quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Eduardo Almeida Reis - Celebridades‏

Celebridades
 
Não me ajeito com a práxis das panelinhas literárias, a velha história de trocar chumbo: um elogia daqui, outro retribui de lá


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 13/11/2013

Leitor amigo, que não conheço pessoalmente, organiza uma feira de livros em sua região, evento que ainda não tem a expressão da Flip, Feira Literária Internacional de Paraty, mas já consta da lista dos mais visitados e elogiados de Minas Gerais.

Há coisa de cinco meses, escreveu-me dizendo que tinha pensado no pobre de mim como escritor homenageado na próxima feira. Agradeci a lembrança, mas lhe fiz ver que reuniões do gênero não congeminam com o meu temperamento retraído, como também não me ajeito com a práxis das panelinhas literárias, a velha história de trocar chumbo: um elogia daqui, outro retribui de lá.

Neste belo e futuroso país, as pessoas só passam a existir depois de convidadas para a Ilha de Caras. Sem as credenciais de celebridade, ninguém vale um traque. Sob certo aspecto, é bom, porque os traques cheiram mal.

Morro de rir das notícias de que as celebridades cobram para aparecer numa festa. São vinte e cinco mil, cinquenta mil ou mais reais, pagos em dinheiro, só para o célebre aparecer na festa, passar algum tempo, ser visto por lá. Não precisa declamar nem tocar saxofone: basta comparecer.

O jornal Extra, do Rio, publicou uma lista de preços cobrados pelos célebres, dizendo que Márcio Garcia chega a 50 mil, Juliana Paes vai por 25 mil e Paolla de Oliveira cobra 35 mil. Se você quiser Ísis Valverde precisa gastar até 150 mil reais.

O leitor e o seu philosopho sabemos que o médico Albert Bruce Sabin (1906–1993), o cientista da vacina contra a pólio, muito mais que celebridade era um Benfeitor da Humanidade. Pois muito bem: na década de 1990, um grupo de médicos mineiros obteve financiamento para construir hospital de referência em sua região e deu o nome de Albert Sabin.

O marqueteiro do grupo, Dr. Jonas, engenheiro meu amigo, sugeriu que os médicos convidassem o Dr. Sabin para a inauguração do estabelecimento, sugestão recebida com chufas, troças, caçoadas: “Ele vai cobrar uma fortuna!”.

Mas o marqueteiro insistiu e um dos médicos, fluente em inglês, telefonou para o Dr. Sabin nos Estados Unidos contando da conclusão do hospital e perguntando quanto o homenageado, oitentão, com sua bengala, cobraria para vir à inauguração no Brasil.

“Bastam duas passagens e não precisam se preocupar com a hospedagem no Rio, porque fico em casa dos parentes de minha mulher”, explicou o Benfeitor da Humanidade. Assim foi feito. Viajou de avião, hospedou-se em casa de parentes no Rio, de onde veio para Minas de automóvel, compareceu à inauguração, discursou emocionado e voltou para os Estados Unidos.


Alucinógenos
Que a vida se amerceie dos parentes e familiares obrigados a conviver com pessoas que ingerem alucinógenos, ainda que receitados pelos médicos, meu caso quando andei tomando o alcaloide (C20H24N2O2) extraído de arbustos do gênero Cinchona, chamado quinino ou quinina. Tomei-o contra malária por falciparum, dita maligna, e fiquei doidão.

Pausa para explicar, mais uma vez, que parente e familiar não significam a mesma coisa. Parente é pessoa ligada a outra por consanguinidade, afinidade ou adoção, enquanto familiar pode ser o vizinho, o poste da esquina, o pit bull do cavalheiro tatuado que reside numa casa próxima.

Presumo que as alucinações por outras drogas, destas que se vendem à vontade num país grande e bobo, sejam semelhantes à provocada pelo quinino. Cavalheiro pacato, educadíssimo, andei fazendo coisas do arco-da-velha. Até hoje, transcorridos mais que 30 anos, fico horrorizado.

Invadi uma editora, a maior do Rio, tomei o elevador, procurei uma das salas da diretoria, assentei-me na cadeira do diretor, liguei sua máquina elétrica e desandei a escrever às 6 horas da manhã, sinal de que saí de casa, de banho tomado, às 5 horas e ao volante do meu carro.

Também às 6 horas fui visitar um amigo residente na Praia do Flamengo, cumprimentei o porteiro, tomei o elevador, toquei a campainha, a porta foi aberta por uma empregada, assentei-me na sala de visitas e vi saírem, antes das 7 horas, dois filhos do amigo que estudavam medicina. Os donos da casa, assustadíssimos, só apareceram por volta das 8 horas, mas devem ter entendido a loucura porque sabiam que o seu amigo estava morrendo de malária.


O mundo é uma bola
13 de novembro de 1002: o rei Ethelred II (968–1016) ordena o massacre das comunidades vikings existentes na costa da Inglaterra, mesmo porque seria impossível massacrar comunidades inexistentes. Ethelred II casou-se duas vezes e deve ter tido, só em casa, 16 filhos. Sua primeira mulher foi AElfgifu da Nortúmbria, com as duas primeiras letras ligadas talqualmente a ilustre rainha deveria ligar-se ao rei aos gritos de “me bate!”, “me mata!”. Que se pode esperar de uma AElfgifu?

Em 1615, fundação da cidade de Cabo Frio. Pelos padrões brasileiros, é antiga à beça. Em 1994, parece que foi ontem, Schumacher conquista seu primeiro título mundial de Fórmula 1. No ano 354 nasceu Aurelius Augustinus, dito de Hipona, bispo, escritor, teólogo, filósofo e doutor da Igreja Católica, que você conhece como Santo Agostinho.


Ruminanças

“IBGET, Instituto Brasileiro de Geografia Extraterrestre, deve ser o nome da instituição que fez o recenseamento dos quatro milhões de índios existentes no Brasil do ano de 1500.” (R. Manso Neto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário