sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Igreja anglicana cria polêmica em permitir bispos gays desde que sejam celibatários‏


  • Membros da Igreja Anglicana do Zimbábue seguram cartazes em que atacam os homossexuaisMembros da Igreja Anglicana do Zimbábue seguram cartazes em que atacam os homossexuais




É ridículo ser um cristão na Inglaterra? Ou, dito de outra forma, será que os anglicanos são cada vez mais objeto de ridículo na terra que consagrou sua denominação como a igreja estatal séculos atrás?
A resposta para a primeira pergunta diz respeito principalmente à fé, ou à religião em que se foi criado, ou talvez ao eterno anseio de decifrar a miríade de enigmas da vida. Mas a segunda é praticamente uma declaração da verdade uma vez que os líderes da igreja nas últimas semanas estiveram envolvidos em contorções doutrinárias sobre gênero e sexualidade, provocando indignação, zombaria e divisão.


A primeira decisão aconteceu em dezembro quando a Igreja da Inglaterra aprovou – com pouca margem e contra o julgamento de seus sacerdotes e bispos – a rejeição da ideia de as mulheres aderirem ao episcopado, apesar de o governador supremo titular da igreja ser uma mulher : a rainha Elizabeth 2ª.


Em janeiro, os próprios bispos deram continuidade a uma decisão que marca uma época admitindo abertamente bispos gays em parcerias civis em sua organização, desde que, ao contrário dos bispos heterossexuais, eles permanecem celibatários.
"Eles podem viver uns com os outros e partilhar as tarefas domésticas e passar a noite juntos jogando Scrabble ou assistindo à caixa de DVDs 'O Vigário de Dibley,''", escreveu o "The Sunday Times" de Londres, referindo-se a uma série de televisão sobre uma mulher vigário. ''Mas em nenhum momento eles podem levantar e fazer qualquer ato libidinoso."


"É inevitável se perguntar como isso pode funcionar", imaginou a colunista Barbara Ellen no "The Observer", listando uma série irreverente de medidas para fazer cumprir o celibato episcopal. "Verificar manchas nos lençóis eclesiásticos?''


Giles Fraser, um padre do sul de Londres, foi tão longe a ponto de perguntar se "padres ou bispos gays ativos têm a responsabilidade moral de dizer a verdade" sobre sua sexualidade. ''Na verdade, acho que não'', ele escreveu no "The Guardian". ''Eu iria mais longe: nesta situação, eles têm a responsabilidade moral de mentir."


Isso pareceu aprofundar o enigma.'


'Quando um padre diz para as pessoas mentirem, você sabe que há algo errado, escreveu Jake Wallis Simons, romancista e jornalista, no "The Daily Telegraph". "Se o Sr. Fraser realmente quer lutar pelos direitos dos homossexuais, ele deveria parar de hesitar e incentivar outros a fazerem o mesmo."


Esses debates não se limitam à Igreja da Inglaterra. Na verdade, devido aos escândalos de abuso sexual que incomodaram a Igreja Católica Romana em particular, não é de surpreender que a visão de fora seja, como observou uma emissora de rádio, de que a igreja é "obcecada por sexo".


A igreja tampouco está completamente sozinho na preocupação com o casamento entre pessoas de mesmo sexo, que tem alimentado debates políticos acalorados e não resolvidos na França e na Grã-Bretanha. No mês passado, o governo do primeiro-ministro David Cameron criou uma fórmula para permitir as uniões entre pessoas do mesmo sexo que pareceu tão complicada quanto a doutrina da Igreja da Inglaterra para os bispos gays.


O governo disse que o casamento entre parceiros do mesmo sexo seria legalizado, mas nenhuma igreja seria obrigada a executar missas de casamento.


Além disso, a Igreja da Inglaterra e a Igreja do País de Gales permaneceriam isentas da legislação proposta, aprofundando a impressão de que a discussão está tão dividida por exceções discriminatórias – entre denominações, entre homens e mulheres, entre homossexuais e heterossexuais – a ponto de ser digna da ridicularização dos colunistas.


Algumas vezes escrevi sobre uma pequena igreja anglicana no norte de Londres que frequento vez ou outra. Nas últimas semanas, as missas e sermões têm variado ao longo da gama sazonal das festas cristãs – Advento, Natal, Epifania. Houve apresentações de coral e peças da Natividade para as crianças, avisos paroquiais sobre arranjos de flores, limpeza da igreja e doações de caridade, e até mesmo um batismo.


Nas missas a que compareci, talvez como o personagem de televisão Basil Fawlty evitando discutir a 2ª Guerra Mundial, ninguém mencionou sexo. Enquanto o sectarismo estimulava derramamento de sangue e o caos no Paquistão e na Irlanda do Norte, essas orações pareciam muito mais recatadas.


Esse contraste entre a modéstia dos fiéis e as questões de gênero e sexualidade que absorvem os líderes da igreja parecem sublinhar a sensação de que a elite anglicana e os fiéis comuns, assim como os Magos bíblicos após a visita ao menino Jesus, foram embora por caminhos diferentes.


Pode-se argumentar que os próprios fiéis estão numa espécie de negação, recitando suas orações por repetição em busca de redenção e afastando-se de temas inspirados pela sociedade em mudança da Inglaterra. Mas ninguém deve negar as estatísticas reveladas no mês passado pelo censo de 2011 para a Inglaterra e País de Gales.


Embora o cristianismo tenha permanecido a religião dominante, a porcentagem da população de 56 milhões que se autodenomina cristã caiu para 59,3% em relação a 71,7% há mais de uma década, enquanto as outras religiões, especialmente o Islã, cresceram. E a proporção de pessoas que não professam nenhuma crença religiosa aumentou de 14,8% para 25,1%.




Milhões de pessoas, em outras palavras, desistiram do cristianismo e abraçaram o ateísmo ou o agnosticismo – certamente uma tendência mais ameaçadora do que o gênero ou a sexualidade de cada um.
   

Carro de boi


Que vontade eu tenho de sair
Num carro de boi ir por aí
Estrada de terra que
Só me leva, só me leva
Nunca mais me traz
Que vontade de não mais voltar
Quantas coisas eu vou conhecer
Pés no chão e os olhos vão
Procurar, onde foi
Que eu me perdi
Num carro de boi ir por aí
Ir numa viagem que só traz
Barro, pedra, pó e nunca mais

Charge

folha de são paulo
charge

Quadrinhos


folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ

Entrevista Marcos Costa [ALSTOM]

