segunda-feira, 7 de julho de 2014

Partidos para mudar ou para governar - Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico - 07/07/2014 

Será a Rede Sustentabilidade um partido para mudar, como ela se propôs - e como foi o PT, antes de chegar ao poder?


Estas eleições estão montadas numa contradição. Uma pesquisa, meses atrás, mostrou que dois terços do eleitorado querem "mudanças", mas metade dos votantes queria sufragar a presidenta Dilma Rousseff, que representaria a continuidade - e não é óbvio que Aécio Neves ou Eduardo Campos seriam a "mudança". É preciso começar a discutir a fundo o que significa esta contradição entre desejo e voto, e o que ela anuncia para a nossa política.

Há partidos que nascem para governar. Foi o caso do PSDB, fundado em 1988 como uma dissidência do PMDB. Reunia políticos tarimbados e intelectuais competentes, cujo acesso ao poder tinha sido bloqueado por duas décadas de ditadura e que se sentiram sem muito lugar nos primeiros anos da democracia, quando o PMDB fisiológico prevaleceu sobre o ideológico. "Muito cacique e pouco índio", dizia-se dos tucanos, que realmente tinham mais líderes que militantes. Em apenas seis anos, chegavam à presidência da República: não por acaso, FHC era um intelectual convertido em político, não um político de origem. Os tucanos eram os mais "insiders" dos "outsiders", os mais qualificados para governar.

Partidos que nascem para governar sabem exatamente o que fazer. São ou se consideram "the best and the brightest". Têm o diagnóstico exato dos problemas e das soluções. Constituem-se como uma força de intervenção rápida; se o Brasil estava na UTI, que partido poderíamos esperar de melhor? Olhando retroativamente, Collor foi a caricatura, prévia, do futuro governo PSDB: o golpe certeiro de judô que abateria a inflação, o voluntarismo do presidente jovem, tudo isso virou piada perto da sofisticação do Plano Real. Collor revelou seu plano na surpresa; já o Real foi sendo exposto, votado, digerido ao longo de mais de seis meses. Collor marqueteou a juventude, FHC o saber e sabedoria. Mas o PSDB não foi muito além disso; passados 20 anos, ainda se apresenta como o partido do Plano Real e das privatizações - isso num país que não mais teme a hiperinflação e no qual seria anátema privatizar Petrobras, Correios, Caixa e Banco do Brasil. Os tucanos mudaram o país porque queriam governar. Hoje, não está claro que mudança propõem, além da economia, que para a maioria é uma ciência incompreendida.

A política precisa de quem acene com o novo

O PT foi nosso grande partido para mudar. A prova dos nove para os que querem mesmo mudar é: entre chegar ao poder abrindo mão de princípios essenciais e preferir a derrota, o que você faz? A segunda opção é árdua, mas o PT a tomou várias vezes. Reunia grupos os mais variados, descontentes com o statu quo, que tinham em comum uma preocupação ética e política com a injustiça social (O PSDB também lutou contra as injustiças, mas tinha soluções prontas para elas; o PT explorava alternativas, não fechava rápido as decisões). Para chegar ao poder, fez mil ensaios e erros de suas propostas, em campanhas e eleições. (O PSDB, querendo o eficaz, querendo-o logo, não ia tão longe na discussão do que é justo). Daí, claro, o maior radicalismo, a maior ambição do PT.

Quem, hoje, é partido para governar, quem para mudar? Para mudar, hoje temos meio partido, que poderá tornar-se inteiro nos próximos anos: a Rede Sustentabilidade. Repete características do PT. Tem forte ingrediente ético. Parece ter militantes ou ativistas não pagos, o que foi um distintivo petista. E, claro, tem diferenças internas. Contudo, se a preocupação social não está fora de seu horizonte, ela não é sua prioridade. A Rede nasce da defesa do meio-ambiente. Seus líderes não têm, ou não têm mais, o foco na injustiça social. Sua plataforma não é de classe, mas da vida - enquanto "zoe", a vida animal, mais do que "bios", a vida humana. E da defesa da natureza a Rede foi caminhando para um foco mais largo, e também mais vago: o sustentável. Esse adjetivo tem vários sentidos, inclusive o da sustentabilidade dos negócios (É este salto da vida natural para o econômico que a faz perder um tanto de vista o social). Mas, em que pese esse salto, hoje é o partido mais disposto a abrir agendas de discussão novas e a introduzir algum idealismo na política. Digo "algum" porque nunca fica claro o bastante qual o seu vínculo com o mundo empresarial. De todo modo, é o elemento inovador em nosso quadro político.

Mas resulta difícil, tantos meses depois de sua ligação ao PSB, entender como a união dos dois faz sentido, para além da eleição de outubro. Nenhum dos traços que acima expus se aplica aos pessebistas. Aliás, nem mesmo dá para chamar de "socialistas" os membros do PSB, exceto Roberto Amaral e poucos outros. Em resumo, a Rede parece um PT ainda fraco, como era nos anos 80, mas com uma pressa tucana de chegar ao poder e implantar o que possa de sua agenda. Há algo surpreendente na Rede: Marina teve uma votação enorme em 2010, como Lula em 1989, o partido é idealista, como era o PT - mas ela e o partido se aliaram a um candidato e um partido bem menos inovadores. A Rede é o braço que quer mudar, o PSB o braço que quer a presidência (mas sem ter a enorme aptidão dos quadros tucanos de 1994). Será frutífera esta união? Dará para somar, assim, o idealismo da Rede e o utilitarismo do PSB? Se funcionar, muito bem. Pessoalmente, penso que, para mudar, é melhor aguentar uma longa travessia do deserto. Ela aprofunda e amadurece. Mas nosso propósito é apenas analisar, não é ditar soluções. O Brasil precisa de partidos para governá-lo, mas também para mudá-lo - e este segundo lugar está mais ou menos vago, desde que o PT, no governo, teve de fazer, também ele, Realpolitik.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. 
E-mail: rjanine@usp.br


TeVê

TV PAGA » Beleza profunda

Estado de Minas: 07/07/2014



 (Paris Filmes/Divulgação)


Bela e talentosa, Amanda Seyfried (foto) não teve receio algum ao aceitar o papel da atriz pornô Linda Lovelace no longa-metragem biográfico realizado por Rob Epstein no ano passado. Estreia de hoje, às 22h, no Telecine Premium, o drama Lovelace mostra como a moça de uma família tradicional se tornou a protagonista de Garganta profunda, um dos mais famosos filmes pornô de todos os tempos. O elenco conta ainda com Peter Sarsgaard e James Franco.

Muitas alternativas na
programação de filmes


Na mesma faixa das 22h, o assinante tem pelo menos outras cinco boas opções: S.W.A.T.: Comando Especial, no MGM; Fúria de titãs 2, na HBO 2; Citadel, no Max Prime; Wolverine – Imortal, no Telecine Pipoca; e Trama macabra, no Telecine Cult. E ainda: Antônia, às 19h, no Film&Arts; O virgem de 40 anos, às 19h55, no Universal Channel; Eu, Anna, às 20h, no Max; Guerra é guerra, às 22h30, na Fox; e Edison – Poder e corrupção, às 23h, no Cinemax.

