sábado, 17 de agosto de 2013

Caipira piradinha - Ana Clara Brant

Música sertaneja se moderniza, muda de estilo para conquistar público e já é a principal arrecadadora de direitos autorais no Brasil 


Ana Clara Brant

Estado de Minas: 17/08/2013 


O mineiro Eduardo Costa diz que a modernidade pode conviver com o sentimentalismo do sertanejo de raiz (Guto Costa/Divulgação)
O mineiro Eduardo Costa diz que a modernidade pode conviver com o sentimentalismo do sertanejo de raiz

Ele é um dos ritmos mais queridos pelos brasileiros. Nascido nos grotões do país, há quem o chame de caipira, country ou quem defenda que são coisas completamente distintas. Mas o sertanejo – palavra que segundo o dicionário significa “aquele que é ou vem do sertão” – está aí há décadas e faz parte da trilha sonora de muitas pessoas. Porém, de uns anos para cá, o gênero foi se adaptando aos novos tempos. E chegou a ganhar novos nomes, de universitário a popnejo. Para marcar a influência do country americano, há quem fale até em new sertanejo.

O que é certo é que o estilo emplaca os primeiros lugares nas paradas. De acordo com o Ecad, dos 10 maiores arrecadadores de direitos autorais no Brasil, cinco fazem parte dessa turma, sendo que Fernando (da dupla Fernando & Sorocaba) e Victor Chaves (que divide o palco com o irmão Leo) encabeçam a lista, desbancando ninguém menos que Roberto e Erasmo Carlos, Chico Buarque e Caetano Veloso. Entre os 10 mais, marcam presença ainda os popnejos Paula Fernandes, Gusttavo Lima e Luan Santana.

Seja para conquistar público ou mercado, a mudança no estilo responsável por alavancar o gênero se deu principalmente na sonoridade. “Ele tem se renovado sempre. E por isso vem alcançando outras classes sociais, outras faixas etárias, como a galera mais nova. E ainda consegue reunir vários estilos dentro do próprio sertanejo. Acredito que a grande alteração é mesmo no som”, defende Dudu Borges, que é produtor musical de vários artistas do ramo, como Michel Teló, Jorge & Matheus, Luan Santana e Bruno & Marrone.

O cantor e compositor mineiro Eduardo Costa é um dos que também percebem essa nova fase do gênero. No entanto, faz questão de frisar que para artistas mais tradicionais, como ele, Leonardo, Chitãozinho & Xororó e Trio do Brasil, por exemplo, nada mudou. “Continuamos no sertanejo de raiz, aquele que machuca o coração. Faz o caboclo sofrer pela mulher amada, tomar umas cachaças. Puro romantismo. Não sou influenciado por esse modismo”, assegura.

Além de formar uma das duplas mais aclamadas pelo público, Fernando e Sorocaba têm uma empresa que administra a carreira de outros colegas e acreditam que a música sertaneja atual conquistou seu espaço justamente por ter dado uma repaginada no estilo. “O ritmo é mais acelerado, mais parecido com o country norte-americano ou com o pop, e falamos de assuntos que estão presentes no cotidiano dos jovens, como balada e paquera. Isso fez com que essa turma se identificasse com as nossas músicas”, avalia Fernando.

Duo e solo Mas não é só a sonoridade que mudou. Há outras novidades, como o surgimento de cantores que se apresentam sozinhos no palco, distante do estereótipo das duplas que vem do tempo da chamada música caipira. Quem curte o estilo sempre se acostumou a ver irmãos ou amigos com instrumento em punho tocando modas de viola. Agora, é comum ver apenas um artista no palco e, frequentemente, com guitarra em vez do violão ou viola. O produtor Dudu Borges diz que depois da morte de Leandro e João Paulo, que faziam duplas, respectivamente, com Leonardo e Daniel, as carreiras solos começaram a pipocar, mas isso não significa que há uma diminuição das duplas. “As pessoas se acostumaram a ver dois cantores juntos. Mas o mercado muda. O Daniel e o Leonardo vieram bem fortes de 15 anos pra cá e ajudaram a abrir caminho. Mas tem de tudo ainda”, acrescenta.

