domingo, 22 de setembro de 2013

Especialistas esclarecem mitos e verdades sobre a terapia de reposição hormonal‏

Mulher de fases 

Especialistas esclarecem mitos e verdades sobre a terapia de reposição hormonal, ainda rodeada de dúvidas e especulações. Colégio americano atualiza três recomendações 


Lilian Monteiro

Estado de Minas: 22/09/2013


 (istockphoto)

 
Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia (Acog, na sigla em inglês) divulgou recentemente três normativas relacionadas à terapia hormonal. São informações atualizadas internacionalmente sobre o momento da vida da mulher conhecido como climatério: entre os 45 e 55 anos, período de transição ao sair da fase reprodutiva para a não reprodutiva, da falência dos ovários com a interrupção da produção dos hormônios, estrogênio e progesterona. Essa etapa é considerada controversa, já que para algumas mulheres não traz grandes desconfortos, mas para outras é uma batalha diária contra sintomas intensos – como altas ondas de calor –, que comprometem a qualidade de vida e o bem-estar.

O ginecologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ivaldo Silva explica que o primeiro ponto das normativas é que, depois de mais de 10 anos do estudo Women’s Health Initiative (WHI), “viu-se que o uso da dose mais baixa na terapia hormonal (TH) é eficaz. O que significa, numa analogia com o anticoncepcional, que a cada ano, mesmo em menor dose, ainda evita filhos.” O estudo foi divulgado no Journal of the American Medical Association,  contou com a participação de 27 mil voluntárias norte-americanas com o objetivo de examinar os benefícios e os riscos do tratamento de reposição hormonal e teve detalhada análise da sociedade médica internacional.


Silva acompanhou a vinda do especialista norte-americano e professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia e Ginecologia da escola de medicina da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, Frederick Naftolin, ao Brasil.
O ginecologista reforça ainda que constatou-se que “as mulheres que faziam a TH estavam mais protegidas do que as que não usavam, tinham melhor qualidade de vida”. Por outro lado, ele chama a atenção ao enfatizar que “qualquer medicamento causa efeito colateral. O importante é escolher a melhor terapia para o paciente, que é sempre individualizado, e também por ter aqueles que talvez não precisem.”


 Outra constatação importante do colégio americano, segundo Ivaldo Silva, é que “não existe mais parar o tratamento de TH depois de cinco ou sete anos. A recomendação é suspender só depois de uma avaliação do médico com o paciente. Antes cinco anos eram um tempo prestabelecido, mas foram constatados benefícios para as mulheres que fazem o uso contínuo da terapia. Se têm necessidade não tem por que parar. Se há resultado, é importante manter. A análise individualizada do paciente, que é fundamental, com um conjunto de fatores, vai determinar a continuidade ou não. Enquanto o benefício for maior que o risco, use. É a normativa.”

VIDA ATIVA A ginecologista e diretora da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) Cláudia Teixeira da Costa Lodi reconhece que essa fase aflige as mulheres, principalmente, porque “cada vez mais ativas profissionalmente e com o aumento da expectativa de vida, elas vão passar um terço da vida no período da pós-menopausa com ausência da produção de hormônios esteroides (ovarianos). Consequentemente, começam a ter sinais e sintomas como os fogachos (calores, que tendem a desaparecer aproximadamente dentro de dois a três anos pós-menopausa), que interferem no dia a dia, assim como a irritabilidade e a insônia”.


Cláudia explica que, para tornar a fase ainda mais complicada,  com o passar dos anos a vagina fica menos lubrificada, podendo levar a dificuldade na relação sexual. “Há ainda uma diminuição da libido, do desejo da relação”. Num terceiro estágio, no climatério mais tardio, a ginecologista enfatiza que “pode haver osteoporose e  doenças cardiovasculares”, essas se tornam mais frequentes porque, antes do encerramento da produção de hormônios, eles atuavam como protetores. “Depois da menopausa, a incidência de doenças cardiovasculares passa a ser maior nas mulheres, igualando-se à em homens.”


Por causa desses fatores foi que começou a terapia hormonal, que propicia melhor qualidade de vida nessa fase, com proteção para as doenças. “Para usar a TH é importantíssimo que a mulher faça avaliação prévia com um ginecologista para ver se tem condições de usar, já que o ideal é que essa reposição se inicie o mais precocemente possível para ter maiores benefícios. Parou de menstruar, começa a repor.”


Cláudia avisa que a avaliação é fundamental porque existem fatores contraindicados para a terapêutica. Ela enumera cinco principais: “Histórico familiar de câncer de mama (mãe, irmã ou filha com câncer), doenças tromboembólicas (trombose) recente, insuficiência renal e hepática grave, tabagismo e infarto agudo do miocárdio recente, além de outras que devem ser avaliadas com exames previamente.”


A médica enfatiza que é imprescindível que a mulher que estiver fazendo a reposição mantenha controle ginecológico periódico e esteja sempre em dia com exames como mamografia, prevenção do câncer do colo do útero, sanguíneos e avaliação do perfil lipídico (colesterol e triglicérides). Ela defende ainda que uma terapêutica hormonal “deve ser individualizada”. Ou seja, cada paciente é única e precisa ser tratada como tal. É importante observar caso a caso, já que as necessidades e características mudam para cada mulher. “E devem também ser discutidos entre médico e paciente os fatores de riscos e os benefícios. Hoje, há no mercado vários medicamentos e formas de administração.”
 
OUTROS RECURSOS Quanto à famosa pesquisa Women’s Health Initiative, que concluiu que o tratamento com hormônios potencializava os riscos de surgimento de doenças como câncer de mama, infarto e derrame, ela é contestada por  Cláudia Lodi. “O estudo foi feito com mulheres mais velhas, com doenças cardiovasculares preestabelecidas, fumantes e sem critério adequado de seleção. Por isso, não é um estudo que possa direcionar nossa conduta. A verdade é que todo tratamento tem riscos e benefícios.” A especialista explica que as pacientes com contraindicação absoluta ao uso de THs vão lançar mão de outros recursos, que são importantes serem adotados por quem faz a reposição. “As medidas são mudança de hábito de vida, atividade física frequente e suplementação de cálcio se necessário. No caso da osteoporose vale destacar que há outros tratamentos que não a reposição.”



z Mitos e
verdades
 
Mitos
TH não causa câncer
Não existe risco de gravidez
Não aumenta o peso, não há ganho de peso

 
Verdades
Melhora a qualidade de vida das mulheres, como o controle dos calores e da insônia
Protege contra a osteoporose
Melhora a libido e a resposta sexual



Leia amanhã: Homem também faz reposição hormonal 

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