sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Fúria poética renovada - Por Simon Schama

Por Simon Schama | Do Financial Times

Valor Econômico 21/02/2014



Durante a entrevista, Patti Smith revisita sua galeria de heróis: William Burroughs, Allen Ginsberg e Bob Dylan, além de seu modelo de perfeição de longa data, Arthur Rimbaud



É seguro dizer que a poeta, cantora e musicista americana Patti Smith era a única pessoa de Greenwich Village, em Nova York, que sabia que a data da nossa entrevista (6 de janeiro) era também o dia do aniversário de Joana d'Arc. Uma imagem da estátua dourada de Emmanuel Fremiet na Place des Pyramides, em Paris, com a heroína encouraçada erguendo a flor de lis, aparece em seu volume de fotos branco e preto. Há muita coisa na poesia e na música de Patti Smith que sugere uma afinidade com a Donzela de Orléans: também uma guerreira, possuída por visões e sintonizada com a música dos anjos.

Foi por meio da necessidade premente de exprimir poesia de maneira sonora, em vez de mantê-la recatadamente na folha de papel, que Patti se tornou cantora. De qualquer maneira, as palavras são o que mais importa. Quem duvidar de que Patti Smith tem méritos como escritora vigorosa deveria abrir "Só Garotos" (Companhia das Letras, tradução de Alexandre Barbosa de Souza), a história de sua amizade amorosa com o artista Robert Mapplethorpe na virada dos anos 1960 para 1970, antes de qualquer um dos dois ser famoso. Qualquer parágrafo dirá aos céticos que os jurados do National Book Awards não estavam lhe dando o prêmio por simples surpresa de que uma roqueira tinha capacidade de formar uma frase extraordinária.

Um dia antes de sua morte, Mapplethorpe (1946-1989) lhe pediu que escrevesse a história deles, e ela dissera que faria isso. Mas, sem nenhuma experiência em escrever uma obra tão extensa quanto um livro, ela precisou de 20 anos de imersão e emersão em suas provações e tragédias para finalizá-lo. "Foi difícil porque eu queria escrever um livro que tivesse substância verdadeira para o leitor habitual, mas também recebesse bem o não leitor", diz ela - especialmente porque Mapplethorpe nunca foi muito de ler.

O resultado não é só a maturidade como um relato profundamente comovente marcado por amargo autoconhecimento; perspicaz, nada sentimental, mas carinhoso. "A gente ria das nossas pobres personalidades, dizendo que eu era uma menina má que tentava ser boa e que ele era um rapaz bom tentando ser mau. Ao longo dos anos esses papéis seriam trocados, depois trocados de novo até que viemos a aceitar a natureza dupla de cada um de nós. Contínhamos princípios antagônicos, claros e escuros."


É necessário se acostumar com o benevolente humanismo e a empolgação infantil pela vida que é parte do seu modo de ser

O banco de lembranças de Patti é um armário de suvenires, cada objeto captando um momento ou lugar. "Algumas ajudam a gente, algumas são mágicas", diz. Uma série deles aparece em "Dream of Life" (2008), o documentário de Steve Sebring: o vestido de infância preferido; o tamborim de pele de cabra feito por Mapplethorpe para o 21º aniversário dela. Ela também se lembra com exatidão das palavras trocadas entre ela e seu companheiro. Diz que isso se deve ao fato de Mapplethorpe não apenas não ler muito como também não falar muito. "Ele era um ouvinte. Quando ele falava, tinha o que dizer... Quando terminávamos uma obra de arte, não estava interessado em nenhum tipo de análise espacial ou coisa do tipo. Era apenas 'está bom ou não?'." Quando desenhava e estava indo bem, dizia a Patti que estava "de mãos dadas com Deus".

Se o comentário de Mapplethorpe soa um pouco como William Blake, não é por acaso. Atualmente Patti está cheia de literatura. Mesmo a alegre "April Fool", com seu ritmo contagiante, do álbum mais recente ("Banga"), é uma saudação a Gogol, cujo gênio cômico chegou ao mundo num dia desses. Nossa conversa visita sua galeria de heróis: William Burroughs, Allen Ginsberg (que deu em cima dela, até descobrir que ela era uma garota), Bob Dylan, além de seu modelo de perfeição de longa data, Arthur Rimbaud. Mas nenhuma figura de seu panteão tem mais importância para ela do que Blake. Ela fotografou sua máscara mortuária e visitou seu túmulo.

A exemplo de tantas famílias americanas que decaíram na escala social, os Smith cuidaram que seus filhos tivessem acesso ao tesouro representado pelas palavras, junto com o que ela chama "o brilho da imaginação" em "Só Garotos". "Silver Pennies", uma antologia de poemas, tornou-se um bem precioso. Suas páginas incluíam poemas de Yeats e de seu correspondente Vachel Lindsay, "o trovador da Prairie", para quem a poesia não tinha valor se não pudesse ser cantada.

Ela já tinha sido conquistada pela "rude simplicidade" de Lindsay e de Blake e por sua amplificação da voz do homem comum. E Blake tinha mais uma coisa que ela admirava: a pintura e o desenho com que dispunha as palavras, a determinação simples de fazer tudo, desde começar a escrever até ter o resultado impresso. "Eu mesma tinha uma inclinação por fazer várias coisas ao mesmo tempo. Queria desenhar, escrever, falar."