folha de são paulo

Parques eólicos leiloados em 2012 correm o risco de se tornar inviáveis
NOVO PRESIDENTE DA ALSTOM, UMA DAS GRANDES FORNECEDORAS DE EQUIPAMENTOS DE ENERGIA, DIZ QUE PREÇOS FICARAM BAIXOS DEMAIS
Silvia Costanti/Valor
Marcos Costa, presidente da Alstom Brasil, que atua em geração e transmissão
Marcos Costa, presidente da Alstom Brasil, que atua em geração e transmissão
ANA ESTELA DE SOUSA PINTOEDITORA DE “MERCADO”Enquanto o governo planeja novos leilões de energia para este ano, os parques eólicos que venceram a disputa em 2012 correm riscos.
Na avaliação do presidente de uma das principais fornecedoras do setor, a tarifa estabelecida é insuficiente para sustentar os projetos.
"Na nossa percepção de quanto custa o equipamento produzido no Brasil, essa tarifa não fecha as contas", diz Marcos Costa, que assumiu no ano passado a presidência da Alstom do Brasil.
Engenheiro eletricista, ele acredita que a opção do país por hidrelétricas fio d'água (sem grandes reservatórios) e mais usinas eólicas (cuja geração, por depender dos ventos, é intermitente) levará a um crescimento no número de térmicas. "Isso gera outro impacto ambiental, que não está sendo levado em conta."
Embora seja a eletricidade o tema do momento, é do transporte que Costa espera as melhores notícias. A Alstom lidera um consórcio que estuda disputar a licitação do trem-bala e vê no fornecimento de VLTs (uma espécie de bonde moderno) o maior potencial de crescimento.
Ironicamente, o mesmo setor foi o responsável nos últimos anos por más notícias: a empresa foi investigada sob suspeita de subornar funcionários públicos para ganhar contratos -entre eles, o do metrô de SP. A Alstom considera o caso encerrado: "Em 22 de novembro de 2011, a Procuradoria-Geral da Suíça concluiu pela ausência do pagamento de propinas".
-
Folha - Como a Alstom, na condição de fornecedora, avaliou o resultado do leilão de energia mais recente?
Marcos Costa - Houve uma demanda reduzidíssima. No caso das eólicas, a oferta foi 28 vezes maior que a demanda. Um desequilíbrio tão grande causa distorções de preço.
Ficou muito baixo?
Extremamente baixo. Não é um preço sustentável. Com esse nível de preço, o setor não vai oferecer a rentabilidade adequada. Para um parque greenfield [um investimento novo, que começa do zero], é uma tarifa absolutamente irreal. O governo pode dizer que é bom pela modicidade tarifária, que o leilão foi um sucesso. É uma forma de ler.
Qual é a contraparte?
O risco é a dificuldade para contratar bens e serviços com preços que deem a taxa de retorno adequado. Se não conseguir, o investidor terá problemas de rentabilidade, de "financiabilidade" do projeto. Não estou dizendo que vai acontecer, mas é o risco.
Na nossa percepção de quanto custa o equipamento produzido no Brasil, essa tarifa não fecha as contas.
Mesmo levando em conta que o custo de capital no Brasil caiu bastante?
Não tem dúvida de que, o custo de capital tendo caído, isso se reflete na tarifa, mas não nesse patamar.
A MP 579 [que mudou regras no setor energético] então não afetou a oferta.
Em termos de apetite de investidores, o leilão sinalizou que eles continuam participando, apesar de todas as incertezas. Mas também não dá para tirar uma conclusão muito abrangente, porque a demanda foi muito pequena.
A falta de demanda agora não prejudica a geração no futuro?
Especificamente neste momento, por causa do volume de térmicas já contratadas, mas principalmente da desaceleração econômica, as distribuidoras estão com um volume de contratação acima do que eles esperavam.
Se o país voltar a crescer, elas farão uma correção nos próximos leilões.
Os grandes apagões recentes mostram que o sistema tem pontos frágeis? Há participação excessiva das térmicas?
A participação de renovável e de térmica hoje é razoavelmente adequada. O problema do sistema é que, quanto mais cresce, mais requer investimento em transmissão, construção de linha, automação e proteção. O próprio ONS diz que falta investimento em volume adequado. Um grande problema é que não se fazem mais usinas com grandes reservatórios.
É uma mudança que veio para ficar?
Esse debate voltou. Em Belo Monte você tem energia média de 4.500 MW, enquanto no projeto original eram 8.000 MW. Perderam-se 3.000 MW para ter menor custo ambiental. Mas será necessário construir outros projetos, termoelétricos ou hidrelétricos, para compensar a perda. Isso gera outro impacto ambiental, que não está sendo levado em conta.
A solução mais adequada, a curto e médio prazo, talvez seja a geração a gás. À medida que tenhamos gás. O que é outra discussão.
Hoje não há gás sobrando para geração de novas térmicas. Pode-se investir em estação de gás natural liquefeito. Carvão no sul do Brasil seria uma alternativa, apesar dos aspectos ambientais. Nuclear é inevitável. Vai voltar a crescer, talvez não hoje, mas daqui a quatro, cinco anos.

    RAIO-X: ALSTOM DO BRASIL
    TEMPO NO PAÍS: 55 anos
    FUNCIONÁRIOS: 5.000
    UNIDADES: 9 em operação, 2 em construção
    FATURAMENTO: R$ 2,6 bilhões
    PRINCIPAIS CONCORRENTES: geração eólica- Voith, Windpower, GE; geração hidro- Voith; geração térmica- GE e Siemens; transmissão- ABB e Siemens; transporte- CAF e Bombardier

      Editoriais FolhaSP

      folha de são paulo

      Volta ao passado
      Incapaz de conter a inflação, governo tenta influenciar os índices com o adiamento dos reajustes de tarifas, expediente típico dos anos 80
      Soam anacrônicos os pedidos do governo federal para que Estados e capitais -como São Paulo e Rio- segurem os aumentos nas tarifas de ônibus, trens e metrô. Teme-se que a concentração de reajustes no início do ano eleve as expectativas de inflação.
      A inovação -a rigor, um retorno ao modus operandi dos anos 80, quando o governo tentava manipular os índices- visa evitar uma alta ainda maior no IPCA do primeiro trimestre. Adiar o problema é, pois, a estratégia do dia. A novela do aumento do preço da gasolina segue o mesmo enredo.
      Maquiagens à parte, o fato é que o Banco Central e o governo têm atiçado o dragão inflacionário.
      Com o pretexto de que outros países adotaram uma política monetária expansiva para superar a estagnação, nossas autoridades parecem se esquecer que na maior parte deles a inflação é baixa.
      Nos EUA e na Europa os índices correm abaixo das metas, em geral de 2% ao ano. Na China se espera uma alta inferior a 4% em 2013.
      No Brasil, contudo, há um dilema: crescimento baixo e inflação alta, perigosamente perto de 6,5% -teto superior do intervalo de tolerância- na maior parte deste ano.
      O BC esteve certo em dar mais peso à fraqueza do crescimento quando iniciou o ciclo de cortes de juros em agosto de 2011, mas de lá para cá não parece se preocupar -nem passar a impressão de que se preocupa- com a piora do quadro inflacionário.
      O perigo maior de descontrole existe quando o setor privado não acredita mais no compromisso com as metas. Tal deterioração tende a ser lenta no início, mas pode ganhar vida própria rapidamente.
      O cenário é preocupante. As expectativas de analistas privados para 2013 superam 5,5%, e os papéis indexados ao IPCA são negociados com inflação perto de 6%. Economistas de vários matizes admitem que o BC já não persegue a meta de 4,5%, mas cerca de 5,5%. Talvez o teto de 6,5% ainda seja uma restrição para a leniência -politicamente, seria custoso para a presidente Dilma Rousseff explicar o estouro do limite superior. Mas quem pode ter hoje essa certeza?
      O problema inflacionário é grave, pois a indexação generalizada persiste e nada foi feito nos últimos anos para mudar esse quadro. Talvez seja cedo para dizer que as metas foram abandonadas, mas as autoridades caminham a passos largos para consolidar essa suspeita.

        EDITORIAIS
        editoriais@uol.com.br
        Armadilhas no Mali
        São preocupantes os desdobramentos da intervenção militar da França no Mali, iniciada há uma semana com a autorização da ONU.
        Um grupo radical islâmico que se diz ligado à rede terrorista Al Qaeda sequestrou 41 estrangeiros na Argélia -país vizinho do Mali que tem dado apoio à ação francesa.
        O episódio é a primeira retaliação islamita à ofensiva da França, e nada sugere que será a última. Dias atrás, um rebelde malinês afirmou que seu país representa uma "armadilha muito pior do que Iraque, Afeganistão ou Somália".
        A operação do Exército da Argélia para resgatar os reféns resultou na morte de um número ainda incerto de pessoas, entre insurgentes e sequestrados. Não há dúvidas de que o desfecho lamentável decorreu da precipitação das forças argelinas, o que não diminui a dificuldade do problema da França.
        O Mali, a exemplo de quase duas dezenas de países da África, era uma colônia francesa até meados do século passado (1960), e os laços históricos pesaram na decisão da França de auxiliar o governo malinês contra os rebeldes. Eventual abstenção poderia ser vista pelos regimes das nações francófonas como um sinal de que não podem mais contar com o apoio de Paris.
        Manter sua influência sobre o oeste da África é crucial para a França. Uma vitória dos insurgentes no Mali, localizado no centro dessa região, poderia desestabilizar países vizinhos com importância material nada desprezível.
        Para citar dois exemplos, o Níger tem algumas das maiores reservas de urânio do mundo, e a Argélia responde por um quarto do gás natural importado pela Europa.
        Além disso, há a ameaça de que um país geograficamente próximo da Europa ocidental caia nas mãos de radicais islâmicos. Os insurgentes no norte do Mali não são mais os nômades tuaregues que, há um século, promovem levantes periódicos. Os rebeldes que agora tentam tomar a capital Bamaco são filiados à Al Qaeda.
        Desde junho, o grupo controla o norte do país com mão de ferro. Seus militantes ganharam espaço após dois eventos do começo do ano passado. Primeiro, os tuaregues venceram algumas batalhas. Depois, militares insatisfeitos com a atuação do Exército malinês promoveram um golpe de Estado.
        O vácuo de poder criado por esse golpe permitiu o fortalecimento dos radicais islâmicos que, mais organizados, suplantaram os tuaregues e assumiram os focos da insurgência. Quando ficou claro que seria difícil para o governo do Mali, ainda em fase de transição, interromper o avanço rebelde, a ONU deu seu aval para a intervenção comandada pela França.
        É difícil prever por quanto tempo o conflito se estenderá. É ainda mais difícil imaginar que termine sem que milhares de pessoas paguem com suas vidas por uma guerra que não escolheram lutar.

