de Frank Sinatra, John Coltrane ou de artistas da Motown? Isso é – e sempre será – difícil de definir, mas nem por isso os músicos deixam de perseguir sonoridades imortalizadas décadas atrás e que, pelo visto, continuam muito atuais. Para alcançar o resultado idealizado, vale usar instrumento antigo, amplificador valvulado e até mesmo renegar as facilidades dos equipamentos digitais.

Na cena de Belo Horizonte e arredores, parece não haver melhor exemplo do que o estúdio Bunker. Instalado na casa do guitarrista e produtor musical Anderson Guerra, em Nova Lima, é um dos poucos no país (se não for o único) a operar exclusivamente com aparelhos analógicos. Estão lá, e funcionando perfeitamente, microfones de época, gravador de rolo, pré-amplificadores de anos atrás, amplificadores valvulados e a mesa de som sem qualquer recurso digital. Não há computador, mouse ou pendrive. É tudo feito no braço, literalmente. O resultado final, claro, é sempre um disco de vinil.

“Os equipamentos digitais são uma superferramenta. Não sou fetichista com o analógico, nem sou radical em relação ao computador. A produção de lixo virtual não é um caminho que me interessa. Na produção, não tenho como comparar 15 canais de bateria para escolher um depois. Nesse caso, o excesso de possibilidade na arte tira a força do registro”, afirma Guerra. Responsável pelo Bunker, ele trabalha demoradamente com um artista por vez, envolvendo-se em todas as etapas de cada álbum – da seleção de repertório à capa.

O envolvimento de Guerra com a causa analógica se tornou mais forte quando percebeu que, para obter os sons que queria, teria de “caçar” os equipamentos e aprender na marra a fazer a manutenção de cada um deles. Foi assim com o gravador de rolo Tascam com 24 canais que veio do Rio Grande do Sul, com o microfone RCA 44 (usado por Silvio Caldas) e com o pré-amplificador valvulado que escorava a porta de uma loja na Rua dos Carijós, no Centro de BH. “Tudo aqui foi comprado por preço abaixo do que vale, a maior parte das coisas estava em estado lastimável”, conta.

Guerra já atendeu Somba e Deco Lima, atualmente está com Paralaxe em estúdio e já tem agendadas produções com Maurício Tizumba, Pererê e Gleison Túlio. “Era uma coisa de nicho, mas o interesse pelo analógico vem crescendo”, diz o produtor. Isso é mais do que mera opção estética: “O que me atrai é o processo como um todo, o tempo das coisas. É como comparar a preparação para fazer um vídeo e para rodar cinema. Aqui, não tem tela de computador para olhar, os músicos devem se ouvir para sentir o que está sendo tocado. Trabalhar com essa ideia de limitação é muito saudável”.

Os microfones são o ponto-chave nas gravações. “Evito equalizar na mixagem, tento chegar aos sons que quero já na gravação. Às vezes, gasto muito tempo com isso, buscando com o artista a melhor posição para um microfone”, explica. Um deles chegou a ser apelidado pelos clientes de “joia da coroa”. Trata-se de um Neumann Telefunken U-47, o mesmo usado por Frank Sinatra e pelos Beatles. “Ele tem som vivo. Costuma-se dizer que é mais parecido com o real do que a própria realidade”, brinca.

Fotografia Como descrever os sons é tarefa ingrata, nada melhor que recorrer a quem sabe traduzir para o leigo a diferença que um equipamento antigo pode fazer. Com a palavra, Sânzio Brandão, luthier e guitarrista da banda Cálix, que gosta de usar amplificador valvulado: “Me encanta fazer um acorde e ouvir a riqueza sonora, a beleza timbrística que um equipamento desses possibilita, ao contrário dos amplificadores transistorizados. É como ver a foto de uma pessoa: primeiro com a paisagem ao fundo embaçada, e depois com tudo nítido ao redor”.

Por causa da dificuldade de manutenção, Sânzio havia parado de usar os valvulados. Só voltou a trabalhar com eles depois de conhecer os amplificadores produzidos por Fernando Maciel, também de BH, que constrói um modelo de acordo com as especificações pessoais do guitarrista. “Quando o músico se sente bem com o que está usando, pode trilhar caminhos que talvez não escolhesse se tivesse outro tipo de equipamento”, conclui Brandão.