No livro "Só Garotos", Patti Smith conta a história de sua relação com Robert Mapplethorpe

Os professores testemunhas de Jeová de sua escola dominical fizeram o máximo para despi-la dos sonhos. Previsivelmente, a austeridade deles teve o efeito contrário. Aos "12 ou 13... me apaixonei pela arte como profissão" e fiz a "escolha consciente" de rejeitar a religião organizada. Ela já estava possuída pela necessidade de escrever, "não egoisticamente, mas como um tipo de agradecimento... para pôr mais um volume na prateleira da biblioteca". (Não surpreende, portanto, saber que ela não é uma usuária do Kindle). Em Nova York, virando-se com a mixaria que ganhava com o emprego numa livraria - "Eu era muito desembaraçada; Robert estava sempre preocupado com dinheiro" -, teve momentos de dúvida sobre se conseguiria ser poeta.

Mapplethorpe, por outro lado, tinha certeza de seu destino artístico. O que não tinha certeza era de sua sexualidade. Os dois se separaram. Patti foi para Paris seguindo o fantasma de Rimbaud. Quando viu Mapplethorpe de novo em Nova York, estava um caco ambulante. Voltaram de forma precária e se mudaram para o hotel Chelsea, que se tornou para eles, como para tantos outros, o seminário das possibilidades. Ela vivia encontrando pessoas que acreditavam e ajudavam: o ator/dramaturgo Sam Shepard, Burroughs e Ginsberg, que personificavam para ela a poesia do discurso direto, versos das entranhas. Enquanto começava suas leituras em espaços hospitaleiros, atualmente canonizados como incubadeiras do punk - o Max's Kansas City e o CBGB's -, ela notou que o público ficava inquieto com a lenga-lenga dos poetas. "Era meio chato." Ela não queria ser chata.

Patti fala do momento, de meados da década de 1970, como um despertar vocacional. "Havia um movimento, uma linha direta entre o rock'n'roll dos anos 60 e 70 traçada por pessoas que queriam elevar seu nível - Jim Morrison, Neil Young, Hendrix, Lennon, Grace Slick. Todos tinham tanta inteligência e pegaram o que Bo Diddley tinha começado e elevaram aquilo, elevaram aquilo... Quando eu comecei a cantar, não foi para ser uma estrela do rock, mas para contribuir para manter aquela continuidade. Hendrix e Morrison tinham morrido. As coisas estavam mudando, e bastante; eu estava preocupada com a possibilidade de a tocha não ser passada, de que a luz se dissiparia. Sei que isso soa arrogante, um pouco grandioso para uma garota do sul de Jersey, mas essa gente, o que eles faziam, era tão importante, era a grande contribuição americana. Eu queria ser a turrona que chama a atenção para o problema até aparecer alguém para ajudar."

"Esse alguém foi você", digo, "você e Springsteen". "Ah", exclama ela, "Bruce estava fazendo as coisas dele. A gente veio de partes diferentes de [Nova] Jersey; ele é do centro ou do norte do Estado, eu sou do sul, da Jersey rural - terra dos primeiros colonizadores e das fazendas de criação de porcos." Quando lhe pergunto se trabalhou conscientemente a entonação de voz que deu em "Horses" (1975) e em "Easter" (1978) - o assobio, a fala arrastada, o lamento ao pé do ouvido -, ela volta a rir e diz que não, que não sabia fazer diferente. Cantava de forma nasal porque "tinha respiração pouco profunda" e porque aquilo era apenas o som do sul de Jersey. "Todo mundo pensava que eu era uma caipira."

Quando começou as leituras de poesia em casas que foram incubadeiras do punk, Patti Smith notou que o público ficava inquieto

Mas uma caipira que tinha cabeça para levar Blake, Whitman e Yeats a sério. Atribui à sua ligação com o pianista Richard Sohl o mérito de reunir as várias Pattis, especialmente porque, como ela, ele não era uma pessoa arrogante do rock'n'roll, aliás, nenhum tipo de pessoa arrogante. Com formação clássica, "ele adorava canções de musicais [que viraram sucessos independentes]".
Continuou sendo ela mesma. Em 1980, Patti se casou com Fred "Sonic" Smith, do MC5, assumiu uma feição mais política e escreveu com ele "People Have the Power". A política não veio naturalmente, diz, mas ela trabalhou na campanha de Robert Kennedy por uma vaga no Senado. Quando ele foi assassinado, ela se retirou do universo da política, e isso levou o mais ativista Fred a reavivar nela os instintos políticos/combativos. "Como era de costume, consultava Blake e a Bíblia. 'Os dóceis herdarão a Terra'. Certamente compreendi isso."

Ao se interessar por São Francisco e ao fazer uma peregrinação informal a Assis, Patti considerou um certo milagre surgir um papa que adotou o nome e, aparentemente, a doutrina social que ele envolvia. "Diziam que nunca haveria um papa jesuíta nem um franciscano. Agora, tem-se ambos."
De vez em quando a velha fúria volta. Ela se lembra com silencioso desprezo da virtual conspiração de silêncio da mídia quando um protesto contra a Guerra do Iraque, com cem mil pessoas, quase não recebeu cobertura. Embora tenha ficado feliz com a eleição de um afro-americano para a Casa Branca, a exemplo de milhões de outras pessoas de esquerda, ela não o perdoou por manter Guantánamo em funcionamento e por persistir na guerra no Afeganistão. "Para mim ele é exatamente igual a um bom republicano." A cultura "materialista, movida a celebridades" a entristece, principalmente quando vê "criancinhas de 3 anos sendo consoladas por telefones celulares e videogames, em vez de contarem histórias a elas".


Em 2002, ela participou de protesto contra a Guerra do Iraque que reuniu 100 mil pessoas

A destruição permanente do meio ambiente a enche de uma aflição ainda mais desoladora. Com um leve suspiro, volta a Blake. "Mais do que nunca, quanto mais velha fico, mais consigo sentir a dificuldade de ser ele - uma vítima da Revolução Industrial, quando ele está sentado em casa colorindo à mão gravuras de pastores."