Pegue carona num giro
pela costa da Califórnia

Turistas do mundo todo têm o desejo de viajar pela estrada do litoral da Califórnia, para aproveitar as belezas naturais ao longo da costa do Pacífico. É isso que o assinante vai ver no último episódio da segunda temporada de Oficina Motor, às 22h, no canal +Globosat. Lipe Paíga, Henrique Koifman e Michelle de Jesus escolheram para isso três carros clássicos: o Buick Enclave, o Land Rover LR4 e o Cherokee. Boa viagem!

Uma atração para quem
é apaixonado pelo mar


Dirigido por Nildo Ferreira e Paula Luana Maia, o documentário Aloha é o destaque de hoje do Sala de notícias, às 14h35, no canal Futura. O filme mostra como os avanços tecnológicos acabaram com as barreiras entre surfistas com necessidades especiais e a paixão pelo mar. Uma história sobre superação, alma e surfe.

Documentário destaca o
melhor da música cubana


Outro documentário que merece a atenção do assinante é Música libre, de Carolina Sá, às 21h, no canal Curta!. A produção comprova a variedade de ritmos da música cubana, como o toque de santeria, a rumba, o danzon, o son e a guaracha. Já o Arte 1 apresenta, às 23h, o concerto do pianista chinês Lang Lang com a Orquestra Filarmônica de Viena conduzida pelo maestro indiano Zubin Mehta, tocando peças de Weber, Chopin e Beethoven.


CARAS & BOCAS » Passado de volta

Neidinha (Elina de Souza) ficará cara a cara com homem que a estuprou na juventude (João Miguel Júnior/TV Globo)
Neidinha (Elina de Souza) ficará cara a cara com homem que a estuprou na juventude


Nos próximos capítulos de Em família (Globo), já na reta final, a doce Neidinha (Elina de Souza) viverá momentos de terror e uma volta forçada ao passado. É que ela ficará cara a cara com o homem que a estuprou, junto com outros dois, dentro de uma van, ainda na juventude. Tudo começa durante um assalto na casa de leilões da família de Helena (Júlia Lemmertz). Por lá, estarão, além da dona do lugar, também Neidinha e sua filha, Alice (Érika Januza). Um homem anunciará o assalto e, com uma arma, ameaçará estuprá-las. Neidinha logo reconhecerá seu algoz. “É ele, Alice. É um deles”, dirá à filha. Afoita como sempre, a jovem deixará escapar que sabe que ele existe e o chamará pelo nome: Isaías. Quem acompanha a novela deve se lembrar que Alice descobriu que um dos estupradores de sua mãe está preso, por outros crimes praticados, e o outro já morreu. Com uma pista passada pelo presidiário, ficou sabendo o nome do terceiro. A moça, que se prepara para se tornar policial, lutará com o bandido. Até que a polícia aparecerá e atingirá o marginal. No hospital, Neidinha dirá tudo o que pensa ao marginal.

SEGUNDA EDIÇÃO DO JORNAL DA
ALTEROSA E O RESUMO DO DIA

Ana Cristina Pimenta comanda o Jornal da Alterosa – 2ª edição, que traz o resumo das principais notícias do dia, além de matérias especiais, de olho na Copa do Mundo e no jogão do Brasil x Alemanha, amanhã, no Mineirão.

PERSONAGEM FOFÃO VAI VIRAR
DESENHO ANIMADO NA TV PAGA

Quem foi criança nos anos 1980 certamente se lembra do personagem Fofão, vivido por Orival Pessini. Agora, ele retornará à cena, mas em desenho animado. Primeiro, deverá dar o ar da graça na internet. Depois, vai estrear em um dos canais da TV paga dedicados ao público infantil. A produção é da Farofa Studios.

SÉRIE NÃO FUI EU GANHARÁ MAIS
UMA TEMPORADA NO ANO QUE VEM

A comédia juvenil Não fui eu, exibida no Disney Channel (TV paga), conquistou uma segunda temporada, que vai estrear em 2015. A trama, estrelada por Olivia Holt, acompanha as aventuras dos gêmeos Lindy, uma garota nerd que tenta mudar o seu estilo, e Logan, um jovem confiante que planeja tornar sua passagem pela escola inesquecível. A cada episódio, eles e os amigos se envolvem em confusões, mostradas em flashbacks.

REALITY MUSICAL FICA E SERÁ
EXIBIDO NAS NOITES DE TERÇA

SuperStar (Globo) já foi confirmado na grade da Globo, para nova edição. Só que a segunda temporada, que ainda não tem data para estrear, será exibida em novo dia. Assim, o reality musical, apresentado por Fernanda Lima, sai do horário aos domingos, depois do Fantástico, para ir ao ar nas noites de terça-feira. A atração, atualmente, perde para o Programa Sílvio Santos.

EM CARNE E OSSO

Depois da escolha dos atores Scott Michael Foster e Elizabeth Lail para encarnarem Kristoff e Anna, agora foi definida que a atriz Georgina Haig será Elsa, a rainha do gelo, personagens que vêm direto da animação Frozen – Uma aventura congelante para o reino encantado da série Once upon a time, mas em carne e osso. De acordo com o site TV Line, a trama que unirá os três personagens ao mundo da série será uma continuação da história da animação, quando Elsa novamente perde o controle de seus poderes e congela sua cidade. Até que descobre que só o amor por sua irmã será capaz de dominá-los. Mas, enfrentar outros seres encantados de Storybooke, onde se passa Once upon a time, não será tão simples assim. A série é exibida no Brasil no canal Sony (TV paga).


VIVA
Flávia Freire, que segura muito bem entradas ao vivo. No sábado, à frente do Jornal Hoje (Globo), deu provas novamente de seu potencial. O que já foi visto quando apresentou o Bem-estar.

VAIA
Que cara foi aquela do Ronaldo, durante todo o tempo em que comentou o jogo Brasil x Colômbia, na Globo? Tal qual um boneco – de tão imóvel –, e sem graça, parecia contrariado de estar ali.

Células-tronco dão qualidade de vida aos animais‏

Células-tronco dão qualidade de vida aos animais Empresa nacional, Celltrovet investe na medicina regenerativa para animais de pequeno e grande portes 
 
Junia Oliveira
Estado de Minas: 07/07/2014


O veterinário Luiz Fernando Lucas Ferreira vem usando as células-tronco há um ano e já vê vários resultados positivos    (Euler Junior/EM/D.A Press)
O veterinário Luiz Fernando Lucas Ferreira vem usando as células-tronco há um ano e já vê vários resultados positivos

Lula é um cão da raça beagle que, durante muito tempo, lutou contra uma insuficiência renal. Idoso, com baixo peso e um sofrimento diário, ele estava condenado a morrer. Mas um tratamento com célula-tronco salvou sua vida e, seis meses depois, ele está feliz, ativo e até mais jovem. A terapia inédita e desenvolvida no Brasil é voltada para animais acometidos por doença renal crônica, aplasia medular, lesões tendíneas e ligamentares, sequelas neurológicas de cinomose, fraturas e não união óssea, lesão de coluna, osteoartrites e osteoartrose.

