terça-feira, 19 de novembro de 2013

O corvo e o papagaio - Maria Esther Maciel .‏

O corvo e o papagaio 
 
Maria Esther Maciel - memaciel.em@gmail.com


Estado de Minas: 19/11/2013





Acabo de ler um artigo sobre a inteligência dos corvos, que me foi enviado por um leitor, e constato que essa ave, comumente associada às sombras, é capaz de coisas que vão muito além do que se espera dela. O corvo não se limita aos aspectos sombrios e sinistros que lhe são, em geral, atribuídos pela nossa imaginação supersticiosa. Para começar, ele é brincalhão e gosta de artifícios. Sabe imitar a voz humana e a de outros animais. Consegue repetir palavras com habilidade, mais até que os papagaios. Além disso, costuma brincar de “bobinho” com cães, lontras e lobos, sendo também capaz de usar alguns truques para enganar outras aves, em determinadas situações de fome ou perigo. Em outras palavras, é uma ave marota e falante.

Sem dúvida, ao escrever o famoso poema “O corvo”, em 1845, o americano Edgar Allan Poe sabia das habilidades “linguísticas” dessa ave. Tanto que, num ensaio que compôs sobre o poema, mencionou que a escolheu, entre outras coisas, por isso. E explicou: “veio-me  à mente um papagaio, mas este foi substituído logo em seguida por um corvo, igualmente capaz de falar e infinitamente capaz de manter o tom pretendido”. Esse tom, para quem não se lembra, tem a ver com a lúgubre situação apresentada no poema: um homem triste e solitário que, à meia-noite, em meio aos muitos livros, lamenta a morte de sua amada Lenora e recebe, inesperadamente, a visita de um corvo que entra pela janela do quarto. A ave, caracterizada como “austera e escura”, passa a responder a tudo o que o homem fala, com uma insistente e solene expressão: nervermore (“nunca mais”). Aos poucos, isso vai deixando-o num estado de febril desespero. E quem lê o poema sente, na pele, toda a intensidade dessa febre.

Sempre incluí  “O corvo” em minhas aulas de poesia, e os alunos adoram. Sobretudo quando é lido por uma voz masculina de timbre soturno, de preferência numa gravação em inglês, seguida da tradução de Oscar Mendes – a minha preferida. Mais instigante ainda é articular o poema a filmes nele inspirados, incluindo um divertidíssimo desenho animado dos Simpsons. Isso ajuda a reatualizar Poe no mundo contemporâneo. Interessante que, de uns tempos para cá, sempre que leio ou comento esse poema lembro-me do olhar sinistro (e astuto) de um corvo que vi, certa vez, num cemitério em Tóquio. O qual, por sua vez, me trouxe, vivamente, a imagem do poema. Aliás, em matéria de aves sinistras, é bem melhor a lembrança do corvo de Poe do que a do urubu de Augusto dos Anjos. Os urubus são muito mais assustadores.

Bem, confesso que não era de poemas que queria falar nesta crônica, e muito menos da simbologia lúgubre do corvo. Nada de baixo-astral. O que pretendia, após ler o tal artigo, era imaginar uma possível (ou impossível?) conversa entre um corvo e um papagaio, que se encontrariam por acaso ao pé de uma jabuticabeira e trocariam ideias irônicas sobre a visão que os escritores têm das aves falantes. Eles não poupariam as fábulas de Esopo e La Fontaine, o poema “O corvo”, de Poe, o romance Macunaíma, de Mário de Andrade, nem tampouco os contos “Um coração simples”, de Flaubert, e “A viúva e o papagaio”, de Virginia Woolf.

Fica para uma próxima vez.

Tv Paga



Estado de Minas: 19/11/2013


Ventania 

 (Globo/Divulgação)


A cultuada minissérie Hilda Furacão, protagonizada por Ana Paula Arósio (foto) e exibida pela Globo em 1998, está de volta no canal Viva a partir de hoje, passada a ser reprisada na faixa das 23h10 de segunda a sexta-feira. Escrita por Glória Perez e dirigida por Wolf Maia, a trama tem como pano de fundo a história do país nas décadas de 1950 e 1960, e acompanha a trajetória de três amigos que deixam a cidade de Santana dos Ferros rumo a Belo Horizonte. No elenco estão, entre outros, Rodrigo Santoro, Thiago Lacerda e Danton Mello.