O produtor Chico Neves adora misturar equipamentos digitais e analógicos (Beto Novaes/EM/D.A Press)
O produtor Chico Neves adora misturar equipamentos digitais e analógicos


Questão de gosto


Com maior ou menor fervor, produtores e técnicos de som de BH defendem o uso das tecnologias analógicas. Dirceu Cheib, um dos fundadores do estúdio Bemol, é um dos entusiastas do passado. “Som depende de uma boa sala e bom microfone, não de computador. O digital tem facilidades, mas não significa que é melhor”, diz. Ainda que use o programa Pro Tools (para gravação e edição no computador), ele não abre mão de reverb de mola, pré-amplificadores valvulados e de um compressor com quase meio século de bons serviços prestados à música da cidade.

Além de vocalista e guitarrista da banda Transmissor, ícone do indie rock mineiro, Leonardo Marques mantém estúdio na capital. Estão lá um gravador de rolo de oito canais, teclados antigos e um pré-amplificador dos anos 1970. “Respeito a música. Não deixo de usar efeito digital por não ser analógico. É preciso saber escolher a ferramenta de acordo com o resultado a que se quer chegar. Os microfones antigos dão colorido especial ao som”, conta. Ao Pro Tools ele só recorre para rascunhar canções, optando pela dinâmica de gravação analógica como forma de obter melhor performance num único take.

Experiente produtor (Paralamas, O Rappa, Lenine, Skank e Los Hermanos), Chico Neves, que voltou para Belo Horizonte há cerca de um ano, gosta mesmo é de misturar digitais e analógicos. “É como se fossem instrumentos com timbres diferentes, mais ou menos como a opção por ouvir vinil ou CD. Se é analógico ou digital, não importa. É preciso saber navegar nas duas águas. É ótimo ter a facilidade da edição digital depois de um registro analógico”, afirma. Para ele, a interação com equipamentos antigos ajuda a criar clima no estúdio, local considerado “frio” por muita gente.

 (Ricardo Laf/divulgação)

NA ACADEMIA


Guitarrista do grupo Somba, que acabou de gravar no estúdio Bunker, Guilherme Castro (foto) coordena o curso de licenciatura em música do Instituto Metodista Izabela Hendrix. Paralelamente à finalização do LP Homônimo, ele se concentra em estudar o ofício de produção musical em sua tese de doutorado, incluindo peculiaridades dos processos de gravação analógico e digital. “O método antigo requer planejamento maior e a chance de manipulação do material é menor. Isso exige do produtor um domínio diferente dos equipamentos e nos faz resgatar o senso de que erramos mais do que achamos. Tudo isso dá caráter mais orgânico à gravação”, analisa.

Leite do bem

A cada dia, crianças e até mesmo adultos entram para as estatísticas de pessoas com intolerância à lactose e buscam alternativas nos produtos preparados especialmente para eles


Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 07/09/2014




 (Beto Magalhães/EM/D.A Press 13/7/11)


A intolerância à lactose, que vem a ser uma doença resultante da ausência ou deficiência da enzima lactase nas células da mucosa do trato gastrointestinal, e, em consequência, uma inabilidade para se quebrar o dissacarídeo lactose presente no leite, para que possa ser absorvido, atinge, no Brasil, de 6% a 8% das crianças com menos de 3 anos. Entre os adultos, essa porcentagem é de 2% a 3%, segundo dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia. E mais: cerca de 60% das pessoas que desenvolvem essa intolerância não sabem que a têm e convivem com a doença sofrendo os seus efeitos. Para fazer frente a essa demanda, indústrias oferecem cada vez mais produtos como iogurtes e queijos sem lactose.

De acordo com Mariana Villela, nutricionista da Verde Campo, empresa instalada em Lavras, no Sul de Minas, que há cerca de três anos vem produzindo alimentos sem lactose, essa está presente no leite e seus derivados, como queijos, iogurtes, coalhada, requeijão e também em produtos que utilizam o leite em sua composição, como bolos, pães, biscoitos, bolachas, chocolates e outros. Os sintomas ou sinais clínicos apresentados pelas pessoas doentes, ainda segundo Mariana, são diarreia significativa acompanhada de desidratação; evacuação explosiva logo depois da ingestão do alimento; assadura perianal; distensão e dor abdominal; flatulência; desnutrição; acidose metabólica e enterite necrosante.

