domingo, 15 de junho de 2014

ENTREVISTA/SAMUEL FLAM » Fichas na mesa‏

ENTREVISTA/SAMUEL FLAM » Fichas na mesa "Não vejo esse mercado como explosivo porque o gráfico não pode ser projetado para o futuro com as variáveis que temos hoje"


Marinella Castro
Estado de Minas: 15/06/2014




"Não poderia dizer qual o percentual da população tem potencial para ser atendido pelos planos, mas ainda há espaço para ampliar essa cobertura, que hoje é de 25% entre os brasileiros e mais de 50% em Belo Horizonte"



Nos últimos oitos anos, os convênios médicos privados ganharam peso robusto no sistema de saúde brasileiro. Já atendem mais de 50 milhões de usuários, ou 25% da população, contra 19% em 2005, movimentando perto de R$ 100 bilhões ao ano. O crescimento foi alavancado pelos chamados planos corporativos, que ganharam espaço nas empresas, crescendo com o mercado de trabalho aquecido. Com 1,4 milhão de usuários, desde 2005 a Unimed-BH triplicou seu tamanho. No ano passado, registrou receita de R$ 2,7 bilhões, alta de 18% frente ao ano anterior, figurando entre as 10 maiores operadoras do país. Na capital, onde 55% da população é usuária dos convênios, a cooperativa se beneficiou do crescimento do setor, mas carrega o desafio  de conseguir atender as centenas de novos clientes. Em todo o país, a rede de atendimento da saúde suplementar não avançou no mesmo ritmo que ganhou usuários. O novo presidente da cooperativa, Samuel Flam, assumiu o comando no último mês e confirma que ainda há o desequilíbrio entre oferta e demanda. Cardiologista do Hospital João XXIII e médico também no Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, ele diz que sua gestão vai continuar a trajetória de investimentos na ampliação da rede própria assistencial. A operadora também pretende investir em modelos de planos de menor custo operacional.


Mais de 50% da população de Belo Horizonte é usuária de planos privados de saúde. A despeito do crescimento do setor, o déficit da rede hospitalar é expressivo, estimado em 1,5 mil leitos na Grande BH. Qual a estratégia do plano para conseguir atender seus beneficiários?
Aposto todas as minhas fichas na melhoria da qualidade da rede assistencial. Nesse sentido, vamos dar continuidade ao plano de investimentos que a cooperativa tem em curso para ampliar sua rede de atendimento a partir da construção de novas unidades. Também prosseguir com os programas de prevenção, que incentivam o usuário a cuidar da saúde e já reduziram as idas ao pronto-socorro em 19%. Hoje, temos 150 mil clientes inscritos em programas de prevenção. A cooperativa também está testando um novo modelo de atendimento, que chamamos de Pleno. Já temos em andamento um projeto-piloto. Nesse modelo, em vez de o usuário receber um catálogo com o guia de médicos, ele opta por se ligar a uma unidade de atendimento, que vai ser sua referência. Sempre que precisar de um médico, é para lá que ele vai se dirigir. Nessa unidade, ele terá acesso a várias especialidades médicas e terá seu prontuário eletrônico, com todas as suas referências. Esse é um modelo que é benéfico para a operadora, na otimização de custos, e para o usuário, que terá o seu médico de referência.

Em abril, a Unimed-BH inaugurou duas novas unidades de atendimento, com investimentos de R$ 105 milhões, sendo 70% recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Alguns especialistas em saúde condenam esse modelo, porque os recursos poderiam beneficiar o sistema público. O que diz disso?
Não entendo dessa forma. A utilização dos recursos do BNDES é um caminho. A instituição é um banco de fomento para negócios que fundamentalmente trazem melhoria à qualidade de vida da população. Fazem parte desse sistema empresas que vão do segmento de petróleo à siderurgia.