Futura retoma programa  sobre a primeira infância

O canal Futura estreia hoje, às 22h, mais uma temporada da série Nota 10 primeira infância, que tem como objetivo mostrar algumas das principais mudanças físicas, psíquicas e sociais na vida das crianças de 4 a 6 anos por meio de depoimentos de especialistas, pais, educadores e das próprias crianças. O programa começou a ser produzido em 1999. O apresentador é Leo Madeira, que já foi da MTV.

Laurentino Gomes encara  provocações de Abujamra


Antônio Abujamra entrevista hoje o escritor e jornalista Laurentino Gomes em edição do programa Provocações, às 23h30, na Cultura, que homenageia o Dia da Bandeira. Com 2 milhões de livros vendidos só no Brasil, Laurentino Gomes é autor de uma trilogia que detalha a história do Brasil monárquico. Sua mais recente publicação é dedicada ao fim da monarquia e à Proclamação da República.

A&E investiga crimes que foram manchete no Brasil

O canal A&E estreia, às 22h30, a segunda temporada de Investigação criminal, uma das séries nacionais da emissora. Com linguagem documental, a atração apresenta a cronologia dos fatos, a motivação dos criminosos, o contexto e os detalhes técnicos e científicos das investigações de casos como os do cartunista Glauco e da advogada Mércia Nakashima.

Dois novos desafios para  os detetives da história


Outra produção brasileira, Detetives da história vai investigar hoje uma obra de arte e uma medalha dos campeões da Copa de 1950. A pedido de um colecionador de arte, André Guerreiro assume a missão de analisar uma estatueta assinada por Di Cavalcanti. Enquanto isso, Renata Imbriani tenta comprovar a teoria de Nilson, colecionador de objetos de futebol, sobre uma medalha que teria sido dada aos campeões da Copa do Mundo de 1950, os uruguaios, que derrotaram o Brasil durante o fatídico episódio do Maracanaço. Às 23h, no canal History.

As melhores fitas sempre vão ao ar na faixa das 22h
Como de hábito, muitos dos filmes de qualidade são reservados para a faixa das 22h. Para hoje, o assinante tem como melhores opções As doze estrelas, no Canal Brasil; Reino animal, na HBO; Heleno, na HBO 2; Missão impossível – Protocolo fantasma, no Telecine Action; O homem da máfia, no Telecine Pipoca; Gridlock’d – Na contramão, no ID; O contrato, na MGM; e Maria Antonieta, no Sony Spin. Outros destaques da programação: Voo noturno, às 20h30, no Universal Channel; Rudo e Cursi, às 21h45, no Studio Universal; Sexo, amor e traição, às 22h30, no Megapix; Forças do destino, às 23h, no Comedy Central; e A marca da maldade, à meia-noite, na Cultura.

OFíCIO DA PALAVRA » Bate-papo com Rubens Figueiredo‏

OFíCIO DA PALAVRA » Bate-papo com Rubens Figueiredo


Carlos Herculano Lopes

Estado de Minas: 19/11/2013


O escritor e tradutor Rubens Figueiredo estará hoje em BH     (BEL PEDROSA/DIVULGAÇÃO)
O escritor e tradutor Rubens Figueiredo estará hoje em BH

Aliar a arte da criação ficcional à da tradução não é tarefa fácil. Mas isso parece não assustar o carioca Rubens Figueiredo, que já verteu para o português, diretamente do russo, mais de 11 títulos publicados pela Cosac Naify. A lista começou com O assassinato e outras histórias, de Antón Chekhov, passou por Nicolai Gógol, Górki e Ivan Turguêniev, entre outros, até chegar a um dos maiores desafios: o clássico Guerra e paz, de Liev Tolstói. Concluída com êxito em 2010, depois de três anos de trabalho, a tradução de Figueiredo, lançada em 2011 em dois volumes, é considerada uma das melhores já realizadas para o português até hoje.

No campo da ficção, ele não deixa por menos. Autor de vários livros, também em 2011, com seu romance mais recente, Passageiro do fim do dia (197 páginas, Companhia das Letras), no qual narra viagem feita por um homem do centro de uma metrópole a um bairro da periferia, faturou dois dos maiores prêmios da literatura brasileira: o Portugal Telecom e o São Paulo de Literatura. O livro tem lançamento hoje em BH, no Museu de Artes e Ofícios, no projeto Ofício da Palavra, com a presença do autor.