Formada em nutrição pelo Centro Universitário de Lavras (Unilavras), com especialização em nutrição e saúde pela Universidade Federal de Lavras (Ufla), Mariana Villela explica também que a intolerância à lactose pode ser congênita, onde bebês recém-nascidos já apresentam deficiência na lactase, resultando em diarreia e desidratação (às vezes letais) quando se alimentam de leite ou fórmulas à base de lactose. A deficiência de lactase primária, por sua vez, é a ausência de lactase, parcial ou total, que se desenvolve na infância ou em diferentes idades, até em adultos, ao passo que a deficiência secundária é o resultado de lesões no intestino delgado ou por alguma patologia, como enterite regional, colite ulcerativa, desnutrição e câncer, entre outras. “A intolerância à lactose é caracterizada pela ausência ou deficiência da enzima lactase, molécula responsável pela degradação da lactose em duas moléculas de açúcar menores, galactose e glicose. Essas moléculas são facilmente absorvidas pelo intestino, não causando, então, sintomas da doença”, diz Mariana.

Outros sintomas de intolerância à lactose podem ser dores de cabeça e vertigens inesperadas, perda de concentração, dificuldade de memória de curto prazo, dores musculares e articulares, cansaço intenso, alergias diversas, arritmia cardíaca, úlceras orais, dor de garganta e aumento de frequência da micção. “Se esses sintomas sistêmicos persistirem, é preciso que se faça uma avaliação para saber se, de fato, decorrem da intolerância à lactose, se são sintomas coincidentes ou se provêm da alergia à proteína do leite de vaca”, diz Mariana.

DIGESTÃO Quanto ao processo de tirar a lactose do leite, ela afirma que é adicionada ao alimento e aos seus derivados a enzima lactase, que é responsável pela hidrólise (quebra) da lactose em glicose e galactose, que são facilmente absorvidos pela mucosa intestinal. E, uma vez ocorrida a reação, a lactose não é novamente formada, sendo essa uma dúvida comum entre os consumidores intolerantes.

Teorias à parte, a nutricionista diz, ainda, que a exclusão total do leite e seus derivados por parte de quem tem intolerância à lactose deve ser evitada, pois isso pode acarretar prejuízo nutricional de cálcio, fósforo e vitaminas, podendo estar associada com a diminuição da densidade óssea e fraturas. Daí, no seu entender, a vantagem, por parte de quem tem intolerância, de consumir alimentos sem lactose.

“O ganho é que, agindo assim, o consumidor aproveita todos os benefícios do leite e seus derivados, como proteínas, cálcio, fósforos e vitaminas, que são muito importantes para a saúde e não desenvolvem os sintomas indesejados provocados pela presença da lactose”, afirma a nutricionista.

Ela explica também que a principal característica dos produtos livres de lactose é sua alta digestibilidade, e isso se dá porque a molécula de lactose é transformada em moléculas mais simples durante o processo produtivo. “Esse processo ocorre por meio da edição de enzima lactase, responsável pela quebra das moléculas de lactose, simulando o que ocorre no organismo humano durante a digestão. E, como resultado, os nutrientes do leite são absorvidos de maneira mais rápida e eficiente pelo organismo, trazendo uma agradável sensação de leveza e bem-estar”, diz Mariana.

Ainda de acordo com ela, os intolerantes à lactose têm de restringir o alimento causador da doença. “Depois de diagnosticado o problema, recomenda-se evitar o consumo do leite e seus derivados na sua forma natural. A boa notícia é que é possível viver bem e plenamente sem a lactose, uma vez que já existe uma série de produtos e fórmulas, como os que desenvolvemos aqui na Verde Campo, com as mesmas propriedades do leite, só que isentos da lactose”, conclui a nutricionista.

Para Álvaro Gazolla, diretor comercial da Verde Campo, que está no mercado há cerca de 10 anos, e em 2010 deu início às pesquisas e desenvolvimento da linha lacfree, para, no ano seguinte, lançar o primeiro iogurte sem lactose do Brasil, no início, o público tinha receio de experimentar os produtos, acreditando que o sabor não era agradável. Mas, com o tempo, isso foi mudando, e, hoje, a linha lacfree ocupa em torno de 5% do faturamento da categoria. “Atualmente, produzimos também queijos, entre eles, o cottage, iogurtes light e diet, além de creme de leite e requeijão, todos sem lactose”, diz Álvaro.

