segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Luna Lunera completa 12 anos com balanço positivo.‏

Luna Lunera completa 12 anos com balanço positivo. Para celebrar, faz apresentação de abertura do CCBB com o espetáculo Prazer. Temporada vai de sexta a 22 de dezembro


Carolina Braga

Estado de Minas: 07/10/2013 



Depois de 90 apresentações de Prazer em São Paulo, Rio, Curitiba e Brasília, Luna Lunera estreia na terra natal     (Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Depois de 90 apresentações de Prazer em São Paulo, Rio, Curitiba e Brasília, Luna Lunera estreia na terra natal


Diz o diretor, autor, pesquisador e referência no mundo teatral Eugênio Barba que cada ano de um grupo de teatro equivale a três, tamanha a intensidade da experiência. Se for assim, lá se vão 36 anos desde que a Companhia Luna Lunera se formou numa sala de aula do Palácio das Artes. “Seria uma idade que ainda tem a energia do jovem, sem a inocência dos 20. Já tem uma maturidade, mas ainda não é o sênior. Acho que estamos aí”, embarca na brincadeira a atriz Isabela Paes.

Na sexta-feira, ela, Cláudio Dias, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e Zé Walter Albinati se preparam para um feito digno de “gente grande”: inaugurar o teatro do Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte. Será a esperada estreia de Prazer, o novo espetáculo, na terra natal do grupo. E, olha, foi uma novela chegar até aqui.

Contemplado em um dos editais do banco, o pré-requisito era estrear neste mesmo palco, porém em 2012. O problema é que o espaço não ficou pronto, daí, pela primeira vez, o Luna Lunera começou a trajetória de uma montagem em terra “estrangeira”. Esteve em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília. “É como se as outras cidades tivessem apadrinhado a nossa vinda”, comenta Zé Walter. “Estou com uma expectativa enorme. Para mim, é uma sensação de que a peça estreia agora. É muito esquisito porque já temos quase 90 apresentações”, diz Odilon Esteves.

Inquietações

Outra raridade que marca a chegada de Prazer a BH é que será uma temporada de 11 semanas, até 22 de dezembro. Feito, até então, possível só para quem é dono do próprio espaço. “É surreal poder fazer uma temporada assim. Nutre-me saber que é um desafio grande manter a peça em cartaz tanto tempo aqui”, completa Odilon. Isso é bom por vários motivos. Não só porque a peça se adapta melhor ao local, como também dá tempo de o boca a boca rolar. O que vale muito a pena nesse caso.

Sejam os 12 anos reais de convivência ou os 36 à la Barba, ambos os marcos são idades de transição. Da infância para a adolescência ou da juventude para a vida adulta. O que de fato tem muito a ver com a companhia. Inspirada em fragmentos da obra de Clarice Lispector, especialmente no livro Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, ao contar a história de quatro amigos que se encontram no exterior, a peça é também reflexão sobre o crescer.

“Tem uma coisa cíclica nos períodos de amadurecimento da gente. Em alguns momentos sinto que somos muito maduros, corajosos, audazes. Em outros ficamos fragilizados com nós mesmos e passa alguma coisa de imaturo, ainda inconsistente. Ficamos atentos e eventualmente brincamos com essas zonas”, diz Zé Walter. Não é exagero entender Prazer como uma dessas brincadeiras.

No texto indicado ao Prêmio Shell 2013, os atores/criadores expõem de maneira muito honesta inquietações sobre a vida. Conviver, envelhecer, ganhar, perder são questões que surgem ao longo do espetáculo. Como Isabela Paes pontua, em Prazer o grupo banca as escolhas que faz. “A gente consegue se posicionar e entender o que quer”, concorda Odilon.

História de sucesso

Os atores da companhia Luna Lunera se conheceram no curso profissionalizante do Palácio das Artes. Daquela formação, além dos cinco integrantes de Prazer, Cláudia Corrêa e Fernanda Kahal fazem parte da companhia. Logo na montagem de formatura, Perdoa-me por me traíres, com direção de Kalluh Araújo, conquistaram público e crítica. Para Odilon Esteves, aprender a lidar com o sucesso foi a última lição da escola.