Vivendo no Rio, onde também dá aulas de português, atualmente Figueiredo está envolvido com novo projeto: traduzir para o português todos os contos de Tólstói, de 1857 a 1910. Conta que já está no meio do trabalho, e o livro também será lançado pela Cosac. “Quanto à ficção, ando meio empacado, dando um tempo. Mas quando tiver outra história boa para contar, começo a escrever novamente”, diz.

Passageiro do fim do dia
Lançamento do romance e bate-papo com o autor Rubens Figueiredo, a partir das 19h30. Museu de Artes e Ofícios, Praça da Estação. Entrada franca. Informações: (31) 3225- 1888.

Eduardo Almeida Reis-Vias transversas‏

Vias transversas

O tradutor meteu os pronomes em lugares esquisitíssimos e o texto, em português, ficou uma porcaria

Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 19/11/2013 



Descobri a pólvora! Em vez de ficar procurando determinado livro nas muitas estantes aqui do apê, distribuídas em quatro cômodos, para localizar determinado trecho sobre o qual preciso escrever, vou ao Google, digito quatro ou cinco palavras – nome do autor, assunto desejado – e o texto lá está com todos os efes e erres em blogs ou “portais” de cuja existência jamais desconfiei. Blogs e portais que avisam: “Todos os direitos reservados”.

Sabe o pacientíssimo leitor de Tiro&Queda quem foi o autor do texto que teve todos os direitos reservados pelo portal ou pelo blog? Se não sabia, fique sabendo: este philosopho. E dizer que fico cerimonioso na hora de transcrever um trechinho de escrito alheio, mesmo dizendo o nome do autor.

Indoutrodia, vi-me em palpos de aranha, o que é muito melhor do que ficar em papos de aranha. No papo, o escriba já foi papado pelo aracnídeo, enquanto nos palpos ainda pode escapar: palpo é apêndice segmentado das maxilas ou do lábio dos insetos. Parece que as aranhas não são insetos: são aracnídeos, classe de artrópodes quelicerados, cosmopolita, que reúne 50.000 espécies distribuídas em 11 ordens, vulgarmente conhecidos por aranhas, ácaros e escorpiões; caracterizam-se pela presença de quatro pares de patas e um par de palpos, pelo corpo dividido em cefalotórax e abdome e pela ausência de antenas.

Explico: resolvi transcrever um texto copiado de revista semanal, traduzido do inglês ou do francês para o português. Acontece que o tradutor meteu os pronomes em lugares esquisitíssimos e o texto, em português, ficou uma porcaria. Por isso, tomei a liberdade de ajeitar a tradução à moda aqui do degas. Não creio que tenha cometido um crime. A autora, uma jornalista francesa que vem de publicar livro em inglês, gostará da penteada que dei na tradução do seu texto. Portanto, descobri a pólvora: a partir de hoje, só procuro meus escritos no Google.


Chou e os fatos

Faz tempo que ando às voltas com produtos alimentícios Mon Chou, os únicos à venda nos mercados daqui. Exigem que a vítima seja assaz cautelosa para não quebrar os dentes. O último potinho de 150 gramas de ameixas sem caroços ainda não chegou à metade e já encontrei quatro caroços.

Fui ao dicionário eletrônico francês-português para ver que diabo é chou? Em botânica é couve: le chou de Bruxelles (a couve de Bruxelas), le chou-fleur (a couve-flor). Os cultivares da colza, Brassica napus, do grupo Napobrassica, que o leitor deve conhecer como rutabaga ou túrnepo, em francês são chou-navet e no supermercado aí da sua esquina talvez atendam pelo nome de nabiça, couve-nabo ou nabo-redondo. E o belo repolho, danado para produzir gases, é le chou prommé. Portanto, se você descolar um namorado gasoso, pode chamar de chou que ele entende. Namorada, outrossim.

Chou é também pequeno bolo ou pastel. Mon chou, mon petit chou é meu amorzinho, meu queridinho. Que c’est chou!, como é amoroso! Mas se você pensa viver no campo produzindo geleias e cultivando hortas orgânicas, parece que vai plantar couves: aller planter ses choux.

Falhando seu plano de geleias e hortas orgânicas, perdido o dinheirinho que você investiu na roça, babau: être dans les choux. Seu filhinho, antes de operar as orelhas de abano, cirurgia hoje muito simples, tadinho do menino, seria conhecido por avoir les oreilles en feuilles de chou.

