sábado, 31 de agosto de 2013

Ruy Castro

folha de são paulo
O sapo de Arubinha
RIO DE JANEIRO - Entro no táxi em Ipanema e o motorista me diz: "Bom dia, Ruy. Acredita que conheci o Arubinha?".
Muitos motoristas do Rio sabem que gosto de futebol e puxam assunto. Mas nunca um deles me veio com algo tão sensacional. Arubinha foi um personagem de Mario Filho, o jornalista que, com seu irmão Nelson Rodrigues, inventou a crônica esportiva. E a maior crônica de Mario falava de um jogador do humilde Andaraí que, em 1937, rogou uma praga contra o Vasco por este ter goleado seu time por 12 a 0.
Por que a praga? Porque o jogo nem era para ter acontecido. A caminho do estádio, numa noite de muita chuva no Rio, o ônibus do Vasco bateu. Jogadores se machucaram e, enquanto eles eram medicados no Pronto Socorro, o Andaraí --que sabia que ia perder e poderia ter vencido por W.O.-- recusou-se a se aproveitar e esperou pelo adversário. Mais de uma hora depois, o Vasco chegou e, mesmo estropiado, meteu 12 a 0.
Trilado o apito final, um jogador do Andaraí --Arubinha-- ajoelhou-se no gramado e, sempre sob chuva, olhou para o céu e disse: "Se existe Deus, o Vasco vai ficar 12 anos sem ser campeão". Passou. E, ano após ano, nada de o Vasco ser campeão. Falou-se que, para garantir, Arubinha ainda enterrara um sapo em São Januário. O fato é que o Vasco, campeão pela última vez em 1934, só voltaria a sê-lo em 1945 --11 anos depois. Moral: se tivesse vencido apenas por 1 a 0, nada lhe teria acontecido.
Nélio, o motorista, me contou que Arubinha era um velho amigo de sua família em Madureira. Ele próprio, ainda garoto, o conhecera nos anos 70 --um senhor baixo, de pernas arqueadas, sexagenário e sempre de mau humor, principalmente pela história do sapo. Morreria uns dez anos depois. Ouvi a história e ganhei o dia --tinha conversado com alguém que conhecera o lendário Arubinha.

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