terça-feira, 20 de maio de 2014

Vacinas e a Copa - Marilene Lucinda Silva

Vacinas e a Copa
 
A entrada de estrangeiros pode acarretar a proliferação de diversas doenças. Os brasileiros precisam ficar atentos a isso


Marilene Lucinda Silva
Responsável técnica pelo setor de Vacinas do Hermes Pardini, membro da International Society of Travel Medicine
Estado de Minas: 20/05/2014



Recentemente, o Brasil se deparou com um dos maiores desafios no que diz respeito à conscientização da população sobre prevenção e promoção da saúde. É alarmante o fato de que grande parte da população ainda não tenha procurado os postos de saúde para tomar a vacina contra a gripe. Apenas 30% do público alvo foram vacinados, o que fez o Ministério da Saúde prorrogar o prazo de uma das maiores campanhas de vacinação no país. No ano em que o Brasil é sede da Copa do Mundo, essa situação é ainda mais grave. A entrada de estrangeiros de diversos países pode acarretar a proliferação de várias doenças. E os brasileiros precisam ficar atentos para isso.

No final do século 20, tivemos a aclamação das vacinas como a maior conquista no campo da saúde pública. Ao lado das melhorias sanitárias, nada trouxe tantos benefícios para a saúde humana quanto as vacinas. Estima-se que a vacinação seja responsável por um aumento de cerca de 30 anos na expectativa de vida da população em geral.

Apesar dos reconhecidos benefícios, ainda temos grupos contrários à vacinação. Muitas informações negativas são veiculadas devido à má-fé, crenças religiosas ou filosóficas, erros científicos ou, o que é mais frequente, pelo simples desconhecimento de fatos e dados. Será possível que alguém tenha saudades dos tempos em que milhares de pessoas morriam de varíola? Ou da época em que milhões de crianças eram acometidas pela poliomielite? Hoje não temos mais a pólio no Brasil, mas ainda lutamos para erradicá-la do mundo, fato que ainda não aconteceu devido às interrupções da vacinação por contestações político-religiosas contra a Sabin em alguns países asiáticos e africanos.

Podemos lembrar também do sarampo e da coqueluche, que não tínhamos circulando entre nós desde a década de 1980, mas que, devido, principalmente, aos grupos europeus contrários à vacinação, retornaram e acometem pessoas no mundo todo novamente. No Brasil, registrou-se um surto de sarampo em São Paulo em 2011, e na região do Nordeste em 2013. Surtos iniciados por casos importados de outros países.

Manter uma alta cobertura vacinal nos protege da reintrodução de doenças. Se não temos mais determinada doença no Brasil, mas ela ainda existe em outras regiões, com a grande circulação de pessoas entre países, que ocorre atualmente, podemos ver essas doenças retornarem. Não adianta nos preocuparmos somente com a vacina de febre amarela para viajarmos porque ela é exigida para a entrada em alguns países. Outras vacinas devem ser lembradas. Podemos evitar a contaminação da nossa população com doenças que poderiam ser evitadas pela vacinação. No caso do sarampo, se todos os brasileiros estivessem vacinados, mesmo recebendo um estrangeiro doente, ninguém seria contaminado. Vacinas contra meningite C, sarampo, coqueluche, gripe, hepatite A e B, são mandatórias para os viajantes que saem e que chegam.

É importante alertar, ainda, para a vacinação do adulto e do idoso, que não deve ser priorizada somente para os grupos de risco, doentes crônicos ou viajantes. Todas as pessoas devem ser vacinadas, pois são a principal fonte de circulação dos agentes infecciosos. Esse grupo é o que possui maior rede de convivência e dissemina as doenças rapidamente.

Os avanços na área da vacinação são constantes, não só no que diz respeito ao número de vacinas disponíveis: em 1950 uma criança recebia somente quatro; hoje, em torno de 24 vacinas. É importante ressaltar que se tornou possível reduzir o número de injeções pela combinação de vacinas. Hoje, temos vacinas trivalentes, tetra, penta, hexa e, em breve, teremos heptavalentes. Vacinas acelulares e por recombinação genética, entre outros avanços que aumentam a eficácia e diminuem os riscos.

Quando são analisadas as estatísticas sobre os motivos de recusa vacinal, sempre encontramos o temor de eventos adversos como um dos principais argumentos. Atualmente, são exigidos testes rigorosos de segurança para todas as vacinas, desde o seu planejamento até o licenciamento. Além do acompanhamento após a comercialização. Fatos que vão contra esta argumentação.

A grande batalha a favor da vacinação deve ocorrer basicamente na área da informação e do esclarecimento. A utilidade das vacinas na proteção da saúde da população deve ser enfatizada, pois não podemos conviver com retrocessos nessa área que representa o maior sucesso da medicina moderna. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário