quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Maria Sklodowska - Eduardo Almeida Reis

Também não preciso de um Nobel de sexologia para saber que as mulheres normais, de 39 e mais anos, continuam gostando das coisas boas da vida


Eduardo Almeida Reis
Estado de MInas: 28/01/2015 



Nascida em Varsóvia, Polônia, em 1867, falecida em Passy, França, em 1934, Maria Sklodowska foi a única pessoa, até hoje, a receber dois Prêmios Nobel na área científica: de física, em 1903, pelas descobertas sobre a radioatividade e de química, em 1911, pela descoberta dos elementos químicos rádio e polônio. Recebeu-os com o nome de Marie Curie, como passou a chamar-se depois de se casar com o físico francês Pierre Curie (1859-1906), laureado junto com ela com o Nobel de 1903. Tiveram duas filhas. Uma delas, Irene Joliot-Curie, premiada com o Nobel da química em 1935.

Se Pierre morreu em 1906 e Marie em 1934, não preciso de um Nobel de matemática para calcular que ficou viúva durante 28 anos, a partir dos 39 aninhos. Também não preciso de um Nobel de sexologia para saber que as mulheres normais, de 39 e mais anos, continuam gostando das coisas boas da vida.

Até aqui temos uma história incomum e bonita. Marie sofreu o diabo para conseguir estudar. Pierre, ao que parece, tinha boa situação, nunca frequentou escolas. Estudava em casa e, aos 20 anos, já era doutor. Casaram-se, ela ganhou dois Prêmios Nobel na área de ciências, ele só ganhou um porque morreu logo depois.

Agora, vem o final da história. O astrônomo David Grinspoon, pesquisando os arquivos pessoais de Albert Einstein, encontrou uma carta que Einstein escreveu a Marie dizendo-se orgulhoso pela oportunidade de tê-la conhecido pessoalmente, de mesmo passo em que se dizia enojado com o tratamento que ela e as filhas vinham recebendo de parte da imprensa francesa, que a acusava de “destruidora de lares” pelo fato de namorar o físico Paul Langevin, que havia sido aluno de Pierre Curie. Langevin já estava separado e as cartas de amor trocadas entre ele a Marie teriam sido entregues aos jornais pela ex-mulher de Langevin. A campanha de certa imprensa contra Marie e as duas filhas foi tão forte que elas tiveram de se refugiar em casa de amigos. Ao que tudo indica, Langevin e Marie namoraram depois que ela enviuvou. E as fotos da época mostram que Marie era muito namorável.

Ainda bem que o Brasil, este impávido colosso de 8,5 milhões de km2 e mais de 200 milhões de habitantes, não conhece canalhices do gênero pelo fato de até hoje não ter sido lembrado para o Nobel que merece: o da corrupção.

Enfronhado

Como transitivo direto e pronominal, o verbo enfronhar significa tornar(-se) versado, instruir(-se), fazer tomar ou tomar conhecimento pleno de um assunto. Daí, o adjetivo enfronhado: que se enfronhou. Durante séculos, julguei-me enfronhado no assunto “produção de leite nos trópicos”, mas fui enfrouxecendo e hoje estou enfrouxecido. Pois é: o verbo enfrouxecer existe e significa fazer ficar frouxo, lasso. Não me lembro de o ter visto em letra de forma nem mesmo sobre assuntos sexuais. O pessoal prefere brochar, perder temporária ou definitivamente a capacidade de ter uma ereção, como queria o Houaiss, ou broxar, como defendia o Aurélio, dois dos nossos melhores lexicógrafos.

Não pense o leitor que me sentei diante do computador para escrever chulices ou tabuísmos, philosopho bem-intencionado que sempre fui. Sentei-me aqui para falar do verbo enfronhar no sentido de meter o travesseiro em fronha, uma das coisas mais difíceis que conheço. Escrevo num domingo, pouco antes do almoço, já assustado com a fronha que devo trocar à noite. É função complicadíssima, que já passei da idade de aprender.

Apavora-me a visão do travesseiro já desenfronhado sobre a cama ao lado da fronha lavada e passada, dobrada, à espera do artista incumbido da árdua missão. Com a comadre de folga, domingo é o diabo.

Terminado o belo suelto que você acaba de ler, desandei a philosophar e concluí que passaria a tarde inteira e boa parte da noite pensando na dificuldade que teria para enfronhar o travesseiro. Então, com a decisão de um grande comandante militar, gritei: “Avante!”. Fui ao quarto, lutei heroicamente e consegui enfronhar a peça. Foi duro, mas consegui. Depois, esquentei o almoço e passei o resto da tarde descansando da luta.

O mundo é uma bola


28 de janeiro de 1808: abertura dos portos brasileiros às nações amigas, mesmo porque não faria sentido abrir às nações inimigas. Em 1932, as forças japonesas começam a ocupação de Xangai. Em 1935, a Islândia é o primeiro país a legalizar o aborto, até hoje proibido num país grande e bobo, que prefere assistir ao nascimento dos seus anjinhos para mais tarde matá-los a tiros nas guerras do tráfico. Em 1942, presidido pelo ditador Getúlio Vargas, o Brasil rompe relações com a Alemanha e a Itália. Em 1943, Vargas e Roosevelt, em Natal (RN), iniciam as negociações que levariam à criação da FEB, Força Expedicionária Brasileira, durante a Segunda Guerra Mundial. O craque William Waack, um dos mais brilhantes jornalistas brasileiros, escreveu excelente livro sobre a FEB: As Duas Faces da Glória. Hoje é o Dia do Portuário e o Dia do Comércio Exterior.

Ruminanças

“Há em todas as cousas um sentido filosófico” (Machado de Assis, 1839-1908). 

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