terça-feira, 18 de junho de 2013

Protestos e vaias - Editoriais FolhaSP

folha de são paulo
Protestos e vaias
Muda o clima político no país; governo Dilma não tem respostas para inflação nem para saúde, educação, segurança e transportes
No fim de semana em que teve início a Copa das Confederações, a programação de TV foi tomada por anúncios do programa Minha Casa Melhor, investida da presidente Dilma Rousseff para estancar a popularidade em queda. Trata-se de linha de crédito subsidiado, de até R$ 18,7 bilhões, para incentivar a compra de eletrodomésticos.
O benefício só está disponível para os mutuários do programa Minha Casa Minha Vida em dia com as prestações, num universo de 3,75 milhões de moradias já erguidas ou com construção prevista. Serão até R$ 5 mil por família para adquirir móveis, geladeiras, computadores e outros aparelhos.
Em quatro dias, 12 mil famílias assinaram contratos. Centenas de milhares se seguirão, com bons motivos para aplaudir o Planalto.
Todos os outros brasileiros, em contraste, veem sua capacidade de consumo estreitar-se de forma acelerada, sob o golpe duplo do aumento da inflação (que já corrói os salários) e dos juros (que deve onerar as compras a prazo). A errática política econômica do governo federal prejudica mais gente do que os favorecidos por suas iniciativas de transferência de renda.
Decerto as vaias recebidas pela presidente no estádio Mané Garrincha, sábado, não têm relação direta só com a deterioração das expectativas econômicas. Sempre haverá espectadores de futebol dispostos a apupar uma autoridade.
Dilma Rousseff resvalará para o autoengano, porém, se desconsiderar que as vaias vieram na semana em que se espalharam pelo país protestos contra altas de preços (tarifas de transportes) e contra o que alguns percebem como mau emprego de verbas públicas (nos eventos esportivos, entre outros).
É fato que, no terceiro ano de seu governo, são fortes os sinais de que se rompe a bolha de otimismo que levou Dilma ao Planalto.
A reação habitual da presidente tem sido aumentar a aposta, como no caso do Minha Casa Melhor. Estima-se que o programa possa exigir subsídio de até R$ 1 bilhão ao ano. Para custeá-lo, o governo recorrerá a mais endividamento público, com transferência de R$ 8 bilhões à Caixa Econômica Federal, a fundo perdido.
O total de crédito bancário para aquisição de bens (excluídos automóveis), hoje, está próximo a R$ 10 bilhões. Num passe de mágica, o programa quase triplica o valor. É um despropósito, num momento em que fomentar o consumo não parece mais capaz de estimular a atividade econômica de forma duradoura. Será apenas um alívio temporário para os setores contemplados, à custa de maior endividamento das famílias.
O que aflige os brasileiros é a perda de poder aquisitivo, com a inflação, e a incapacidade do Estado de apresentar soluções concretas para a crise nas áreas vitais de saúde, educação, segurança e transportes. Mais consumo e mais futebol não resolvem nada disso.
    EDITORIAIS
    editoriais@uol.com.br
    O Irã se move
    A vitória inesperada do clérigo centrista Hassan Rowhani na eleição presidencial iraniana representa o primeiro sinal encorajador dos últimos anos na relação entre Teerã e as potências ocidentais.
    Apoiado por setores de oposição, Rowhani derrotou cinco conservadores apoiados pelo regime logo no primeiro turno. Bastou-lhe uma plataforma óbvia: o Irã precisa melhorar sua imagem externa para aliviar sanções ao programa nuclear que prejudicam as condições de vida da população.
    A base política de Rowhani vai além da classe média liberal. Inclui parcelas expressivas da população mais pobre, exaurida pela crise.
    Ao longo da campanha, o clérigo martelou que sua experiência diplomática, acumulada nos anos em que chefiava delegações iranianas nas conversas atômicas, lhe dava as melhores credenciais para diluir a tensão na política externa.
    Nas capitais europeias, Rowhani é lembrado como o negociador que chegou a suspender o programa nuclear. Ao contrário do conservador Mahmoud Ahmadinejad, age com serenidade e fala inglês.
    É preciso cuidado com o otimismo, porém. No sistema teocrático em vigor desde a revolução de 1979, decisões estratégicas são prerrogativa do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei. Não haverá mudança substancial nas conversas nucleares sem sua anuência.
    Rowhani se diz disposto a dialogar com os EUA e promete maior transparência nas atividades atômicas, mas considera inalienável o direito de enriquecer urânio para fins pacíficos. Também manterá a hostilidade a Israel, cravada no centro da política iraniana, assim como o apoio ao regime sírio.
    Rowhani ocupou altos cargos no aparato de segurança. Na condição de "hojatoleslam", nível abaixo ao de aiatolá na hierarquia xiita, relaciona-se bem com clérigos radicais e a Guarda Revolucionária, força militar que sustenta o regime.
    O mesmo ceticismo se aplica ao plano doméstico.
    Rowhani preconizou mais liberdade política e moral. Milhões o elegeram na esperança de corrigir a injustiça de 2009, quando o governo esmagou protestos contra a reeleição de Ahmadinejad, diante dos indícios de fraude. É muito improvável que o regime tolere mudança significativa nesse campo.
    O primeiro desafio de Rowhani será conter as expectativas que sua eleição criou, dentro e fora do país.

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