A tecnologia usa um concentrado 100% de células-tronco e foi desenvolvida pela Celltrovet, empresa que atua nas áreas de terapia com células-tronco, medicina regenerativa e engenharia tecidual para pequenos e grandes animais. No laboratório, elas são isoladas do tecido adiposo retirado de animais clínica e laboratorialmente saudáveis, de até seis meses de idade. Diversos testes estabelecidos pela comunidade científica, como de diferenciação e proliferação celular, são feitos para comprovar a qualidade do material, que é armazenado.

O presidente da empresa, Enrico Jardim Clemente Santos, explica que, como o sistema imunológico do receptor não reconhece as células-tronco, é possível aplicar o concentrado com o material de um determinado animal em outro. “Isso evita que um cão muito debilitado seja submetido a uma anestesia para a retirada do tecido adiposo, eliminando, assim, o risco de ele vir a óbito por causa dessa injeção”, diz. O procedimento de isolamento das células é propriedade industrial da empresa e é único. A Celltrovet é ainda a primeira da América Latina a trabalhar com células-tronco em animais de pequeno porte, de acordo com Santos.

 O tecido adiposo é recolhido no momento da castração ou de alguma outra cirurgia, com uma incisão de menos de cinco centímetros. Simultaneamente, é coletado o sangue do animal para fazer diversos testes moleculares, a fim de constatar que o animal não está doente. Se detectado qualquer patógeno, o material é imediatamente descartado. O tecido é processado somente depois da comprovação de qualidade. “É pedida autorização ao dono, que normalmente concorda e ainda fica feliz pelo fato de o animalzinho dele poder ajudar outros.”

Enrico Santos alerta que o concentrado só é disponibilizado ao veterinário mediante protocolos clínicos que garantem a necessidade do tratamento. As amostras são armazenadas em vários tubos de 1,5 centímetro – cada um deles tem 2 milhões de células. Nas garrafinhas de cultivo elas crescem numa quantidade infinita de células. “Até hoje, temos células de 2005 que são usadas e anualmente testadas”, diz. Enrico, que trabalha com células-tronco desde 1995, resolveu testar seus conhecimentos no assunto ligados à veterinária depois de ver, em 2005, quando terminava o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), um site de uma empresa norte-americana que usava a metodologia para tratar cavalos. A empresa ficou incubada na USP durante quatro anos e depois saiu para comercialização.

EXEMPLOS DE SUPERAÇÃO Já foram tratados mais de 300 animais com uma taxa de sucesso superior a 80%. Assim como Lula, Mel, uma buldogue de sete meses de vida e portadora de cinomose, uma doença degenerativa que acomete principalmente o sistema nervoso dos animais, também se recuperou depois do tratamento. Os veterinários já haviam indicado a eutanásia e o dono então recorreu ao tratamento de células-tronco como última opção. Hoje, a cachorrinha corre e brinca em casa.

Outro exemplo é a Hanna, uma gatinha de 5 anos que sofria de doença renal crônica e aplasia medular (quando a medula para de produzir todos os tipos celulares, células brancas, vermelhas e plaquetas). Ela também tinha os dias contados. Atualmente, Hanna é uma gata saudável, que brinca diariamente com o seu irmão. Fabio, um gato de 14 anos, acometido por doença renal crônica e insuficiência pulmonar, é hoje um animal saudável que nunca mais precisou fazer fluidoterapia para normalizar seus índices de ureia e creatinina, tampouco usar bombinha para melhorar seu quadro respiratório.

Mas a tecnologia começa a se disseminar agora, de acordo com o presidente da Celltrovet. “Nossos resultados na medicina veterinária mostram que funciona. Por enquanto trabalhamos com veterinários empreendedores, que acreditam na proposta. É um trabalho de formiguinha apresentar essa alternativa.” Ele ressalta que o tratamento é um conjunto de soluções. “As células-tronco não são milagrosas. Não se deve deixar de lado a fisioterapia ou a acupuntura, quando indicadas. A aplicação do concentrado otimiza e torna mais eficiente os outros tratamentos, ajudando veterinários e donos de animais com um serviço de maior qualidade e possibilidade de cura.”

Receio e, depois, sobrevida para vários pacientes

Publicação: 07/07/2014 04:00

O médico-veterinário Luiz Fernando Lucas Ferreira afirma que o tratamento com células-tronco é indicado principalmente para animais idosos e diagnosticados com problemas ósseos ou articulares – próprios da velhice e que impedem o bicho de andar. A aplicação representa uma melhora na qualidade de vida, permitindo uma regeneração da articulação e a redução drástica do uso de remédios para dor e anti-inflamatórios.

Da Clínica Professor Israel, no Bairro São Pedro, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, Ferreira é um dos parceiros da Celltrovet e conta que começou receoso, mas logo comprovou a eficácia do tratamento em seus pacientes. Há quase um ano usando o método, já são cerca de 20 animais tratados. “Na medicina veterinária, um cão com insuficiência renal vai morrer, porque não temos hemodiálise nem transplantes como em humanos. Com 14 ou 12 anos de idade, em no máximo seis meses esse bichinho vem a óbito. Com o transplante de células- tronco consegue-se a regeneração do órgão”, diz. “Os resultados em meus pacientes foram muito bons. Alguns fizeram o tratamento e não precisaram mais de remédios”, conta.

O médico alerta que o sucesso do tratamento, depende do organismo do animal. “Fazemos uma triagem, para não oferecer tratamento que tem custo alto para casos que não vão dar certo. O dono deve entender ainda que é uma sobrevida.” “É um tratamento inédito e que serve de base para a medicina humana olhar essa terapêutica, que realmente tem utilidade para quem necessita.”

O PROCESSO

O tecido adiposo do animal é recolhido durante a castração. A incisão é de menos de 5cm

O sangue do animal é coletado para testes moleculares que comprovarão se está ou não saudável

Se detectado algum patógeno, o material é descartado

Se for comprovado que é saudável, as células tronco são isoladas do tecido adiposo, formando um concentrado

As amostras são armazenadas em tubos de 1,5 centímetro. Cada concentrado tem 2 milhões de células tronco

Nas garrafas de cultivo, elas continuam crescendo.

Controle de enzima pode evitar que pessoas obesas desenvolvam diabetes

O resultado abre portas para novos tratamentos voltados a esses pacientes


Flávia Franco
Estado de Minas: 07/07/2014 06:00


A obesidade é uma doença que aflige pessoas em todo o planeta. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 1980, o problema praticamente duplicou e, em 2008, já englobava uma larga parcela da população de adultos e crianças. Entre as principais consequências do excesso de peso, estão distúrbios metabólicos que aumentam o risco do desenvolvimento do diabetes tipo 2. Agora, um novo estudo, realizado por cientistas da Universidade Médica de Viena, na Áustria, em parceria com o Instituto Max Planck de Imunobiologia e Epigenética, na Alemanha, e outras instituições, encontrou pistas que podem esclarecer por que as pessoas com excesso de peso costumam se tornar diabéticas — e por que algumas não.

