domingo, 8 de fevereiro de 2015

Sonho - Eduardo Almeida Reis

Você deve começar pelo mais simples, o Face e as selfies. Pergunto: tem feito selfies e está no Face?

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 08/02/2015 




Vosso país estará muitíssimo bem representado nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, ano que vem, com a inclusão na equipe de arco e flecha do jovem Dream Braga da Silva, hoje com 17 anos, filho de Deuzimar Gomes da Silva e Maria Lúcia Braga. Deuzimar Gomes da Silva, apesar do sobrenome, não deve ser parente do empresário Josué Gomes da Silva, nascido no Rio e registrado em Minas, filho do empresário José Alencar Gomes da Silva, que convenceu o empresariado brasileiro de que o Lula não seria tão ruim quanto supunham, esquecendo-se de informar que seria muito pior.

Márcia Lot, preparadora física e caça-talentos, descobriu Dream Braga da Silva entre os cambeba, não no restaurante belo-horizontino Kambebas, situado na Avenida Ressacas, 163, mas entre os indígenas cambeba da Amazônia, também conhecidos no Peru como omáguas. Com a violência das frentes não-indígenas na região desde meados do século 18, os cambebas deixaram de se identificar como indígenas, daí os nomes Deuzimar, Maria Lúcia e Dream, identificação que só retomaram depois da Constituição de 1988. Têm grande capacidade de articulação política com outros grupos indígenas e com agências governamentais e não governamentais religiosas ou laicas. De família linguística tupi-guarani, estima-se que no Brasil existam 800 e no Peru cerca de 3.500 cambebas-omáguas. 

Dream é conhecido entre eles como Iagoara, “o caçador da mata”, e foi descoberto no projeto arquearia indígena pelo 3º lugar obtido no Campeonato Brasileiro. Vai passar dois anos morando no Rio antes de espantar o mundo com o seu nome Dream, sonho em inglês. 

Plugue-se

Se o caro e preclaro leitor me permite um palpite, sugiro que se plugue, que se conecte à sociedade atual, em tudo e por tudo diferente daquela que existia há 20 ou 30 anos. Não digo que se plugue ao top, às celebridades, que presumo impossível. Não deve ser fácil começar o ano pelo réveillon de Narcisa? Ou no de Bruno Chateaubriand e André Ramos, que festejaram a passagem do ano com um beijo na boca, ósculo guloso, demorado, gozoso, saudando casamento de 15 anos, que mereceu foto imensa, colorida, num jornal de circulação nacional? 

Você deve começar pelo mais simples, o Face e as selfies. Pergunto: tem feito selfies e está no Face? Todo o mundo faz e está, menos aqui o seu philosopho, que se penitencia de não conhecer o food truck, com exceção de um angu à baiana que se comia na Praça XV, do Rio, com muita pimenta, no ano de mil novecentos e antigamente.

O mesmo philosopho que festejou a entrada de 2015 reincidindo num crime que sempre praticou, mas havia parado de cometer pelo meado de 2014: escovar os dentes com a torneira aberta e tomar banhos demorados. No Rio da minha infância, cantareira era apelido de bissexual. Motivo: as barcas da Cantareira, que faziam a travessia Rio-Niterói, não tinham proa e popa, atracavam dos dois lados. Com a crise hídrica de 2014 e a menção frequente aos níveis do Sistema Cantareira paulista, banho demorado virou crime.

Deu-se que pela virada do ano passei alguns dias na fazenda de amigos. As chuvas de novembro e dezembro fizeram renascer os pastos, as minas ressuscitaram e as caixas estão botando água pelos ladrões, que não devem ser confundidos com os gatunos das caixas econômicas e das cooperativas dos bancários, como aquela presidida pelo petista Vaccari Neto.

Andei tomando banhos demorados depois de escovar os dentes com a torneira aberta, recordando os bons tempos. Mesmo residindo no Rio nos primeiros 30 anos desta existência espichada, sempre tive a sorte de morar nos raros locais em que não faltava água. Para que o leitor faça ideia, um dos edifícios em que morei tinha caixa subterrânea para 250 mil litros. Comprado pelo Eike, o prédio está em ruínas. 
 
O mundo é uma bola 

8 de fevereiro de 1725: com a morte de Pedro I, o Grande, Catarina I assume o trono da Rússia. Nascida Marta Elena Skavronskaja, Catarina (1684-1727) era uma serva nascida no território da atual Letônia. Foi amante e depois segunda mulher de Pedro I, o Grande. Casaram-se em segredo em 1707, depois que ela se converteu à fé ortodoxa, tomando o nome de Catarina Alekséievna. Quando se casaram já tinham sete filhos, nenhum dos quais sobreviveu até a idade adulta. Tiveram um total de 11 filhos, dos quais sobreviveram Ana (1707) e Isabel (1709). Sua correspondência mostra que os dois sempre foram muito ligados e ela cuidava pessoalmente do czar durante os seus ataques epiléticos. Consta que só discutiram uma vez, quando da execução por corrupção do secretário dela. E tem mais uma coisa, que deve servir de exemplo para as senhoras modernas: Catarina Alekséievna cozinhava enquanto Pedro cuidava do jardim.

Em 1919, isto é, ainda outro dia, primeira viagem aérea de turismo: um avião adaptado voa de Paris a Londres conduzindo 12 ludâmbulos, nome proposto pelos puristas para evitar o anglicismo turistas.
 
Ruminanças 

“Crítico é como padre: não casa e quer entender de casamento” (Guilherme Figueiredo, 1915-1997).

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