quarta-feira, 29 de maio de 2013

Após mudar a cara do sertanejo, produtor Dudu Borges é procurado por nomes da MPB

folha de são paulo
LUCAS NOBILE
DE SÃO PAULO

Milionário e José Rico, ícones da música caipira dos anos 1970, ostentaram a riqueza no nome e venderam milhões de discos. Hoje, eles e seus pares invejariam os valores movimentados pelos milionários do chamado sertanejo universitário.
A lista dos mais bem pagos do gênero inclui Michel Teló (estima-se que "Ai Se Eu Te Pego" tenha rendido mais de R$ 100 milhões), Luan Santana, Fernando & Sorocaba (o último é campeão de arrecadação de direitos autorais pelo Ecad, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) e Jorge & Mateus.
O que esses nomes têm em comum, além das músicas mais tocadas? Todos já tiveram produção e arranjos de Dudu Borges, apontado como o principal responsável por mudar a cara do sertanejo.
Danilo Verpa /Folhapress
O produtor Dudu Borges, 30, em seu estúdio em São Paulo
O produtor Dudu Borges, 30, em seu estúdio em São Paulo
Aos 30 anos, o músico, que é natural de Campo Grande, mora há 13 em São Paulo, onde comanda as gravações em seu estúdio Vip, localizado no Cambuci, desde 2010.
Por lá, após produzir hits como "Chora, Me Liga" (João Bosco & Vinicius, 2009), "Fugidinha" e "Ai Se Eu Te Pego" (ambas de Teló, respectivamente em 2010 e em 2011), Dudu Borges já é procurado por artistas de fora do sertanejo.
Depois de ter produzido Fiuk e duas faixas de Jorge Ben Jor --uma delas, "Salve o Verde", ao lado de Mano Brown--, o produtor trabalha no primeiro álbum de inéditas de Fabio Jr. desde 2004.
O sucesso também se reflete em números. Dudu produz dez discos por ano, recebendo R$ 500 mil por trabalho, segundo a Folha apurou. A produção de um álbum de artista brasileiro de destaque custa, com outros produtores, de R$ 150 mil a R$ 200 mil.

