quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Eduardo Almeida Reis - Reino do Busão‏

Na capital mineira, enquanto o rei cuidava de negócios, a velha e boa rainha, mulher simples, contratava os serviços de um taxista amigo nosso para ir aos shoppings 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 07/08/2013 

Não confundir com o pequeno Reino do Butão, em butanês Druk Yul “Terra do Dragão”, capital Thimphu, encravado no Himalaia entre a China e a Índia, 700 mil habitantes, IDH médio, renda per capita US$ 4.700, monarquia constitucional democrática, rei Jigme Khesar Namgyal.

O Reino do Busão, melhor dizendo, os reinos ficam num país grande e bobo, e cada cidade grande tem o seu monarca. Há também reinos estaduais, como o de sua majestade Nenê Constantino, pai do Constantino Júnior, dono da Gol. Belo Horizonte conta com diversos príncipes. Almocei no Automóvel Club pelo aniversário de um deles, meu amigo, e constatei que são gente como a gente, uns melhores, outros piores, a maioria normal, com a diferença de cada um possuir centenas de ônibus rendendo rios de caraminguás.

O rei do Rio, Jacob Barata, casou sua neta Beatriz com o filho do rei do Ceará, Chiquinho Feitosa, cerimônia fechada na Igreja do Carmo seguida de recepção no Copacabana Palace. Para alegria de muita gente, que odeia os ricos, havia um grupo de arruaceiros diante da igreja e do hotel, não mais que 150 baderneiros extravasando seu ódio pelos noivos e pelas famílias de reis dos busões, fichinhas diante do “rei dos ônibus de São Paulo”, que vinha a BH tratar de negócios trazendo sua velha mulher.

Em Sampa, o rei tinha helicóptero “igual ao do presidente dos Estados Unidos” e chegava à sede de suas empresas embarcado na imensa aeronave de asas rotativas. Viajava para Belo Horizonte em seu jatinho, que também não era de se jogar fora. Na capital mineira, enquanto o rei cuidava de negócios, a velha e boa rainha, mulher simples, contratava os serviços de um taxista amigo nosso para ir aos shoppings.

Sem se importar com os preços, comprava cinco produtos iguais de cada vez, acho que para os filhos e netos. Logo no primeiro shopping entupia o carro do taxista nosso amigo, que telefonava para um colega e incorporava o novo táxi à comitiva. Pelas duas horas da tarde, havia cinco táxis entupidos de compras e a rainha dos busões paulistanos, à mesa, almoçando com os motoristas na praça de alimentação de um shopping, antes de tomar o rumo do Aeroporto da Pampulha para entupir o jatinho de pacotes. Mulher simples, de bom coração, não tinha culpa do marido bilionário.


Rádio compadres
Televisão, telefone de fio ou celular, rádio, computador, essas coisas todas têm no mundo milhões de pessoas que entendem como funcionam e sabem como construir equipamentos parecidos, se tiverem os materiais. Difícil vai ser encontrar alguém, mesmo entre os gênios do Vale do Silício, capaz de explicar como funcionam as rádios compadres sem eletricidade, pilhas, válvulas, transistores, antenas, sem qualquer equipamento eletroeletrônico.

Tudo que sei é que funcionam muitíssimo bem. Não fazem transmissões (e recepções) diretas; levam dois ou três dias, período de tempo irrelevante na roça, onde um potrinho demora até 345 dias para nascer, um bezerro 284 e um cabritinho 140. Portanto, na roça os sujeitos regulam suas vidas nos conformes do tempo que as coisas demoram.

Conheci a rádio compadres em 1970, quando me mudei para pequena fazenda nas serras fluminenses, sem luz, estradas e telefones. A equipe de obreiros era mineira, de uma região distante cerca de 150 quilômetros da nossa rocinha. Todos os compadres se mudaram para o RJ na década de 60, quando uma enchente destruiu as fazendas da região em que trabalhavam.

Mudaram-se para o RJ, mas continuaram dando notícia de tudo que ocorria com os seus parentes e amigos na região que se recuperava da enchente: sabiam quem estava namorando quem, davam notícia dos mortos e dos recém-nascidos, das coças que os compadres deram nas comadres arteiras, das demissões e contratações, sabiam tudo sem telefone, rádio ou emissários viajando entre as duas roças, a mineira e a fluminense. De repente, eram telepatas e o bobo do patrão não sabia.

Fenômeno estudado pelos parapsicólogos, telepatia é comunicação direta e a distância entre duas mentes, ou conhecimento, por alguém, dos processos mentais de outrem, além dos limites da percepção ordinária.


O mundo é uma bola
7 de agosto de 1767: alvará que concede privilégios aos diretores da Real Fábrica de Chapéus de Pombal para aquisição de matérias-primas. Considerando que matéria-prima é a substância principal que se utiliza no fabrico de alguma coisa, o alvará foi uma delícia: como fazer chapéus sem matéria-prima para fabricá-los?

Em 1794 tem lugar em Lisboa o último auto de fé, evento de penitência realizado publicamente, ou em espaço reservado para isso, com humilhação de heréticos e apóstatas, bem como punição aos cristãos-novos pelo não cumprimento ou vigilância da nova fé que lhes foi outorgada – posto em prática pela Inquisição principalmente em Portugal e Espanha. Em 1879 foi registrada em Vacaria, RS, a maior precipitação de neve de que se tem notícia no Brasil: dois metros de altura.


Ruminanças
“O homem que se deixa chatear é ainda mais desprezível que o que chateia” (Samuel Butler, 1835-1902, que seria incapaz de escrever “que o que”. Escreveu: “...be bored is even more contemptible than the bore”).

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