Mas é aí que, diz, afastando o desânimo: "Sou, mesmo assim, uma pessoa muito otimista. Continuo a trabalhar com alegria". Vem à mente a melodia de Beethoven. A primeira ópera que viu foi "Fidélio", obra que se harmonizava tão perfeitamente com seu temperamento que quis fazer um filme baseado nela. "Sei quais seriam as tomadas de abertura. Sou Eleonora/Fidélio, com cabelo comprido até a cintura. Pego a tesoura e corto-o."

É necessário se acostumar, de alguma forma, com o benevolente humanismo e a meticulosa empolgação infantil pela vida que é uma parte do modo de ser de Patti Smith tanto quanto a sua fúria visceral. Mas qualquer pessoa que sobreviveu à sucessão de duros golpes que a atingiram com impiedosa brutalidade a partir do fim da década de 1980 inevitavelmente mudaria de alguma maneira - ou perdendo-se para a escuridão ou banhando-se por nova luz. Mapplethorpe foi apenas o início de uma série de perdas. Em 1990, aos 37 anos, o músico Richard Sohl, aparentemente gozando de perfeita saúde, morreu repentinamente em decorrência do defeito não detectado de uma válvula do coração. Em 1994, seu marido, Fred, sucumbiu a uma longa doença - deixando-a viúva com duas crianças pequenas. Assim que seu irmão Todd se ofereceu para cuidar dela e das crianças, um AVC o matou.

Qual a dose de desgraça que uma pessoa é capaz de assimilar? Apenas o imperativo de cuidar de Jackson e de Jesse lhe deu a força necessária para suportar. Mas isso foi tudo o que conseguiu fazer. Do ponto de vista criativo, ela mergulhou num vácuo. A história de Mapplethorpe ainda não tinha sido escrita, mas ela também representava um convite à dor. "Tudo o que tentava me trazia de volta ao centro da dor." Mas um raio de luz escapou, por meio das lentes de uma câmera Land. Era uma arte instantânea, que quase não demandava esforço, e começou como uma foto de um par de velhas sapatilhas de balé de Nureyev. A música das coisas e, depois, dos lugares, começou a soar suavemente para ela. Mas Patti estava paralisada na capital automobilística americana com as crianças - possivelmente como a única adulta de Detroit que não aprendera a dirigir. Nunca tinha sido rica. Agora, sob todos os ângulos imagináveis, estava em má situação, precisando encontrar alguma maneira de ganhar o sustento. Aparece um anjo: Zimmerman (nome civil de Bob Dylan).



Em 1969, antes de se tornar conhecida e gravar seu primeiro disco, "Horses", Patti Smith realizou um sonho de infância e passou temporada em Paris, terra de ídolos como Rimbaud



Em 1995, Dylan fazia uma turnê e convidou-a a acompanhá-lo. Ela ficou nervosa? "Ah, certamente. Não sabia se a plateia receberia bem a minha volta; nem sequer se iriam se lembrar de mim." O público recebeu-a bem e lembrou-se dela.

Aos 67 anos, o abraço de Patti Smith à vida e à arte nunca esteve mais apertado. Sua voz desenvolveu uma amplitude surpreendente, capaz de adequar-se a qualquer tom poético exigido por suas palavras. A elegia bluesística, rítmica, a Amy Winehouse ("This Is the Girl") é o tipo de coisa que a própria cantora, morta em 2011, teria adorado cantar. "Nine", escrita para seu amigo Johnny Depp, tem um toque da cantilena grave de uma gaita irlandesa na música.

As mulheres das décadas de 1970 e 1980 - Chrissie Hynde e também Debbie Harry - cuidaram mais da voz do que os homens. Bob Dylan mal passa de uma adenoide performática; a amplitude disponível da laringe de Tom Waits, retalhada por lâmina de barbear, está se reduzindo ao último fio. Mas Patti Smith - que em outros tempos queria ser uma cantora de ópera - desenvolveu a profundidade e a sutileza de sua voz e, quando precisa, consegue entoar um aveludado vibrato. Ela consegue passear por sua extensão vocal quando declama poesia também, como em "Maria", uma elegia para a atriz Maria Schneider que está no álbum "Banga". E não é que ela assumiu a suavidade. Nunca foi tão dura. Durona, ardorosa, forte, sensual e contundente, mas não dura.
Quando era criança, no sul de Jersey, sonhando sonhos verborrágicos e contando histórias ao irmão e à irmã, sua mãe cantava para eles a canção de Doris Day "Que Será, Será". E isso, apesar de tudo o que há de errado no mundo atual, e de todos os entes queridos que ela viu chegar e partir, ainda parece ser a maneira pela qual entende o mundo. Aquilo que for será. (Tradução de Rachel Warszawski)



TeVê

TV PAGA » Para os fãs do "terrir"


Estado de Minas: 21/02/2014



 (Paris Filmes/Divulgação )
Com essa onda de vampiros, lobisomens e mortos-vivos que há tempos vem infestando a telinha, nada mais saudável que curtir uma sátira às sagas dos monstros adolescentes. Estreia hoje, às 22h, no Telecine Premium, a comédia Meu namorado é um zumbi, com Nicholas Hoult e Teresa Palmer (foto). Para quem não se lembra, Nicholas foi revelado em Um grande garoto e estrelou também a versão americana da série Skins. Já a bela Teresa fez Uma noite mais que louca e Um faz de conta que acontece. John Malkovitch também está no elenco.