Entre 2005 e 2013, o crescimento da operadora foi de 114%. O senhor vê espaço para o setor continuar avançando, mesmo com o motor do emprego mostrando menor fôlego?
Não poderia dizer qual percentual da população tem potencial para ser atendido pelos planos, mas ainda há espaço para ampliar essa cobertura, que hoje é de 25% entre os brasileiros e mais de 50% em Belo Horizonte. Desde 2006, a carteira de planos corportativos da Unimed-BH foi a que mais cresceu, avançou 173%, ultrapassando 960 mil vidas, o que corresponde a 76% do número de usuários. Ainda há grande potencial de crescimento entre as micro e pequenas empresas. No ano passado, mais de 96% de nossos contratos coletivos tinham até 49 vidas. No estado, as micro e pequenas empresas respondem por mais de 95% do mercado. Outra perspectiva são as grandes empresas que têm seu próprio plano de saúde. Esse é um mercado que vejo como promissor. É interessante para essas corporações transferirem sua carteira para operadores do mercado que têm o seu foco exclusivo na saúde e podem lhes oferecer o serviço com expertise.

A Unimed-BH pretende deixar a carteira de planos individuais, apontada por especialista como explosiva, exatamente por ter reajustes regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)?
A carteira de planos individuais da Unimed-BH voltou a crescer a partir de 2009. Algumas operadoras realmente deixaram de atuar no segmento. Como nós continuamos abertos, estamos ganhando mais usuários e pretendemos continuar operando nesse setor.

Como vê a sustentabilidade do setor daqui para o futuro? A preocupação de muitos usuários é que depois da aposentadoria, pagar o plano sem a ajuda da empresa se torne impossível. Esse mercado pode se desequilibrar, uma vez que a medicina e suas inovações têm alto custo?
Primeiro, é preciso ver se foi o plano que se tornou caro ou a aposentadoria que provocou uma queda na renda. Não vejo esse mercado como explosivo porque o gráfico não pode simplesmente ser projetado para o futuro com as variáveis que temos hoje. O mercado traz inovações que contribuem para custos mais eficientes. É preciso observar, por exemplo, quais tecnologias trazem de fato benefícios para os usuários. É um fato que quanto mais velho o usuário, mais caro se torna o plano. Existem alternativas que não fazem parte dos produtos da Unimed, mas que já estão em estudo no país. Produtos que a população poderia adquirir como uma poupança, para que o beneficiário possa se prevenir para o futuro. O sistema de saúde também deve focar na prevenção, que diminui grandes gastos com as internações hospitalares.

Como médico, como vê o pleito de seus colegas que cobram melhor remuneraçãodos planos?
A cooperativa não fabrica dinheiro e as duas pontas, receita e demanda, devem ser compatibilizadas. Acredito no modelo de melhoria assistencial do sistema. A partir daí, os reajustes nos valores das consultas serão uma consequência. Investimos R$ 8,5 milhões em valores adicionais de consultas para médicos que participam de programas de prevenção como, por exemplo, na puericultura, que presta atendimento aos recém-nascidos no primeiro ano de vida. Nesses programas, o valor da consulta sofre acréscimo considerável, passando de R$ 70 para R$ 120. O que posso dizer também é que o modelo remuneratório da cooperativa está sendo estudado.

Hoje, quais são os principais conflitos entre consumidores e operadoras? Qual o percentual de reajuste esperado para 2014? Acima da inflação, como nos últimos anos?
Os conflitos reduziram bastante. Em sua maioria, dizem respeito a procedimentos e ao uso de material, que não estão previstos no rol estabelecido pela agência reguladora. Para 2014, esperamos um reajuste alinhado com o que a agência vem praticando nos últimos anos.

O número de médicos que a Unimed-BH mantém em seu sistema está adequado para atender o crescente número de beneficiários? Está em discussão no Congresso Nacional projeto de lei que obriga os planos a substituírem de forma imediata os médicos que deixam as operadoras.
A Unimed-BH conta com 5,5 mil médicos cooperados e a cada ano cerca de 170 novos médicos entram para a operadora. Temos um processo de seleção, no qual exigimos do médico o título de cooperado, o que acaba se traduzindo em uma experiência de sete a nove anos de formado. Com esse sistema temos poucas baixas. A saída de médicos se dá mais pela aposentadoria.

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