sexta-feira, 16 de maio de 2014

Horror - Eduardo Almeida Reis

A televisão nos mostrou inúmeras brasileiras de blusa e calça comprida com glúteos exagerados, transbordantes de untos, desproporcionais


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 16/05/2014






Um médico tem formação superior à média/alta dos brasileiros. Se bem-sucedido, morando em belíssima casa na cidade de Três Saltos (RS), pode ser considerado homem rico. Sua atual mulher é belíssima enfermeira, profissão que implica desvelo, dedicação, carinho no tratamento de pessoas. Edelvânia Wirganovicz, de 40 anos, amiga da bela enfermeira, é profissional de assistência social, atividade que visa a proporcionar assistência a membros carentes de uma comunidade, seja material, de saúde, jurídico, educacional etc., isto é, serviço público ou privado de previdência e assistência, destinado a proporcionar melhoria de condições de vida a seus beneficiários. Edelvânia tem um irmão.

Além do médico, da enfermeira, da assistente social e do irmão, havia o filho do primeiro casamento do cirurgião, um menino de 11 anos, carinhoso e carente, estimado pelos coleguinhas e pelos professores do colégio em que estudava, morando com o pai e a madrasta na ótima casa.

O menino desaparece, amiguinhos, professores e alguns parentes se preocupam, 10 dias depois seu corpo é encontrado ensacado em plástico num buraco escavado em mata próxima de um riacho, a 80 quilômetros de Três Passos. São acusados e presos o pai médico, a madrasta enfermeira, a amiga do casal e seu irmão.

A mídia só respirou aliviada quando surgiu o “motivo” do crime: herança expressiva. Pela óptica do moderno jornalismo, o “motivo” atenua a barbaridade. Descobriu-se que o menino de 11 anos teria o direito de herdar a metade dos bens do pai. Quatro anos atrás, a mãe do menino suicidou-se ou foi suicidada no consultório do marido, poucos dias antes de assinar o divórcio que lhe daria a metade dos bens do casal. Metade que passou a pertencer ao menino, então com 7 anos.

Toda a história é tão horrorosa e tão espantosa a preocupação midiática com o “motivo” do crime, que só atenuando este suelto com um trecho do livro A Lanterna na popa, de Roberto Campos. De novembro de 1947 a março de 1948, o jovem diplomata Roberto morou mal em Havana, numa rua sem calçamento, levando mulher e dois filhos. Em suas memórias, conta que a leitura dos jornais cubanos lhe proporcionava raras gargalhadas. Houvera um crime hediondo. Um rapaz matara sua mãe a machadadas. A manchete dizia: “mató su madre, sin motivo justificado”.

Um outro, para roubar cinco pesos de uma velhinha, que remexia um caldeirão de sabão fervente, atirou-a na grande panela. A manchete dizia: “que barbaro consommé de viejita!” No mundo que aí está, herança expressiva deve ser “motivo” mais que justificado. Cinco pesos valem para temperar um consomê, caldo geralmente ralo de carne ou de galinha enriquecido com legumes, que se serve quente ou frio em porcelana apropriada.

Rotundidades – Traseiro, bumbum, popô – o sesso é muito estimável com a só condição de ser compatível com o resto do corpo. Sesso, minha gente, ortoépia (ê), do latim sessus,us “ação de sentar-se, assento, cadeira”. Num país grande e bobo, o sesso reforçado com 1.100ml de silicone em cada metade pode transformar sua portadora, Valesca Popozuda, em grande pensadora moderna, como vimos numa questão proposta a 400 alunos de filosofia.

Nas recentes manifestações, mais do que justas, de funcionários do IBGE, a televisão nos mostrou inúmeras brasileiras de blusa e calça comprida com glúteos exagerados, transbordantes de untos, desproporcionais – funcionárias que deveriam ser obrigadas, por lei, a usar vestidos, mesmo correndo o risco de ter as respectivas genitálias fotografadas por funcionário da Infraero no Aeroporto de Belém. Funcionário graduado, diga-se de passagem, chefe do setor de Tecnologia da Informação.

Cena filmada por terceiros: o alto funcionário da Infraero, com o seu tablet, filmando as partes pudendas de senhoras e senhoritas no aeroporto em que presta serviços à nação. Notícia que deve ter sido abafada, porque desapareceu da mídia televisada. E isso no último dia de março, pertinho da Copa das Copas.

O mundo é uma bola – 16 de maio de 1532: Thomas More renuncia ao cargo de Lord Chancellor da Inglaterra. São Sir Thomas Morus (1478-1535), homem público, diplomata, escritor, advogado e jurista ocupou vários cargos públicos, em especial o de Lord Chachellor, de 1529 a 1532, do rei Henrique VIII. É geralmente considerado um dos grandes humanistas do Renascimento. Foi canonizado em 1935.

Cá entre nós, que ninguém nos ouça: São Sir é título assaz original. Ele se dizia “de família honrada, sem ser célebre, e um tanto entendido em letras”. Casou-se com Jane Colt, enviuvou e se casou com lady Alice Middleton, mesmo sobrenome de Catherine Elizabeth Middleton, a linda Kate, duquesa de Cambridge, casada com o filho da princesa Diana e daquele bestalhão que conversa com as plantas e trocou Diana por uma idosa casada e desengonçada. São Sir More era bem-humorado, caseiro, ótimo pai e amigo dos seus amigos, entre os quais dois, dos mais destacados pensadores daquele tempo, Erasmo de Rotterdam e Luís Vives, humanista judeu nascido em Valência.

Deu aos filhos, homens e mulheres, educação excepcional, fazendo com que estudassem latim, grego, lógica, astronomia, medicina, matemática e teologia. Erasmo falou da família More: “Verdadeiramente, é uma felicidade conviver com eles”. Hoje é o Dia do Gari.

Ruminanças – “Se não tivéssemos orgulho, não nos queixaríamos do orgulho dos outros” (La Rochefoucauld, 1613-1670).

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