Os benefícios do suor extra

Pesquisadores analisaram uma tribo indígena do Peru. Segundo eles, o esforço pode gerar melhor reputação, o que garante uma série de ganhos indiretos


Vilhena Soares
Estado de Minas: 07/09/2014



Mulher quechua carrega criança: trabalho em grupo é essencial para a sobrevivência da comunidade indígena peruana (Eric Danino/Reuters)
Mulher quechua carrega criança: trabalho em grupo é essencial para a sobrevivência da comunidade indígena peruana

Na vida em comunidade, é muito difícil que o trabalho seja dividido de tal forma que todos tenham de realizar o mesmo esforço sempre. Invariavelmente, uns trabalham mais que outros, e, nem sempre, aqueles com uma carga maior tomam alguma atitude para mudar essa situação. Por que os “explorados” agem assim? Um estudo conduzido por antropólogos dos Estados Unidos sugere que essa situação fornece melhor reputação para esses indivíduos, que acabam tendo uma série de benefícios indiretos. Ou seja, suportar uma carga maior pode ser vantajoso.

Para chegar a essa conclusão, publicada recentemente na revista Pnas, os pesquisadores analisaram um grupo de 24 famílias da etnia Quechua, grupo indígena que vive no altiplano do Peru. Essa pequena população foi escolhida por ter uma organização que facilitaria aos autores observar como ocorria a divisão tanto das tarefas quanto dos produtos desse trabalho, compreendendo assim o sistema colaborativo existente ali. Ficou claro que os moradores dependiam muito de ações em grupo, já que algumas famílias viviam em lugares com melhor acesso a água e comida, enquanto outras precisavam recorrer aos vizinhos. Além disso, muitas tarefas necessitavam do engajamento de todos para serem terminadas.

Os especialistas se surpreenderam com o fato de que aqueles que contribuíam menos acabavam recebendo o mesmo montante de recursos. “Havia esse pequeno grupo de pessoas que se esforçava muito mais que outras para manter os recursos de sobrevivência da comunidade. Elas estavam sempre presentes nas tarefas e também se empenhavam mais”, conta Henry Lyle, da Universidade de Washington e coautor do trabalho com Eric Smith. Isso levou a dupla a imaginar que poderia haver algum benefício não muito evidente em trabalhar mais que os outros.

Os dois antropólogos perceberam, então, que os mais dedicados eram tidos pelo resto da comunidade como “trabalhadores” e “confiáveis”. A reputação deles também incluía adjetivos como “generosos”, “influentes” e “respeitáveis”. Essa imagem positiva trazia alguns benefícios, notaram os autores, como uma rede de suporte social que acabava garantindo, entre outras consequências, melhores condições de saúde para toda a família.

“Uma possível razão é que aqueles que contribuem mais recebem benefícios de reputação, enquanto aqueles que se esforçam menos obtêm cu]stos de reputação. Ajudar com as tarefas que são vitais para a sobrevivência dos membros da comunidade pode ser sinal de valor. Uma reputação positiva pode melhorar o apoio a partir de redes sociais”, analisa Lyle. Ele acredita que o estudo ajuda a entender melhor como funcionam as relações humanas em grupo e a importância das atitudes perante as redes sociais. “Nossos resultados contribuem para os esforços em curso para compreender as forças que moldam a evolução (cultural ou genética) da cooperação.”

Tema antigo Para Weber Lima, professor de sociologia no Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), o artigo mostra como relações sociais diversas interagem entre si. “O estudo demonstra uma importante correlação entre o status social e os diferentes tipos de relações em ambientes sociais diversos”, diz. No entanto, o especialista, que não participou da pesquisa, diz que não se deve extrapolar os resultados como se fossem uma lei. “Em alguns ambientes sociais, a reputação, ou pelo menos um tipo específico dela, não necessariamente implica em melhores relações sociais”, aponta.
O professor conta que a reputação é um tema caro para sociedades humanas desde os primórdios. “O status, ou reputação, influência, prestígio, capital simbólico ou como quer que o chamemos, está presente em diferentes níveis nas interações sociais. Desde os tempos mais remotos, como mostram registros arqueológicos e historiográficos, percebemos como os grupos e sociedades significaram a reputação em suas relações sociais. Devemos ter cuidado, contudo, para não reforçarmos estereótipos sobre a importância da reputação social fora dos devidos contextos de análise sociológica”, lembra.

Na avaliação de Erivan Raposo, professor de antropologia da Universidade Católica de Brasília (UCB), a dupla americana explorou um tema recorrente de uma forma nova. “Essas pesquisas são importantes porque nos permitem perceber certas reações de forma diferente. Contudo, é preciso tomar cuidado com as variáveis e lembrar que, com o tempo, a história pode mudar. As relações de poder também. Precisamos desconfiar de alguns trabalhos para que possamos sempre entender melhor como as leis funcionam”, completa.

