sábado, 10 de janeiro de 2015

Tecnologia - Eduardo Almeida Reis

Você pede uma pizza, sinal de que tem mau gosto, porque pizza é comida horrível, e a pizzaria manda um drone levar a encomenda até sua casa


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 10/01/2015




Antemanhã urbana, aves festejando o dealbar na mata vizinha, philosopho philosophando adoidado no leito. Tema: tecnologia. Pausa para explicar que o verbo dealbar, “tornar branco, clarear”, é puro latim, entrou em nosso idioma no ano de 1619 e tem hora e vez num texto caprichado para calar os bocós metidos a ensinar a arte de cronicar, que vivem recomendando palavras simples do conhecimento geral. Besteira. Não existe conhecimento geral. Escrevo para uma faixa de leitores que é ampla e esclarecida. Tem funcionado.

Volto à tecnologia para falar dos drones, veículos aéreos não tripulados, que os brasileiros resolveram chamar de vant (presumo que o plural seja vants). Estão cada vez mais eficientes e baratos. Diversas empresas prometem levar encomendas em drones às casas dos fregueses. Você pede uma pizza, sinal de que tem mau gosto, porque pizza é comida horrível, e a pizzaria manda um drone levar a encomenda até sua casa.

Pizza: iguaria de origem italiana, feita de massa de pão em geral aplainada e recoberta de queijo, tomate e diversos outros ingredientes, e cozida em forno. Atribuo meu último divórcio à pizza encomendada aos domingos. Levada por motoqueiro, é certo, pois BH não contava com os drones para fazer o serviço, mas ainda assim uma pizza. Três ou quatro anos atrás, fui convidado para fazer crônica mensal numa revista de comidas publicada em São Paulo. Pagava muitíssimo bem. No primeiro texto, meti o pau na pizza, fui censurado e informado de que a revista só falava bem de tudo e todos. Desejo que seja feliz.

Um drone barato e fácil de operar já tem condições de levar uma ou duas pistolas, talvez três ou quatro, com a respectiva munição, ao interior de um presídio. Ou três granadas, e drogas, e o mais que o leitor queira imaginar. Deu para sentir o drama? Pistola carregada na mão de um bandido consegue ser pior do que pizza à mesa de um philosopho.

E ele, drone ou vant, é somente um dos muitos avanços tecnológicos a serviço do crime organizado. Sei que é chato, muito chato mesmo, um texto pessimista como esse que você acaba de ler. Peço desculpas.
Escatologia

Aprendi outro dia e já estou repetindo neste espaço: escatologia é a doutrina das coisas que devem acontecer no fim do mundo. Na rubrica teologia é a doutrina que trata do destino final do homem e do mundo, que se pode apresentar em discurso profético ou em contexto apocalíptico.

Assunto chato para ser tratado numa coluna que se quer alegre e otimista. Há outra escatologia, também substantivo feminino, que é “o tratado acerca dos excrementos”. Coprologia é a inclusão de linguagem ou assuntos tidos como obscenos em obras literárias e afins. Excrementos, no meu modesto entendimento de philosopho, na dependência das circunstâncias podem ser obscenos, mas também são consequência de ato fisiológico natural e desejável.

A melhor e mais séria ciência estuda os coprólitos, massas fossilizadas de excrementos, através dos quais identifica fatos importantíssimos da história humana. Excrementos recentes, frescos, recém-saídos do forno, permitem que os filósofos, quando realmente philosophos, philosophem adoidados. Foi o que aconteceu com um philosopho amigo nosso, hoje cedo, assustado com o volume excrementical que ornamentava o interior do trono: “Governo petista!” exclamou em voz alta. Tristes trópicos.

Salários


Muitos comentaristas esportivos se dizem constrangidos de falar dos salários dos nossos técnicos de futebol, mas acabam falando e a gente fica sabendo que o professor Fulano ganha 700 mil reais por mês, vários professores estão na faixa dos 500 mil e o pobre professor Sicrano só recebe 300 mil. Esses números desmentem as pessoas que falam dos salários baixos do nosso magistério, como também desmente os professores que fazem passeatas e greves por melhores salários.

A faixa dos 500 mensais, que reúne diversos professores, representa 285 mil dólares por mês. Duvido que um professor de Harvard ou do MIT ganhe 185 mil dólares mensais e sei que os pós-doutores de um dos mais importantes institutos de pesquisas da Bélgica são aposentados compulsoriamente aos 65 anos com US$ 6 mil por mês, mais ou menos o que uma família gasta para aquecer sua casa no inverno belga.

O mundo é uma bola
10 de janeiro de 49 a.C., Júlio César atravessa o Rubicão, na verdade um riacho, iniciando a guerra civil que opôs suas forças às de Pompeu. A Wikipédia informa que foi neste dia que ele pronunciou a famosa frase: alea jacta est (a sorte está lançada). Claro que o leitor de Tiro&Queda não se conforma com essa cultura wikipédica, porque leu em Plutarco que César pronunciou em grego “Lance-se o dado”, frase do comediógrafo Menandro (342-291 a.C.).

Em 1403, Jean de Bettencourt (1362-1425) recebe dos reis da Espanha o senhorio das Ilhas Canárias, passando a se intitular rei.

Em 1393, Bettencourt casou-se com Jeanne de Fayel, que se queixava do mau tratamento que recebia do marido. Não tiveram filhos, mas o magano fez vários filhos fora do casamento.

Ruminanças
“Não há nada errado com o Congresso em Washington, a não ser o pessoal que lá está” (Booth Tarkington, 1869-1946).