          Cientistas investigam vacinas contra Alzheimer

          folha de são paulo

          Possíveis avanços foram anunciados por pesquisadores do Canadá e da Espanha
          RICARDO BONALUME NETODE SÃO PAULODuas equipes de pesquisadores divulgaram quase simultaneamente avanços promissores na busca de uma vacina contra o mal de Alzheimer, doença neurodegenerativa que provoca demência em pessoas idosas.
          As duas descobertas abrem caminho para futuros tratamentos e vacinas contra a doença, possivelmente nos próximos anos, depois de testes em seres humanos. Os dois estudos foram feitos apenas em camundongos.
          Uma equipe internacional liderada por Serge Rivest, da Universidade Laval, de Québec, Canadá, usou um composto para estimular as defesas naturais do cérebro contra a proteína tóxica que está associada ao alzheimer, conhecida como beta-amiloide.
          Já a equipe do espanhol Ramón Cacabelos, do Centro de Pesquisa Biomédica EuroEspes, usou uma combinação da própria beta-amiloide com outras substâncias para produzir um protótipo de vacina, conhecida como EB-101.
          A equipe internacional publicou seus resultados na última edição da revista científica "PNAS"; a equipe espanhola publicou seus resultados no ano passado, na revista "International Journal of Alzheimer's Disease", mas Cacabelos concedeu somente ontem uma entrevista coletiva sobre a vacina.
          Um composto já largamente testado e usado em vacinas pela empresa farmacêutica GlaxoSmithKline foi usado nos testes canadenses.
          Trata-se do monofosforil lipídio A, conhecido pela sigla em inglês MPL, que diminuiu a formação de placas senis e melhorou a cognição dos camundongos, medida por testes em labirintos.
          Rivest e colegas afirmam que, embora a segurança do tratamento com MPL não tenha sido confirmada em humanos, o composto foi administrado a milhares de pessoas como um adjuvante em diferentes vacinas. "O MPL oferece uma grande promessa como tratamento seguro e eficaz dessa doença", disseram.

            Governo regulariza pagamento a bolsistas

            folha de são paulo

            Repasse de ajuda de custos a estudantes no exterior estava atrasado desde setembro
            DE BRASÍLIAA Capes colocou em dia o pagamento da ajuda de custo para bolsistas do programa Ciência sem Fronteiras que estudam em cidades "caras" no exterior.
            O depósito foi comunicado aos alunos nesta semana em e-mail do órgão, vinculado ao Ministério da Educação, e está na conta dos beneficiários.
            Reportagem da Folha publicada na semana passada mostrou que a demora no pagamento do benefício levou a UEL (University of East London) a oferecer "empréstimo de emergência" de 500 libras (R$ 1.631) aos 35 brasileiros matriculados na instituição.
            Além das 416 libras pagas pelo governo, os estudantes deveriam receber 400 libras (R$ 1.305) para despesas com alimentação, transporte e material didático.
            A quantia foi prometida em e-mail enviado pela Capes aos estudantes em agosto, mas até agora o depósito não havia sido feito. Os pagamentos serão retroativos.
            Procurada na ocasião, a Capes informou que a situação seria normalizada até fevereiro. A presidente Dilma Rousseff, no entanto, cobrou uma resposta até o final desta semana. O presidente da Capes destacou a falta de servidores para realizar os pagamentos no exterior.
            Desde a criação do programa, em 2011, o número de bolsistas da Capes no exterior triplicou.

              Painel - Fabio Zambeli [interino]

              folha de são paulo

              Estaca zero
              Fernando Haddad adiou em pelo menos um ano a desapropriação da área para construção do Piritubão, centro de convenções planejado por Gilberto Kassab para a Expo 2020. O decreto que declarava de utilidade pública o terreno venceu no dia 10 sem que se concretizasse a operação, estimada em R$ 680 milhões. Estudos do governo petista concluíram que o texto, de 2008, traria "insegurança técnica". Optou-se pela edição de novo decreto, o que só poderá ser feito em 2014.
              -
              Ampulheta Aliados de Kassab temem que eventual atraso nas obras prejudique a candidatura paulistana à feira mundial, que teria potencial para atrair até 30 milhões de turistas. São Paulo disputa a sede com Esmira (Turquia), Iekaterinburgo (Rússia), Dubai (Emirados Árabes) e Ayutthaya (Tailândia).
              Calendário Integrantes do QG de Haddad dizem que o cronograma do centro de convenções não será comprometido e que o Piritubão está "no horizonte de projetos contemplados pelo prefeito".
              Inimigo... Petistas e peemedebistas enxergam digitais do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), em manobras de apoio a Júlio Delgado (PSB-MG). O socialista é rival de Henrique Alves (PMDB-RN), que tem acordo com o PT, na disputa pela presidência da Câmara.
              ... íntimo Para membros do governo, Chinaglia desejaria fortalecer outro candidato para aumentar as chances de "terceira via", que uniria os dois partidos mais robustos da base governista. "Ele é líder, mas sempre quis voltar à presidência", diz um petista.
              Troco Além de Chinaglia, partidários de Delgado afirmam que Odair Cunha (PT-MG) deu garantia de voto ao colega mineiro. O PMDB foi determinante para derrubar seu relatório na CPI do Cachoeira, que terminou esvaziada no ano passado.
              Viva-voz Em encontro com Antonio Anastasia, Henrique Alves e outros deputados, anteontem, Humberto Souto (PPS-MG) afirmou que só a reforma política estancaria a "roubalheira generalizada" que começa com o financiamento de campanhas. Constrangido, o peemedebista disse discordar do termo usado pelo ex-ministro.
              Tapetão O PSDB protocolará terça-feira no STF ação direta de inconstitucionalidade contra a medida provisória do Orçamento, editada em dezembro. O procedimento, considerado ilegal pela oposição, liberou R$ 42,5 bilhões em créditos extraordinários. A peça orçamentária não passou pelo Congresso.
              Veja bem Michel Temer, que se reunirá em fevereiro com o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, afirma que caberá a Dilma Rousseff a palavra final sobre a reabertura das negociações para interromper o embargo à carne brasileira no país europeu.
              Brinde Cassado pelo Senado após o escândalo Cachoeira, Demóstenes Torres passa seu tempo livre em restaurantes de luxo de Brasília. Anteontem, o ex-senador do DEM foi visto exibindo estojos com dois espumantes franceses e duas taças.
              Sincretismo... Sem Jacques Wagner, o ritual da lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim, em Salvador, atraiu ontem quatro pré-candidatos ao governo. Todos queriam aparecer na foto ao lado da primeira-dama Fátima Mendonça e do novo prefeito ACM Neto (DEM).
              ... do voto Os postulantes à sucessão baiana que aderiram à caminhada religiosa foram Otto Alencar (PSD), vice-governador, Rui Costa (PT), chefe da Casa Civil, Marcelo Nilo (PDT), presidente da Assembleia, e Lídice da Mata (PSB), senadora.
              com ANDRÉIA SADI e DANIELA LIMA
              TIROTEIO
              É sempre recomendável ouvir quem tem 80% de aprovação popular e foi responsável direto pelo maior salto sócio-econômico do país.
              DE JOÃO ANTONIO, secretário paulistano de Relações Governamentais, sobre a reunião de Lula com dez membros da equipe de Fernando Haddad anteontem.
              CONTRAPONTO
              Direito de imagem
              Em seminário do MEC anteontem, o norte-americano Salman Khan destacou o uso de esportistas famosos, como LeBron James, astro do Miami Heat, da liga de basquete NBA, como atrativo para seus vídeos didáticos, campeões de acesso na internet em todo o mundo.
              -Sempre que você for escolher um esporte para falar com estudante brasileiro, escolha o futebol - sugeriu o ministro Aloizio Mercadante (Educação) ao convidado.
              Khan acolheu a ideia e o petista, que torce pelo Santos, logo emendou:
              -Use o Neymar então, que é do meu time!