Publicado no jornal científico Cell, o estudo mostra a participação da enzima heme oxygenase-1 (HO-1) no desenvolvimento da síndrome metabólica. De acordo com Harald Esterbauer, líder da pesquisa, os fatores que levam aos problemas derivados da obesidade ainda não estão claros, mas outras pesquisas na área sugerem que uma adaptação inadequada a respostas imunes, chamada inflamação metabólica, desempenha um papel importante. Porém, pesquisas sobre o tema apresentam resultados conflitantes.



Segundo Esterbauer, acreditava-se que a HO-1 possuía propriedades anti-inflamatórias, mas, de acordo com o estudo, a ação da enzima é contrária. “Os resultados da pesquisa indicam que a HO-1 é necessária para o desenvolvimento de doenças metabólicas e revelam, também, que a enzima pode agir como um marcador para a determinação de obesidade ‘saudável’ ou não”, explica o pesquisador. Essa divergência surge do fato de que nem todo indivíduo obeso apresenta diabetes tipo 2, uma das doenças metabólicas mais associadas à obesidade. “Nem todas as pessoas obesas estão desenvolvendo diabetes tipo 2, apesar de ser um fator de risco. Há indivíduos que estão protegidos desses ‘efeitos colaterais’”, garante Esterbauer.

A perspectiva de uma forma da doença que seja saudável divide especialistas na área. Para Rosita Fontes, endocrinologista do Laboratório Exame, é possível, sim, um indivíduo ser obeso e manter os exames normais. “Alguns indivíduos não têm as alterações metabólicas que ocorrem na maioria dos casos. Essas pessoas parecem ter mecanismos genéticos que as protegem das consequências da obesidade e das doenças cardiovasculares associadas a elas”, explica. A médica afirma que, por causa dessa particularidade apresentada por alguns obesos, já existem vários testes genéticos visando a definir quais são os mais propensos a determinadas alterações.

Já para Ricardo Botticini Peres, endocrinologista do Hospital Albert Einstein, a afirmação de que existe uma forma de obesidade considerada saudável é um erro. “Não existe nenhum quadro da doença que seja saudável.  Um indivíduo não apresentar consequências agora não significa que ele vai conseguir manter esse quadro a longo prazo”, ressalva o médico. Peres reforça que a obesidade é uma doença crônica epidêmica que está se espalhando rapidamente. “Acontece de algumas pessoas não apresentarem exames alterados, mas não é possível garantir que não vá causar danos no futuro, e certamente haverá perda na qualidade de vida”, reforça.

Experimento Com o intuito de esclarecer o que difere um obeso saudável de um não saudável, Esterbauer colheu amostras do fígado e do tecido adiposo de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. “Todos estavam livres de medicamentos e não apresentavam diabetes ou síndromes metabólicas”, explica. “Quando medimos os níveis de HO-1, observamos que esses indivíduos apresentavam taxas elevadas e se mostraram resistentes à insulina”, diz o pesquisador.

A partir dessa constatação, Esterbauer e sua equipe levaram a pesquisa adiante e realizaram experimentos com camundongos para determinar de que forma uma possível interferência na enzima alteraria o quadro metabólico das cobaias. Para isso, criaram modelos geneticamente alterados de ratos com obesidade. “Verificamos as respostas dos camundongos a injeções de glicose e insulina por via oral. O objetivo era levar as cobaias aos extremos para colher tecidos e realizar medições. Estudamos a perda de HO-1 em células de gordura, nos músculos e também nos hepatócitos e macrófagos, que são importantes na doença metabólica”, relata o pesquisador.

Os camundongos não apresentaram nenhuma alteração nas células de gordura e nos músculos após a inibição da HO-1, mas sinais de que a insulina foi preservada e o fígado ficou protegido de danos puderam ser vistos depois do procedimento. Para Esterbauer, esses resultados indicam que, apesar de obesas, as cobaias estavam saudáveis. “Descobrimos que a HO-1 é um forte marcador biológico de obesidade metabolicamente saudável em humanos, e isso pode ajudar no prognóstico da doença”, afirma o pesquisador. “Com essa descoberta, médicos podem usar intervenções especificamente direcionadas para prevenir o avanço da doença assim que surgirem os primeiros sinais de diabetes tipo 2”, reforça.

CAUTELA O responsável pelo estudo afirma que o próximo passo da pesquisa é compreender melhor de que forma o HO-1 realiza o trabalho de controle do diabetes para, posteriormente, investir em novos medicamentos e tratamentos. Para os especialistas, é preciso cautela antes de debater o desenvolvimento de novas estratégias para combater a doença. “A conclusão dos autores é plausível à medida que, mesmo em humanos, o aumento da HO-1 é associado a algumas alterações metabólicas. É uma pesquisa promissora, mas estudos complementares precisam ser realizados, pois serão eles a definir sua aplicação clínica”, reforça Rosita Fontes.

O trabalho com a enzima, para Ricardo Botticini Peres, apresenta uma boa perspectiva de tratamento, mas no futuro. “Esses estudos são realizados a nível celular, molecular, e os testes são feitos com animais. O interessante é que abre portas para novas pesquisas encontrarem substâncias que estimulem a produção da enzima, depois, isso pode ser traduzido em tratamentos”, afirma o endocrinologista. Além do trabalho realizado por Esterbauer, Peres afirma que, por causa da crescente e preocupante manifestação da doença, existem diversos outros estudos que buscam novas formas de prevenção e combate à obesidade. “Pesquisas relacionadas à gordura marrom também são muito promissoras, porque esse tipo de gordura estimula a queima calórica”, comenta.

Em todas as idades

A estimativa realizada em 2008 pela OMS aponta para mais de 1,4 bilhão de adultos com mais de 20 anos acima do peso. Entre esses, mais de 200 milhões de homens e 300 milhões de mulheres estavam obesos. De acordo com a OMS, indivíduos com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 25 estão com sobrepeso, e pessoas com a taxa acima de 30 são obesas. Em 2012, segundo dados reunidos pela organização, mais de 40 milhões de crianças com menos de 5 anos estavam com sobrepeso ou obesas. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que cerca de 51% da população brasileira esteja acima do peso.

Interferência orgânica

Distúrbios metabólicos são doenças capazes de interferir nas reações orgânicas responsáveis pela manutenção da vida, pelo crescimento tecidual e pela produção de energia. O resultado de uma doença metabólica é o acúmulo ou a deficiência de determinadas substâncias, como proteínas, gorduras ou carboidratos no corpo, que, por sua vez, levam a alterações da função das células de vários órgãos e tecidos.

