quinta-feira, 28 de novembro de 2013

MARINA COLASANTI » O que dizem três notícias‏

Estado de Minas: 28/11/2013 





Sempre, o jornal traz notícias que me surpreendem. Ou talvez seja a vida.
Li no início desta semana que a jovem atriz Larissa Manoela, estrela de Carrossel, vai comemorar o aniversário de 2 anos de sua cachorrinha Guilhermina com uma grande festa em São Paulo, no bufê Mega Magic. Larissa tem somente 12 anos e já ganha bem mais do que uma mesada de adolescente, basta isso para tornar o festejo aceitável, embora excessivo. Mas a notícia nos informa ainda que a aniversariante, da raça yorkshire, tem 10 fã-clubes. Sendo eu própria dona feliz de uma canina da mesma raça, me perguntei como faria para inscrevê-la em um desses clubes, e cheguei a ventilar a possibilidade de ela própria fundar um novo núcleo de admiradoras de Guilhermina. Antes, porém, de perguntar-lhe qual opção seria mais do seu agrado, abri espaço mental para perceber que quem tanto admira a cachorrinha não são seus semelhantes, mas humanos, talvez jovens. O fato de o objeto de tanta devoção desconhecê-la plenamente não parece desestimulá-los.

Li também que Betty Lagardère está se desfazendo de algumas “peças de sua coleção pessoal’’. Não de quadros ou obras de arte, como seu padrão de vida levaria a crer, e sim de itens do seu guarda-roupa, aquilo que mais modestamente chamamos de “dar uma limpa no armário”. Mas há armários e armários. Este vai ser aliviado ao bater do martelo pelos leiloeiros Soraia Cals e Evandro Carneiro. É justo, sendo Betty quem é, empresária ela mesma e viúva de Jean-Luc Lagardère, um dos maiores, senão o maior, empresários da França. O que surpreende é que, segundo a notícia, um dos itens mais cobiçados é a famosíssima bolsa Birkin, da Hermès, cujo preço quando nova pode passar, bastante, dos R$ 100 mil, e para a qual há fila de espera. Pois bem, o lance inicial para essa preciosidade será de R$ 5 mil. Como assim, só R$ 5 mil?! , pergunto-me incrédula. Imagino o digladiar-se de mulheres, a disputa feroz avançando lance a lance até alcançar cifras dignas de um Picasso. Pois se há fila para uma Birkin nova igual a todas as Birkins novas, muito mais haverá de valer aquela única, duplamente grifada por Hermès e pelo uso de Betty Lagardère.

Nunca mandei cartinha para Papai Noel. Quando tinha idade para isso vivia na Itália, em plena 2ª Guerra Mundial, e suspeito que Papai Noel estivesse lutando no front. Mas acho meiga essa credulidade ou falsa credulidade das crianças, e sempre, quando chega esta época do ano, me debruço sobre notícias e reportagens que transcrevem seus pedidos inocentes. O jornal me informa, porém, que a relação com Papai Noel está mudando. Meninos e meninas já não escrevem por acreditar que o bom velhinho atenderá seu pedido, mas porque sabem que uma campanha dos Correios estimula as pessoas a realizar o sonho dos pequenos. E já que os presentes não são mais fabricados no Polo Norte pelos ajudantes de Papai Noel, mais vale mirar alto no bom coração dos doadores. Nada de bonecas ou carrinhos. Nas cartas, as crianças não mais inocentes estão pedindo “tablets ou videogames modernos, além de TV compatível”.

Li três notícias diferentes, e foi como se tivesse lido uma reportagem sobre essa nossa sociedade de consumo que erige e se deleita com tantos bezerros de ouro.

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