Arte 1 resgata o clássico
La dolce vita, de Fellini


Mas hoje é dia de clássico também. Às 22h30, o canal Arte 1 exibe La dolce vita, de Federico Fellini, filme ganhador da Palma de Ouro em Cannes em 1960, com Marcello Mastroianni e Anita Ekberg nos papéis principais. Na Cultura, às 22h, a Mostra internacional de cinema apresenta o drama Melhores coisas, do britânico Duane Hopkins. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais cinco opções: Deus é brasileiro, no Canal Brasil; Juan dos mortos, no Max; Esquadrão classe A, no Telecine Action; Snatch – Porcos e diamantes, no Max Prime; e Os 12 macacos, no TCM. Outras atrações da programação:
O cantor, às 21h15, no Viva; Latitude zero, às 21h45, no Cine Brasil; e Não sei como ela consegue, às 22h30, no Megapix.

Descubra como o Brasil
seduziu o francês Verger


No segmento dos documentários, o canal Curta! exibe, às 21h45, o filme Pierre Fatumbi Verger: o mensageiro entre dois mundos, sobre o trabalho do fotógrafo e etnógrafo francês no Brasil. Na mesma emissora, às 23h05, vai ao ar a segunda parte de Ernesto “Che” Guevara: o diário da Bolívia. No Futura, às 14h35, o Sala de notícias exibe o documentário Pacientes: loucos pela sanidade, de Andreia Nascimento, sobre a questão da saúde pública no Brasil.

Arquiteta mostra como
se constrói a casa verde


Na edição de hoje de Arquitetura verde, às 21h, no +Globosat, Leiko Momotura apresenta uma casa feita de materiais reutilizados e que usa novas tecnologias para o conforto térmico e aquecimento de água. A arquiteta fala ainda sobre o reaproveitamento dos recursos naturais no quadro “Projeto sustentável” e, na seção “Paisagismo”, Lilian Lie Okamoto Yatabe explica como criou um jardim feito para o convívio social, em um grande complexo corporativo de São Paulo.

Jorge Aragão anima hoje
o pagode do canal Viva

O carnaval está cada vez mais perto, e o Viva o sucesso continua bancando a folia. O convidado de hoje, às 21h15, é Jorge Aragão, ex-integrante do grupo Fundo de Quintal e autor de sambas como Coisinha do pai, Vou festejar, Do fundo do nosso quintal e Enredo do meu samba. No Canal Brasil, às 18h45, vai ao ar o segundo episódio da série Desafinado, comandada pelo cantor, compositor e poeta Pierre Aderne.



CARAS & BOCAS » Mais uma vítima
Simone Castro

LC (Antônio Calloni) atrai a própria filha Lili (Juliana Paiva) para uma armadilha     (Estevam Avellar/Globo  )
LC (Antônio Calloni) atrai a própria filha Lili (Juliana Paiva) para uma armadilha

Os próximos capítulos de Além do horizonte (Globo) prometem ser tensos. Cada vez mais certa de que seu pai é um bom homem, Lili (Juliana Paiva) será vítima de sua extrema confiança em LC (Antônio Calloni). E o chefão da tal “comunidade da felicidade” não pensará duas vezes antes de transformar a própria filha em mais uma de suas cobaias. Lili será levada à temida máquina da felicidade, obra máxima e LC. Algumas gotas de sonífero são o suficiente para que ela caia em um sono profundo. Incentivado por Angelique (Sabrina Greve), LC atrai a filha para um papo em seu alojamento e lhe oferece um chá. Pouco depois, seguranças entram no alojamento da moça e a carregam para o laboratório. Tudo sob o olhar frio e calculista de Angelique. Será que o plano dará certo? Em tempo: está breve o reencontro entre Lili, Marlon (Rodrigo Simas) e William (Thiago Rodrigues). Todos ficarão em choque. Lili e Marlon porque pensavam que William havia morrido, conforme informações de LC. E William se ressentirá ao saber que agora eles formam um casal. Mas sofrimento mesmo será o de Lili ao descobrir do que o seu pai é capaz. “Num primeiro momento, ela vai levar um susto, depois vai ver realmente que ele estava certo desde o início. Quando ela descobrir tudo o que o pai dela trama, aí eu acho que vai ser um baque bem forte”, disse a atriz ao site oficial da novela.

MORENA BACCARIN ACEITA
PARTICIPAR DE NOVA SÉRIE

Dupla identidade, nova série policial da Globo que será escrita por Glória Perez, já tem um primeiro nome do elenco quase confirmado. De acordo com a própria autora, a atriz brasileira Morena Baccarin, atualmente no ar na série Homeland, cartaz das madrugadas da emissora, aceitou o convite para o novo trabalho. “Sim, Morena Baccarin leu, gostou e disse sim a Dupla identidade. Agora, só depende dos acertos com a casa”, postou Glória em seu Twitter. Já em seu site oficial, Glória Perez deu alguns detalhes sobre a conversa com Morena. “Depois do primeiro contato por e-mail, conversamos pelo Skype. Além de excelente atriz, Morena é uma simpatia”, escreveu. A autora acrescenta que a atriz elogiou o roteiro da série. “Gostei muito do roteiro! Achei interessante e muito diferente dos programas típicos da Globo”, teria escrito Morena. Se o canal e a atriz firmarem um contrato, a série será o primeiro trabalho de Morena Baccarin no Brasil. Ela nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criada, desde criança, nos Estados Unidos. Na carreira, antes de Homeland, participou de outras séries de sucesso, como V, The mentalist e The good wife. Como a Jessica Brody de Homeland foi indicada ao Emmy 2013 na categoria de Melhor atriz coadjuvante.