Enzima controlada

Pesquisa aponta para possível tratamento para a obesidade por meio de uma enzima presente em células do próprio corpo

O estudo abordou as diferenças entre características metabólicas saudáveis (sensíveis à insulina) e não saudáveis (resistentes à insulina) em pessoas obesas para determinar possíveis marcadores para a doença

Amostras do fígado e de gordura visceral foram coletadas de pacientes obesos submetidos à cirurgia bariátrica para medir a presença da enzima heme oxygenase-1 (HO-1), associada à baixa saúde metabólica

A suspeita dos pesquisadores era de envolvimento da enzima na saúde metabólica devido a propriedades anti-inflamatórias, que fazem parte do conhecimento na área

Os resultados surpreenderam os pesquisadores, mostrando que, diferentemente do que se pensava anteriormente, os níveis baixos de HO-1 são um indicativo de maior qualidade na saúde metabólica, apontando para propriedades inflamatórias da enzima

Eduardo Almeida Reis - Concupiscência‏

Concupiscência

Eduardo Almeida Reis - eduardo.reis@uai.com.br
Estado de Minas: 07/07/2014


 (Lelis)

Há palavras que conhecemos pela rama e julgamos saber todos os seus significados. No embalo da leitura, pelo contexto do parágrafo, tais palavras passam batidas. Poucos são os que ainda leem com um dicionário ao lado. O advento dos dicionários eletrônicos relegou os de papel às estantes. São grandes, pesados e têm, no meu caso, o gravíssimo inconveniente de não abrir na palavra procurada. Abro noutra página e me distraio com a leitura de outros lexemas, que, com perdão da lexia, constituem as unidades de base do léxico, que podem ser morfemas, palavras ou locuções.

Vejamos o substantivo feminino concupiscência. O estudante de teologia dirá que é “movimento de amor em direção a Deus e aos homens”. Em direção a Deus: lindo, não é? Como também pode ser “aspiração humana de bens naturais ou sobrenaturais”, desejo perfeitamente normal.

Contudo, na mesmíssima teologia, com uso pejorativo, a concupiscência é a “cobiça natural do homem pelos bens terrenos, consequência do pecado original e que produz desordem dos sentidos e da razão”. Pronto: começou a bagunça do pecado original; desordem dos sentidos e da razão.

Aí, você recorre à rubrica filosofia para descobrir que, no agostinismo, concupiscência é luxúria carnal, desejo libidinoso, e no tomismo medieval é desejo de prazer gerado por uma realidade física, material. Todos sabemos, ainda que por alto, que o tomismo é o conjunto das doutrinas teológicas e filosóficas de Santo Tomás de Aquino (1225-1274) e que o agostinismo é doutrina filosófica e teológica formulada por Santo Agostinho (354-430), mas vivemos em 2014 e a concupiscência, nos textos jornalísticos, geralmente significa “cobiça de bens materiais” ou “anelo de prazeres sensuais”. Anelo, no caso, é desejo intenso. Donde se conclui que tudo termina em sexo, o que nos remete a Santo Agostinho, que teria pedido: “Dai-me a castidade, mas não ainda”. Ora, bolas: depois de impotente, todo cavalheiro é casto. Revogam-se as disposições em contrário.

Democracia
Razão tinha Ernesto Beckmann Geisel (1907-1996) quando falou da “democracia relativa”. Que é democracia? Antônio Houaiss, carioca de família libanesa, diz que democracia é: 1. Governo em que o povo exerce a soberania; 2. Sistema político em que os cidadãos elegem os seus dirigentes por meio de eleições periódicas; 3. Regime em que há liberdade de associação e de expressão e no qual não existem distinções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários.

Vamos por partes, que Roma não se fez num dia. Número 1: você acredita nesta conversa de que o povo exerce a soberania? Que povo tem condições de exercer a soberania? Nem o norueguês em seus melhores dias.

Número 2: você acha que as eleições periódicas melhoram as coisas? Acha que os votos comprados pelo Bolsa Família devem ser computados? Que me diz dos marqueteiros que produzem candidatos marquetados para vender aos tolos? Sim, utilizemos o verbo marquetar, que tem hora e vez em nosso idioma, gerúndio marquetando.

Número 3: você conhece regime em que não existam distinções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários? Se conhece, me diga onde fica, prezado cara pálida. Liberdade de expressão: que, como, quando, onde, por quê? Você acha que um articulista do NYT pode meter o pau num grande anunciante do jornal? Poder, pode, mas é demitido no dia seguinte.

Você, caro e preclaro leitor, acha que greve de ônibus é democracia? E greve de professores, de fiscais de trânsito, de policiais, de funcionários de hospitais? Tudo bem: o direito de greve é sagrado, como também sagrados são os direitos dos que viajam de ônibus, estudam, circulam pelas ruas das cidades, recorrem à polícia e aos hospitais.

Mais de 50 mil homicídios/ano, 16 entre as 50 cidades mais violentas do planeta, juízes que judicam e desjudicam 24 horas depois, roubalheira indescritível – isso é democracia? Qual seria a alternativa? Ditadura não é. Fora da educação levada a sério, vosso país não tem remédio. Educação que nos mostra o verbo judicar no Aulete digital, enquanto Houaiss e Aurélio só abonam judiciar.

O mundo é uma bola

7 de julho de 1456: Joana D’Arc é absolvida depois de ter sido queimada viva em 1431. A revisão do seu processo começou em 1456 e fez escola em tribunais supremos que mandam soltar num dia, revogando a soltura 24 horas depois. Em 1920, o papa Bento XV canonizou Joana.

Em 1497, parte de Lisboa a expedição de Vasco da Gama rumo à Índia. Em 1865, Mary Stuart foi enforcada. Teve a subida honra de ser a primeira mulher executada nos Estados Unidos e boa coisa não deve ter feito. Em 1978, independência das Ilhas Salomão. Em 2007, escolhidas em Lisboa as Novas Sete Maravilhas do Mundo: Ruínas de Petra, Grande Muralha da China, Cristo Redentor, Machu Picchu, Chichén Itzá, Coliseu e Taj Mahal. Duvido que alguém saiba onde fica Chichén Itzá, por isso explico que fica em Yucatán, no México. E aproveito a ensancha oportunosa para explicar que as Ilhas Salomão, capital Honiara, ficam na Melanésia, Oceano Pacífico.

Ruminanças

“É melhor tornar-se ilustre do que nascer ilustre” (Axel Oxenstierna, 1583-1654).

No esporte, tamanho não é documento? Carlos Eduardo Guilherme (Pacome)

Estado de Minas: 07/07/2014  



Há controvérsia. Pois, em se tratando de certos esportes, o tamanho é, sim, muito importante. No basquete e no vôlei, por exemplo, a estatura é primordial para o sucesso do atleta. Nas “peneiras” dessas modalidades, os jovens de melhor biotipo (pernas e braços compridos, quadril alto e tornozelos finos) saem na frente dos demais, antes mesmo de tocarem na bola, enquanto os baixinhos são sumariamente dispensados. Não adianta contestar, meninos e meninas esguios têm preferência. Parece cruel, mas é fato. O preconceito com a altura nesses esportes é grande. Carregar a pecha de “tampinha”, ou outros adjetivos nada agradáveis, é um martírio. Por isso, muitas vezes, os pais de crianças normais, porém baixas, procuram auxílio médico em busca do milagre do crescimento.

Nenhum medicamento altera a genética do crescimento. Segundo o IBGE, a altura média do homem brasileiro é de 1,70m. Daí a dificuldade de se encontrar pretendente promissor para fazer carreira como atleta de alto rendimento no basquete e no vôlei. Futuramente, quem sabe, com o avanço da engenharia genética e do Projeto Genoma Humano, os pais poderão programar a altura de seus filhos.