“O espetáculo foi bem recebido, viajou muito, teve reconhecimento. Mas quando vem o próximo é preciso recomeçar tudo. Do zero de novo. Não tem esse peso. Nenhuma construção anterior é garantia de nada posteriormente”, ressalta o ator. Prazer é o segundo espetáculo criado pelo grupo depois de Aqueles dois (2007), o grande divisor de águas.

Com ele, o Luna Lunera foi indicado – e ganhou – a prêmios, passou por mais de 40 cidades de 14 estados e, inclusive, viajou para o México. “À medida que vamos consolidando nossa história, isso nos dá força para sempre criar novos projetos, e que continue nessa roda-viva”, diz Marcelo Souza e Silva. A experiência também autoriza a lidar com mais leveza com certos cânones das artes cênicas.

O Luna Lunera nasceu como um grupo ligado à pesquisa teatral. Nunca se afastou dela e nem por isso suas criações se tornaram herméticas. Pelo contrário. Prazer, que teve parte de seu processo desenvolvido na Dinamarca em parceria com Roberta Carreri, do Odin Teatret, destoa do padrão mineiro. É experimental sim, mas se comunica com muita gente. Há técnica sim, mas ela não é a senhora da montagem.

“É muito a demanda do trabalho. Se a gente for pensar nos nossos espetáculos, em alguns observamos a técnica de forma mais clara. Em outros, está tão a serviço do trabalho que é quase imperceptível”, comenta Marcelo. “Para o pessoal do Odin a técnica é um meio. Eles não acreditam no mito da técnica. Eu também acho”, posiciona-se Isabela, que inclusive escreveu tese de doutorado sobre o Odin.

Segundo ela, em um tempo em que há uma geração que ignora a técnica em defesa do vale-tudo, a proposta do Luna Lunera é encontrar um meio-termo. “O que é a sua profissão se você não exercita sair de onde está para chegar a um lugar diferente? A técnica lhe permite sair do lugar, avançar, ver de outra forma. É um instrumento não só para chegar a um espetáculo, mas para desenvolver o trabalho do artista”, frisa a atriz. Taí Prazer para mostrar que o discurso vai além da teoria e distante da vaidade.

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Apostas do CCBB


Construído para receber tanto espetáculos de artes cênicas como de música, o teatro do CCBB de Belo Horizonte tem 266 lugares, divididos nos 17 patamares da plateia. De acordo com o gerente de programação do local, Wander Araújo, a ideia é ter atrações todos os dias, exceto nas terças, quando o centro cultural fica fechado ao público. Assim como já ocorre nos outros espaços mantidos pelo Banco do Brasil, a ocupação se dará prioritariamente por meio de edital. Isso, no entanto, não exclui possibilidades de janelas específicas para a programação da cidade. De acordo com Wander Araújo, entre janeiro e março, por exemplo, algumas datas já estão reservadas para atrações da Campanha de Popularização de Teatro e também para o Verão Arte Contemporânea, ambos exclusivos de BH. Ainda este ano, o CCBB organiza série musical em homenagem a Ernesto Nazareth. “Nossa proposta é ocupar as quartas e quintas-feiras. Para 2014, vamos entrar no programa de itinerância dos outros espaços, seguindo a lógica dos editais”, adianta Wander.

Prazer
Espetáculo da Luna Lunera em cartaz do dia 11 a 22 de dezembro. Sextas, às 20h; sábados e domingos, às 19h. CCBB Belo Horizonte, Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

O Luna Lunera faz parte do Concurso Expedição Cultural Estado de Minas.Acesse www.expedicaocultural.com.br, conheça os 20 grupos selecionados e vote no seu favorito. Crie uma frase ou texto que estimule as pessoas a irem ao teatro e participe do concurso. Você pode ganhar uma viagem com acompanhante para uma capital brasileira, com roteiro cultural personalizado. 

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