MUNDO DOS RAPPERS ESTÁ
NA PAUTA DA REDE MINAS


O Diverso desta sexta-feira, às 17h30, na Rede Minas e na TV Brasil (canal 65 UHF), vai explorar o universo dos rappers e entrevistar alguns que têm se destacado na cena alternativa. O programa investiga as funções sociais do rap e as razões para sua disseminação entre jovens de todas as classes sociais. Outro ponto é a presença das mulheres na produção e a influência da internet na divulgação do rap. Criolo, B Negão e Lourdes da Luz são alguns dos entrevistados.

Fim da paródia

Por falar em Glória Perez, o Pânico na Band foi condenado pela 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro a tirar do ar todos os programas e quadros que contenham a personagem Glória Fezes, uma paródia com a autora de novelas. De acordo com o site oficial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, a emissora terá que retirar áudios, fotos e vídeos de seu site e de redes sociais (YouTube e Facebook) que citem a personagem, vivida pelo humorista Márvio Lúcio, o Carioca, no quadro “Jornal do Boris”. O relator do acórdão, desembargador Mário Guimarães Neto, disse que o programa “faltou com o bom senso” ao fazer trocadilho com o sobrenome da autora. “O trocadilho do nome Glória Perez por ‘Glória Fezes’ é inadmissível e extrapola todos os limites do bom senso, do espírito que deve nortear a imprensa e, acima de tudo, do senso de responsabilidade que deve dirigir a atividade televisiva”, declarou. A emissora não comenta o assunto, mas se descumprir a decisão judicial a multa será de R$ 5 mil.

viva

Retorno de Luiz Gustavo a Joia rara (Globo), em que vive o doce Apolônio. O ator de 80 anos ficou internado durante quatro meses por causa de uma endocardite, uma bactéria no coração.

vaia
Já está chato e, principalmente, não convence ninguém essa de William (Thiago Rodrigues) bancar sempre o herói em todas as situações, inclusive envolvendo policiais, em Além do horizonte.

simone.castro@uai.com.br

Jorge Mautner prepara shows e álbum de inéditas, além de retomar a carreira literária‏

Criador atômico 
 
Caixa reúne três discos lançados por Jorge Mautner nos anos 1970. Aos 73 anos, artista prepara shows e álbum de inéditas, além de retomar a carreira literária 

Ailton Magioli
Estado de Minas: 21/02/2014


Jorge Mautner vai republicar sua Trilogia do Kaos e escrever livro sobre sua amizade com Gilberto Gil (Daryan Dorneles/Divulgação)
Jorge Mautner vai republicar sua Trilogia do Kaos e escrever livro sobre sua amizade com Gilberto Gil

Fundamentais. É como o próprio Jorge Mautner classifica os três primeiros discos de carreira, da década de 1970, reunidos agora no box Três tons, da Universal Music, sob a coordenação do jornalista Renato Vieira. Produto de um período em que, além da excitação criativa característica da idade, o artista vivia às voltas com o peso da ditadura militar, que acabou levando-o ao encontro de Caetano Veloso e Gilberto Gil, em pleno exílio londrino, Para iluminar a cidade (1972), Jorge Mautner (1974) e Mil e uma noites de Bagdá (1976) trazem a essência de uma obra. Mesmo sob o rótulo de maldito, o artista já havia mostrado a que vinha, com o lançamento de quatro livros, entre eles Deus da chuva e da morte, além do filme O demiurgo.

Aos 73 anos, avô de Júlia, de 6, a quem promete dedicar uma das canções do próximo disco de inéditas, Mautner diz viver a alegria de “um novo Brasil”, curtindo a passagem do tempo com todos os problemas que a idade implica. “A gente vai ficando mais fraco”, reconhece o cantor, compositor, instrumentista, escritor e cineasta, cuja entrevista foi concedida pouco depois de uma consulta médica. Os 40 anos da profícua parceria com Nelson Jacobina (1953-2012), que integrou a Banda Atômica do artista, ao lado de Vinícius Cantuária e Arnaldo Brandão, são lembrados com carinho. “A presença dele é maior ainda”, emociona-se Mautner.

O lançamento de Três tons de Jorge Mautner vai começar pelo Rio, onde o multiartista se apresentará em 20 de março, no Teatro Rival, em companhia da Banda Tono, do filho do amigo Gilberto Gil, Bem Gil. No mesmo período, o cantor promete voltar ao estúdio para gravar disco de inéditas, no qual, além de parcerias com Gil e Caetano Veloso, deverá incluir as que vem fazendo com o jovem Iuri Brito, da banca carioca Exército de Bebês. Entre as regravações prometidas estão Jesus de Nazaré e Bandeira do meu partido. Mautner anuncia ainda para este ano a reedição, em pequenos volumes, da trilogia Mitologia do Kaos, que está esgotada. Inédito, ele promete para o segundo semestre livro das memórias com o amigo e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil.

Recém-descobertas pelo pesquisador Marcelo Fróes, seis canções inéditas de Mautner também deverão integrar um álbum duplo, ao vivo, que o selo Discobertas deverá lançar em abril. “Eu nem sabia deste show, que fiz com Nelson Jacobina, antes do Pirata”, recorda, referindo-se ao show Para iluminar a cidade, gravado ao vivo, no Teatro Opinião, do Rio, em 1972. “Foi uma tentativa talvez para fazer minha música tocar no rádio”, acrescenta, a respeito da sugestão do executivo da gravadora, André Midani, que, ironicamente, viria a se tornar o primeiro “disco pirata” do Brasil. “Só no Recife vendeu 7 mil cópias”, lembra, salientando que o produto foi comercializado pela metade do preço então praticado no mercado.