Fair chou blanc é exatamente o que faz um monte de ministros: resultado nulo. De outro lado, há gente que se aproxima da Esplanada dos Ministérios para faire ses choux gras de quelque chose, isto é, tirar bom partido de qualquer coisa. Se criticados, esses ladrões costumam dizer que o crítico trabalha num feuille de chou – um jornaleco.

Rentre dans le chou de quelqu’un é atacar alguém, precipitar-se sobre alguém para lhe bater, dar uma sova em alguém, exatamente o que o leitor deve ter vontade de fazer com o cronista que escreve 328 palavras sobre chou.


O mundo é uma bola

18 de novembro de 1095: início do Concílio de Clermont, convocado pelo papa Urbano II para discutir o envio da Primeira Cruzada à Terra Santa. Em 1307, reza a lenda que Guilherme Tell flechou maçã posta sobre a cabeça de seu filho. Figura lendária, Guilherme seria craque no manejo da besta, antiga arma portátil que consiste em um arco de madeira, chifre ou aço, montado em uma coronha, cujas extremidades são ligadas por uma corda que se retesa por meio de mola e que, ao ser solta, arremessa setas curtas, pelouros etc.; balesta, balestra.

O Formulário Ortográfico, aprovado pela Academia Brasileira de Letras na sessão de 12 de agosto de 1943, não permite que a distinção de timbre entre besta \é\ e besta \ê\ seja registrada com acento circunflexo diferencial; em caso de equívoco, um recurso possível seria usar a informação de timbre entre barras depois da palavra: uma multidão de bestas \é\ tomou de assalto as muralhas da cidadela.

Hoje é o Dia do Tabelião e Registrador, bem como o Dia do Conselheiro Tutelar.


Ruminanças

“A pessoa que se vende recebe sempre mais do que vale.” (Barão de Itararé, 1895-1971)

Silhueta esculpida com chocolate

Estudo espanhol atesta que consumo regular do doce reduz quantidade da gordura corporal, especialmente no abdômen. Pesquisa feita em adolescentes é positiva também para adultos


Bruna Sensêve

Estado de Minas: 19/11/2013



Renata come chocolate cinco vezes por semana e não tem problema de peso. Para ela, o doce é fonte de relaxamento e satisfação pessoal (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)
Renata come chocolate cinco vezes por semana e não tem problema de peso. Para ela, o doce é fonte de relaxamento e satisfação pessoal


Depois de colhidos, os frutos do cacaueiro são quebrados e têm as sementes retiradas, fermentadas e secadas ao sol. Ao serem torradas e moídas, produzem uma massa de consistência cremosa e cor bem escura. Essa é a matéria-prima básica para a fabricação do chocolate, que poderá receber os mais diversos ingredientes – como leite, açúcar, aromatizantes e gorduras vegetais – para agradar o paladar dos inveterados chocólatras. O enorme número de adoradores que comemoram a invenção da iguaria ganharam, neste mês, um motivo a mais para celebrar. Em pesquisa publicada na última edição da revista científica Nutrition, cientistas espanhóis concluíram que o consumo de chocolate pode estar associado à diminuição da gordura corporal, especialmente daquela que mais incomoda: a abdominal.

O trabalho investigou o consumo de chocolate por 1.458 adolescentes de nove países europeus, incluindo a Espanha, com idade entre 12 e 17 anos. Os próprios voluntários relataram, em uma plataforma digital, a quantidade do alimento que foi ingerida por dois dias não consecutivos. Os pesquisadores, por sua vez, registraram características fisiológicas de cada participante, como o tamanho da circunferência abdominal, o índice de gordura total, além da altura e do peso – com os quais eles calcularam o índice de massa corporal (IMC). O resultado da análise surpreendeu os pesquisadores.

Os adolescentes com maior consumo de chocolate (em média 42,6g por dia) tiveram os níveis de marcadores de gordura mais baixos, eram mais ativos fisicamente, tinham mais energia e também maior ingestão de gordura saturada. Tudo isso em comparação aos participantes com o menor consumo (em média 4,7g por dia). Os resultados mostraram-se independentes quanto ao gênero, idade, maturação sexual, quantidade total de energia consumida, ingestão de gordura saturada, frutas e hortaliças, assim como da prática de atividade física. Os bons indicadores não são uma exclusividade dos jovens. Um estudo anterior, feito por norte-americanos, relatou que a maior frequência de ingestão de chocolate está ligado a menor IMC também em adultos. 