                Tendências/debates

                folha de são paulo

                FÁBIO GANDOUR
                A falta de mão de obra que assusta o país
                O Brasil precisa adotar disciplina, já aplicada em países desenvolvidos, que ensina como se expressar com a linguagem técnica
                Se antes a riqueza do país era produzida com métodos simples, hoje toda a produção é mais complexa. A exploração do pré-sal ilustra bem essa complexidade, que vai da física em águas profundas à economia da distribuição dos royalties. Nesse cenário, o mercado se assusta com a falta mão de obra!
                Essa constatação tem sido tão recorrente que adquiriu um caráter meio paralisante. Parece que sempre vai faltar profissional para qualquer coisa que se queira fazer. Se a falta é preocupante, mais assustadora ainda é a hipótese de que o suprimento dessa mão de obra só pode ser feito pela educação tradicional, um processo demorado e sem garantia de resultados.
                Outro agravante do mesmo cenário é explicado pela diferença entre o que as empresas querem e o que o mercado oferece. A necessidade é de gente com conhecimentos de ciências mais "duras", como matemática, física, química e biologia, por exemplo, e a oferta que predomina no mercado é de graduados em áreas menos "duras", como economia, administração, direito e ciências sociais.
                Apesar de tudo, essa escassez pode ter uma solução possível, quase milagrosa! Vamos começar notando que a carência predominante não é de doutores e profissionais altamente especializados. Recursos humanos com credencial acadêmica elevada podem ser até pontualmente úteis, mas a maior demanda é de um profissional que saiba ouvir, entender e se comunicar em linguagem técnica, seja ele engenheiro, advogado, economista ou, até, padre!
                A aquisição desse tipo de aptidão pode ser feita através do treinamento em uma matéria escolar incomum no Brasil, chamada "Technical Writing". Acredito que a tradução para o português é tão literal quanto imperfeita: Redação Técnica. "Technical Writing" é uma disciplina que, em certos países desenvolvidos, começa a ser ensinada muito cedo, já no segundo grau.
                A matéria não ensina apenas a escrever coisas técnicas. Ela ensina expressão técnica, oral e escrita. Quem adquire esta capacidade de expressão, de fato, aprende o que observar no mundo ao seu redor e, principalmente, como este mundo deve ser observado.
                Isso é coisa séria. Tão séria que se você fizer uma busca com as palavras "Technical Writing" em qualquer internet da vida, vai levar um susto com o resultado! Há sites, blogs, cursos, empresas e livros, tudo dedicado ao assunto.
                Ao aprender a observar alguma coisa e a descrevê-la para que seja razoavelmente compreendida por outra pessoa, o estudante adquire a habilidade verbal e escrita de comunicar o que viu e entendeu. Do feijãozinho brotando ao teorema de Pitágoras, passando pela diferença entre sunitas e xiitas.
                Agora, se alguém imaginou que Redação Técnica, a qual é melhor chamar de Expressão Técnica Oral e Escrita, serve para escrever manuais pouco úteis como estes que tentam ensinar o uso do novo modelo de celular, bom saber que não é nada disso. A disciplina tem requerimentos próprios. De precisão, de síntese, de clareza e de sintaxe.
                O que os meios de produção precisam com urgência no Brasil é de um monte de gente mais operacional que, mesmo graduada em áreas de ciências menos duras, possa se submeter a um treinamento de Expressão Técnica Oral e Escrita (com letras maiúsculas, como convém ao nome de um curso). E a duração será proporcional à profundidade do conhecimento técnico necessário.
                Com algum esforço, para a criação rápida de docentes dessa nova matéria, ela pode ser oferecida por instituições de ensino já existentes, como universidades, escolas técnicas e o sistema S, os operadores do "quase milagre" necessário.

                  Marina Silva

                  folha de são paulo

                  Além do muro
                  No sábado passado, quando a polícia cercou o prédio do Museu do Índio, que o governo do Rio quer demolir para construir um estacionamento, dois carpinteiros que trabalhavam nas obras do Maracanã pularam o muro e juntaram-se aos índios para ajudá-los a resistir contra a demolição.
                  É claro que foram demitidos depois que voltaram ao trabalho, mas não estavam arrependidos, tinham a tranquilidade de quem agiu de acordo com sua consciência. É uma pena que não vejamos esse apurado senso de justiça na maioria de nossos dirigentes políticos.
                  Os operários do Rio mostraram, ainda, respeito e carinho pelo patrimônio histórico e pela cultura indígena. Um deles disse que sua família era do interior do Ceará, região em que havia muitos índios, e achava que, assim como o Maracanã, o velho prédio do museu deveria também ser restaurado.
                  Essa é uma bela lição, que todos devemos aprender. Também é bela a lição que a sociedade e as organizações civis estão dando, ao exigir que os governos estadual e municipal promovam o debate público sobre as obras da Copa do Mundo, de modo que a cidade seja beneficiada, não apenas as empresas que constroem ou que ocuparão os novos espaços.
                  Uma vitória o movimento já alcançou: a Escola Municipal Friedenreich, considerada uma das melhores da cidade, que também seria demolida, ganhou prazo de ao menos um ano para novas análises e debates sobre seu futuro.
                  Um debate democrático chegará a soluções mais adequadas, em que a escola, que viabiliza o trânsito de crianças e jovens para um futuro melhor, seja considerada mais importante que melhorar o trânsito dos carros, argumento para a maioria dessas obras.
                  Afinal, quem perde com a democracia? A vida no dia a dia, a vizinhança no bairro, a educação das crianças, a cultura e a história -tudo o que constitui a qualidade e as referências simbólicas de nossas vidas não precisa ser soterrado por uma visão de cidade que parece descer do espaço. Hipermoderna, mas sem as marcas e relevos da história de sua diversificada formação, a cidade pode tornar-se artificial, como se fosse reservada ao uso exclusivo de alienígenas.
                  Essas situações acontecem no Rio devido às obras da Copa e da Olimpíada, e, por isso, ganham maior visibilidade. Mas são, também, uma representação do que ocorre cotidianamente em nossas grandes e médias cidades.
                  Ainda bem que temos uma ação da sociedade para defender seus direitos, com a saudável ideia de que "a cidade é nossa". Esse movimento nos chama; é hora de pular o muro e ficar do lado dos índios, das comunidades e do esforço para construir cidades onde a sustentabilidade cultural e social na vida não seja atropelada pela pressa dos grandes eventos.