Dos três discos reunidos na caixa, o próprio Jorge Mautner destaca o de 1974, batizado com seu nome, em que reuniu no repertório aqueles que hoje são considerados os seus maiores clássicos: Maracatu atômico, Cinco bombas atômicas e Guzzy muzzy. Além da direção artística de Gilberto Gil, que havia gravado antes o Maracatu atômico, Mautner promove a estreia, no disco, de um jovem instrumentista. Trata-se de Roberto de Carvalho (piano, piano elétrico, órgão, violão e guitarra), que iria se tornar marido e principal parceiro de Rita Lee.

A estreia propriamente dita da carreira fonográfica de Jorge Mautner ocorreu em 1966, quando ele lançou um compacto simples. Na composição em si ele já estava desde os anos 1950. Vale lembrar que Para iluminar a cidade já havia sido relançado em CD, em 2002, com três faixas bônus, enquanto Jorge Mautner e Mil e uma noites de Bagdá também chegaram ao formato, nos anos 1990, em reedições de selo independente carioca.


Palavra de especialista

Marcelo Fróes
Produtor e pesquisador


Artista múltiplo

Jorge Mautner é qualificado pelos preguiçosos como cantor e compositor. Ainda que os três álbuns dos anos 70 sejam efetivamente assinados por este cantor e compositor, Jorge Mautner, antes de ser Jorge Mautner, já era escritor, pensador e agitador da melhor espécie. A música pode ter lhe dado fama, já nos anos 70, quando voltou de Londres com Gil e Caetano e montou banda para fazer shows. Sua carreira fonográfica parece nunca ter sido prioridade, mas os três CDs do box contam uma história interessante. Eles guardam o mesmo caráter: são muito raros e mereciam uma remasterização bacana para o novo milênio. Conheço Mautner desde o século passado e sinto que 2014 é seu ano. Além do box e de outras coisas que ele está preparando, vou lançar em abril pela Discobertas um CD duplo ao vivo inédito, produzido a partir de gravações muito raras e que, para nossa surpresa, incluem nada menos que seis canções cujo título Mautner nem sequer lembrava. Devemos preparar mais coisas de Mautner na sequência, tanto em CD quanto em DVD. Ele é o máximo!


Três perguntas para...

RENATO VIEIRA
Coordenador de Três tons de Jorge Mautner

Por que reeditar Jorge Mautner?

Quando o Filho do Holocausto saiu, vi que os álbuns iniciais dele, há anos fora do mercado, faziam falta, porque os três são a base do Mautner como intérprete e compositor, como ele mesmo salienta. Tudo o que ele faria depois se sedimentou aí. É uma trilogia semelhante à de João Gilberto na Odeon, a gênese está ali. É um ponto de partida que é ao mesmo tempo o destino, aonde ele sempre quis chegar. Achava que era necessário que esses discos fossem ouvidos e reavaliados hoje, em um momento em que o Mautner se aproxima de um público da nova geração e também com músicos novos. Há algo de jovem e inconsequente ali, mas nunca caindo no banal.

Como você caracteriza a obra de Mautner?
O Mautner é atemporal, está sempre pensando no futuro. Ele fala em bomba atômica, astronautas, no uso da tecnologia. E essas coisas são pertinentes hoje e acho que, felizmente ou infelizmente, sempre serão. Além disso, ele é um cara alegre. Em uma entrevista a Nelson Motta, em 1975, ele reconheceu isso e citou Nietzsche, dizendo: “A alegria anseia a eternidade”. Concordo com essa visão. Além disso, suas músicas são sempre regravadas por pessoas que vão chegando. O volume de gravações é um exemplo de que a obra dele permanece pertinente.

Entre os três, qual disco você prefere?
É difícil falar em uma preferência, não só porque os discos são ótimos, mas por serem muito diferentes entre si. Porém, acho que o disco pelo qual o Jorge Mautner será lembrado é o de 1974, batizado com o nome dele. É um disco que traz os grandes clássicos do repertório dele – Cinco bombas atômicas, Maracatu atômico, Guzzy muzzy – e que foi gravado com uma banda fabulosa, sob a direção artística de Gilberto Gil, que soube deixar os músicos livres para criar.

O que fazer com idosos?‏

O que fazer com idosos? 
 
Doentes e esquecidos, velhos pobres precisam do amparo da sociedade
José Carlos Lassi Caldeira

Médico
Estado de Minas: 21/02/2014


Em Évora, na seiscentista Capela dos Ossos, construída com ossos dos frades franciscanos, há a célebre frase que remete à transitoriedade da vida: “ Nós, ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”. A maior idade ou “a melhor idade” são apenas retóricas para tentar minorar o sofrimento daqueles que após os 60 anos sabem que a hora de seu encantamento se aproxima. Essa é uma fase da vida em que, salvo exceções, os problemas de saúde se tornam mais presentes, há uma piora do vigor e tônus vitais e há, sobretudo, as questões de ordem cognitiva que afetam cada vez mais um maior número de pessoas, dado o envelhecimento da população brasileira. Essas questões apresentam desde transtornos biopsicossociais leves com a preservação da capacidade de cuidar de si próprio até perdas funcionais graves nas áreas de cognição (da habilidade de compreender e resolver os problemas cotidianos), de mobilidade (dificuldades de locomoção e da manutençáo do uso de mãos e membros), da comunicação (da compreensão e expressão das linguagens, do pensamento e expressão de ideias, sentimentos e afetos).