O chocolate é rico em flavonoides, especialmente aqueles conhecidos como catequinas, que têm propriedades antioxidantes, anti-hipertensoras, antiaterogênicas (evita depósito de gordura), antitrombóticas e anti-inflamatórias. “Os dados permaneceram inalterados após o ajuste para alimentos com alto teor de catequinas (frutos, vegetais e chá) ou produtos como o café, que poderiam influenciar a associação observada entre o consumo de chocolate e os marcadores de gordura corporal”, reforça Magdalena Cuenca-Garcia, principal autora do trabalho e professora do Departamento de Fisiologia Médica da Escola de Medicina da Universidade de Granada, na Espanha.

A equipe liderada pela cientista tem como hipótese que esse efeito benéfico pode ser, em parte, devido à influência do chocolate sobre a sensibilidade à insulina e à produção de cortisol. O nutricionista do Instituto Nacional de Cardiologia Marcelo Barros explica que a insulina é o hormônio que leva o açúcar para dentro da célula. “Toda vez que temos uma resistência a ela, existe uma tendência a ganhar peso. Toda vez que acontece o aumento do hormônio cortisol, também vai ter um aumento de peso. Isso já é comprovado”, garante. As catequinas presentes no alimento seriam as responsáveis por diminuir a reação dessas duas substâncias. “São as hipóteses que eles levantam. É um primeiro artigo e serão necessários novos trabalhos para confirmar.”

Pressão controlada A pesquisadora lembra que o consumo de chocolate tradicionalmente tem sido associado ao de doces e, por isso, a uma grande quantidade de calorias e à ausência de nutrientes importantes. “No entanto, relatórios mais antigos sugerem que, em adultos, o chocolate está associado a um menor risco de doenças cardiometabólicas”, acrescenta a cientista espanhola. Marcelo Barros confirma a informação. Segundo ele, desde o início dos anos 2000, vários artigos surgiram demonstrando que a ingestão de chocolate amargo (com mais de 65% de cacau) beneficia o controle da pressão arterial. E não só na prevenção, até mesmo no tratamento da doença. “Um dos mecanismos é essa diminuição da resistência à insulina. Quando ela é mais alta, tem um elo para o aumento da pressão arterial”, destaca o nutricionista.

Outro dado importante seria a liberação do óxido nítrico. Propriedades do chocolate provocariam o despejo dessa substância dentro dos vasos sanguíneos, levando a um relaxamento e, com isso, baixando a pressão arterial. “O óxido nítrico também mantém a parte interna dos vasos mais saudáveis, evitando a ligação plaquetária e o acúmulo de colesterol.”

Calorias em xeque

A notícia da descoberta de que o chocolate reduz a gordura não poderia deixar de agradar – e muito – à funcionária pública Renata Moreira de Almeida, de 38 anos. Chocólatra, ela já foi parada pela Receita Federal por carregar metade da mala com chocolates comprados no exterior. “Como cinco vezes por semana e do tipo mais amargo, e não vejo mudança no meu corpo relacionada ao chocolate”, diz. Os efeitos que ela atribui à delícia são mais ligados ao relaxamento e à satisfação. 

Nutrólogo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), José Ernesto dos Santos defende que é preciso desmitificar o chocolate. “As calorias não podem ser somente matemáticas. É evidente que 250 calorias de um bombom não são iguais às 250 calorias da picanha. Você estará ingerindo muito mais gordura saturada e colesterol. Isso é um dado importante”, compara.
O presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, Durval Ribas Filho, discorda de Santos e acentua que o volume energético total diário é um fator decisivo para o aumento de peso e da gordura corporal. “O estudo espanhol não mostrou se o alimento consumido era mais ou menos amargo. Isso poderia dar um direcionamento. O chocolate com um percentual de cacau maior que 65% tem muito mais polifenóis e, certamente, uma capacidade antioxidante maior.” (BS)

Nova sonda rumo a Marte‏

Nova sonda rumo a Marte
 
Nasa lança nave para estudar a atmosfera superior do planeta vizinho e entender como ele deixou de ter condições favoráveis à vida para se tornar um corpo seco e extremamente frio


Estado de Minas: 19/11/2013 0

Foguete Atlas V-401 parte de Cabo Canaveral, na Flórida, levando a Maven: a sonda deve chegar a Marte em setembro de 2014 (  Joe Skipper/Reuters    )
Foguete Atlas V-401 parte de Cabo Canaveral, na Flórida, levando a Maven: a sonda deve chegar a Marte em setembro de 2014