                    Ruy Castro


                    Um pouco de infertilidade
                    RIO DE JANEIRO - A revista "Human Reproduction", da Universidade de Oxford, na Inglaterra, acaba de publicar uma pesquisa reveladora. Cientistas estudaram 26 mil homens pelos últimos 17 anos e concluíram que o sêmen desses senhores piorou em quantidade e qualidade. A taxa de espermatozoides por mililitro caiu em 32,2% no período (significando bilhões de espermatozoides demissionários). Já a de espermatozoides morfologicamente "anormais" -ou seja, sem cabeça, sem cauda ou que não sabiam nadar- cresceu.
                    Como se não bastasse essa quebra (provocada, segundo eles, por poluição, drogas, junk food, obesidade, estresse e outras pragas modernas), há também os contraceptivos, que podem tornar frustrante a vida de um espermatozoide. Como se sabe, dos milhões de espermatozoides que saem nadando feito loucos numa ejaculação, só um vencerá a prova -apenas para, ao bater a mão no ladrilho, descobrir que foi em vão, porque, se a mulher usar pílula, por exemplo, não haverá um único óvulo na piscina para fecundar.
                    Ou quando os espermatozoides, depois de quebrar todos os recordes no nado de peito, dão de cara com uma parede de látex -a camisinha. Ou ainda, se for um "ato solitário", os infelizes simplesmente cairão no abismo, quase sempre no vaso sanitário, e irão embora com a descarga.
                    Os peritos em fertilidade se preocupam. De minha parte, não vejo nada de muito grave. O mundo já tem gente de sobra, e um pouco de infertilidade garantirá cidades mais confortáveis, filas menores nos restaurantes e menos fãs do padre Marcelo.
                    O inexplicável é que, apesar de tudo isso -espermatozoides meia-bomba, pílula, camisinha-, a população não para de crescer. E, com toda a poluição, drogas, junk food, obesidade e estresse de seus pais, as crianças estão cada vez mais altas, saudáveis e bonitas.
                      folha de são paulo

                    Barbara Gancia

                    folha de são paulo

                    Cadê o espírito esportivo do COB?
                    O fato de o comitê não ver o uso da palavra como homenagem já deveria cheirar a mercantilismo
                    O sr. Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olím­pico brasuca, merece uma medalha. Não bastasse a evolução ocorrida no panorama esportivo nacional ao longo do seu breve mandato (o que são duas decadazinhas no poder, afinal?), ele ainda poder se jactar de uma edição im­pecável dos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007.
                    Não é à toa a enor­me pressão para vê-lo sair candida­to a presidente do país, não? Ué, ninguém nunca pressionou para que ele virasse o Romney tapuia? Como assim?
                    Das piscinas do Complexo Aquá­tico Maria Lenk, como bem sabe­mos, desfrutam todas as crianças provenientes das comunidades pa­cificadas. Passamos a produzir campeões olímpicos aos borbo­tões, a mudança a partir do Pan do Rio foi notável. E a pulverização do autódromo de Jacarepaguá, patri­mônio do esporte nacional, é outra medida merecedora de loas.
                    Pois esta magnífica entidade, que não viu as contas do Pan carioca de 2007 aprovadas pelo TCU até hoje e vive cercada por denúncias, resol­veu nos agradar de novo.
                    O COB está tomando medidas judiciais -veja que beleza!- para prevenir que universidades e associa­ções de pesquisa usem a palavra "o­limpíada" em suas competições educacionais -como Olimpíada de Matemática ou de História. Alega o Comitê Olímpico Brasileiro que o uso das palavras "olimpíada" e "jo­gos olímpicos" é privativo" seu.
                    Do latim "olimpiade" e do grego "olimpiados", genitivo de olímpias, o termo era usado pelos gregos como indicador de unidade de tempo. Foi revertido ao uso moderno em 1896 pelo amigo Coubertin.
                    Ser olímpico, por outro lado, significa pertencer ao Olimpo, ser um deus grego ou, de novo, quando re­vertido ao uso moderno, ser al­guém que compete em Olimpíadas. Há ainda outros três ou quatro usos e formas, uma ligada ao Monte Olimpos da província de Elis e ou­tra ao Monte Olimpos da Tessalô­nica. Mas, calma, o objetivo aqui não é causar um ataque de narco­lépsia para provar o meu ponto.
                    O COB justifica sua atitude gulosa alegando que a exclusividade do uso do termo "olimpíada" tem um "caráter educativo" para não "vin­culá-lo a questões comerciais".
                    O mero fato de o comitê não en­xergar no uso da palavra por enti­dades educativas uma homenagem ou tentativa de emular o espírito olímpico, que deveria ser jogar lim­po e não meter dinheiro no meio da história, já deveria cheirar a mer­cantilismo arregaçado.
                    Quem é que está tentando garan­tir todas as vantagens para si da for­ma mais ganaciosa possível? Onde estão a camaradagem, a tolerância, a ética, a nobreza que o esporte re­quer e todas as qualidades mais ca­ras à formação do indivíduo? Cadê a parte educativa nesse gesto grosseiro e tão típico da perda de valores dos tempos atuais que está sendo perpetrado pelo COB?
                    Ou será que... Peraí... Será que es­tamos diante de um novo "Corte de cabelo do Ronaldo"?
                    Na Copa do Japão, para desviar o foco do seu desempenho, Ronalducho apareceu em campo com um novo corte de cabelo, e todas as lentes e flashes se concentraram no seu cocuruto. A partir daquele momento, ninguém mais falava de jo­go, só do corte "Cascão" do Ronaldo. Objetivo alcançado.
                    Se for essa a manobra que o COB está tentando (não duvido de mais nada) ao querer se apropriar da pa­lavra "olimpíada", eu também exijo tomar posse de alguns termos. Quero para mim, desde já "orça­mento quadruplicado", "equipa­mentos inutilizados" e "denúncias de superfaturamento". Bora alugar a orelha do juiz!

                      Quanto vale ou é por quilo?


                      folha de são paulo
                      Abismo entre investimento público e número de espectadores marca cinema do país em 2012
                      MATHEUS MAGENTARODRIGO SALEMDE SÃO PAULOOs cofres públicos do Brasil devem financiar filmes comerciais, que faturam alto na bilheteria, ou obras mais autorais, que sofrem para conseguir verba de produção e espaço em salas de cinema?
                      Levantamento feito pela Folha a partir dos dados divulgados pela Ancine (Agência Nacional do Cinema) sobre o mercado de cinema em 2012 demonstra o abismo existente entre a verba pública investida em um filme e seu número de espectadores.
                      O documentário "Expedicionários", de Otavio Cury, recebeu R$ 341 mil dos cofres públicos e foi visto por 104 pessoas nas salas de cinema. Ou seja, o filme obteve R$ 546 em bilheteria -e a verba pública investida corresponde a R$ 3.286 por espectador.
                      "As pessoas gostam dos filmes. Mas quase não há espaço para exibi-los. Não deixo de brigar para que eles sejam vistos também no circuito alternativo, que não entra nos dados da Ancine", diz Cury, também diretor de "Constantino", outro dos dez filmes nacionais menos vistos em 2012.
                      Por outro lado, "Até que a Sorte nos Separe", campeão nacional de bilheteria, recebeu ao menos R$ 2,7 milhões dos cofres públicos e foi visto por 3,3 milhões de pessoas (R$ 0,82 por espectador).
                      Fabiano Gullane, um dos produtores do longa que arrecadou R$ 33,8 milhões, diz que o sucesso de público gerou "muito mais" dinheiro em impostos do que os recursos públicos investidos.
                      "É um bolo dividido em muitas rendas, que são reinvestidas em outras produções. O problema do cinema nacional é o número reduzido de salas, o que dificulta o encontro com o público."
                      Hoje há 2.515 salas de cinema no país, segundo dados da Ancine -em 1975, eram quase 3.300 salas. Parte dos cineastas brasileiros reclama de preconceito por parte de distribuidores e exibidores.
                      "Quando há potencial, o exibidor dá espaço e o filme fica em cartaz", rebate Paulo Lui, presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas.
                      Mas até filmes com um tom mais comercial naufragaram em 2012. A comédia"A Novela das 8", por exemplo, captou R$ 3 milhões em dinheiro público e foi assistida nos cinemas por 5.147 pessoas (R$ 582 por espectador).
                      "Vários fatores contribuíram para números tão pequenos. Poucas cópias, nenhum marketing e a estreia próxima a dois blockbusters", justifica o diretor Odilon Rocha.
                      Bruno Wainer, que dirige a distribuidora e produtora Downtown, responsável por seis das dez maiores bilheterias nacionais de 2012, critica os filmes que não são vistos nos cinemas nem vão a festivais.
                      "Há cineastas que dirigem dois ou três filmes que não fazem sucesso e que não são relevantes, mas eles continuam a receber dinheiro [público] para produzir", diz Wainer.
                      De 2011 para 2012, houve queda no número de títulos (de 99 para 83) e de público (17,8 milhões para 15,5 milhões) nos filmes nacionais.
                      Com o sucesso das comédias, a participação nacional na bilheteria passou de 5,8%, no primeiro trimestre, para 22,7%, no último trimestre.
                      Para 2013, as principais apostas são "O Tempo e o Vento", de Jayme Monjardim, e uma sequência de "Até que a Sorte nos Separe".

