sábado, 1 de novembro de 2014

Serviço - Eduardo Almeida Reis

Serviço


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 01/11/2014


 (LELIS)


Jornalismo é serviço e o leitor já deve ter notado que este philosopho não tem feito outra coisa. O serviço de hoje é a felicidade de não ter, muito maior do que a felicidade possuinte. Possuidor, você pode perder; não possuindo, é a felicidade eterna. Um exemplo: vejo numa revista um advogado de 27 anos vestindo camiseta Urban Outfitters, calça Armadillo e tênis Superga. Existe felicidade maior do que não ter camiseta, calça e tênis daquelas marcas?

Que me diz o leitor da felicidade de não ter um sítio? Em matéria de sítios você tem duas alegrias: quando compra e quando vende. Não comprando você é poupado da condição de sitiante e do desespero de tentar vender a pequena propriedade rural, o que não é fácil. Portanto, é preciso curtir a felicidade de não ter um sítio.

Há felicidades secretas, que moram n’alma e não devem ser trombeteadas para que não pensem que você é invejoso. Exemplos: não ter jatinho e casa em Angra. Jatinhos e iates têm comandantes que mandam mais naquelas jostas do que você, dono delas. É da lei. Você investe 36 milhões de dólares na compra de um jatinho, paga belíssimos salários aos pilotos e o comandante manda mais que o dono. No iate é a mesma coisa e custa muito mais. Já pensou num comandante de iate, seu empregado, mandando mais que você, circulando de pernas de fora pela embarcação com 20 ou 30 marinheiros tatuados, quase todos fugitivos das polícias dos seus países?

Há quase dois anos vivo a felicidade ininterrupta de não ter carro, de não me preocupar com os prós e contras dos novos modelos, com o alinhamento dos pneumáticos, IPVA, pontos na carteira, multas, clonagens. E casa em Angra, a obrigação de frequentar a casa que você comprou e mantém a peso de ouro? Que me diz o caro e preclaro leitor dos hóspedes chatos? De convidar, alimentar e dar de beber a um bando de chatos. Pense na felicidade de não ter casa em Angra e na felicidade de variar de férias alugando casa na Provence, na Côte d’Azur, na Borgonha, comendo nos bistrôs das esquinas, bebendo vinhos nacionais. Sim, a felicidade de não ter é mil vezes maior do que a felicidade possuinte.

Meteorologia
O Jornal Nacional solucionou à maravilha o gravíssimo problema televisivo das previsões meteorológicas: exposição rápida, muito pela rama, do que “pode” acontecer no dia seguinte nos 8,5 milhões de quilômetros quadrados deste país grande e bobo. Por sua extensão territorial, o Piscinão de Ramos exige pelo menos 200 previsões, que tomariam horas do noticiário, mesmo assim sem qualquer garantia.

Talvez fosse o caso de utilizar o lexema suposto, que o profissional televisivo adora. Ainda outro dia, a GloboNews falava da prisão de um “suposto assaltante” que circulava de moto pela cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro portanto um fuzil. Pela óptica do telejornalista, o sujeito que motoca portando um fuzil nas ruas do Rio tanto pode ser um médico de boa clínica, como um advogado respeitado, um magistrado impoluto ou um “suposto” bandido.

Tenho dito e repetido um sem conto de vezes: em questões meteorológicas, o ideal seria informar o tempo que está fazendo no momento da notícia, aqui ou acolá, como forma de respeitar o telespectador. Eventualmente, alertar para a possibilidade de uma frente fria, de um temporal, como fez o Japão com o tufão do dia 5 de outubro.

Não interessa ao telespectador saber que a temperatura em Manaus, amanhã, deve chegar aos 39 graus, a não ser que esteja de viagem marcada para lá. Como também não interessa a informação de que o friozinho na serra gaúcha pode ser de 4 graus. As previsões nunca acertam, mas a temperatura na hora da transmissão do telejornal é notícia e dá ideia daquilo que realmente está acontecendo.

Opinião
Diretor de jornalismo, editorialista e comentarista da Itatiaia, Márcio Doti, presidente do Ceppo, Centro de Cronistas Políticos e Parlamentares de Minas Gerais, opina de viva voz pelo noticiário matinal. Dia 7 de outubro disse que não concorda com a divulgação das pesquisas antes das eleições. Faço minhas as suas judiciosas palavras. Os institutos de pesquisas podem e devem continuar existindo, que há muito trabalho para eles em diversas áreas, dispensados da sucessão de erros antes, e das explicações desengonçadas depois das eleições. As justificativas fora dos engonços dos figurões de famosos institutos, logo depois do dia 5 de outubro, teriam sido cômicas se o assunto não fosse muito sério. Palmas para o presidente do Ceppo.

O mundo é uma bola
1º de novembro de 1501: descoberta a Baía de Todos os Santos no litoral brasileiro. Em 1512, o teto da Capela Sistina, pintado por Michelangelo, é exibido ao público pela primeira vez. Em 1549, instalação da cidade de Salvador, Bahia, Brasil, originando o nascimento dos soteropolitanos, de soter(i/o)- + -politano, antepositivo grego “protetor, salvador” + -politano, pospositivo, procure -polis, -pole “cidade”. Hoje é o Dia Mundial do Veganismo, maluquice vegetariana seguida por Chelsea Clinton, filha de Hillary e Bill, coitados.

Ruminanças
“Recebemos um prêmio de viagem à Terra e aqui estamos. Que teremos feito para merecê-lo?” (Carlos Lacerda, 1914-1977). 

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