Para Eduardo Costa, que se considera o primeiro artista solo sertanejo de sucesso – já que, segundo ele, Sérgio Reis veio do rock e da Jovem Guarda e Leonardo e Daniel de uma fatalidade –, não foi fácil quebrar essa barreira, mas garante que não existe conceito de que sertanejo tem que ser em dupla. “Administrar uma carreira não é fácil e em dupla deve ser mais complicado ainda. Cada artista tem uma característica, uma opinião. E tem artista que não consegue cantar sem um parceiro. É bom ter essa variação”, frisa.

Sorocaba, da dupla Fernando & Sorocaba, é outro que acredita em espaço para todos e defende que o importante mesmo é o talento. “Hoje, na nossa empresa, a FS Produções Artísticas, temos gente de sucesso que canta só, como o Lucas Lucco, mas também as duplas Thaeme & Thiago e Marcos & Belutti. O que vale, no fim das contas, é saber cantar, ter carisma e presença de palco”, completa.

A mudança no perfil dos artistas sertanejos pode ser conferida ainda na lista das canções mais tocadas do estilo, que, a cada estação, parece eleger um novo fenômeno de execução de vendagem de discos. Depois do sucesso internacional de Michel Teló, o sertanejo pop com pegada sulista parece ter agradado e emplacou, na última semana, Gabriel Valim, de Piradinha, como o top 1, quatro posições à frente de Teló, com o hit Se tudo fosse fácil.


Artistas com maior rendimento em 2012

1 – Sorocaba (Fernando e Sorocaba)
2 – Victor Chaves (Victor e Leo)
3 – Roberto Carlos
4 – Paula Fernandes
5 – Thiaguinho
6 – Erasmo Carlos
7 – Chico Buarque
8 – Gusttavo Lima
9 – Luan Santana
10 – Caetano Veloso

Fonte: Ecad (Somando shows, eventos, rádio, TV, música ao vivo e sonorização ambiental)


Canções sertanejas mais tocadas entre 4 e 8 de agosto

1 – Piradinha – Gabriel Valim
2 – Enamorado – Eduardo Costa
3 – Te esperando – Luan Santana
4 – Choro – Leonardo
5 – Se tudo fosse fácil – Michel Teló participação de Paula Fernandes
6 – Um ser amor – Paula Fernandes
7 – Caso indefinido – Cristiano Araujo
8 – Conto até 10 – George Henrique e Rodrigo com Jorge e Mateus
9 – Diz pra mim – Gusttavo Lima
10 – Irracional – Marcos e Belutti

Fonte: Crowley Broadcast Analisys/Universo Sertanejo


Agora é que são elas
Publicação: 17/08/2013 04:00
Suellen Santos aposta na conquista de espaço pelas cantoras sertanejas de sua geração (Fábio Nunes/Divulgação)
Suellen Santos aposta na conquista de espaço pelas cantoras sertanejas de sua geração
A presença feminina é mais uma inovação do new sertanejo. O estilo musical, em boa parte, sempre foi marcado pelas vozes masculinas, mas isso vem mudando. E se antes o mercado ficava restrito a nomes como os de Roberta e Sula Miranda, ou mesmo das Marcianas e das Irmãs Galvão –, que recentemente completaram 66 anos de carreira –, de uns anos para cá apareceram Paula Fernandes, Maria Cecília (que faz dupla com Rodolfo) e Thaeme (que canta com Thiago).

O produtor Dudu Borges, mesmo destacando o crescimento desse segmento, credita à falta de uma cultura mais feminina no setor a escassez de cantoras. “Tem muita mulher dando show, mas não é tão comum como ocorre com os homens. É um mistério, porque tem muita gente de talento por aí. Elas fazem tão bonito quanto eles. Acho que o público ainda não se acostumou, porque essa coisa do homem cantando é muito forte no segmento sertanejo. Mas espero que mude”, diz.

Com carreira que começa a despontar, a paulista Suellen Santos, de 27 anos, acredita que as mulheres estão conquistando espaço em todos os setores e não poderia ser diferente na música sertaneja. No entanto, ainda vê certa resistência, principalmente das que buscam carreira solo. “É um universo muito masculino e por isso a gente tem que vencer pelo esforço e trabalho. Tem que focar no repertório e no que você acredita. O mais importante é que o sertanejo, independentemente de ser sozinho, em dupla, homem ou mulher, não perca as suas raízes e a sua essência”, resume.

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