                        O PROBLEMA É A DISTRIBUIÇÃO
                        Público brasileiro não tem sequer a chance de ver os filmes nacionais
                        SARA SILVEIRAESPECIAL PARA A FOLHAQuando o Carlão [Carlos Reichenbach, cineasta morto no ano passado] me chamou nos anos 1990 para criar uma produtora, perguntei se iríamos ganhar dinheiro com nosso filmes. "Dinheiro eu não sei, mas corremos o risco de entrar para a história", ele me respondeu.
                        Com ele aprendi a importância do dito cinema autoral, que é parte importante da cultura do país e não consegue se manter financeiramente. A alternativa é buscar recursos públicos, que devem ser distribuídos a todos, seja o filme comercial ou autoral.
                        Mas hoje o grande problema do cinema nacional é que é impossível brigar por espaço com a indústria cinematográfica dos Estados Unidos.
                        É injusto, portanto, analisar o resultado de um filme apenas com base no número de espectadores nos cinemas.
                        Como a maioria das salas está ocupada pela produção estrangeira, o público brasileiro não tem sequer a oportunidade de ver os filmes nacionais para conseguir avaliar se eles são bons ou ruins.
                        Não há grandes problemas de produção, mas gargalos na distribuição e na exibição.
                        A maioria dos espectadores acaba só tendo contato com essas obras em outros formatos, como TV e DVD, ou no circuito alternativo da Programadora Brasil, que conta com 1.625 pontos de exibição em 850 municípios e um acervo de quase mil obras.
                          O PROBLEMA É A PRODUÇÃO

                        Distante do seu potencial, cinema nacional é pouco competitivo hoje
                        CARLOS AUGUSTO CALILESPECIAL PARA A FOLHADados da Ancine demonstram que o ano de 2012 foi positivo para o cinema no país. A renda bruta cresceu 12% em relação a 2011 e atingiu R$ 1,6 bilhão. Houve aumento de salas para o lançamento de filmes brasileiros (10%).
                        Desbancando as majors, a distribuidora que mais faturou em 2012 foi a Paris Filmes, conglomerado nacional que atua igualmente na exibição.
                        No entanto, 2012 foi perdido para o cinema brasileiro. O que deu errado?
                        Sua fatia em renda no mercado recuou de 11% para 10%. Essa cifra, já em si mesma modesta, está longe do potencial demonstrado em 2003, quando a fatia nacional foi de 22%.
                        Há uma demanda reprimida por obra audiovisual brasileira: o sucesso de "Tropa de Elite 2" e "Avenida Brasil" são prova eloquente disso.
                        Nossa abundante produção cinematográfica é pouco competitiva, entre si e entre os estrangeiros, consequência do modelo de produção vigente. A produção consagrada pelo público, a das comédias vulgares, é desprezada pela crítica, que a apelidou de "neochanchada".
                        Repete-se o fenômeno dos anos 1950, em que a chanchada tinha público cativo, enquanto era abominada pelos jornalistas e intelectuais.
                        Desde a estabilização da moeda, o público no Brasil é basicamente composto pela classe média. O segredo está em falar a sua língua.

                          Mônica Bergamo

                          FOLHA DE SÃO PAULO

                          VOO ATRASADO
                          A Webjet ganhou ação movida por um cliente que chegou ao aeroporto 35 minutos antes de seu voo e foi proibido de embarcar. O passageiro pedia na Justiça o ressarcimento dos R$ 80 que teve de pagar para remarcar o trecho. Uma das alegações era de que, no mesmo dia, seu voo de volta pela mesma companhia atrasou 43 minutos.
                          VOO ATRASADO 2
                          A decisão do Juizado Especial Cível (Pequenas Causas) diz que "não é razoável a aplicação dos mesmos critérios com relação a atrasos para as partes. O consumidor deve chegar com antecedência porque há várias etapas para o embarque".
                          VOO ATRASADO 3
                          O juizado considera que, para a empresa, há "fatores externos, como tráfego aéreo e condições climáticas, que têm relação com o horário da decolagem".
                          LÍNGUA DO PÊ
                          O vereador Marquito (PTB-SP), assistente de palco do "Programa do Ratinho", foi aconselhado pelo presidente estadual do partido, Campos Machado, a não deixar a TV enquanto exerce mandato. Campos, "guru" do político novato, brinca: "Palhaço e político, é tudo com P".
                          É SHOW
                          Marquito ainda está à disposição para fazer shows em SP. Cobra cerca de R$ 5.000.
                          NA TELINHA
                          Já Netinho, secretário municipal da Igualdade Racial, faz shows esporádicos e pretende lançar DVD em 2014.
                          SINAL VERMELHO
                          Restrições ambientais podem levar 9,2% dos empresários a desistir de investimentos em 2013, segundo pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Em 2012, a dificuldade para obter licenciamento ambiental era apontada como obstáculo por 7,5% dos entrevistados. Para 76% deles, a legislação é muito burocrática.
                          PASTEL DA MADRUGA
                          O Mercadão de SP ficará aberto na madrugada do dia 24 para o dia 25, como parte das comemorações de seus 80 anos. Haverá queimas de fogos, shows e a participação da bateria da X-9 Paulistana.
                          TUDO O QUE RELUZ
                          As consultoras de moda Costanza Pascolato e Ucha Meirelles foram ao hotel Fasano para o lançamento de coleção de acessórios da grife Francesca Romana Diana. A stylist Giovana Refatti também estavam no evento, na tarde de anteontem.
                          VIRADA À PAULISTA
                          A sétima Virada Cultural Paulista acontecerá nos dias 25 e 26 de maio. As cidades interessadas em sediar o evento conversarão com a Secretaria de Estado da Cultura nas próximas semanas -no ano passado, 27 municípios participaram.
                          O RATO ROEU
                          Agentes da Covisa (Coordenação da Vigilância em Saúde) foram ao prédio do novo escritório do Google, na av. Faria Lima, para vistoriar possível infestação de ratos. Barrados por seguranças, passaram "orientações de manejo ambiental" para evitar foco de roedores e aplicaram "tratamento químico preventivo" em bueiros.
                          2222 DE MUDANÇA
                          O camarote Expresso 2222, em Salvador, de Gilberto e Flora Gil, que completa 15 anos neste Carnaval, terá que encontrar novo espaço em 2014. O imóvel ocupado há três anos na avenida Oceânica dará lugar a um prédio.
                          AS FILHAS DE GIL
                          E o espaço VIP baiano deste ano contará novamente com o projeto Varanda Elétrica, que anima os convidados e os foliões na rua. Duas filhas de Gil se apresentarão: Preta, na sexta e no sábado, e Nara, com o grupo Afro Bailão, na segunda e na terça.
                          CURTO-CIRCUITO
                          Paulo von Poser ministra oficina de desenho na exposição "Mundo Cão", em cartaz na Biblioteca Mário de Andrade, no sábado.
                          O grupo Mão de Oito se apresenta hoje no Centro Cultural Rio Verde, às 22h. Classificação: 18 anos.
                          O Secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Giovanni Cerri, visita hoje a associação Cruz Verde.
                          Flávio Renegado convida Bebel Gilberto para show hoje, no Sesc Pinheiros, a partir das 21h. 12 anos.
                          A peça "Ensaio" abre temporada hoje no teatro Geo, em Pinheiros. 14 anos.
                          A Bebê Mix inaugurou a loja www.bebemix.com.br.
                          Djavan lança o álbum "Rua dos Amores" no Credicard Hall, em março.