Em circunstâncias normais, o sono de boa qualidade (o pico de produção do GH – hormônio do crescimento – ocorre durante o sono), as atividades esportivas e uma alimentação saudável ajudam no crescimento dos jovens. Mas, indiscutivelmente, o fator determinante é a herança genética. Já treinei atletas de origem humilde que tiveram deficiências nutricionais na infância e na adolescência e, mesmo assim, alcançaram estaturas acima dos 2m na fase adulta, enquanto outros, criados com ótimos padrões de conforto e nutrição, não chegaram a 1,70m. Ninguém cresce além do potencial genético definido por suas características familiares.

Para se destacar no basquete e no vôlei, esportes que privilegiam os indivíduos longilíneos, o atleta deverá estar próximo ou, de preferência, acima dos 2m na fase adulta. Existem esportes em que a exigência é contrária, como, por exemplo, na ginástica artística: o ginasta deverá ser brevilíneo e medir em torno de 1,60m (homens) e 1,50m (mulheres). A ex-atleta Daiane dos Santos mede 1,44m. Convenhamos, com essa altura, ela não teria o mesmo sucesso se jogasse basquete ou vôlei. Como ginasta, ela foi destaque internacional. Imagine Lionel Messi, de 1,69m e 67kg, disputando um rebote com o astro do basquete norte-americano Roy Hibbert, de 2,18m e 130kg. O efeito causado pelo choque entre os dois corpos, seria comparado à colisão frontal de um fusquinha com um A380 da Airbus, maior avião comercial de passageiros do mundo. Não sobraria nada do craque argentino. No entanto, no futebol, ele nos encanta com seus dribles e gols geniais. Vale ressaltar que cada modalidade esportiva requer um biotipo específico. A compleição física exigida por um esporte nem sempre é adequada a outro.

A lei da seleção natural é inexorável. De maneira implacável, ela se encarrega de selecionar os atletas de melhor biotipo, de acordo com a especificidade de cada esporte. Segundo Charles Darwin, os organismos mais bem adaptados ao meio têm maiores chances de sobrevivência do que os menos adaptados. Nos países mais evoluídos, onde há efetivamente a simbiótica integração da ciência com o esporte, o tipo físico é o primeiro critério para a escolha do esporte no período de iniciação dos jovens. No Brasil, ainda é muito comum a introdução esportiva de base sem embasamento científico. A metodologia esportiva moderna sugere que não devemos contrariar o biotipo dos atletas, sob pena de fracasso no alcance dos objetivos, sem mencionar a frustração do técnico e, principalmente, dos atletas e seus familiares.

XERIFÃO DA SIMPATIA » Ele é o cara‏

XERIFÃO DA SIMPATIA » Ele é o cara
Carinho com torcedores, rivais e maturidade para lidar com a glória, marcas de David Luiz



Paulo Galvão
Enviado especial
Estado de Minas: 07/07/2014
O consolo ao artilheiro colombiano James Rodríguez, eliminado, foi avaliado por torcedores como um gesto de grandeza e exemplo para o futebol (MARCELO DEL POZO/REUTERS)
O consolo ao artilheiro colombiano James Rodríguez, eliminado, foi avaliado por torcedores como um gesto de grandeza e exemplo para o futebol


Teresópolis
– Enquanto a maior parte dos atletas deixava o campo de treinamento e seguia para o vestiário, ele ficou ao lado do campo 1 da Granja Comary. Pacientemente, atendeu aos convidados que aguardavam para uma foto, um autógrafo, uma conversa.

A atitude é uma constante desde que o grupo chegou à concentração, em 26 de maio. Campeão em simpatia, David Luiz não dispensa atenção somente aos que chegam ali pelas mãos dos patrocinadores da CBF e que podem ficar na pequena arquibancada do CT. Muitas vezes, o zagueiro atravessou os dois campos e foi também até o alambrado que limita a propriedade da entidade máxima do futebol nacional, onde se postam os moradores do condomínio vizinho e uma trupe de visitantes.

Com a ausência de Thiago Silva, suspenso, caberá a ele usar a braçadeira de capitão da Seleção Brasileira no jogo pelas semifinais da Copa do Mundo, contra a Alemanha, amanhã, em Belo Horizonte. Isso, porém, não é nenhum problema para o jogador que é uma das lideranças do Escrete Canarinho e um dos mais queridos por todos – companheiros, membros da comissão técnica, funcionários da Granja Comary, torcedores e até adversários.

Sempre bem-humorado, o zagueiro cativa quem está a sua volta. Isso ocorre até mesmo com quem não tem a oportunidade do contato pessoal com ele, mas encontra identidade seja pelas caretas sarcásticas nas fotos publicadas nas redes sociais ou pelas palavras sempre sensatas durante as entrevistas que dá.

Mas nada disso seria o bastante se ele não tivesse bom desempenho em campo. O jogador vem mantendo uma regularidade invejável nesta Copa do Mundo, chegando a figurar como o melhor da competição em avaliação da Fifa, desbancando craques como o companheiro Neymar e o colombiano James Rodríguez, ainda que no último ranking tenha perdido terreno mesmo com atuações destacadas e gols nas oitavas de final e nas quartas.

Não é só a boa fase que o faz se sentir à vontade para “herdar” momentaneamente o posto de capitão. “Estou preparado para função. Até porque este grupo é muito fácil de liderar, são pessoas simples, humildes, com muita vontade de ajudar”, diz o camisa 4.

Os companheiros concordam e elogiam o comportamento do companheiro. “David Luiz é um cara muito equilibrado, bastante profissional, um cara totalmente concentrado. Ele vem trabalhando superbem para cada partida”, diz o atacante Bernard, que sempre está ao lado do defensor nos treinamentos e também na concentração, como mostram as imagens na imprensa e nas redes sociais.

Se está bem nas quatro linhas, tudo fica mais fácil fora dela. Porém, David Luiz não prefere a humildade ao deslumbramento. Mesmo curtindo a glória, como o gol marcado na última partida, se mostra ainda mais atencioso com todos.

CUIDADO Ele mostra o lado boa praça até com os adversários. Depois do jogo com a Colômbia, fez questão de consolar James Rodríguez, que chorava por causa da eliminação do Mundial com a derrota por 2 a 1.

A torcida brasileira certamente será total para que o gesto se repita amanhã. Só que em vez de um colombiano, que o consolado seja um alemão, como o atacante Schurrle, que era seu companheiro no Chelsea-ING – o brasileiro acaba de se transferir para o Paris Saint-Germain, da França.
Desde 1938, foram seis variações


Mayko Silva
Especial para o EM
Publicação: 07/07/2014 04:00
Em 2006, na Alemanha, o lateral-direito Cafu usou a tarja, que foi assumida momentaneamente pelo goleiro Dida (JORGE GONTIJO/EM/D.A PRESS - 13/06/06)
Em 2006, na Alemanha, o lateral-direito Cafu usou a tarja, que foi assumida momentaneamente pelo goleiro Dida


Quando David Luiz puxar a fila para entrar em campo no Mineirão amanhã, contra a Alemanha, ele estará repetindo o que somente seis jogadores brasileiros fizeram na história das Copas, desde 1930, no Uruguai. Assim como vai ocorrer nesta edição com o zagueiro, dois colocaram a tarja no braço em apenas uma partida: Orlando Peçanha, em 1966, e Rivellino, em 1978. Em 2006, Dida começou um jogo como capitão e assumiu em outro, depois de Cafu ser substituído.

