segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Pautas - Eduardo Almeida Reis

Pautas Gostar de comida chinesa não chega a ser crime, salvo quando inclui carne de cachorro, escorpião, morcego, cavalo marinho e outras excentricidades


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 13/10/2014




Certas pautas não congeminam, nem sequer conjuminam com determinados programas televisivos. Sua complexidade pede análise demorada de especialistas. Um exemplo: drogas. Três jornalistas não especializados, cada um palpitando cerca de três minutos, só conseguem transformar o programa numa droga. Trabalhei no Pantanal em fazendas que proibiam a entrada e o consumo de bebidas alcoólicas. Alcoolizado, um peão enfiava a faca na barriga de um amigo de infância só para ver se estava bem amolada. Todo peão pantaneiro transporta faca e chaira (instrumento para afiar facas) por exigência profissional.

Proibida a compra de bebidas, a peonada descobriu que mastigando milho verde e cuspindo o produto mastigado naquele ponto de certas palmeiras em que os galhos saem dos caules, formando recipiente que acumula água de chuva, o milho mastigado e cuspido se transforma em álcool. Aí, já viu, né? A beberagem, que suponho horrível, não excluía o “tráfico” de bebidas, cachaças, vermutes, cervejas para as casas pantaneiras.

Vosso philosopho aproveitava as viagens à cidade mais próxima, 44 quilômetros de trilha para um só veículo, em que havia daquelas pontes projetadas somente para os pneus, com um vão central aberto – aproveitava as viagens, confesso, para encher a lata. Alegre e trêbado, dirigia na viagem de volta, em que não existia a menor possibilidade de encontrar pedestres ou veículos. Portanto, o pileque não tirava pontos na carteira.

Quanto às outras drogas, que são muitas, a proposta de descriminalização é séria e deve ser estudada com cuidado, considerando que a criminalização adotada em grande parte do planeta não tem funcionado e serve apenas para estimular e estruturar o tráfico, com as consequências que temos visto.

 Turismologia

Adoro certos programas televisivos porque me mostram uma porção de lugares a evitar, como a Chinatown de San Francisco, Califórnia. Na internet, vejo que há 379 avaliações como excelente, 529 para muito bom, 69 como ruim e 29 dizendo que a visita é horrível. Adiro aos 29 sem visitar o bairro californiano. Tem comida chinesa: e daí?. Na Belo Horizonte, que me acolheu durante 16 anos, o China in Box leva seus quitutes em domicílio. Que me lembre nunca encomendei, mas recebi e paguei atendendo a pedidos das companheiras. Gostar de comida chinesa não chega a ser crime capitulado no Código Penal, salvo quando inclui carne de cachorro, escorpião, cobra, morcego, larva de bicho-da-seda, cavalo-marinho, grilo e outras excentricidades.

No programa sobre a Chinatown californiana, vejo que o bairro tem um sem conto de apartamentos de 7,5m2. Sete e meio metros quadrados, cozinha e banheiro no fim do corredor. Os tais apartamentos paulistanos de 21m2, cozinha e banheiro inclusos, já me apavoram. Vendem que nem pão quente e têm uma vaga de garagem. São Paulo está se transformando no paraíso urbano: engarrafamentos diários, batendo recordes sobre recordes, enchentes, bairros luxuosos nos quais a maioria das residências está à venda pelos assaltos cada vez mais frequentes, arrastões nos melhores restaurantes, prefeito petista com avaliação igual à do finado Celso Pitta – um pavor sob a forma de cidade.

Pavor que se repete numa infinidade de cidades brasileiras, com exceção, talvez, de Serra da Saudade, MG, e Borá, SP, com seus 822 e 855 habitantes.

Itabira

Tenho pena de quem não lê o jornal O TREM Itabirano, das melhores coisas editadas no Brasil nos últimos 170 anos. Através da internet você pode assinar o mensário. Custa uma tuta e meia, tutameia, tutemeia, provavelmente do snt. uma macuta e meia (macuta > matuta > tuta). Claro que não sei o que é snt., mas Houaiss explica que é sintagma, unidade linguística composta de um núcleo (p.ex., um verbo, um nome, um adjetivo etc.) e de outros termos que a ele se unem, formando uma locução que entrará na formação da oração.

Como agente complicador, sintagma, na rubrica história militar e no corpo de infantaria macedônio da antiga Grécia, era uma divisão de 256 homens, formando quadrado. Por extensão de sentido, digamos que na rubrica história itabirana O TREM seja uma divisão de 256 pessoas formando mensário da melhor supimpitude. Você não vai concordar com tudo que nele se publica, o que é ótimo. Da discussão nasce a luz. Este sofrido país precisa de luzes, das elétricas às eleitorais. Tenho dito.

 O mundo é uma bola

13 de outubro de 1307 caiu numa sexta-feira: a Ordem do Templo é acusada de traição à Igreja pelo papa Clemente V, sob pressão de Felipe IV, rei da França, cognominado O Belo. O grão-mestre e os membros da Ordem do Templo são engaiolados. Data daí a superstição sobre o azar das sextas-feiras 13 – e o pior é que são mesmo dias aziagos. Fui parar na cadeia numa noite de sexta-feira 13: briga de rua.

Em 1399, coroação de Henrique IV de Inglaterra: fim do reinado de Ricardo II, exilado e assassinado no ano seguinte. Em 1792, o arquiteto James Hoban assenta a pedra fundamental/angular da Casa Branca, em Washington D.C., EUA. Preciso apurar se o arquiteto Hoban projetou a instalação de bidês nos banheiros da White House. Hoje é o Dia da Vida, do Terapeuta Ocupacional, do Fisioterapeuta e o Dia Mundial do Escritor.

Ruminanças

“A Terra Prometida sempre fica do outro lado de um deserto” (Havelock Ellis, 1859-1939).

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