Muitas destas habilidades se perdem tanto por doenças cérebro-vasculares como AVCs (derrames) ou arteriosclerose, quanto por degenerações neurológicas como Alzheimer ou E.L.A. ou Parkinson. Muitas das perdas ocorrem quando o indivíduo se encontra mais vulnerável afetivamente (vivendo sozinho em casa, com dificuldades de audição e visão, sem o necessário suporte familiar, já que os filhos muitas vezes têm seus trabalhos, seus filhos e seus próprio problemas etc.), aumentando sua dependência. Na minha infância, em Patrocínio, os velhos com problemas cognitivos eram chamados caducos – uma expressão até carinhosa – e eram mantidos na casa de algum dos filhos ou parente. Hoje, com o imprescindível trabalho da mulher, restou pouco tempo à família para cuidar de seus idosos, em especial nos cuidados sociais e afetivos. As disfunções vão desde a incapacidade para banhar-se, usar sanitário e manter higiene pessoal, alimentar-se, vestir-se, entre outras tantas coisas comezinhas. A perda da memória é, dentre todos, o fator determinante da deterioração da qualidade de vida e a maior causa dos problemas citados.

Trabalhando no SUS-BH, nós, médicos, nos deparamos com frequência com situações dessa natureza. Porém, apesar das dificuldades, temos tido um substantivo apoio do Centro Mais Vida da UFMG – Departamento de Geriatria. Esse centro oferece, além de cadeiras estofadas para todos os pacientes do SUS, uma medicina de qualidade, que minora os sofrimentos dessa parcela da população: pobre, velha e desamparada. Os recursos financeiros ali alocados pelo empresário Aloysio Faria deveriam servir de exemplo à parcela rica de Belo Horizonte (“Nós, ossos que aqui estamos...”). A partir daí, resta a questão: acolher em casa ou institucionalizar (asilar)? Apenas você sabe a sua resposta. 

Carlos Herculano Lopes - As duas mulheres‏

As duas mulheres

Carlos Herculano Lopes


carloslopes.mg@diariosassociados.com.br

Estado de Minas: 21/02/2014


Não conheci as duas mulheres que há alguns dias foram atropeladas por um motoqueiro na Avenida Getúlio Vargas, em frente ao Grupo Barão do Rio Branco, assim como não sei (embora muitos amigos tenham sido mortos no trânsito) quem são as dezenas de pessoas que, pelo mesmo motivo, ficam sequeladas ou perdem a vida nas ruas e estradas deste país. Sair de viagem, seja qual distância for, é como ir para a guerra: não podemos prever se voltaremos vivos.

 Mesmo não imaginando quem são as duas mulheres atropeladas, talvez irmãs, pois se pareciam muito, condoí-me com aquela cena, testemunhada por várias pessoas. Por acaso, eu passava pelo local. Uma das vítimas, quem sabe a mais velha, estava encostada em uma árvore com o rosto ensanguentado, enquanto a outra, em estado mais grave, era atendida com muito cuidado pelo pessoal do Samu, que a imobilizava antes de colocá-la na maca. O motoqueiro, com cara de quem não havia entendido nada, conversava com um policial, que tomava nota na caderneta. A moto, que tinha se estragado bastante, estava caída no passeio com uma das rodas empenada.

Embora não tenha ideia de quem eram as três vítimas – as duas mulheres deviam ter mais de 60 anos, e o motoqueiro parecia bastante jovem –, doeu fundo ter presenciado aquela tragédia, uma a mais entre centenas a engrossar as terríveis estatísticas de acidentes de trânsito.

Uma das mulheres, a que estava encostada na árvore, com o rosto cheio de sangue, tinha o olhar perdido. Era como se não estivesse ali. Na hora, não sei por que, pensei: por onde andarão os pensamentos desta senhora? Impossível saber. Talvez estivessem voltados para os perdidos dias da infância em alguma cidade desse vasto interior mineiro; para algum filho, que tinha ficado em casa ou, quem sabe, não vivesse mais. Ou não desse à mãe a atenção merecida. Ou, então, pela brutalidade de tudo aquilo, talvez a mulher não estivesse pensando em nada.

E a outra? Estaria dando conta de alguma coisa enquanto era socorrida pelo Samu? É provável que não, pelo estado em que se encontrava. O motoqueiro, que certamente trabalhava para alguma firma com rigorosos horários a cumprir, obrigado a cobrir a cota diária de entregas senão o salário vinha ainda mais minguado no fim do mês, estaria pensando em algo? Também não dá para saber.

Mas a sentença contra ele, que tentava se explicar para o policial, já havia sido dada por um homem de terno: “Esses caras são uns loucos; era ele quem devia estar no lugar daquela pobre coitada”. E apontou para a mulher, já dentro da ambulância, que saiu em disparada com a sirene ligada na maior altura. A outra, que talvez fosse sua irmã, começava a ser socorrida. Ainda assustado com tudo aquilo, segui meu caminho. Estava atrasado para o trabalho.

Eduardo Almeida Reis - Nomes‏

Nomes
 
Em Namaqualand, região árida entre a Namíbia e a África do Sul, tem Quaqua à beça, mas Quaquá só tem em Maricá


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 21/02/2014

George Washington (1732-1799), Washington Luiz Pereira de Souza – Macaé (1869)- São Paulo (1957): nenhum Washington merece o apelido do presidente do PT-RJ, Washington Quaquá, prefeito de Maricá (RJ), batizado Washington Luiz Cardoso Siqueira. Vejo no mapa que Macaé não é vizinha de Maricá. Que diabo será Quaquá? Vejo no Google: The genus Quaqua falls within the tribe of plants known collectively as stapeliads. All stapeliads, including Quaqua, are old world stem-succulents. Em Namaqualand, região árida entre a Namíbia e a África do Sul, tem Quaqua à beça, mas Quaquá só tem em Maricá, onde Washington deve ser prefeito até 2016, se não for nomeado ministro em Brasília. A De Beers Diamond Mines tem áreas em Namaqualand. De repente, o Quaquá da Maricá é um diamante que está sendo lapidado pelo PT para assumir a Presidência de um país grande e bobo. Pior que o último e a atual não pode ser.


