segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Eduardo Almeida Reis-Um gesto‏

O barítono foi ao paletó, retirou as entradas para a plateia do Teatro Municipal e as deu ao barbeiro. Gestos como esse mostram o caráter de um homem


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 01/09/2014





A um quarteirão do Teatro Municipal, no Rio, havia o Salão Elite, nome que irrita o honoris da Silva. Barbearia frequentada por brasileiros e turistas que certamente apupariam a presidenta (sic) inventada pelo analfaboquirroto e sufragada pela idiotice eleitoral de um país grande e bobo.

No salão trabalhava um barbeiro italiano chamado Giuseppe, que conheci velhinho quando andei aparando a juba naquele estabelecimento. Na década de 20, o famoso barítono italiano Titta Ruffo, batizado Ruffo Titta Cafiero (1877-1953), fez temporadas no Municipal. Dizia-se que namorava a soprano Claudia Muzio (1889-1936), nascida em Pavia, que também cantava no Rio.

Titta Ruffo cortava o cabelo e fazia a barba com o Giuseppe. Num dia em que o casal cantaria à noite foi muito grande a afluência de ricos e famosos ao Salão Elite pedindo ao barítono que intercedesse para conseguirem entradas, todas esgotadas. Ricos e famosos daquele tempo nunca estiveram na Ilha de Caras, mas eram conhecidos na capital federal pelos cargos que ocupavam. A todos eles o barítono explicava que nada poderia fazer, pois a lotação do Municipal estava esgotada.

Terminando a barba, pagou pelo serviço e disse: “Aspetta un puó, Giuseppe”. Foi ao paletó pendurado num cabide, retirou as entradas para duas poltronas na plateia e as deu ao barbeiro. Nessa noite, usando seu melhor terno, com a mulher metida no vestido da missa, Giuseppe assistiu à ópera sentado numa das melhores poltronas do Municipal e desde então, sempre que se referia ao fato, chorava, como chorou no dia em que me contou.

Gestos como esse, que custam pouco a quem os faz, mostram o caráter de um homem. Procurado por ministros de Estado, senadores da República, magistrados ilustres, deu as poltronas ao barbeiro. Não o conheci cantando, porque encerrou a carreira em 1931. Morreu do coração em Florença aos 76 anos, em 1953. Foi considerado gênio do bel canto por um dos mais importantes produtores de discos na década de 20.

Amaciantes

Enganam-se os que pensam que só existem amaciantes para roupas. A internet anuncia amaciantes para carnes, calçados, cabelos etc. Desconfio de que existem amaciantes para alguns jornalistas e vou explicar por quê. Antes, porém, quero aproveitar a viagem ao Google para informar que os amaciantes para roupas são agentes catiônicos que atuam na redução das cargas negativas sobre os tecidos tratados, oferecendo maciez e lubricidade às suas fibras, como também propriedades bacteriostáticas. Lubricidade, no caso, não é propensão para a lascívia, excitação, sensualidade exagerada, mas a qualidade de escorregadio, a umidade, a lisura.

Como ninguém sabe o que sejam os agentes catiônicos, volto ao amaciante midiático. Duas vezes critiquei, nesta bela coluna, o péssimo serviço de uma operadora de tevê a cabo, que me custava uma fortuna por mês. Citei o nome da operadora, de resto muito conhecida no Brasil e no exterior.

Duas vezes recebi, através do endereço eletrônico do jornal, convite para entrar em contato com uma agência do Paraná. Desconfiado que sou, fui ao site da tal agência e constatei que a sua razão social é confusa, dando a entender que foi pensada para fazer acertos de natureza obscura.

Creio desnecessário dizer que não entrei em contato com a “agência”, que não teria bala para calar um sujeito que, em 49 anos de mídia impressa, continua virgem de agentes catiônicos amaciantes.

O mundo é uma bola

1º de setembro: faltam 121 dias para acabar o ano. Em 70, destruição de Jerusalém pelo imperador romano Titus Flavius Vespasianus Augustus (39-81), que foi casado com Arrecina Tertulla em 64 e 65, trocando-a por Márci Fumila em 65: coisa feia esse negócio de trocar de mulher. Em 655 o papa Martinho I é exilado por Constantino II e o vosso philosopho, séculos mais tarde, acaba de ficar sem internet ao clicar no santo nome de Martinho I para encher linguiça neste mundo que é uma bola. Tem nada, não: a gente volta.

Pois é, internet voltou e Martinho I foi para córner, que os idiotas chamam de escanteio. Em 1081 início do pontificado de Lúcio III como sucessor de Alexandre III. Pensando bem, é maldade esquecer Martinho I, nascido em Todi, na Itália, em 1590. Mas o Google não informa seu nome de batismo, motivo pelo qual volto ao dia 1º de setembro, desta vez do ano de 1422, para contar que Henrique VI foi declarado rei da Inglaterra com oito meses de idade, ficando sua coroação para 6 de novembro de 1429, já então um idoso de sete aninhos. Casou-se com Margarida de Anjou e morreu aos 49 na Torre de Londres executado por ordem de Eduardo IV. Hoje é o Dia da Bailarina e do Bailarino, do Caixeiro-Viajante e do Professor de Educação Física.

Ruminanças

“Os escritores são de duas espécies: os sabiás e os vira-bostas” (Guilherme Figueiredo, 1915-1997).

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