quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Piloto diz ter autorização

Piloto diz ter autorização
 
Defesa de Rogério Almeida vai pedir a quebra de sigilo telefônico de Gustavo Perrella para tentar provar que ele foi informado do voo. Deputado garante que não sabia de nada


Alessandra Mello e Daniel Camargos


Estado de Minas: 27/11/2013


Há suspeitas de que o terreno onde o helicóptero pousou, no Espírito Santo, seja da família Perrella     (Bernardo Coutinho/A Gazeta)
Há suspeitas de que o terreno onde o helicóptero pousou, no Espírito Santo, seja da família Perrella

O advogado contratado pela família do piloto Rogério Almeida Antunes, de 36 anos, preso em flagrante na cidade de Afonso Cláudio, na divisa de Minas Gerais com Espírito Santo, transportando 443 kg de cocaína em um helicóptero da Limeira Agropecuária Ltda, empresa da família do senador Zezé Perrella (PDT-MG), contestou as informações de que ele teria agido sem autorização dos patrões. Segundo Nicácio Pedro Tiradentes, o deputado estadual Gustavo Perrella (SDD) –filho do senador e um dos donos da empresa, ao lado da irmã e de um primo – autorizou o voo.

Ele vai pedir a quebra do sigilo telefônico do piloto para tentar provar que antes de decolar no domingo ele fez duas ligações para o parlamentar. O advogado garantiu que Rogério não sabia que transportava drogas e que foi informado pelo copiloto, Alexandre José de Oliveira Júnior, de 26 anos, que o carregamento era insumo agrícola.

De acordo com Nicácio, o piloto é homem de confiança da família Perrella, tanto que estava lotado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, por indicação de Gustavo Perrella. A Polícia Federal (PF) vai expedir cartas precatórias para que o deputado seja ouvido no inquérito, que apura o tráfico de drogas. A carga foi avaliada em cerca de R$ 50 milhões.

Segundo o advogado, o piloto foi informado pelo piloto de que iria levar a carga para uma propriedade da família Perrella, no Espírito Santo, e antes de voar pediu autorização para fazer o frete. Nicácio foi contratado pelo pai do piloto, o empresário Osmar Alves Antunes, dono desde 1998 de uma firma de produtos agropecuários em Campinas, interior de São Paulo. “Ele (Rogério) tinha autorização do patrão dele para fazer esse frete. Tenho como provar que ele falou com o deputado duas vezes antes de viajar”, informou o advogado.

Nicácio vai entrar hoje com um pedido de liberação do piloto. “Por que o deputado não assumiu que autorizou o voo?”, questionou o advogado, que não soube informar se o copiloto tem ligação com Rogério ou com a família Perrella. Ele acusou os Perrella de colocar a culpa no piloto, sugeriu o envolvimento de “pessoas poderosas” e prometeu fazer revelações bombásticas nos próximos dias.

Deputado nega Gustavo Perrella alegou serem falsas as informações do advogado do piloto, mas afirmou que não vai “bater boca” com ele, delegando ao advogado contratado para o caso, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que respondesse. “É uma leviandade. Um ato criminoso ter a ousadia de falar que o terreno pertence à família Perrella”, contestou o advogado.

Kakay garantiu que Perrella e o piloto não conversaram por telefone. “Ele (Rogério) mandou um torpedo para o Gustavo (Perrella) falando sobre um frete”, afirmou. O piloto teria informado que havia conseguido um frete por R$ 12 mil e o deputado haveria respondido com um OK. As informações contradizem o que disse o parlamentar em entrevista coletiva na segunda-feira. Perella afirmou que Rogério havia dito a ele que a aeronave estava em reparo e que, depois de ser informado da prisão, havia decidido dar queixa de roubo.

O copiloto Alexandre José de Oliveira Júnior é dono da JR Helicópteros Escola de Aviacao Civil, fundada em 2011, e que teve sua autorização para funcionamento cassada em julho pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Além do piloto e do co-piloto foram presos Robson Ferreira Dias, de 56 anos, e Everaldo Lopes de Souza, 27 anos, responsáveis por descarregar o helicóptero, que pousou na zona rural de Afonso Claúdio, região Serrana do Espírito Santo. Os quatro foram levados para a casa de detenção em Viana (ES). A reportagem tentou falar com o pai do piloto, mas na empresa dele ninguém retornou os pedidos de entrevista.

Deputado vai prestar depoimento



O deputado estadual Gustavo Perrella confirma ter indicado o piloto da aeronave para cargo na Assembleia e diz que vai pedir exoneração   (Renato Weil/EM/D.A Press)


O deputado estadual Gustavo Perrella confirma ter indicado o piloto da aeronave para cargo na Assembleia e diz que vai pedir exoneração
O deputado estadual Gustavo Perrella (SDD) terá que prestar depoimento à Polícia Federal nos próximos dias. Além dele, sua irmã Carolina Perrella Amaral Costa e um primo, André Almeida Costa, todos sócios da Limeira Agropecuária Ltda, serão interrogados. A empresa da família Perrella é proprietária do helicóptero Robson 66, apreendido com 443 quilos de cocaína no domingo, em um sítio, na cidade de Afonso Cláudio, no Espírito Santo. A empresa foi criada em maio de 1999, e o senador Zezé Perrella (PDT-MG), ex-presidente do Cruzeiro Esporte Clube, deixou de ser sócio dela em maio de 2008.

O delegado da superintendência da Polícia Federal em Vitória (ES) Leonardo Damasceno informou que além de escutar os representantes da família Perrella vai rastrear o trajeto do helicóptero, para tentar descobrir o caminho da droga. A PF já sabe de quem é a propriedade do terreno onde ocorreu a apreensão, mas não informa.

O terreno foi vendido no último mês e a escritura ainda não foi transferida. A reportagem do Estado de Minas buscou a informação nos quatro cartórios de Afonso Cláudio e não havia nenhum registro do negócio. De acordo com informações da Polícia Militar, é provável que a propriedade tenha sido colocada no nome de algum laranja.

 “Os donos do helicóptero terão que explicar os motivos”, afirma o delegado da PF. Segundo ele, será enviada uma carta precatória para superintendência da PF em BH requisitando que os sócios da Limeira Agropecuária sejam interrogados. Até o momento, a responsabilidade pelo transporte da droga está com o piloto da aeronave, Rogério Almeida Antunes, funcionário da Limeira e nos outros três presos com ele.

A relação do piloto com o deputado é estreita. Rogério é funcionário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nomeado pela terceira secretaria da casa, ocupada pelo deputado estadual Alencar da Silveira Júnior (PDT). “Esse menino (o piloto) foi indicação do Gustavo Perrella”, se exime Alencar. De acordo com o pedetista, a indicação é reservada ao presidente da Comissão de Turismo, Indústria e Comércio, cargo ocupado por Gustavo Perrella.

Alencar disse que antes da posse de Rogério, em março deste ano, foram solicitados documentos e não foi encontrado qualquer impedimento para que ele ocupasse o posto de agente de serviços de gabinete, para trabalhar quatro horas por dia, com salário R$ 1,7 mil. O deputado confirmou que o piloto foi indicado por ele para o cargo, pois era de sua confiança, mas pediu que ele seja exonerado do cargo, o que não aconteceu até ontem.

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