segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Solitação - Eduardo Almeida Reis

Rapariga, substantivo feminino em nosso idioma desde o século 13, é mulher adolescente, jovem, moça, raparigota


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 26/01/2015


Não por acaso o substantivo susto começa com SUS, que o honoris causa costuma elogiar antes de correr para o Sírio-Libanês e o Albert Einstein: é analfabeto e desonesto, mas não é burro. O SUS tem coisas admiráveis, como a radiografia que tirou de um menino de 11 anos, filho do eletricista que me presta serviços.

O menino é tido no grupo em que treina como um novo Neymar, tamanha sua identidade com a bola. Só pensa em futebol, respira futebol, vai mal na escola. Há um ano pedi ao Alexandre Kalil, que tinha na conta de amigo, que marcasse um dia para o eletricista levar o menino ao CT do Atlético abrindo caminho para sua futura inclusão na turma da base. Kalil não disse que sim, nem que não, muito antes pelo contrário, aliás: indicou o nome de uma funcionária da diretoria que me enrolou durante meses.

Há 90 dias, depois de passar um domingo inteiro jogando futebol, o menino amanheceu queixando-se de dores numa perna. Com o pai trabalhando, a avó levou-o ao SUS, onde foi radiografado e diagnosticado como tendo a patela fora do esquadro. Saiu da consulta com a lista de uma porção de remédios e as muletas, que a avó comprou na esquina.

Uma semana, quinze dias, um mês, o craque de muletas, entupido de remédios, sem dores no osso sesamoide situado na parte anterior do joelho, anteriormente denominado rótula. Desconfiado, o eletricista marcou uma consulta com ortopedista conceituado aqui na praça. Ao olhar a radiografia do SUS, o ortopedista mandou radiografar o menino lá mesmo na sua clínica, comparou as duas chapas e explicou ao pai: “Este menino não tem nada. Tiraram a primeira radiografia com ele torto. Joga fora as muletas, suspende os remédios, volta ao futebol e traz o menino daqui a vinte dias, quando acabar o efeito dos remédios”.
Dito e feito: o craque está zero bala. Agora, preciso conhecer alguém que me apresente ao Dr. Gilvan de Pinho Tavares para mandar avaliar o menino na Toca da Raposa. Guilherme Mendes, diretor de comunicação do Cruzeiro, brilhante jornalista formado pela UFJF, Universidade Federal de Juiz de Fora, bem que podia cuidar disso.

Consulta
Telefonema de velha amiga, que não vejo há milênios, identifcando-se como mãe do Paulo, jovem amigo que não vejo há séculos. Não atino como ela possa ter conseguido o novo número do meu celular. A consulta era simples: ela disse que tem a Coleção do Centenário, do Eça, sabe que também tenho e quer saber onde encontrar o texto “As singularidades de uma rapariga loura”.

Pergunto o seu e-mail, que anoto num bloquinho, informo que estou no meio de um suelto sobre a Petrobras, depois procuro no Eça e informo via e-mail. Terminado o suelto, foi fácil: fiz a pesquisa e informei: “Volume VIII, página 269”.

Rapariga loura me lembra das raparigadas em que andei metido quando procurei fazenda para comprar no Norte de Minas: casas de raparigas, regionalismo brasileiro: mulheres que vivem da prostituição, meretrizes, prostitutas. Os amigos procuravam as raparigas e o jovem philosopho, solidário, os acompanhava.

Rapariga, substantivo feminino em nosso idioma desde o século 13, é mulher adolescente, jovem, moça, raparigota, mas tem um monte de significados, entre os quais o regionalismo prostituta. Em Portugal, o regionalismo é para moça do campo, roceira.

Aproveitei a embalagem para reler o conto do Eça, que foi filmado pelo cineasta português hoje a caminho dos 104 ou 105 aninhos, não o filme, e sim o cineasta.

O mundo é uma bola
26 de janeiro de 1531: terremoto em Lisboa mata 30 mil pessoas, mas o terremoto lisboeta famoso, mesmo, só ocorreria em 1755. Em 1546, Brás Cubas funda a cidade de Santos, no litoral paulista. Em 1654, rendição dos holandeses em Recife retirando-se definitivamente do Brasil e se livrando do frevo, que é dose. Em 1788, desembarque dos primeiros colonos ingleses na atual Sydney, Austrália. Em 1827, o Peru anuncia o fim de sua união com a Colômbia e se declara independente. Em 1839, elevação da vila de Santos à condição de cidade. Em 1870, com o fim da Guerra da Secessão, o estado de Virginia é readmitido na União. Em 1887, início da construção da Torre Eiffel em Paris. Corre na internet um conjunto de fotos de torres modernas, algumas bonitas, outras espantosas, geralmente nos países que nadam em petróleo. Em 1905, encontrado na mina Premier, África do Sul, um diamante de 3.106 quilates, o maior do mundo. Chama-se Cullinan em homenagem a Thomas Cullinan, dono da mina. Em 1950, proclamação da República da Índia.

Em 1998, o presidente Bill Clinton, dos EUA, nega pela derradeira vez ter mantido relações sexuais com a estagiária Monica Lewinsky no Salão Oval da Casa Branca, mas a moça guardou sem lavar o vestido respingado pelo sêmen presidencial.

Ruminanças
“Observo em minhas viagens esta prática para aprender sempre algo com outrem (que é uma das mais belas escolas que possa haver) de levar sempre os com que me entretenho a conversar das coisas de que mais entendem” (Montaigne, 1533-1592). 

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