segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Novas sonoridades [Flávio Venturini lança disco] - Eduardo Tristão Girão


Novas sonoridades 
 
Depois de mais de um ano de trabalho, Flávio Venturini lança disco gravado em estúdio montado em casa. CD tem regravações de músicas que foram modernizadas e ele já pensa em outro projeto

Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 16/12/2013 


 (Rafael Motta/Divulgação)


Não faz tanto tempo assim que Flávio Venturini lançou disco. Ou melhor, foi um DVD, Não se apague essa noite, em 2009. Entretanto, ele foi registro de apresentação ao vivo em Belo Horizonte, ficando Canção sem fim (2006) como último apanhado de músicas inéditas. A necessidade de gravar novas composições, aliada à facilidade (e alegria) de fazê-lo em estúdio próprio, construído em sua casa, num condomínio na Grande Belo Horizonte, foram o combustível para conceber o recém-lançado CD Flávio Venturini.

“Levei um ano e meio para gravar esse disco. Foi muito prazeroso. Gravei tudo em casa e sempre nas melhores horas para mim”, conta Venturini. O artista se reveza na produção musical e nos arranjos de base com o guitarrista Torcuato Mariano (seu parceiro desde o disco Noites com sol) e, em uma música cada um, com os pianistas Keco Brandão e André Mehmari. As gravações foram realizadas em nove estúdios, envolvendo músicos não apenas em Minas, mas também no Rio de Janeiro e em São Paulo.

O repertório é aberto com Sol interior, parceria de Venturini com Márcio Borges. “Há muito tempo não compunha com ele. A gente se reencontrou uns dois anos atrás e foi emocionante”, lembra Flávio. Curiosamente, a canção não é a única a recorrer ao Sol como fonte de inspiração, já que o mesmo se verifica nas faixas Tarde solar (com Alexandre Blasifera) e Beijo solar. “Isso não é intencional. Na maioria dos casos, a letra não é minha. No meu trabalho a natureza aparece sempre. Acho legal”, explica.

Aliás, é em Tarde solar que toca o pianista Ivan Lins, um dos dois convidados especiais do disco, ao lado de André Mehmari, que participa de Enquanto você não vem (assinada por Mehmari e Murilo Antunes). “Sou amigo do Ivan há muito tempo e o chamei para fazermos uma música juntos. Já o André se tornou amigo frequente. Eu o admiro muito, é um músico excepcional. Ele me disse ter pensado em mim quando escreveu essa música”, elogia Venturini.

O artista incluiu, ainda, três regravações. A primeira delas de seu sucesso Todo azul do mar (com Ronaldo Bastos). “É uma canção muito importante, muito emblemática. O som havia ficado datado, apesar de eu adorar a gravação original, do 14 Bis. Ela merecia uma modernizada”, justifica. Por outro lado, Até outro dia (com Cacá Raymundo) e Leãozinho (Caetano Veloso), na opinião dele, haviam ficado “perdidas” em discos que ele lançou décadas atrás.

As parceiras de Venturini com compositores mineiros não ficam restritas a integrantes do Clube da Esquina (Márcio Borges, Murilo Antunes e Ronaldo Bastos), como ele demonstra em Idos janeiros, que escreveu com Vander Lee (que é praticamente seu vizinho), e Me leva, momento mais roqueiro do disco, criado com Aggeu Marques. O CD é encerrado com a releitura de Hino ao amor, canção de Edith Piaf e Maragrite Monoot que ganhou versão em português de Odayr Marsano.

Fita de rolo

“Esse ainda não é um disco com sonoridade totalmente diferente”, confessa Venturini. Ele pretende experimentar mais em seus próximos trabalhos: “Gosto de atirar para todo lado e ainda quero fazer um disco totalmente livre. Tenho um pé no pop, no rock, no progressivo, no instrumental, na MPB, no Clube da Esquina. Por ter estúdio em casa, agora quero fazer mais pesquisas e gravar mais pessoas, talvez revisitando outros nichos de composição.”

Para cumprir essa promessa, talvez o artista parta até mesmo de composições antigas. “Os anos 1990, quando morei no Rio de Janeiro, foram especialmente férteis para mim. Tive o cuidado de deixar tudo registrado e guardei um baú de composições”, conta. Inclusive, daí poderá sair material inédito para o disco que ele quer gravar com a banda O Terço, que foi realizada em 2005 e com a qual tocou este mês em Belo Horizonte.

“Queremos fazer um disco do grupo O Terço em estúdio para mantê-lo ativo. Já tenho novas ideias para a banda e outro dia achei uma música interessante numa gravação em fita de rolo de um show nosso em 1974”, revela. No show na capital mineira, no Grande Teatro do Sesc Palladium (e para ser visto com óculos 3D), o público teve a oportunidade de conferir uma música inédita do grupo, Antes do Sol nascer.

Experiências marcantes

Quando Flávio diz gostar de atirar musicalmente para todos os lados, a explicação para essa preferência pode ser facilmente encontrada ao analisar sua biografia. Tendo se interessado pela música ainda na adolescência, começou pelo acordeom (dado pelo pai) e depois passou para o piano. Estudou na Fundação de Educação Artística (FEA), em Belo Horizonte, e complementou sua formação em festivais de inverno com professores como Ailton Escobar, Bruno Kiefer, Cláudia Cimbleris, Ernest Widmer, Rogério Duprat e Walter Smetak.

Nos anos 1970, já engajado em festivais, participou de shows com Beto Guedes, Tavinho Moura e Toninho Horta, entre outros. A participação no Clube da Esquina foi natural e ele tocou em várias faixas do disco Clube da Esquina 2 (1978), inclusive em Nascente, que ganhou belíssimo registro na voz de Milton Nascimento. Na mesma década, passou a integrar o grupo O Terço, um dos mais representativos do rock progressivo nacional.

Na virada para os anos 1980, ele monta o 14 Bis, que incluiu em sua formação o irmão Cláudio, integrantes do O Terço e outros músicos. Ainda ativa, a banda contabiliza cerca de 20 lançamentos (entre CDs e DVDs) e sucessos, a exemplo de Planeta sonho, Linda juventude, Todo azul do mar e Bola de meia, bola de gude. Flávio deixou o 14 Bis em 1988, tendo retomado o trabalho com o grupo só em 2011.

A carreira solo, entretanto, foi iniciada em 1982, com o álbum Nascente. Essa opção abriu portas para que o artista vivesse outras experiências marcantes, caso da participação no disco Missa dos quilombos (de Bituca) e do exercício de compor trilhas sonoras para filmes, curtas e peças teatrais. Venturini também não deixou de lado sua veia instrumental, tendo realizado shows no Brasil e exterior para evidenciá-la.

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