domingo, 16 de novembro de 2014

Genialidade - Eduardo Almeida Reis

Genialidade


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 16/11/2014



Inteligência é uma coisa, genialidade é algo muito diferente. Roberto Irineu, José Roberto e João Roberto Marinho são rapazes inteligentes. Conheço Roberto Irineu. Jantei em sua casa, a convite, no ano de mil novecentos e antigamente. Se os três são inteligentes, sua rede de tevê é genial e vem de inventar uma forma de se livrar dos velhos jornalistas sem recorrer às demissões.

Demissão é sempre um problema: o demitido fica furioso, vai trabalhar na rede concorrente e pode exigir na Justiça indenizações vultosas, quase sempre com sucesso. Daí, a genialidade da ideia para se livrar dos velhos funcionários. Foi o que tentaram com o José Raimundo, repórter de meia idade, barba e cabelos grisalhos, incumbindo-o de fazer matéria durante vários dias na Chapada Diamantina, região lindíssima no centro da Bahia.

Caminhadas de várias horas durante vários dias, trilhas perigosíssimas, jararacas das mais venenosas, calor infernal, escaladas próprias para alpinistas profissionais, tudo terminando com uma “deliciosa” moqueca de jaca. No duro, mesmo: moqueca feita com o fruto da jaqueira. Vi o programa numa tarde de sábado, fumando belo Cohiba, e até agora não sei como o repórter resistiu. As trilhas e as escaladas foram feitas para atletas de 20 anos e a moqueca de jaca é pavorosa em qualquer idade.

Nem se diga que a tentativa de homicídio foi a primeira, porque a mesmíssima rede tentou matar o repórter Ernesto Paglia há dois meses, quando o incumbiu de passar cinco dias acampado na Ilha Queimada Grande, a 35 quilômetros do litoral paulista. Cinco dias acampado numa ilha soam como férias, salvo na Queimada Grande, onde há milhares de jararacas-ilhoas, a Bothrops insularis, serpente sui generis adaptada à vida arborícola e semi-arborícola, cujo veneno é estudado pelo Instituto Butantã, mas seu antídoto é pouco fabricado pois a serpente só existe na pequena ilha, na qual, em rigor, só os pesquisadores podem desembarcar: eles, o Paglia e um heroico cameraman. Veneno poderosíssimo, que mata a pessoa em duas horas pela falência geral dos órgãos. E dizer que o Paglia foi eleito pelos telespectadores, numa enquete feita pela Globo há cerca de 20 anos, o mais admirado repórter da rede.

Se dispensado, passaria a trabalhar para a concorrência arrastando com ele milhões de admiradores. Picado pela Bothrops insularis, renderia outra matéria e sepultamento concorridíssimo: se há coisa que brasileiro adora é velório de celebridade.

Amor
“Se for boa como é feia, deve ser ótima cronista” foi o comentário cruel de um jovem jornalista, quando informado de que Martha Medeiros passaria a escrever no seu jornal. Acontece que a gaúcha nascida em 1961, casada, mãe de duas filhas, nada tem de feia e é realmente boa cronista, autora de mais de 20 livros de poesias, crônicas, peças de teatro e um guia de viagem ao Chile, onde morou com o publicitário Luiz Telmo de Oliveira Ramos, seu marido e senhor.

Em outubro, Martha publicou na revista do O Globo uma crônica sobre o amor, texto filosófico, que não me cabe analisar ou resumir, mas me permite perguntar ao leitor: existe sexo sem amor? Não me refiro ao sexo profissional de garotas e garotos de programa, dos “atores” dos filmes pornográficos (existe a indústria do filme pornô) originalíssimos, Playboy, Sexy Hot, For Man (adult male human), este último sem incluir mulher (female adult), estrelado somente por cidadãos musculosos e travestis providos de aparelhos reprodutores externos.

Quando pergunto se pode existir sexo sem amor me refiro somente ao macho e à fêmea da espécie, cavalheiro e dama normais, que se encontram regular e frequentemente para transar continuadas vezes, sem que exista amor dele por ela ou dela por ele. Pergunto e respondo: existe. Deve ser qualquer coisa relacionada com o olfato, até porque dispensa muitos banhos e me lembra frase de amigo que enricou no boom da bolsa de 70 e sumiu do mapa: “Lavou demais, tem gosto de cotovelo”.

Psicanalista lacaniano muito famoso no Rio d’antanho, US$ 200 por sessão que às vezes durava cinco minutos, me disse que Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981), seu guru, sustentava a tese de que não existem relações sexuais, o que significa dizer que as pessoas se “relacionam” consigo mesmas. De repente, o sexo sem amor se enquadra na teoria lacaniana. Resta explicar por que só funciona com alguns casais não necessariamente casados, muito antes pelo contrário, aliás.

O mundo é uma bola
No dia 16 de novembro de 1908, como aprendi na Wikipédia, o médium Zélio Fernandino de Moraes incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, dando início ao Culto de Umbanda, religião nascida no Rio de Janeiro. Originalmente, congeminava elementos espíritas e bantos, estes já plasmados sobre elementos jeje-iorubas, mas hoje se apresenta segmentada em variados cultos caracterizados por influências muito diversas: indigenistas, catolicistas, esotéricas, cabalísticas etc.

Em 1945, fundação da Unesco. Vira e mexe falo da fundação da Unesco, sinal de que foi mesmo fundada. Em 1980, Louis Althusser, filósofo francês, estrangula sua mulher. Houve quem achasse que Louis teve um surto psicótico, mas há que tomar todo o cuidado com os filósofos, sobretudo com aquele bagulho que azurra, rebusna, orneja como filósofa petista. Bons, mesmo, são os philosophos que não estrangulam suas companheiras e nunca acreditaram no PT.

Ruminanças
“Não se corrige a quem se enforca, corrigem-se os outros pelo seu exemplo” (Montaigne, 1533-1592).

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