No terceiro Mundial, em 1938, na França, Silveira foi o capitão nos 6 a 5 sobre a Polônia (oitavas de final) e no empate com a Tchecoslováquia por 1 a 1 (quartas de final). No jogo-desempate (2 a 1 sobre os tchecos), o armador não entrou e Leônidas da Silva assumiu. Silveira retomou a condição na semifinal (2 a 1 sobre a Itália), mas a braçadeira voltou a Diamante Negro nos 4 a 2 sobre a Suécia, que rendeu o terceiro lugar. Em 1966, na Inglaterra, Bellini foi o líder contra a Bulgária (vitória por 2 a 0) e Hungria (derrota por 3 a 1). No terceiro confronto (derrota para Portugal por 3 a 1), a missão coube a Orlando Peçanha.

Em 1974, na Alemanha, o técnico Zagallo promoveu um rodízio. Na primeira fase – empates por 0 a 0 com Iugoslávia e Escócia e vitória por 3 a 0 sobre o Zaire –, Piazza foi o escolhido. O zagueiro Marinho Peres foi o da segunda – vitória por 1 a 0 sobre a Alemanha Oriental, 2 a 1 sobre a Argentina e derrota por 2 a 0 para a Holanda. Capitaneado novamente por Piazza, o Brasil derrotou a Polônia por 1 a 0 e ficou com o terceiro lugar. Em 1978, na Argentina, Rivellino foi o capitão da estreia (empate por 1 a 1 com a Suécia). Leão assumiu no 0 a 0 com a Espanha e ficou até a vitória por 2 a 1 sobre a Itália, a da terceira colocação.

Sacado


Na campanha do tetra, em 1994, nos Estados Unidos, Raí foi o capitão durante toda a primeira fase, mas acabou sacado pelo técnico Carlos Alberto Parreira. Dunga herdou a braçadeira nas oitavas de final (vitória por 1 a 0 sobre os EUA) e foi o responsável por levantar o troféu depois de empatar com a Itália por 0 a 0 e levar a melhor nos pênaltis na final.

Cafu havia sido o dono da tarja no penta, em 2002, e a manteve em 2006, na Alemanha. Entretanto, foi poupado por Parreira no terceiro jogo da fase de grupos (vitória por 4 a 1 sobre o Japão) e Dida foi o escolhido – no fim do segundo tempo, o goleiro foi substituído por Rogério Ceni e Ronaldo teve o gostinho por alguns minutos. Dida ainda usou a braçadeira por algum tempo, quando Cafu foi substituído na derrota por 1 a 0 para a França, nas quartas de final.


Dupla liderança

Copa    Capitão

1938    Silveira e Leônidas da Silva
1966    Bellini e Orlando Peçanha
1974    Marinho Peres e Piazza
1978    Rivellino e Leão
1994    Raí e Dunga
2006    Cafu e Dida

Alemães com sede de Copa‏

Torcida de rivais do Brasil começa a chegar a Minas. Amigos que percorrem o país usam caipirinha como %u2018moeda%u2019 para calcular despesas e preveem gasto equivalente a 3,9 mil doses


Mariana Peixoto
Estado de Minas: 07/07/2014



Uma caipirinha, duas caipirinhas...No Brasil desde 14 de junho, os alemães Chris Böhme, de Berlim, Matthias Lingen, de Munique e Franz Hilke, de Nuremberg, todos com 27 anos, criaram sua própria moeda para a temporada. O trio faz parte dos estimados 3,5 mil alemães que chegaram ao país para acompanhar todos os jogos de seu time. Eles estão viajando o Brasil inteiro. Foi em Fortaleza, quando a Alemanha empatou com Gana em 2 X 2, que conheceram a caipirinha a R$ 5. Depois disso, começaram a fazer suas contas na “nova” moeda. Até o fim do Mundial cada um deles vai gastar, com todos os voos, hospedagem, alimentação e ingressos, 6,5 mil euros (R$ 19,5 mil ou 3,9 mil caipirinhas).

Com a experiência, os torcedores vão deixar o Brasil com um retrato super positivo da temporada. “Me senti seguro em todos os lugares que estive”, comentou Chris. E olha que só para a ver o time de Joachim Löw eles voaram de Salvador para Fortaleza, de lá para Recife, continuando para Porto Alegre até chegar ao Rio de Janeiro. Chegaram a BH no sábado e ontem, por sugestão de gente da cidade, foram conhecer a Festa Francesa. Ainda assistiram a jogos de outros times, com ingressos comprados no mercado negro. Pagaram a cambistas R$ 200 para cada entrada de Grécia X Costa do Marfim em Fortaleza e R$ 400 para assistir Gana e Estados Unidos em Natal.

Calor da torcida Matthias chegou ao Brasil vindo da experiência na África do Sul há quatro anos. “São situações bem diferentes. Lá a Copa foi no inverno, fazia muito frio, principalmente na Cidade do Cabo. E o que a gente mais fazia era ver animais selvagens. Aqui, a atmosfera das torcidas nos jogos é mais intensa”, comenta. Já Franz comenta que apesar de não achar tanta graça em ver a Copa em casa (no Mundial de 2006), a festa nas cidades alemãs eram maiores do que no Brasil. Quanto aos custos da viagem, os alemães dizem que o Brasil não é muito diferente do que esperavam. “Não que seja barato, é caro, mas não tanto quanto na Alemanha”, disse Chris. Sobre a torcida, só estranharam o quanto os brasileiros, quando não estão assistindo a uma partida da seleção, torcem a favor do time mais fraco. “Sempre a favor de Gana e EUA e nunca da Alemanha.”

O trio se hospeda em casas de brasileiros com reservas feitas pelo Airbnb (site de aluguel onde particulares oferecem vagas). O trio está certo de assistir à final do Mundial, no Rio:“Alemanha X Argentina”, preveem. Os alemães esperam resultados diversos, a seu favor, claro, para a partida de amanhã no Mineirão. Chris, o mais ambicioso, diz que vai ser um 3 X 1. “O Brasil não está jogando bem nessa Copa.” É como dizem no Brasil: sonhar não custa nada. Neste caso, nenhuma caipirinha.


À FRANCESA

O movimento na Savassi mudou ontem de lado. Em vez da Praça Diogo de Vasconcelos, o que ficou cheio foi o quarteirão da Rua Pernambuco entre Santa Rita Durão e Cláudio Manoel com a
15ª edição da Festa Francesa. Durante 12 horas – das 10h às 22h – houve shows, apresentações de circo e contação de histórias. Como a capacidade do local era de seis mil pessoas, havia filas grandes na entrada. Num clima de aldeia global, além de vinhos, crepes e patisserie, típicos da França, também eram vendidos sanduíches, pizzas e massas.