Lima também acredita que o trabalho possa contribuir para o aprendizado de conceitos já conhecidos. “Esse tipo de estudo se insere em uma ampla tradição de pesquisas sociais que, de tempos em tempos, analisa se os diversos conceitos-chave das múltiplas teorias sociais se mantêm ou se modificam. Em termos científicos, possibilita novas confrontações teóricas e novas dúvidas e inquietações diante dos diferentes cenários de interação social”, explica. 

Luxo e conforto - Eduardo Almeida Reis

O luxo atrai muito mais gente que o conforto. Deve ser exibicionismo, mania de humilhar os outros, de impressionar a patuleia

Estado de Minas: 07/09/2014





Li ótimo livro sobre viagem de 14 dias à Índia, edição caprichada e fora de comércio, motivo pelo qual peço licença para não dizer os nomes dos três casais de brasileiros que lá estiveram. Gente riquíssima que viajou em jato particular, talvez o melhor do Brasil.

No subcontinente indiano, os seis visitaram várias cidades, sempre hospedados nos hotéis mais luxuosos, alguns de embasbacar com a relação de 14 empregados por hóspede. Viagens em terra a bordo de vans, com motoristas atentos e guias turísticos fluentes em inglês. Voltaram impressionados com o trânsito absolutamente maluco, que funciona, as multidões que se sucedem – em 2012, somavam 1.237 bilhão de pessoas num território de 3.287.596 km2, menos que a metade do brasileiro.

Levaram do Brasil caixas com aquele negócio usado nos hospitais, uma espécie de touca para os pés, mas tiveram que visitar um templo jainista descalços: é proibido calçar qualquer coisa. Jainismo, como sabe o leitor, é religião indiana criada no século VI a.C. em ruptura com a tradição védica e o hinduísmo, fundamentada na ideia do ainsa (rejeição à violência). São aqueles malucos que espanam o chão para não matar formigas. O templo é imenso, lindíssimo, luxuosíssimo e o turista sai com os pés imundos.

Índia, China e Rússia são exemplos do contraste entre a miséria e o luxo incomparável. Os outros dois países dos Brics, África do Sul e República Federativa do Brasil, têm a miséria sem os castelos e os templos dos três primeiros. Como explicar o luxo do Kremlin, da Cidade Proibida, da sucessão de palácios indianos? Um só daqueles palácios tem mais luxo que toda a Barra da Tijuca.

Conforto é uma coisa, luxo é outra muito diferente. Você pode morar numa casa superconfortável que não seja luxuosa, como também pode morar numa luxuosa sem qualquer conforto. Deu para entender? Isto não obstante, o luxo atrai muito mais gente que o conforto. Deve ser exibicionismo, mania de humilhar os outros, de impressionar a patuleia.

No livro citado, foram omitidos o jato com dois pilotos e uma aeromoça, pijamas e camisolas de seda para os passageiros, catering Troisgros, Ducasse ou equivalente, como fiquei sabendo por um amigo que viajou no mesmo avião de Paris para o Rio. Omissão inteligente da autora, uma carioca na faixa dos cinquenta e muitos, que sempre foi de esquerda e não teve culpa de o seu marido ficar bilionário. No mais, só lendo o livro. Vou sugerir à autora que mande fazer uma edição comercial. Entre outros bens, a família tem imensa editora, que não representa 0,5% do faturamento do grupo.

Antissemitismo

Confundir o Hamas com os árabes é idiotice tão grande quanto confundir os homofóbicos da Rua Augusta com os paulistanos, o PCC com os brasileiros, os cangaceiros com os nordestinos, os traficantes com os cariocas.
Isso não obstante, o antissemitismo é tão forte no mundo inteiro que pessoas alfabetizadas tomam o partido do Hamas na guerra contra Israel. É perfeitamente compreensível que um homem de bem deteste o mau judeu, o mau cristão, o mau muçulmano, o mau ateu, mas odiar todo um povo como os antissemitas odeiam os israelitas só pode ser inveja, burrice ou maluquice.
Quando o antissemita não é burro e não creio que tenha inveja dos mais de 100 prêmios Nobel israelenses, a explicação para seu ódio aos judeus fica restrita à maluquice ou, o que é mais provável, a um quadro de demência senil. Fico triste porque fui amigo dele.

