sexta-feira, 22 de março de 2013

Minha História - Gilbertto Liberto ,69

folha de são paulo

Canções para Sua Santidade
Maestro do coro da Capela Sistina diz que relutou em aceitar posto mais prestigiado da música sacra
FELIPE SELIGMANENVIADO ESPECIAL A ROMA
RESUMO
Diretor do coro da Capela Sistina durante 13 anos, o maestro Giuseppe Liberto teve contato próximo com os papas João Paulo 2º e Bento 16. Afastado em 2010 por ordem do controvertido cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, ele relembra episódios emocionantes e divertidos de seu trabalho, como quando Bento 16 foi intérprete em uma conversa dele com o então presidente George Bush.
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Tudo começou no início dos anos 90, quando fiz duas apresentações na Sicília, onde eu era maestro de um coro local e também dava aula.
Fiz duas apresentações para o papa João Paulo 2º uma em Siracusa e outra em Palermo. Nessa última, fiz uma apresentação especial num estádio, com centenas de cantores e foi onde ele me escolheu, acho eu.
Nunca desejei fazer parte do coro da Capela Sistina. Não me interessava. Eu trabalhava muito na Sicília e queria ficar por lá. Adoro aquele lugar.
Em janeiro de 1997, era meio-dia e me ligaram da Secretaria de Estado do Vaticano. "Olha, o papa acaba de te nomear para ser diretor do coro principal, em Roma". Fiquei perplexo, a notícia me incomodou muito e na eu hora disse não.
Me falaram que o então maestro havia completado 80 anos e precisavam de alguém para ocupar a posição.
Passado o choque e alguns meses, eu aceitei. Assumi no dia 29 de maio daquele ano e já no dia 29 de junho fiz minha primeira celebração. Foi quando começou a grande aventura da minha vida.
Cheguei em Roma e me colocaram em um apartamento aqui, na Cidade do Vaticano. Este que moro até hoje [a entrevista é em sua residência]. Antes, quem morou aqui foi o cardeal argentino Leonardo Sandri. Peguei dele.
Tenho grandes recordações dos 13 anos em que fiquei à frente do coro. Duas são do tempo de João Paulo 2º e me emocionam muito.
A primeira foi em 2000. Era aniversário de 80 anos do ex-presidente [italiano Carlo Azeglio] Ciampi. A Secretaria de Estado do Vaticano me liga e diz: "venha à capela privada do papa agora. Você vai celebrar uma missa com ele".
Não entendi nada. Mas cheguei lá e só estavam João Paulo 2º, Ciampi e sua mulher. Fiquei fascinado. Era um momento histórico. Quando o papa bebeu o vinho e esticou a mão, eu não acreditei. Bebi no mesmo cálice dele e foi uma emoção tremenda.
A outra foi quando eu consegui tocar pela primeira vez, na íntegra, um magnificat [cântico eclesiástico em homenagem a Maria] que havia composto para a comemoração dos 25 anos de papado, em 2003.
Mas a execução foi interrompida, porque o papa João Paulo 2º se sentiu mal. Lembro que o então cardeal Joseph Ratzinger chegou até mim e elogiou muito. "Logo você conseguirá completar a execução", disse.
No dia da morte do papa [em 2005], me chamaram cedo, dizendo que ele tinha indo embora. Fui direto ver o papa e um dos primeiros a beijar seus pés.
Depois desci até as grutas, onde preparavam o corpo. Quando olhei para o lado, lá estava Ratzinger, concentrado. Nos olhamos e foi só. Não imaginaria que ele viraria Bento 16.
Também tenho uma boa recordação, muito divertida, por sinal, dos tempos de Bento 16. O ex-presidente americano [George W.] Bush] veio a Roma em 2008.
O Santo Padre resolveu fazer em homenagem um concerto do coro da Capela Sistina nos jardins do Vaticano.
No final, ele me apresentou. Conversamos sobre amenidades -"gostei da apresentação"; "você gosta de música?"; e coisas do tipo.
Mas como Bush e eu não nos entendíamos, pois eu não falo inglês, usamos o papa como tradutor [risos].
O conclave é um momento emocionante. E pensar que em 2005, eu estava ali dentro [da Capela Sistina, onde o papa é escolhido].
É inacreditável, emocionante, inesquecível. Naquele ano, a Capela Paulinea [de onde os cardeais saiam] estava em reforma.
Então saímos de mais longe, da sala principal, no segundo andar da Basílica de São Pedro.
Pena que o sonho acabou em 2010. Fui substituído. [O secretário de Estado do Vaticano] Tarcisio Bertone colocou um salesiano [como ele] no meu lugar.
Mas não quero falar sobre isso, prefiro lembrar das coisas boas.

    Nobel encontra papa e diz que ele não tem 'nada a ver' com ditadura
    BERNARDO MELLO FRANCOENVIADO ESPECIAL A ROMAVencedor do prêmio Nobel da Paz de 1980 por sua atuação contra a ditadura militar na Argentina (1976-83), o escritor Adolfo Pérez Esquivel disse ontem que o papa Francisco defende a investigação dos crimes cometidos pelo regime em seu país.
    Eles se encontraram no Vaticano dois dias depois da missa inaugural do pontífice, acusado pelo jornal argentino "Página/12" de ter colaborado com a repressão em seu país.
    Esquivel repetiu que as afirmações são falsas e afirmou que o agora papa não foi cúmplice dos militares e tem compromisso com a bandeira dos direitos humanos.
    "O papa Francisco reiterou-me com muita clareza que é importante se chegar à verdade, à justiça e à reparação pelos crimes cometidos na Argentina", disse.
    "O papa não teve nada a ver com a ditadura. Não foi cúmplice, não colaborou com ela. Preferiu uma diplomacia silenciosa, de pedir pelos desaparecidos, pelos presos."
    O escritor disse que dirigentes da igreja colaboraram com a repressão ao denunciar religiosos de esquerda, mas excluiu o novo papa, que era chefe dos jesuítas no país.
    "Houve, sim, alguns bispos cúmplices com a ditadura. Mas não Bergoglio", disse.
    Em nota divulgada na Alemanha, Franz Jalics, um dos missionários jesuítas sequestrados por militares na década de 1970, disse ter certeza de que Francisco não colaborou com sua prisão.
    "O missionário Orlando Yorio e eu não fomos denunciados pelo padre Bergoglio, hoje papa Francisco. É falso afirmar que nossas prisões foram provocadas por ele."
    Jalics disse que passou anos acreditando que teria sido delatado, mas descartou a hipótese. Ele e Yorio, que já morreu, foram torturados e ficaram cinco meses detidos.
    LAVA-PÉS
    Em mais uma quebra de protocolo, o papa vai celebrar a missa da Quinta-Feira Santa numa casa de detenção de menores em Roma, em vez da Basílica de São João de Latrão.
    Ele lavará os pés de 12 jovens, repetindo o gesto de Cristo com os apóstolos. É o que já fazia nesta data na Argentina, como cardeal, quando trocava a igreja por hospitais, prisões e hospícios.
    Os papas João Paulo 2º e Bento 16 visitaram a mesma instituição em outras ocasiões.

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