Marte é a nova Lua. Enquanto o satélite natural da Terra mereceu o máximo de atenção dos cientistas envolvidos na corrida espacial durante a segunda metade do século passado, o Planeta Vermelho é, sem dúvida, a vedete do momento. Em meio a planos de enviar uma viagem tripulada ao mundo vizinho em meados da década de 2030, a Nasa, agência espacial americana, lançou ontem mais um equipamento para orbitá-lo e estudá-lo.
A Maven (sigla em inglês para Evolução Atmosférica e Volátil de Marte) é a décima sonda orbital lançada pelos americanos para analisar o planeta, três das quais não chegaram ao destino. Na conta, não entram equipamentos como o robô Curiosity, que, em vez de circundarem o planeta, pousaram em sua superfície. A nova máquina, no entanto, é a primeira pensada para colher dados da parte mais alta da atmosfera, que podem ajudar a reconstruir o passado marciano.

Com os dados colhidos até agora, os cientistas não têm mais dúvidas de que o Planeta Vermelho abrigou, há cerca de 4 bilhões de anos, rios, lagos e um clima muito mais quente, favorável à presença de vida. Isso era possível porque havia uma densa atmosfera, parecida com a da Terra. No entanto, algum processo levou o corpo vizinho a perder grande parte dessa camada protetora de gases e se tornar uma rocha seca e fria (com mínimas de -128ºC), nada acolhedora para organismos. A sonda deve ajudar os engenheiros a entenderem o que aconteceu. “Maven é a primeira aeronave espacial destinada a explorar a atmosfera superior”, afirmou a Nasa em um comunicado à imprensa. “A sonda vai investigar como a perda de atmosfera de Marte determinou a evolução da água na superfície.”

Segundo os especialistas, os ventos solares (partículas de energia lanças pelo Sol que atingem os corpos que o rodeiam, incluindo a Terra) parecem ter erodido a cobertura marciana ao longo de milhões de anos. Por isso, buscando verificar essa hipótese, a nave foi equipada com uma porção de instrumentos de última geração capazes de medir os elétrons e íons solares que chegam a Marte, além de fazer outras medições, como a da quantidade de raios ultravioleta que chegam ao local.

Os três principais objetivos da iniciativa, de acordo com a Nasa, são identificar a estrutura e a composição da atmosfera superior e entender os processos que as controlam, determinar as taxas de perda gasosa para o espaço atualmente e compreender o que gera essa diminuição, e, por fim, reconstituir como se deu esse desaparecimento atmosférico ao longo do tempo.

Longa viagem A Maven partiu do Cabo Canaveral, na Flórida, impulsionada por um foguete Atlas V-401, na hora prevista pela Nasa, às 13h28 (16h28 em Brasília). “Tudo parece estar indo bem”, informou o centro de controle da Nasa instantes depois. O lançamento precisava ocorrer entre ontem e 7 de dezembro para que a sonda realizasse com sucesso sua viagem de 10 meses.

Dessa forma a nave deve começar a orbitar Marte em 22 de setembro do próximo ano, com dois dias antecedência da nave indiana Mangalyaan, lançada no último dia 5. O equipamento de 2.453kg deve passar um ano a 6 mil quilômetros da superfície do planeta, mas deve realizar algumas aproximações ao longo da missão, chegando a uma altitude de 125km.

O objetivo da missão planejada pela Índia, que tem um custo bem mais modesto (US$ 73 milhões), é procurar por sinais de metano na atmosfera (um indicador de vida) e colher dados sobre a superfície. Se for bem sucedida, a iniciativa colocará o país asiático no seleto grupo de nações que já enviaram um equipamento para estudar o planeta vizinho — apenas a Rússia e a União Europeia, além dos EUA, obtiveram sucesso, e China e Japão já fracassaram.

Todas as informações colhidas por essas missões são consideradas importantes para o sucesso de uma viagem tripulada, planejada pela Nasa para ocorrer em aproximadamente duas décadas. A intenção é fazer com que quatro astronautas pousem com segurança no solo marciano e consigam retornar à Terra, numa jornada que durará quase dois anos. Outras iniciativas, financiadas por capital privado, tentam alcançar um feito semelhante antes da agência espacial.