quarta-feira, 25 de junho de 2014

Arnaldo Viana-Que Deus salve o futebol‏

Que Deus salve o futebol 

O dia em que a arte de tocar a bola com os pés não entrou em campo e o estádio foi o espetáculo
Arnaldo Viana
Estado de Minas: 25/06/2014


Torcedores da Costa Rica deram um show de simpatia dentro e fora do Mineirão (rodrigo Clemente/EM/d.a press)
Torcedores da Costa Rica deram um show de simpatia dentro e fora do Mineirão
A área da esplanada do Mineirão entregue aos patrocinadores da Copa do Mundo é um animado parque de diversões. E é high tech, o que o afasta de semelhança com aqueles que acampam na periferia das cidades. E lá tudo é fan – fan shop, fan food, fan dance. De um lado para o outro o trança-trança de brasileiros, costa-riquenhos, um pouquinho de argentinos (sobra do jogo de sábado) e chilenos, já em aquecimento para o encontro de sábado, com o Brasil. Gente divertida feito criança na fila do estande da empresa de refrigerante para dançar o Lepo Lepo, gente na barraca da montadora de veículos experimentado um futebol eletrônico muito do sem graça, gente se acotovelando na loja de recordações, de regalos, suvenires.

E os ingleses? Onde estavam? Estavam lá, meio que misturados, meio que não. Parque de diversões, aquele papo de liberou geral no babado do pagode não é coisa digna da austeridade de um filho da rainha. Ou é? Será que eles estavam ressabiados pelo papelão do English Team na Copa? Estranharam até o tropeiro. “Beans, pork? Arghh!”. Perderam. Estava gordurosamente bom. O acanhamento inglês ou o respeito à fleuma britânica era contraste ao assanhamento caribenho, que invadia a esplanada cantando “olê, olê, olê, olê, ô lá, ticô, ticô”. Tico para o costa-riquenho é forma carinhosa de tratar alguém. É como “bichinho” na Bahia. Caso um baiano o chame de “bichinho” é porque ama você. Se um costa-riquenho chamá-lo de “tico”, sorria, “le gusta tú”. Daí, apelidaram os jogadores de “los ticos”.

Antes do jogo, uma passada no media center, centro de imprensa padrão Fifa. Uma Babel: inglês, brasileiro, japonês, brasileiro, coreano, brasileiro, francês, africano, brasileiro, costa-riquenho, panamenho, brasileiro. Notebook, smartphone, celular, mochila e fila para almoço no self-service. Na essência, restaurante padrão Fifa também. Só na essência. Um prato por R$ 32, com direito a uma carne. Uma carninha só! No entorno da rodoviária rango com uma carne só custa R$ 8.

E o jogo? Que jogo? Ah, o jogo! Esqueceram de dizer aos 22 caras em campo que era jogo. E de Copa. Os costa-riquenhos, com certeza, comeram uma feijoada. Caribenhos têm acentuada afeição por “frijoles”. O English Team parecia enfarado. Animação mesmo só na galera, a latina, claro. Enquando gritava “ticô, ticô” e “eliminados”, brincava de “ola”. A “ola” ia bem até chegar a um aglomerado de ingleses. A “ola” voltava e esbarrava no outro lado do aglomerado. Vaia neles. E ficaram ainda mais “eliminados”. E inglês pelado? Pode? Os dois que tiraram as roupas nas cadeiras e ficaram só de sunguinha, a sugestiva sunga Borat, a de alcinhas, só não foram vaiados também porque ataque homofóbico não é recomendado. E o jogo? Que jogo? O técnico de Costa Rica substitui Campbell. O garoto apanhou muito. O inglês faz o contrário: tira Wayne Rooney do banco de reservas e o põe em campo. O estádio faz “uhhhhhhhhhhhh!”. O aglomerado inglês, enfim, entra na saliência. Sabem o que aconteceu no gramado? Nada! Fim do jogo. Que jogo? Deve estar perguntando o príncipe Harry. A galera latina bate palmas para “los ticos”. O aglomerado inglês saúda o saudoso English Team. “God save the queen; send her victorious”, diz o hino deles. Que Deus salve também a Seleção Inglesa, porque a costa-riquenha está temporiamente encaminhanda. E que Deus tenha piedade do futebol no dia em que o estádio foi o espetáculo e não o jogo! 

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