Tropeiro e fígado fazem sucesso

Paulo Henrique Lobato
Publicação: 07/07/2014 04:00


Desde que começou a Copa, porções de fígado com jiló, pratinhos abarrotados de feijão tropeiro, bandejas de pão de queijo e copos de caipirinha são consumidos aos montes no Mercado Central e a Feira da Avenida Afonso Pena. Ontem, desde cedo, vários estrangeiros se divertiram com nas rodas de samba e capoeira na feira da Afonso Pena, como os colombianos Carlos Lopes, Juan David e Jaime Ramires. O trio não poupou elogios ao tropeiro. “Em nosso país, o feijão é servido com água. Não conhecíamos o tropeiro. Aprovado!”, sentenciou Lopes, que acompanhou os cinco jogos de sua seleção na Copa e quer assistir Brasil e Alemanha.

O colombiano ainda não conseguiu o ingresso para a final, no próximo domingo, no Maracanã, e está disposto a pagar até US$ 2,5 mil pelo tíquete (R$ 5,5 mil),“desde que a final seja entre Brasil e Argentina. Se for entre Holanda e Alemanha, pago até US$ 1,5 mil”, disse. Os dois amigos, que também estão em busca de ingressos para a final, destacaram a culinária mineira como nota 10. Comerciantes da cidade que apostaram no tropeiro se deram bem, como garante Karina Fonseca, do bar da Lôra, Mercado Central: “Os estrangeiros acham o máximo a mistura de feijão, farinha, torresmo e linguiça. Nós não vendemos o tropeiro aqui, mas, durante a Copa, montamos um bar no estacionamento do Mercado e passamos a oferecer a iguaria, devido à procura”.

As vendas de outro famoso prato dos bares de lá, o fígado com jiló, também dispararam. “Cresceram 70% durante a Copa”, calcula Karina. Morador de Worcester, nos Estados Unidos, o empresário Eduardo Antelo Fernandes, um brasileiro com cidadania americana, voltou a Belo Horizonte, depois de “muitos anos”, para saborear o prato ao lado dos filhos Rosa Maria e Eduardo Júnior.

“Assistimos a partida entre Costa Rica e Inglaterra e estamos tentando um ingresso para Brasil e Alemanha. É a primeira vez que retorno ao Brasil”, disse o filho enquanto três irmãos espanhóis passavam em frente ao bar em que a família degustava a iguaria. Trata-se dos Morales: Morales. Angel, José Manuel e Domingo. Este último elegeu o frango com quiabo e para acompanhar, “a caipirinha brasileira, que é uma delícia!.”

COLUNA DO JAECI » Nosso maior teste na Copa‏

COLUNA DO JAECI » Nosso maior teste na Copa "Se o mundo quer ver uma final Brasil x Argentina, que os deuses da bola conspirem para isso" 
 
Jaeci Carvalho
Estado de Minas: 07/07/2014


 (  Marcelo Del Pozo/Reuters)
O Brasil está nas semifinais. Eu não esperava, pela safra ruim e a falta de padrão de jogo. Mas a Copa é aqui, a camisa pesa e pegamos adversários sem tradição: Croácia, México, Camarões, Chile e Colômbia. Os dois últimos foram a surpresa do Mundial, assim como Costa Rica e Estados Unidos, mostrando que a distância entre grandes e medianos encurta, enquanto os craques somem e a condição física nivela todo mundo. Infelizmente, a técnica perde da parte física, embora quem decida seja o talento. Por falar nisso, todos lamentam a ausência de Neymar (foto), que levou joelhada tão forte que fraturou a terceira vértebra da lombar. Em meio à comoção no país, surgem acusações duras contra o lateral colombiano Zúñiga. Reação tão covarde quanto. Para mim, houve imprudência, não maldade.

Temos de separar muito bem as coisas. Neymar tem talento, mas ainda não o craque que apregoam. Em comparação aos companheiros brasileiros, é um gênio, mas longe de ser um Ronaldo, por exemplo. Se o Fenômeno não estivesse na decisão de 2002 contra a Alemanha, não teríamos conquistado o penta. Mas amanhã, mesmo sem Neymar, podemos vencer se o time produzir mais do que até aqui. Digam-me qual foi o grande jogo de Neymar neste Mundial? Com certeza, citarão contra Croácia e Camarões. Na estreia ele realmente atuou bem. Diante do México, muito marcado, não apareceu. Já frente aos camaroneses, eliminados e desinteressados, se destacou. Contra Chile e Colômbia, marcado em cima, nada produziu.

Claro que seria muito bom ter Neymar amanhã, pela referência que ele é. Desculpem-me discordar da maioria, mas craque formado e vencedor é Messi. O brasileiro tem tudo para chegar lá, quando chegar à idade do argentino: 27 anos. Repito que o Mundial dele será o de 2018, na Rússia. Também acho que ele foi para o clube errado na Europa. Dividir o reinado com Messi é impossível, a não ser que o Barcelona tenha planos de vender o argentino. Já disse que Neymar tem DNA de craque, mas precisa ser lapidado e parar de cair à toa.

Nada disso, porém, justifica sua ausência. Seria muito melhor tê-lo em campo, pois ele exige pelo menos dois jogadores para marcá-lo. Que Neymar se recupere, tenha sorte e volte mais maduro, com dribles e gols como aquele contra o Flamengo na Vila Belmiro, que encantou a todos. Agora é hora de dar força ao substituto e partir para cima da pragmática Alemanha. Que, aliás, tem decepcionado. Todos se encantam com o fato de ter agora um time clássico, de alta técnica, mas até aqui só mostrou forte marcação e pouca criatividade.

Mas os sempre perigosos germânicos já estavam no nosso caminho, como bem disse Felipão, e é preciso arrumar um jeito de superá-los na bola, com gols. Não será fácil, mas chegou o momento de os jogadores dizerem se têm condições de vestir a amarelinha. Será nosso grande teste no Mundial. Os alemães pegaram Portugal e golearam. Os holandeses humilharam a Espanha. Os argentinos também não jogaram contra ninguém de força e terão na Holanda seu maior desafio. Até nisso há coincidência entre os hermanos: os maiores testes serão justamente nas semifinais.

Não dá para apontar favorito. Cada jogo é uma história. Talvez a maior referência seja Holanda 5 x 1 Espanha. Partida que mostrou um timaço, jogadas e gols espetaculares e a melhor exibição da Copa. Amanhã tem tudo para ser outro jogaço, de preferência nossa. Se o mundo quer ver uma final Brasil x Argentina, que os deuses da bola conspirem para isso. Sempre apontei Alemanha e Argentina na finalíssima, mas bem que poderia dar Brasil x Holanda. Esta já merece um título há tempos, mas no Maracanã lotado, contra os anfitriões, seria difícil. Importante é que a Seleção vença e convença, para buscar o tão sonhado hexa e oferecê-lo ao jovem e talentoso Neymar.