domingo, 11 de janeiro de 2015

Perfil - Eduardo Almeida Reis

Nenhum país é obrigado a lançar satélites se ainda não resolveu problemas básicos como SUS, hospitais, buracos nas estradas e educação pública

Estado de Minas: 11/01/2015



Em Mogi das Cruzes (SP), onde foi criado, Jonathan Lopes de Santana teve infância normal, era bom menino, prestativo e, ainda hoje, com 23 anos, considerado excelente vizinho na Rua Palestina, onde reside com os pais e um irmão. Obediente, trabalhador, comprou e emplacou um Astra, tudo direitinho, figura exemplar.

Justamente por ser obediente e cumpridor de ordens, detestando os sonegadores dos impostos que fraudam este belo país, passou a obedecer às ordens do diabo para matar 31 moradores de rua, que, morando nas ruas, não pagam os impostos que fazem a felicidade da nação e permitem que o governo compre a base aliada para apresentar os excelentes resultados do PIB-Rousseff, matando de inveja o resto do planeta.

Ninguém sabe ao certo quantos moradores de rua e alguns transeuntes Jonathan matou a machadadas, degolando depois as vítimas com um facão, inspirado nas proezas do Estado Islâmico. Um cavalheiro, que assistiu de longe a uma dessas decapitações, anotou a placa do Astra e Jonathan foi preso em sua casa, carro e roupas ainda manchados de sangue, confessou muitos crimes à polícia e foi reconhecido por um sujeito que escapou por pouco de suas machadadas. Creio desnecessário dizer que a repórter do telejornal se referiu ao assassino confesso como “suspeito”. Com o passar dos meses, vamos ver se Jonathan será condenado ou absolvido, considerando que não fazia mais que obedecer às ordens do diabo, anjo rebelde caracterizado por suas diabruras.

Midiáticas
No abjeto pessimismo que a caracteriza, nossa mídia fez reparos ao PEB, Programa Espacial Brasileiro, que encerrou 2014 com orçamento insuficiente, adiamento de projetos e falta de notícias do VLS, o Veículo Lançador de Satélites que completa 30 anos sem sair do chão.
O PEB precisa de uma revisão estratégica, diz Aydano Carleial, presidente da Associação Aeroespacial Brasileira e ex-diretor do programa de satélites do INPE, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Carleial, pós-graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Stanford, nos EUA, acha que os projetos de engenharia espacial do governo se arrastam anos a fio sem perspectivas de conclusão com sucesso e que o momento atual do desenvolvimento espacial brasileiro é de frustração.

Comparado com os BRICS, o Brasil é o único pais que não conseguiu conquistas expressivas na área espacial. A Índia lançou uma sonda orbital que chegou a Marte, e os chineses, em 2003, tornaram-se o terceiro país a levar um homem ao espaço. A primeira tentativa brasileira de voo do nosso Veículo Lançador de Satélites, o VLS-1, ocorreu em 1997, quando foi necessário acionar o comando de autodestruição devido a uma falha na ignição. Outra falha ocorreu em 1999. Em 2003, na terceira tentativa, a ignição prematura fez o foguete explodir ainda na plataforma de lançamento, matando 21 profissionais.

A julgar pelas amostras, diz aqui o philosopho, o programa deveria ser esquecido. Custa uma fortuna e pode matar centenas ou milhares de brasileiros. Nenhum país é obrigado a lançar satélites se ainda não resolveu problemas básicos tais como o SUS, os hospitais, os buracos nas estradas, a educação pública, a espantosa violência e a ladroeira que vai por aí.

Talvez fosse o caso de começar pelos baloeiros, autorizando-os a soltar seus balões no tempo das chuvas, sem risco de incêndio nas matas, longe das rotas aéreas mais usadas. Os baloeiros ficariam felizes e o país continuaria tentando viabilizar o mínimo que se pede de um povo civilizado.

Pauta
O programa GloboNews em Pauta dura 60 minutos. Com um ou dois intervalos rápidos, digamos que sejam 55 minutos. Em dezembro, andou perdendo por programa cerca de 18 minutos para solucionar, a partir do Rio, São Paulo e Brasília, contando com a ajuda de um(a) jornalista residente em Nova York, todos os problemas raciais norte-americanos, policiais brancos que matam a tiros ou numa gravata anjinhos de cor, um com 1,98m e 135 quilos, outro com diversas passagens pela polícia, cavalheiro que deve beirar os 200 quilos.

Parece-me, e o leitor dirá se tenho razão, que o Brasil tem problemas e pautas suficientes para manter ocupados os quatro comentaristas daquele programa durante os 55 minutos de cada noite em que é exibido. Até se entende que noticie os problemas raciais norte-americanos em um ou dois minutos, mas gastar o fosfato de seus ilustres comentaristas com os problemas norte-americanos, durante boa parte do programa, é um exagero e uma tolice.

O mundo é uma bola
11 de janeiro de 630: Maomé, o profeta fundador do islamismo, destrói os ídolos do santuário de Kaaba em Meca. Kaaba ou Caaba é uma construção cúbica de 15,24 metros de altura cercada por muros de 10,67m e 12,19m. Ela está permanentemente coberta por manta escura com bordados dourados, que é regularmente substituída. É o centro das peregrinações (hajj) e é para onde o devoto se volta para as suas preces diárias (salat). É o lugar mais sagrado do Islã. Quando o profeta repudiou todos os deuses pagãos e proclamou um deus único, Alá poupou a Caaba.
Hoje é o Dia do Controle da Poluição por Agrotóxicos.

Ruminanças

“Para aparecer no jornal, há assassinos que assassinam” (Eça de Queiroz, 1845-1900).

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