O mundo é uma bola

7 de setembro de 1159: eleição do papa Alexandre III, nascido Rolando Bandinelli em Siena, por volta de 1100, morto em 1180 com presumíveis 81 anos. Foi o 170º papa e pontificou um tempão. Reconheceu a independência de Portugal e Afonso Henriques como vassalo da Igreja e rei de Portugal. Em 1164, Stanislas Poniatowski, o protegido da Rússia, é eleito rei da Polônia. Em 1793, tem início o Cerco de Toulon, uma operação militar realizada pelas forças da Primeira República Francesa contra um corpo de combatentes da Primeira Coligação formado pelas tropas desembarcadas de uma frota enviada para bloquear o porto francês. Foi a primeira operação militar em que se destacou um capitão de artilharia chamado Napoleão Bonaparte. Claro que o Cerco de Toulon não nos interessa, mas preciso encher linguiça, hoje infelizmente sem trema, sinal diacrítico que dava sabor à tripa recheada com toucinho e carne crua, especialmente de porco.
Em 1822, às margens do Ipiranga, o príncipe regente dom Pedro proclama a independência do Brasil. Como é sabido, sua alteza não cavalgava o belo cavalo retratado por famosos pintores, mas uma besta baia gateada. E vinha de aliviar as tripas às margens plácidas do riacho Ipiranga, agoniado por uma disenteria com dores que apanhara em Santos. Não invento: o evento disentérico foi testemunhado e relatado pelo padre Belchior Pinheiro. E o resultado aí está nos 39 ministros de um país grande e bobo. Hoje, feriado nacional, felizmente é domingo.

Ruminanças

“Meu caro: recebi seu livro. Como você é chato!” (Guilherme Figueiredo, 1915-1997).

COLUNA DO JAECI » Gostei do que vi

Jaeci Carvalho
Estado de Minas: 07/09/2014



 (Bruno Domingos/Mowa press)

Miami – Quase 80 mil pessoas, em sua esmagadora maioria colombiana, coloriram o Sun Life Stadium para ver o que nossos vizinhos chamavam de “revanche” da Copa do Mundo, quando o Brasil os eliminou. Para nós, era apenas a reestreia de Dunga, que buscava o começo do resgate do nosso futebol. Mesmo a partida começando às 21h, no horário local, o calor era intenso e a umidade relativa do ar perto dos 100%. Observei atentamente o time brasileiro. Vi Neymar fazer jogadas importantes e ser caçado como uma presa. Os colombianos se revezavam nas faltas. Diego Tardelli (foto) movimentando-se muito, como lhe pediu o treinador. Posso dizer que ele está mais do que aprovado, e sepultou, definitivamente, os centroavantes paradões. Não há mais lugar para eles. Neymar está começando a me encantar na Seleção. Chamou o jogo, deu passes primorosos, chutou a gol, levou porrada, levantou-se e ainda marcou um golaço em cobrança de falta. É isso que queremos desse jovem, que tem todo o DNA de craque e caminha para confirmá-lo.

Confesso que não esperava algo melhor. Jogo amistoso em que a maioria dos jogadores que atua na Europa está voltando praticamente agora. Sem ritmo de jogo, sem muito preparo físico. James Rodríguez, por exemplo, caminhava em campo, numa lentidão, num sono impressionante. Ele era a esperança colombiana. Desta vez, não saiu chorando e não precisou ser consolado por Davi Luiz. E Zúñiga? Deve ter ficado envergonhado. Foi algoz de Neymar, e este lhe estendeu a mão. Se abraçaram antes de o jogo começar, como manda o fair play. Mas Zúñiga, na primeira chance que teve, não negou fogo. Deu um rapa em Neymar e levou o amarelo. Parece que não aprendeu com o que fez no Mundial.

