segunda-feira, 28 de julho de 2014

Eduardo Almeida Reis - Chalaça‏

Tiro e queda 
 
Na Espanha, o juiz José Castro tem chalaça nas acusações que faz à princesa Cristina, irmã do rei Felipe VI%u201D
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 28/07/2014


Chalaça

Entre os ciganos, chalaça é elegância no andamento da cavalgadura, o que se explica: são mestres em “remoçar” os equídeos que revendem por aí. Se conseguem remoçar, devem saber como tornar elegante o andamento. Chalaça é feito zombeteiro, gracejo, escárnio, motejo.
Na Espanha, o juiz José Castro, 67 anos, tem chalaça nas acusações que faz à princesa Cristina, irmã do rei Felipe VI, casada com Iñaki Urdangarín, medalhista olímpico, atual duque de Palma. Cristina é a primeira mulher da família real espanhola a ter curso superior. Ela e o marido têm a Aizóon, uma empresa acusada de uma porção de tolices pelo juiz Castro, como por exemplo: despesa semanal de 864 reais no salão de beleza. Ora, bolas: no Rio e em São Paulo, cada visita a um bom salão custa mais que isso.

E tem mais: num país grande e bobo, que vocês conhecem muito bem, o Senado pagou 14 mil reais de telefonemas internacionais de uma jovem turista, do México para Brasília, usando o celular oficial de seu pai, senador pelo PT do Acre. Quatro semanas de salão para embelezamento de uma princesa custam 3.456 reais, a quarta parte dos gastos em duas semanas de telefonemas da mocinha que passeava pelo México. 

Os gastos mensais dos duques de Palma são ridículos, como por exemplo: 30 mil reais com os colégios para os quatro filhos, clubes de tênis, contas e luz e as despesas no salão de beleza. Qualquer empresário mineiro de quinta categoria gasta mais que isso. E a notícia num jornal carioca é de página inteira, pura implicância com as famílias reais europeias. 

O relatório financeiro da família real britânica, publicado em junho, mostra que ela custou ao contribuinte 37,5 milhões de libras (R$ 133 milhões) no ano fiscal 2013-2014 terminado em abril. Por pessoa, as despesas foram de 56 pence (R$ 2,10). Quanto custará ao contribuinte gaúcho a família de Tarso Fernando Herz Genro? É família de valor inestimável por ter dado à luz Luciana Krebs Genro, candidata do PSol à presidência da República. Se o leitor não sabia, fique sabendo o significado de Krebs cycle: metabolic energy cycle – a sequence of biochemical reactions occurring in cells that is part of the metabolism of carbohydrates to produce energy. É mole ou quer mais?

Smart
Influenciada pelo dono, a idosa lavadora Bosch começou a ter problemas de funcionamento e já não tinha peças de reposição. Comprei uma LG à vista. Em 12 meses, na mesma loja, o preço aumentou 20%, prova de que há diversas “metas” para a inflação sob controle. Em cima da máquina leio o seguinte: Meu jeito SMART de lavar.


Por mais que os puristas se irritem, smart tomou conta do pedaço idiomático. Deve ter começado com o smartphone. Curioso, vou ao Michaelis comprado há 50 anos e tomo um susto: Smart – substantivo, dor aguda, violenta, aborrecimento, sofrer, doer, causar dor forte, estar irritado, estar aborrecido, arder, pungir. Como adjetivo é agudo, severo, forte, ardente, pungente.

A partir daí temos: esperto, inteligente, vivo, talentoso, espirituoso, elegante, moderno. E mais uma porção de significados. No dicionário do Dr. Bill Gates procuro a etimologia: “Old English smeortan ‘be painful’ origin?”. Volto ao Michaelis para aprender que painful, adjetivo, é doloroso, penoso, difícil, trabalhoso, árduo. Se advérbio é dolorosamente, penosamente, arduamente. 

Donde se conclui que smart, no sentido de talentoso, espirituoso, moderno, tem cabimento no smartwriter que inventei para ajudar o philosopho na louvável tarefa de substituir o abjeto pronome sujeito “eu”, em que chafurda a esmagadora maioria dos cronistas deste país grande e bobo. Quando escrevi durante 15 anos pequenos textos diários, de até 500 palavras, fui texticulista, sempre fugindo do pronome sujeito geralmente dispensável em português, como ensinou o filólogo Celso Cunha, tio de Andrea e Aécio Neves da Cunha.
Realmente, se digo que amanhã vou tomar um pileque, está claro que o porre não será tomado pela bisavó do smartwriter, mas os cronistas brasileiros não dispensam o pronome sujeito “eu”. Cronistas sofrem de onfalocentrismo. Aí é que está: a crônica é um gênero essencialmente umbilical. Todo cronista tem seu umbigo como centro do mundo e faz disso profissão.

O resto da humanidade também curte os respectivos umbiguinhos, mas disfarça a curtição e não se acanha de falar em nome de Deus, como se Ele, existindo, coonestasse o estelionato verbalizado em Seu nome para enriquecer o pilantra.

O mundo é uma bola

28 de julho de 1540: casamento de Henrique VIII com Catarina Howard, que fora aia da rainha Ana de Cleves. O malucão do rei era apaixonado por Catarina, jovem da pá-virada, e a cobria de presentes, mas ela tinha favoritos na hora de ir para a cama, como o cortesão Thomas Culpepper. Além de Thomas, a rainha chamou para a corte alguns dos seus antigos namorados, como Francisco Dereham, seu amante em Norfolk, que transformou em secretário particular. O rei não acreditava nas traições até ver as cartas de Culpepper para Catarina. Mandou executar Dereham e Culpepper; prendeu Catarina, que foi executada na Torre de Londres em fevereiro de 1542, quando tinha 25 aninhos. Hoje é o Dia do Agricultor.

Ruminanças
 “C’est toujours l’année prochaine que le paysan deviendra riche” (Menandro, 342-291 a.C.).

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