Se liga!
Recebi pela internet uma atualização do vocabulário dos anos 1970 e 1980 para 2014. Considerando que nem todos os leitores têm acesso à web, aqui vai um resumo. Excluí meia dúzia de vocábulos, porque sou cronista de uma pudicícia que espanta e comove, motivo pelo qual ainda me recuso a escrever certas palavras que já tomaram conta da mídia impressa. Vamos lá. Creme rinse – condicionador; obrigado –valeu; collant – body; rouge – blush; ancião e coroa – véio; bailinho e discoteca – balada; japona – jaqueta; nos bastidores – making off; programa de entrevistas – talk show; cafona – brega; reclame – propaganda; calça cocota – calça de cintura baixa; flertar, paquerar – dar mole; oi, olá, como vai? – e aê?; cópia, imitação – genérico; curtir, zoar – causar; mamãe, posso ir? – véiaaaa, fui!!!; legal, bacana – manero, irado; mulher de vida fácil – garota de programa; legal o negócio – xapado o bagúio; cansaço – estresse; desculpe – foi mal; oi, tudo bem? – e aê, belê?; ficou chateada – ficou bolada; médico de senhoras – ginéco; superlegal –irado; primário e ginásio – ensino fundamental; preste atenção! – se liga!; por favor – quebra essa; recreio – intervalo; radinho de pilhas – ipod; manequim – modelo, atriz; retrato – foto; jardineira – macacão; mentira – caô; saquei – tô ligado; entendeu? – copiou?; gafe – mico; fofoca – babado; fotocópia – xerox; brilho labial – gloss; bola ao cesto – basquete; folhinha – calendário; empregada doméstica – secretária; faxineira – diarista; vou verificar – vou estar verificando; madureza – supletivo; vidro fumê – insufilm; posso te ligar? – posso te add?; tingir uma roupa – customizar; dar no pé, ir embora – vazar; embrulho – pacote; lycra – stretch; tristeza – deprê; beque – zagueiro; radiopatrulha – viatura; atlético – sarado; peituda – siliconada; professor de ginástica – personal; quadro negro – board; caramba – caraca; namoro – pegação; laquê – spray; de montão – pracarai; derrame – AVC; chapa dos pulmões – raios X; sua bênção, papai – qualé, coroa; você tem certeza? – ah, fala sério; banha – gordura localizada; alisamento – chapinha; boteco no fim do expediente – happy hour; costureira – estilista; negro – afrodescendente; professora – tia, profê; senhor – tiozinho; bunduda – popozuda; amooor – benhêee; olha o barulho! – ó o auê aí ô. Aproveitando a embalagem, confesso que fui ao dicionário para ser como se escreve insufilm e descobri adjetivo que nunca vi, é puro latim e entrou em nosso idioma no ano de 1648: insueto. Significa “fora do comum, insólito, inusitado. Nunca usado ou novo. Que já não se usa; desusado”. Faz sentido: insueto é adjetivo desusado, salvo quando a gente precisa encher linguiça para faturar uns cobrinhos.


Noticiário
Você sabia que dia 30 de janeiro um homem foi atropelado por um ônibus no Centro de Porto Alegre (RS) e morreu? Confesso que também não sabia, mas fui informado pelo provedor Terra, que me provê das piores notícias o dia inteirinho, de Minas, de Porto Alegre e do Paquistão, onde uma jovem foi estuprada por ordem do conselho tribal. No Brasil, milhares de jovens e menos jovens são estupradas todos os meses sem ordens de conselhos tribais. No Paquistão, é costume, é hábito, é rito, é liturgia, é ordem. Graças ao noticiário voltei a ver futebol. Tomei horror ao esporte bretão quando fui obrigado a escrever sobre ele na coluna Tiro Certo. Não é fácil escrever sobre futebol em Minas, estado que se digladia entre atleticanos e cruzeirenses. Qualquer observação que se faça desgosta metade da mineiridade sem cativar a outra metade, que se desgostou na véspera. Agora, descobri o Bayern, o Manchester City, o Barcelona, o Real Madrid e passo horas observando como existem bons jogadores, em nada inferiores aos craques do Linense, do Friburguense, do ABC, do Atlético Paranaense.


O mundo é uma bola
21 de fevereiro de 1431: começa o julgamento de Joana d’Arc. É nome comum em diversas regiões mineiras. Tive Joanas (d’Arc) filhas de empregados na fazenda. Não creio que os pais soubessem a história da santa, que também não sei. Em 1468, o infante dom Fernando, duque de Viseu e donatário das Ilhas dos Açores, concede ao fidalgo flamengo Joss van Hurtere a capitania da Ilha do Faial. Em 1506, Mem de Sá chega à Baía da Guanabara para atacar o Forte Coligny. Em 1804, sai à rua a primeira locomotiva a vapor no País de Gales. Em 1848, lançamento do Manifesto Comunista, que até hoje encanta muita gente e inspirou o admirável progresso de Cuba, da Coreia do Norte... Em 1885, concluída a construção do Monumento da Washington, então a mais alta estátua construída pelo homem. Deve ter inspirado o prefeito de Maricá (RJ) e presidente do PT do estado do Rio de Janeiro, o ilustríssimo senhor Washington Quaquá. Em 1960, o comandante Fidel Castro nacionaliza todas as empresas em Cuba.


Ruminanças

“O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, 1895-1971).