sexta-feira, 13 de setembro de 2013

EDUARDO ALMEIDA REIS - Amálgama racial‏

Só entre os anos de 2000 e 2003, em clima de paz democrática, o Brasil enterrou 193.925 cavalheiros e damas assassinados 


Estado de Minas: 13/09/2013 


O mundo inteiro elogia nosso amálgama racial, que resultou no homem cordial brasileiro, brasil, brasilense, brasiliano, brasílico, brasiliense e brasílio. Amálgama, sabemos todos, é liga metálica que contém mercúrio. Em sentido figurado, mistura de elementos diferentes ou heterogêneos que formam um todo. Receio que as circunstâncias tenham exagerado na dose de mercúrio, elemento químico sabidamente venenoso, sobretudo depois que li na internet trabalho atribuído ao desembargador Pedro Valls Feu Rosa, do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo. Diz e prova o magistrado capixaba que mais civis brasileiros são mortos em cinco anos do que os militares norte-americanos em todas as guerras. Na Guerra do Vietnã, durante 10 anos, os exércitos norte-americanos perderam 58.198 soldados. No Brasil, que não estava em guerra, só no ano de 2003 foram assassinadas nas ruas 51.043 pessoas. Na Segunda Guerra Mundial, o maior conflito da história,  militares norte-americanos lutaram praticamente no mundo inteiro. Em cinco anos perderam 291.557 combatentes. Pois fique o leitor sabendo que entre 2002 e 2006 morreram assassinados em nossas cidades 243.232 mil brasileiros. Durante a Primeira Guerra Mundial, 53.402 soldados norte-americanos foram mortos em quatro anos de combates. Enquanto isso, somente em 2005 os brasileiros assistimos a 47.578 homicídios, “algo espantoso para um país que vive em paz”, anota o desembargador.

Assustado com esses números, o meritíssimo doutor Rosa somou os soldados norte-americanos que morreram em combate na Guerra do México, Guerra Hispano-Americana, Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial, Guerra da Coreia, Guerra do Vietnã, Guerra do Golfo, Guerra do Iraque e Guerra do Afeganistão, chegando a 666.056 baixas ao término de batalhas terríveis. Enquanto isso e em apenas 16 anos (1990 a 2006), 697.668 civis brasileiros morreram a tiros, facadas, pauladas e pedradas nas cidades deste país tranquilo, tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza; de invejável e invejado amálgama racial, diz aqui o philosopho. E o desembargador vai mais longe ao calcular que o Exército dos EUA, em guerra, perde 53,67 soldados por dia, enquanto o Brasil pacífico tem 119,46 habitantes assassinados por dia – mais que o dobro! –, motivo pelo qual sugere que o brasileiro se aliste nas Forças Armadas dos EUA visando a levar uma vida mais segura.

Não contente com esses números indiscutíveis (e terríveis), Feu Rosa constatou que em cinco anos de Segunda Guerra Mundial, a pior de todos os tempos, morreram 166.914 soldados da Bélgica, Bulgária, Canadá, antiga Tchecoslováquia, Dinamarca, Grécia, Holanda, Noruega, Austrália, Índia, Nova Zelândia. A França, invadida pelos nazistas, perdeu 201.568 soldados e a Itália de Mussolini, 149.496. Pois muito bem: só entre os anos de 2000 e 2003, em clima de paz democrática, o Brasil enterrou 193.925 cavalheiros e damas assassinados. Entre 2001 e 2005, perdemos 244.471 civis. E o negócio vai por aí com uma única certeza: piora dia a dia.

Ministros
Sérgio Rodrigo Reis, não fosse um Reis, deu-nos excelente matéria na edição de 5 de agosto sobre o resgate de hortaliças raras pela Empresa de Pesquisas Agropecuárias de Minas Gerais (Epamig). Uma delas, de etimologia deliciosa, tem assento em diversos gabinetes da Esplanada dos Ministérios deste país grande é bobo. Vem do moçárabe berdolaca (origem também do espanhol verdolaga), entrando no português em 1562 como substantivo feminino beldroega. Mas também é adjetivo de dois gêneros e substantivo de dois gêneros, menos usado no singular do que no plural beldroegas, significando tolo, boçal, joão-ninguém, inútil, insignificante: um beldroegas ou uma beldroegas. Usava-se muito no Rio de Janeiro de antigamente e desapareceu do modismo linguístico, apesar do número assustador de beldroegas ocupando altos postos por aí, sobretudo e principalmente na esplanada brasiliense. Das hortaliças pesquisadas pela Epamig conheço algumas e já provei poucas. Não me lembro da beldroega, mas a taioba era comum nas roças em que morei e nunca foi do meu agrado, talvez por não combinar com a cerveja e o vinho. Pode ser que combine, que se “harmonize” com aqueles alcoóis, mas o sedento que fui não tinha tempo de testar harmonizações.

O mundo é uma bola
13 de setembro de 1276: Pedro Julião, médico, matemático e bispo nascido em Lisboa, é eleito papa João XXI. E o philosopho, que já sabia do papa português, acaba de tomar um susto: ao digitar no Google 13 de setembro, o buscador, numa fração de segundo, informou a existência de mais de 85 milhões de entradas. Tem cabimento? Em 1500, após descobrir um país grande e bobo, a esquadra de Pedro Álvares Cabral chega a Calecute. Em 1943, criação do território federal de Rio Branco, atual estado de Roraima, no país descoberto por Cabral. Em 1966, com a criação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), termina a estabilidade depois de 10 anos de casa. Em 1987, acidente radioativo em Goiânia. Em 1903, nascimento da atriz Claudette Colbert, natural de Saint-Mandé, França, como Émilie Claudette Chauchoin, mas criada nos EUA desde 1906. Em 1592 morreu Montaigne, gênio francês.

Ruminanças
“França, mãe das artes, das armas e das leis” (Du Bellay, 1522-1560)

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