Mas gostei do que vi no time de Dunga. Muito mais organização no meio-campo. Defesa bem postada, ataque rápido. É só o primeiro passo, mas é importante começar bem, sendo mais equipe que o adversário, mostrando mais qualidade. O caminho até 2018 será árduo. As Eliminatórias serão terríveis, pois o futebol dos adversários cresceu. Até a Venezuela faz graça hoje. Para uma reestreia, Dunga montou o time direitinho e não fez feio. Aos poucos, vai achando o time ideal. Acho que Tardelli convenceu e mostrou que Dunga acertou em chamá-lo. Não importa sua idade. No momento, é o melhor do Brasil na posição. Espero que Dunga dê mais tempo a Éverton Ribeiro. Acho que no próximo jogo ele pode começar com ele, ao lado de Ricardo Goulart. Aproveitar o entrosamento dos dois é a decisão mais sensata. A elogiar, como sempre, o espetáculo que só os americanos sabem fazer e o show de civilidade e respeito. Felizmente, dessa vez Davi Luiz não cantou o hino a plenos pulmões. Mas, pelo menos, jogou mais bola do que na Copa. É isso que o povo quer, menos gogó e mais futebol. Gostei, Dunga. Você começa seu trabalho acertando o pé e buscando o que há de melhor em nosso futebol.


RACISMO


Achei correta a punição ao Grêmio, por atos racistas de sua torcida. Foi eliminado da Copa do Brasil e servirá de exemplo. Porém, já recorreu ao Tribunal. Tomara que a pena seja mantida, pois daqui para frente esses racistas idiotas pensarão 10 vezes antes de cometer este ato bárbaro e covarde, e de prejudicar seu time.


TREINO

Depois da folga de ontem, os jogadores brasileiros treinam hoje, e, à noite, em voo fretado, seguem para Nova Jérsei, onde enfrentam o Equador, na terça-feira. Ontem, a maioria foi às compras, pois, como é sabido, Miami é o paraíso das compras e dos gastos elevados.


TAFFAREL


Pelo que Jefferson fez em campo sexta-feira, deu para perceber o dedo de Taffarel. Ele é exigente, dedicado e mostra, com competência, aquilo que deseja. Como já tranquilizou Jefferson com relação à idade para o Mundial, o goleiro só tem a agradecer e treinar muito para continuar no grupo.


FINAL

Está cada dia mais perto de eu realizar meu sonho de ver Cruzeiro x Atlético numa final de Copa do Brasil. Seria fantástico para nosso estado e para nossa gente. O caminho está aberto para ambos.

TÊNIS » Passeio da zebra

TÊNIS » Passeio da zebra


Estado de Minas: 07/09/2014



Marin Cilic não deu chances a Roger Federer (Al Bello/AFP)
Marin Cilic não deu chances a Roger Federer

A norte-americana Serena Williams e a dinamarquesa Caroline Wozniacki decidem hoje, às 17h30 (de Brasília, Sportv e ESPN), o título do torneio de simples feminino do US Open, disputado no Complexo de Flushing Meadows, em Nova York.

Serena, atual número 1 do ranking da Associação Internacional das Tenistas (Wta), busca seu sexto título no torneio dos EUA, e o 18º Grand Slam. Além dos cinco em Nova York, ela já venceu o Australian Open cinco vezes; Wimbledon, igual número de vezes, e o Aberto da França em duas ocasiões.

Já Wozniacki está em sua segunda final de Grand Slam. A primeira foi justamente nos Estados Unidos, em 2009, quando perdeu para a belga Kim Clijsters, por 2 a 0. Busca seu primeiro título em torneios desse nível.
Nishikori é primeiro asiático em final de Slam
 (Julian Finney/AFP)
Nishikori é primeiro asiático em final de Slam

Já no torneio de simples masculino, as semifinais foram marcadas pela zebras, que galopou tranquilamente na quadra principal de Flushing Meadows, a Arthur Ashe. Dois dos maiores tenistas do mundo, o sérvio Novak Djokovic, líder do ranking da ATP, e o suíco Roger Federer, terceiro, caíram. Por conta disso, o US Open terá uma final inédita, com o japonês Kei Nishikori, primeiro asiático a decidir um torneio de Grand Slam, e o croata Marin Clilic.

Nishikori contou uma ajuda providencial, o forte calor que fazia em Nova York, muito acima dos 30 graus, do qual reclamou Djokovic, que disse ter ficado esgotado em quadra. O japonês ganhou a partida por 3 a 1 (6-4, 1-6, 7-6 (7/4) e 6-3). Ter feito o primeiro set, segundo Nishikori, foi como abrir a porta para a vitória. Na segunda semifinal, Marin Cilic bateu Roger Federer por 3 a 0 (6-3, 6-4 e 6-4). A decisão do título será amanhã.

Hoje também acontecerá a final do torneio de duplas masculinas, entre os irmãos norte-americanos Bob e Mike Bryan e os espanhóis Marcel Granollers e Marc López.