quarta-feira, 15 de maio de 2013

Eduardo Almeida Reis-Que luta!‏

Não sei o que vou beber. Enquanto Alba se aprontava, tomei quatro vodcas 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 15/05/2013 

Tive a honra de contar com a amizade do escritor e teatrólogo Guilherme Figueiredo (1915–1997), sendo embora muito mais moço que ele. Irmão do ex-presidente João Figueiredo e filho do coronel Euclides, Guilherme contava que um militar, amigo de seu pai, vivia dizendo: “O Euclides tem cinco filhos, três militares, um dentista e um rapaz que escreve”. Gourmet e copo brilhante, o rapaz que escrevia jantava sempre lá em casa. Éramos vizinhos de quarteirão em Copacabana. Ainda me lembro de sua dúvida numa noite de muito calor, janelas abertas com vista para o apartamento de Dorival Caymmi, todos os convidados engravatados: “Não sei o que vou beber. Enquanto Alba se aprontava, tomei quatro vodcas”.

Num dos seus livros de crônicas, Guilherme contou de um francês lavado para conhecer a feijoada completa numa tarde tórrida. À saída do restaurante, alguém se lembrou de ouvir a opinião do convidado sobre o nosso prato típico. E ele: D’abord j’ai cru que c’était de la merde; à la fin, je regrettais que ce n’en fût pás. Certa feita, citei a frase de memória e quase fui trucidado por leitores fluentes em francês, porque errei no verbo regretter. De lá para cá procurei o livro feito um desesperado, comprei outro exemplar num sebo e nada de encontrar a frase. Ontem, tive a inspiração de ir ao Google, escrevi algumas palavras e o nome do escritor para encontrar a frase transcrita acima. O trecho que ce n’en fût pás” não me soa bem, mas está no Google, que estampa diversas fotos do saudoso Guilherme. Várias não retratam o escritor e uma é do ex-ministro Saulo Ramos, falecido há duas semanas.

Portanto, fica estabelecido que, no Google, a frase está assim. E me lembra do dia em que fui almoçar no Astrodôme do Rio com o muito saudoso Hélio de Macedo Soares, pedimos um prato típico. acho que da Indonésia, com arroz frito, camarões, frutas, carnes, tudo misturado. À la fin, Hélio comentou: “Como todo prato típico, é uma boa m.”. Mesmo com a história de minha luta para encontrar a frase, não consigo vencer o bloqueio que me impede de escrever a palavra de cinco letras. Pela atenção, muitíssimo obrigado.

Medicina
Já lhes contei de abençoada sovaqueira, codinome hiper-hidrose axilar de fundo nervoso, que me salvou de carreira no serviço público federal, provavelmente chegando a ministro no tempo em que havia ministros respeitáveis. A hidrorreia só parava no terceiro uísque, confirmando seu fundo nervoso. Naquele tempo exigia operação que demorava nove horas, feita através das costas, implicando, segundo fui informado, manipulação dos pulmões. Hoje, existe operação simples por meio de furinhos que não deixam cicatrizes, feita no consultório com alta no mesmo dia. E agora tenho notícia de um laser especial que neutraliza as glândulas sudoríparas. Felizmente, essa tecnologia só foi inventada recentemente. Pensei fazer a operação de nove horas e tinha quem a fizesse de graça, o então maior neurocirurgião brasileiro Paulo Niemeyer, em cuja equipe trabalhei como fotógrafo quando pensava estudar medicina.

Meu primo banqueiro, formado em medicina, bem de vida, foi operar-se da coluna em Nova York com afamado neurocirurgião, que se espantou: “Quer dizer que o senhor veio do Rio, onde tem o doutor Niemeyer, para operar-se comigo?”. O banqueiro, constrangido, admitiu que era muito amigo do neurocirurgião carioca, além de ter sido seu colega de turma. Operado pelo norte-americano, perdeu o movimento de uma das pernas, o que também poderia ter acontecido no Brasil. Voltando à hiper-hidrose sem cirurgias ou laser, usei, durante anos, um talco que funcionou perfeitamente: Ammens Original Medicated Formula, baratíssimo nas farmácias dos Estados Unidos. Como inconveniente, só a incompatibilidade com as roupas escuras, porque é branco. Funciona.

O mundo é uma bola
15 de maio de 1536, Anne Boleyn, na flor dos seus 35 anos, segunda mulher de Henrique VIII, de Inglaterra, mãe da marquesa de Pembroke e da futura rainha Elizabeth I, foi considerada pelo Parlamento culpada de traição, adultério, incesto e o escambau, para ser executada quatro dias depois na Torre de Londres. Sua vida inspirou inúmeras biografias e obras de ficção. Filha de sir Thomas Boleyn e de Lady Elizabeth Howard, foi educada na França e voltou para a Inglaterra em 1522. Sua irmã Mary Boleyn fora amante do rei. Anne resistiu às tentativas de Henrique de torná-la sua amante, motivo pelo qual o rei anulou seu casamento com Catarina de Aragão para casar-se com ela. O papa Clemente VII discordou do divórcio real, dando início à ruptura entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Inglaterra, da qual resultou a Igreja Anglicana. O casamento real durou pouco mais que três anos. Falta-me tempo para apurar a história do incesto, que a do adultério deve ter sido a mais pura verdade: Henrique VIII nasceu para ser chifrado. Em 2012, François Gérard George Nicolas Hollande toma posse como presidente da França. Fez um papelão quando abandonou Ségolène Royal, mas devemos todos convir em que a sua nova companheira é da melhor palatabilidade. Hoje é o Dia do Assistente Social.

Ruminanças
“Em a gente se acostumando, não quer senão daquilo... A preta é grande mulher.” (Eça de Queirós in Alves & Cia., palavras do sr. Carvalho)

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