                            José Simão

                            FOLHA DE SÃO PAULO

                            Chuva! Hoje vou de correnteza!
                            Continuo com o humor negro de direita: a Venezuela é governada por um morto. Cuba, pelo irmão do morto!
                            Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Sudeste vira Chuveste! Chuveste Stallone! É cada pancada!
                            E o novo meio de transporte: correnteza! Isso! Aí você pergunta pro vizinho: "De que você vai pro trabalho hoje?". "De correnteza!" "Mas não vai se molhar todo?" "Não, eu vou em cima dum saco de lixo." Rarará! Você pega uma correnteza na Rebouças e desce até a Marginal!
                            E em São Paulo chove tanto que não tem mais malabarista de farol, tem aqualouco. Aqualouco de farol!
                            E esta piada pronta: "Vistoria em escolas após forte chuvas em Itapecerica, diz prefeito Chuvisco".
                            E rodízio agora é assim: dias pares, botes e jangadas. Dias ímpares, banana boat e jet ski! E eu já tô ficando com cara de ácaro!
                            E o Congresso? Adorei a charge do Jorge Braga: "Sai Sarney e entra Renan, isso que é RENANVAÇÃO!". E o deputado Jean Wyllys afirma que 60% dos deputados contratam prostitutas. E quantos por cento são filhos delas? Rarará!
                            E esta: "Lula se reúne com equipe de Haddad e dá diretrizes". E a TV Vale Tudo mostra o que o Lula falou pro Haddad na reunião: "Guenta aí, companheiro, agora não. Depois eu te libero pro xixi!". Rarará!
                            O Lula parece aqueles aposentados que não têm o que fazer: aluga gerente de banco, interrompe reunião de trabalho do genro e fica enchendo o saco da faxineira! O Piauí Herald diz que ele tá indo pra Cuba pra tratar da memória! Rarará!
                            E continuo com o humor negro de direita: a Venezuela é governada por um morto. Cuba, pelo irmão do morto! Argentina, pela mulher do morto! A Cristina Kirchner é a Viúva Porcina! E a Coreia do Norte, pelo filho do morto! Rarará!
                            E o Brasil, pela sucessora de um que se faz de morto! UFA! Tô morto!
                            E um amigo me disse que Cuba agora é a terra dos Walking Deads! Rarará!
                            E de Salve Jorge só quero saber quem vai ficar com o cavalo no final! É mole? É mole, mas sobe!
                            O Brasil é Lúdico! Olha essa placa num mercadinho em São Paulo: "Colchas King Sais".
                            E mais esta numa padaria em Curitiba: "Croação de chocolate". Adorei! Abaixo os estrangeirismos. Viva o Brasil! Viva o Saci! Rarará!
                            Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!
                            Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

                            Michel Laub

                            FOLHA DE SÃO PAULO

                            Spike Lee, Tarantino e racismo
                            Como quase sempre nesse tipo de briga, há um tanto de oportunismo e autopromoção
                            Linguagem é poder, como sabem economistas, advogados, marqueteiros e qualquer um que use jargão para demonstrar autoridade. Logo, é também política: uma guerra começa a ser ganha quando um indivíduo é chamado de "militante" em vez de "terrorista", e vice-versa.
                            Spike Lee sempre teve consciência disso, e não por acaso se fixou num termo pejorativo -"nigger"- para atacar diálogos escritos por Quentin Tarantino nos anos 1990.
                            A controvérsia foi citada num ótimo filme do cineasta negro, "Bamboozled" (2000), que fala de um executivo de TV cujo emprego é salvo por um seriado racista.
                            Há algumas semanas, Lee voltou à carga, a pretexto de "Django Livre". O filme, que estreia hoje no Brasil, é mais uma paródia tarantinesca cheia de sangue e glória pop, desta vez usando referências do faroeste italiano para acompanhar um ex-escravo (Jamie Foxx) nos Estados Unidos de 1858. Como quase sempre nesse tipo de briga, há um tanto de oportunismo e autopromoção. Mas é interessante perceber o que está sendo de fato discutido.
                            Em termos históricos, é um processo que passa pela consolidação do chamado politicamente correto.
                            Em seu aspecto virtuoso, que veio na esteira da luta americana pelos direitos civis na década de 1960, o movimento devolveu a minorias a prerrogativa de narrar a própria história, com timbre, gramática, referências e valores não aceitos anteriormente. A questão está no centro de "Bamboozled", que atualiza e ironiza estereótipos de brancos sobre negros, negros sobre brancos, brancos sobre brancos e negros sobre negros.
                            Spike Lee trata o assunto de modo engenhoso. Entre piadas com crack, potência sexual, roubo de galinheiro e um grupo musical chamado Macacos do Alabama, as boas intenções do espectador são testadas até o limite do constrangimento. Quando os esquetes que imitam "minstrel shows" e seriados do tipo "Pai Tomás" começam a soar engraçados, é o desconforto de se perceber parte da engrenagem cultural do racismo que dá à trama um caráter subversivo. Ao final, a crueza de um universo é exposta nas entrelinhas de uma sátira algo histérica, registro que não chega a ser estranho à obra de Tarantino.
                            É então que surge o problema: Lee define a escravidão americana como "holocausto", e qualquer brincadeira de gênero a respeito -como a que faz "Django Livre"- para ele seria uma ofensa. Por lógica, dá para perguntar qual é a diferença entre negros se chamando pelo termo proibido em "Bamboozled", o que fazem o tempo todo (calça é "nigga jeans", melancia é "nigger apple"), e Leonardo DiCaprio fazendo o mesmo enquanto dirige uma fazenda brutal no Mississipi.
                            Como representar a violência real e simbólica, ativa ou incorporada, da qual fazem parte o chicote e a linguagem depreciativa, sem que tais elementos apareçam em cena?
                            O discurso de Lee, que confessou não ter visto e nem ter vontade de ver "Django Livre", é sintomático em vários sentidos. O mais óbvio não é só estético: uma das características da arte, que é forçar limites temáticos e formais para enfrentar tabus de sua época, não seria possível num mundo em que um holocausto só pudesse ser tratado com solenidade literal.
                            "Bastardos Inglórios", espécie de faroeste de Tarantino sobre a Segunda Guerra e o nazismo, com sua celebração anárquica da vingança e baixo índice de fidelidade histórica, seria um caso de grande obra impedida de vir à luz nesse contexto.
                            Indo além: se "Django Livre" está interditado na esfera das ideias válidas, ao contrário de "Bamboozled", e isso nada tem a ver com tom, enfoque e resultado final de ambos, a diferença só pode ser explicada a partir da pessoa que os dirige. Das características que compõem a autoridade de ser, digamos, e não de fazer ou de pensar. Não é preciso muita esperteza para perceber onde termina um argumento assim.
                            Uma das intenções do politicamente correto, que incentivou a tolerância tanto quanto algum excesso e muito de folclore, é mudar a realidade por meio do instrumento que temos para expressá-la. Só que a linguagem também tem limites.
                            O racismo, por exemplo, sobrevive sem precisar se declarar como tal. Duas linhas da pregação de Spike Lee, e isso se revela claro como às vezes podem ser as trevas.

                              Zacarias carinho - Ana Clara Brant‏


                              Trapalhão mais ingênuo e querido pelas crianças completaria hoje 79 anos. Família quer tirar do papel memorial em Sete Lagoas, dedicado ao artista, que foi também ator dramático 

                              Ana Clara Brant
                              Estado de Minas: 18/01/2013 
                              A prima Mariza da Conceição, as irmãs do artista, Marly e Wilma, e a amiga e "ex-namorada" de Zaca, Mara de Souza Lopes
                              Janeiro de 1990. A aposentada Wilma Faccio Gonçalves Guiscem estava em casa, em Sete Lagoas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, quando recebeu o telefonema do irmão Mauro, que morava no Rio: “Minha irmã, vamos passar nosso aniversário juntos, já que o meu é dia 18 e o seu 19. Pode comprar o bolo que eu pago”, brincou. A festa reuniu toda o clã Faccio Gonçalves, incluindo os 11 irmãos e a matriarca, dona Virgínia. “Foi um encontro bem animado e a última vez que o vi com vida”, lembra Wilma, hoje com 75 anos. 

                              Mauro Faccio Gonçalves era o mais velho dos irmãos e se estivesse vivo estaria completando hoje 79 anos. Para quem não conseguiu identificar pelo nome, o primogênito dos Gonçalves ficou conhecido como o eterno trapalhão Zacarias, ou Zacaria, como gostava de ser chamado. Já pensando nas comemorações dos 80 anos do ator, locutor e humorista mineiro, no ano que vem, a família, os amigos e a Prefeitura de Sete Lagoas, onde ele nasceu, começam a se mobilizar para não deixar a data passar em branco.

