terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Adeus a um hábil negociador - Denise Rothemburg

Adeus a um hábil negociador - Denise Rothemburg
 
Governador de Sergipe, Marcelo Déda, morre aos 53 anos, vítima de um câncer no estômago. Como deputado federal, o petista ganhou destaque na Câmara por sua capacidade de diálogo 


Estado de Minas: 03/12/2013

 (Carlos Moura/CB/D.A Press 
)
Déda morreu na madrugada de ontem:O céu acaba de ganhar mais uma estrela , postou sua família no Twitter

Brasília – “Minha luta vai ser outra em 2014”. A frase foi dita pelo governador de Sergipe, Marcelo Déda, em 23 de março, em um almoço em Brasília com o governador da Bahia, Jaques Wagner. Ambos tinham acabado de participar da reunião da presidente Dilma Rousseff com os governadores do Nordeste. Déda se referia ao câncer no estômago, diagnosticado no ano passado, contra o qual lutou até as 4h45 de ontem, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Tinha 53 anos, 31 dedicados à vida pública.

Em 2009, Déda fez uma cirurgia para a retirada de um nódulo no pâncreas. Quem assume o posto deixado por ele é Jackson Barreto (PMDB). O corpo do governador, que será cremado hoje em Salvador, chegou a Aracaju, capital de Sergipe, na tarde de ontem. Após as saudações oficiais, seguiu em cortejo num carro do Corpo de Bombeiros pelas principais ruas da cidade até o Palácio Museu Olímpio Campos, onde ocorre o velório.

A presidente Dilma Rousseff chegou a Aracaju na noite ontem para participar do velório. Em sua conta oficial no Twitter, ela lamentou o falecimento de Déda. “O Brasil e o estado de Sergipe perderam hoje um grande homem. Marcelo Déda exerceu a política com P maiúsculo”, postou. Em outra mensagem, ela lembrou a relação de amizade com o governador. “Eu perdi hoje um grande amigo, daqueles das horas boas e más”. Em nota oficial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também lamentou a perda do “grande amigo, compadre e irmão”. Para a maior estrela petista, Déda “foi um exemplo de dignidade e compromisso público na atividade política”.

Após saber da notícia do falecimento, a família do político publicou a seguinte mensagem no perfil que o governador mantinha no Twitter: “O céu acaba de ganhar mais uma estrela, Marcelo Déda voou ‘nas asas da quimera’. Paz & Bem – família Marcelo Déda”.

TrÂnsito em todos os partidos

O petista desembarcou em Brasília como deputado federal em 1995, no primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso. Logo se destacou na bancada por duas qualidades: a solidez intelectual e a capacidade de diálogo, coisa rara no PT daquele começo de gestão tucana. Ele se filiou em 1981, aos 21 anos. Depois de uma temporada como advogado da CUT e de sindicatos associados e algumas eleições perdidas, elegeu-se deputado estadual em 1986, mas não conseguiu a reeleição em 1990.

Conhecedor da literatura e da ciência política, era aberto a conversas com todos os partidos, o que fazia com que ele, muitas vezes, tivesse embates internos, uma vez que uma grande parcela petista resistia às negociações com o PSDB. A boa convivência só deixava de ocorrer na hora dos embates em plenário, quando o então líder do governo, deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), acionava o rolo compressor para aprovar os projetos de interesse do governo. Certa vez, Déda chegou a comentar, brincando com Luís Eduardo: “O pai do senhor (senador Antônio Carlos Magalhães) é tão educado, e o senhor tão duro. Com quem aprendeu a ser assim?” Diante da resposta “Com a minha mãe”, os dois riram juntos, dada a fama de Toninho Malvadeza que acompanhou o senador baiano por toda a vida.

A boa convivência fazia com que as festas de aniversário de Déda em Brasília virassem notícia por causa dos adversários do PT que costumavam ser convidados. O governador gostava de cantar, fez várias parcerias com o atual ministro do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro, que, assim como o político sergipano, toca violão. Em Sergipe, na seara das festas, criou o Forrocaju para fazer frente ao são-joão de Campina Grande (PB) e de Caruaru (PE), os mais famosos do país.

A ala do PT mais afeita às conversas políticas com a oposição se ressentiu quando Déda renunciou ao mandato parlamentar no fim de 2000 para assumir a Prefeitura de Aracaju. Dois anos depois, quando Lula foi eleito presidente, ele  acabou ficando fora do grupo que dominou o governo federal. Essa condição, entretanto, lhe permitiu buscar um diálogo com a oposição e atuar nos bastidores de forma a auxiliar a blindagem sobre o Planalto e a preservar Lula, quando estourou o mensalão, em 2005.

Com Lula reeleito, em 2006, Déda, novamente, ficou fora do desenho do primeiro escalão federal porque venceu João Alves Filho na disputa pelo governo de Sergipe. Em 2010, no ano seguinte à descoberta do primeiro câncer (no pâncreas) e a duas cirurgias, Déda foi reeleito governador contra o mesmo João Alves, do DEM. A disputa, entretanto, foi mais acirrada, uma vez que o governador se viu obrigado a ficar 100 dias afastado do cargo para cuidar da saúde. Mesmo assim, conquistou mais de meio milhão de votos.

O governo decretou luto de sete dias em Sergipe e ponto facultativo hoje. As aulas das escolas estaduais  foram suspensas. Déda estava internado no Hospital Sírio-Libanês desde 27 de maio, acompanhado da mulher, Eliane, e dos filhos. No sábado, os médicos avisaram à família que era hora de se despedir. Alguns amigos foram visitá-lo, entre eles o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) e o ex-prefeito Edvaldo Nogueira (PCdoB-SE), parceiro de chapa de Déda nas duas eleições para a prefeitura. O governador deixa cinco filhos: Marcella, Yasmin, Luísa, João Marcelo e Matheus.

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