"Teve gente dizendo que acabei com a música brasileira. Depois, você se acostuma e pensa: está tudo bem, as coisas estão indo bem pelos resultados", diz o produtor.
Produtor fez arranjos das 3 mais tocadas neste mês
Dudu Borges assina "Amiga da Minha Irmã", "Vidro Fumê" e "Te Esperando"
Músico trabalha atualmente em DVD de Luan Santana e no primeiro CD de inéditas de Fabio Jr. desde 2004
DE SÃO PAULONuma rua pacata do bairro do Cambuci, em São Paulo, são burilladas as fórmulas para transformar canções extremamente simples nos maiores sucessos do país na atualidade.
Ali fica o Vip, estúdio nada suntuoso (perto dos padrões dos frequentados por estrelas da MPB), mas confortável e bem equipado. É lá que Dudu Borges recebe com frequência Michel Teló, Luan Santana, Fernando & Sorocaba, Jorge & Mateus, Bruno & Marrone, entre outros.
Com mais de dez anos de carreira como produtor e arranjador, o trabalho do rapaz vindo de Campo Grande (MS) começou a vingar em 2009. Naquele ano, ele arranjou e produziu o álbum "Curtição", da dupla João Bosco & Vinícius, com o qual emplacou o hit "Chora, Me Liga".
"A gente fez Sufoco', que foi uma das que mais marcaram na mudança de sonoridade do sertanejo, cheio de convenções. Ou dava certo ou dava tudo errado. Depois veio Chora, Me Liga', que estourou na América Latina", lembra o produtor.
O sucesso com Jorge & Mateus ajudou a consolidar a fórmula básica do sertanejo universitário: pegar elementos regionais (como a voz sertaneja e instrumentos como a sanfona) e adaptá-los a uma sonoridade mais pop rock.
"Na minha cabeça tinha que soar como um rock acústico, com vozes sertanejas e elementos regionais. Mas tinha que conhecer o lance sertanejo, nasci em Campo Grande. Mas, se eu te disser que eu ouvia Milionário & José Rico, é mentira", admite Dudu.
FORMAÇÃO NO GOSPEL
Aos 12 anos, ainda em Campo Grande, Dudu Borges começou a frequentar o estúdio de um primo, que lhe apresentou discos de bandas como Queen e Beatles e lhe ensinou a fazer jingles.
O garoto, que ouvia dos roqueiros ingleses a duplas sertanejas dos anos 1990, como Chitãozinho & Xororó, Zezé di Camargo & Luciano, João Paulo & Daniel, teve sua formação como tecladista aprimorada na igreja.
"Sempre tive muita liberdade para fazer o que queria na igreja. Lá, você toca de tudo: samba, pagode, rap, black, funk... Quando tive a oportunidade de fazer o sertanejo, foi um pouco de ingenuidade minha, não pensei muito para fazer", diz Dudu.
Filhos de pais que frequentavam a Igreja Batista, em Campo Grande, ele iniciou sua carreira como produtor e arranjador no gospel. De lá para cá, assinou mais de 35 trabalhos dentro do gênero.
Após ficar conhecido no meio, Dudu diz ter sofrido preconceito ao deixar de trabalhar com músicas de cunho religioso para produzir canções com temática de balada, cujas letras são, digamos, bem menos pudicas do que as do ambiente da igreja.
"Pessoas falam: O cara é da igreja e tá aí fazendo essas músicas'. Isso é natural. Minha mãe se preocupava um pouco mais, não pelo lance das letras, mas pelo ambiente", diz o produtor. "Minha religião é uma coisa, meu trabalho é outro, não sou esse cara bitolado", completa.
UM BILHÃO DE "VIEWS"
Depois de se estabelecer no meio gospel, o salto da carreira de Dudu se deu com os trabalhos "seculares", como ele define. A entrada no meio sertanejo aconteceu em 2006, quando ele escreveu os arranjos de algumas músicas do disco "Ao Vivo em Goiânia", de Bruno & Marrone.
Entre os anos de 2005 e 2008, também canetou as partituras e tocou teclado na banda Tradição, que tinha Michel Teló, seu amigo de adolescência dos tempos de Campo Grande, no vocal.
E a igreja, mesmo que indiretamente, ainda reservava bons frutos para Dudu. Em um culto, ele encontrou o pagodeiro Rodriguinho (ex-Travessos), que lhe disse que mostraria algumas canções.
No pacote estava "Fugidinha". Com o faro apurado para o sucesso, Dudu recomendou a Teló que ele a gravasse. A música foi a mais tocada no país em 2010.
No ano seguinte, veio o maior sucesso, novamente com Teló, "Ai se Eu Te Pego", que já ultrapassou a marca de mais de 500 milhões de visualizações no YouTube.
"Tenho mais de um bilhão de views' no YouTube", comenta. "Já ouvi que esse cara sou eu, não o Roberto Carlos', mas sou vacinado. Não tem prêmio maior que ser procurado por quem sempre admirei: Bruno & Marrone, Jorge Ben Jor e Fábio Jr., que é mito."
E os números seguem a favor de Dudu. Neste mês, segundo a Crowley Broadcast Analysis Brasil, as três músicas mais tocadas no país foram produzidas por ele: "Te Esperando", de Luan Santana, "Vidro Fumê", de Bruno & Marrone, e "Amiga da Minha Irmã", novo hit de Teló.
Além de trabalhar no próximo disco de Fábio Jr., o produtor se dedica ao novo DVD de Luan Santana, que será gravado em julho, em Itu.
    CDS
    SERTANEJO
    Sunset
    Michel Teló
    GRAVADORA Som Livre
    QUANTO R$ 19,90 (CD) e R$ 29,90 (DVD), em média
    AVALIAÇÃO **
    O disco novo de Michel Teló reafirma a máxima deque "um raio não cai duas vezes no mesmo lugar". Este álbum ao vivo dificilmente emplacará um fenômeno como "Ai se Eu Te Pego", mas mantém a mesma fórmula: um batidão (vaneirão com pegada de balada) extremamente pop. Com produção de Dudu Borges e participações de nomes como Paula Fernandes, Teló já emplacou o hit "Amiga da Minha Irmã". (LN)
    SERTANEJO
    Homens e Anjos
    Fernando & Sorocaba
    GRAVADORA Som Livre
    QUANTO R$ 19,90, em média
    AVALIAÇÃO **
    Também com produção e arranjos de Dudu Borges, o CD de Fernando & Sorocaba já tem uma faixa entre as mais tocadas do Brasil. Com seu country de balada, versos e músicas simplórios, o disco da dupla é puxado pelo hit "Imagina na Copa", cuja letra diz "Se hoje a mulherada já topa/ Imagina na Copa". "As Mina Pira", "Musa do Timão" e "Minha Ex" seguem a mesma linha de euforia sem conteúdo. (LN)

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