                              “Desde que ele morreu, há 23 anos, prometem várias coisas, como museu e comenda Zacarias. Mas as coisas nunca saíram do papel. Tem muito pouca coisa na cidade. A gente ainda espera algum reconhecimento, porque ele merece”, defende outra irmã, Marly Faccio Gonçalves Diniz, de 68 anos.

                              A nova administração do município, que assumiu há 20 dias, revela que uma das propostas para a área cultural é o tão sonhado Memorial Zacarias. O secretário de Cultura de Sete Lagoas, Márcio Vicente, conta que apesar de ainda não ter definido nada com os familiares, a intenção é concluir o projeto. “O Zacarias é o embaixador da cidade até hoje. Temos o desejo de fazer um memorial à altura dele e da cultura brasileira. É um compromisso não só da prefeitura, mas de toda a sociedade sete-lagoana. Acho que devemos isso a ele”, defende.

                              Márcio diz que há alguns anos chegou-se a esboçar uma planta para a iniciativa, mas que não foi para a frente e que entre as propostas em estudo estão a criação de um festival de cinema ou teatro homenageando Mauro e a confecção de uma nova placa para ser instalada no anfiteatro (a placa original foi roubada) que leva o nome do artista. O espaço foi inaugurado em 1988, com a presença de Zacarias, e fica localizado no Centro Cultural Nhô-Quim Drumond, conhecido como Casarão.

                              É lá também que funciona o memorial improvisado de Zacarias. Numa pequena sala está uma parte do acervo do artista, doada pela família e pela TV Globo, com roupas de uso particular e cênico, retratos, reportagens, discos, as certidões de nascimento e de óbito e até as famosas perucas do personagem. “Ainda temos mais coisas guardadas, mas não cabem aqui. Essa sala não é o espaço ideal, mas é para que a imagem dele não seja esquecida. As pessoas ainda têm um grande carinho pelo Mauro. Os pais costumam trazer seus filhos para que lembrem um pouco do ídolo da infância. Apesar de ele não ser a celebridade de Sete Lagoas mais em evidência no momento, como a Paula Fernandes ou o Franck Caldeira, o Zacarias é inesquecível”, afirma o diretor do Casarão, Leandro Lupiano.

                              SAIBA MAIS

                              Mauro Faccio Gonçalves


                              Mauro Faccio Gonçalves, o Zacarias, nasceu em Sete Lagoas em 18 de janeiro de 1934 e foi ator, comediante, humorista e locutor de rádio. Chegou a trabalhar como vendedor de sapatos e numa fábrica de café. Começou a carreira no rádio em 1954, na Rádio Cultura de Sete Lagoas, no humorístico Em Babozal é assim. Em 1957, mudou-se para Belo Horizonte para estudar arquitetura, mas não concluiu o curso. Foi trabalhar na Rádio Inconfidência e TV Itacolomi, quando foi descoberto pelo diretor Wilton Franco, do Rio, que o convidou para ir para a TV Excelsior em 1963. Apesar da timidez – que inicialmente o impedia de trabalhar na televisão –, Mauro estreou em programa de calouros, em que criou cinco personagens, incluindo o garçom Moranguinho. Também fez parte do elenco de A Praça da Alegria, com o personagem Caticó, e em 1974 foi chamado para integrar Os Trapalhões, a convite de Renato Aragão. Mauro morreu em 18 de março de 1990, aos 56 anos, de insuficiência respiratória em consequência de infecção pulmonar. Foi casado com a atriz Selma Lopes e deixou uma filha (que na verdade era filha de Selma e foi registrada por ele) e três netos.
                              Com pinta de galã 


                              Retrato de Mauro Faccio Gonçalves no início da carreira
                              Realmente muita gente não se esquece do trapalhão, cantado até em Jeito de corpo, de Caetano Veloso: “Sou Zacarias carinho, pássaro no ninho”. A prima e amiga Mariza da Conceição Pereira, de 72 anos, é uma dos que mais lutam pela preservação da memória de Zaca. Ela guarda gratas recordações de Bidu, como era conhecido entre os parentes e amigos mais próximos. Chegou a contracenar com ele em vários espetáculos e ressalta a generosidade de Mauro. “Mesmo criança, quando ele fazia seus teatrinhos, ele cobrava ingresso, mas só para poder doar aos pobres. E mesmo famoso continuou com essa prática”, recorda. 

                              Outra que o conheceu nos palcos e na intimidade é a comerciante e atriz aposentada Mara de Souza Lopes, de 83 anos. A simpática senhora é apontada pelas irmãs e pela prima como um dos namoricos do comediante. Ela não nega nem confirma. “A gente era muito novo e ele queria ir para o Rio de Janeiro e eu queria continuar minha vida em Sete Lagoas. Mas ele sempre foi atencioso. Numa das últimas vezes em   que estive com ele, eu e meus filhos o convidamos para tomar café conosco em Sete Lagoas. Ele foi e relembramos um monte de histórias. O Mauro era uma pessoa de um espírito muito profundo”, filosofa.

                              Mara não esquece a primeira vez que o viu em cena. Ela e os demais integrantes do grupo de teatro amador se impressionaram tanto com a performance de Mauro Gonçalves que o convidaram para atuar com eles. “Ele foi muito bonito na juventude, era galã e tinha uma veia dramática fantástica. Muita gente está acostumada a vê-lo na comédia e não imagina seu talento para o drama. É uma pena que ele não teve mais oportunidade para mostrar esse lado. Sem falar que fazia cenários, maquiava. Era polivalente e sempre nos surpreendia”, salienta.

                              Quem via Zacarias em cena com seu jeito de palhaço não tem ideia de como era Mauro na intimidade. Tímido, reservado e sério, costumava brincar só com os conhecidos e a família. “Ele se transformava completamente no palco. O interessante é que desde menino já gostava dessa coisa de artista. Lá em casa, pegava as roupas da minha mãe e ficava imitando, interpretando. E olhe que na nossa família não tinha ninguém que mexia com isso. Era talento mesmo. Ele nasceu com esse dom”, acredita a irmã Marly, que guarda uma pasta com reportagens e recortes sobre irmão, feita pela mãe, dona Virgínia, que morreu 10 anos depois do filho mais velho.

                              Os Trapalhões no reino da academia 

                              No meio artístico e até entre os fãs de Os Trapalhões havia uma máxima que dizia que Didi e Dedé eram os palhaços; Mussum o humorista; e Zacarias o ator. O diretor e ator paulista André Carrico está concluindo doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em que analisa a comicidade d’Os Trapalhões. Para Carrico, Zacarias é o personagem mais bem construído do quarteto, justamente pela formação no rádio, teatro e televisão do ator. “O Zaca reúne vários personagens que o Mauro fez ao longo da carreira e é uma consolidação de todos os tipos que ele criou, inclusive aquela risadinha inconfundível, que já se fazia presente nos tempos de teatro em Sete Lagoas”, conta o pesquisador. A figura criada por Mauro Gonçalves conseguiu identificação muito grande, especialmente com as crianças, justamente pelo jeito ingênuo. “Ele tem um arquétipo feminino; é um personagem mais delicado, o vestir-se de mulher sempre cabe a ele. O outros são mais mulherengos. Mas ao mesmo tempo, o Zacarias não é um personagem gay, ele fica no limiar”, explica. André Carrico, que na semana passada esteve em Sete Lagoas entrevistando amigos, conhecidos e familiares do artista, lamentou o fato de a cidade não ter referências ao seu filho ilustre e espera que sua memória seja mais bem preservada. “Confesso que esperava mais, mas isso é um problema cultural no Brasil. Infelizmente não valorizamos nossa história e nossa cultura”, avalia.

                              ENQUANTO ISSO...
                              ... Mussum está bombando

                              Se família e amigos tentam trazer à tona a figura de Zacarias, o trapalhão mais lembrado, nas redes sociais é Mussum. Seus bordões e suas caras e bocas são citados a todo momento no Facebook, Twitter e afins. O Usain Boltis, Homem de Ferris, Steve Jobis, Crepusculis e até Neymaris são algumas das adaptações e homenagens ao trapalhão mais escrachado e mulherengo.