segunda-feira, 2 de março de 2015

Estranho - Eduardo Almeida Reis

O tanque de louça sempre foi de uso exclusivo da deusa do lar, o que explica o gosto que as verdadeiras mulheres têm pelos homens com barriga de tanquinho

Estado de Minas: 02/03/2015



Dois amigos, no carro de um deles, circulavam em altíssima velocidade pelo Centro da cidade de São Paulo. Trombaram num poste, que se quebrou, o motorista fugiu e o passageiro, no banco do carona, morreu carbonizado. Descobriram que o morto era o dono do carro. O noticiário televisivo informou que o motorista estava sendo procurado para ser indiciado por homicídio doloso, aquele em que há dolo \ó\, em direito penal a deliberação de violar a lei, por ação ou omissão, com pleno conhecimento da criminalidade do que se está fazendo.

Estranhei a informação porque me parece inconcebível que um sujeito, dirigindo um automóvel, trombe num poste com a intenção de matar um amigo que viaja no mesmo carro. Mas o noticiário anda tão maluco, que a gente já não se assusta com mais nada. No mesmo dia, a polícia paulista descobriu um depósito com 472 televisores LG ainda nas caixas e um tanque de guerra “de uso exclusivo das Forças Armadas”.

Um tanque de guerra seria de uso normal em outras atividades? Todo santo dia a polícia prende cavalheiros e damas portando armas “de uso exclusivo das Forças Armadas”. São fuzis, metralhadoras, granadas e agora um tanque gigantesco, que pesa toneladas. Como as quatro vigas da Perimetral, cada uma pesando 40 toneladas, que foram roubadas sem que até hoje se saiba quem levou as peças de aço especial, suposto de durar 300 anos.

O tanque de louça, ele sim, sempre foi de uso exclusivo da deusa do lar, o que explica o gosto que as verdadeiras mulheres têm pelos homens com barriga de tanquinho.

Processo

Obrou muitíssimo bem o economista Nestor Cuñat Cerveró quando ameaçou processar aqueles que fizessem máscaras com o seu rosto. Carnaval é alegria, folia curtida por todos os que gostam do período de três dias anteriores à quarta-feira de cinzas dedicado a festejos, bailes e folguedos populares. Não é justo que naqueles dias os foliões e as folionas se assustem com a máscara do ilustre economista.
Em menino, forçado pela família, andei fantasiado de marinheiro. Devo admitir que o guri das fotos ficou bonitinho. Rapazola, curti carnavais para farrear nos raríssimos motéis que havia no Rio, um deles no lugar onde hoje fica a “comunidade” da Rocinha, com UPP e tráfico. Chamava-se Trampolim do Diabo e não tinha as modernidades e os luxos dos motéis atuais.
Em matéria de carnaval, que Houaiss informa “inicial por vezes maiúscula”, recordo com funda saudade os 16 anos em que morei na capital de todos os mineiros, pelo seguinte: BH desconhece o tríduo momesco. Era uma paz, uma tranquilidade só interrompida em 2015 pela crise financeira que impediu o carnavalesco belo-horizontino de viajar para cidades onde há carnaval.

Volto ao doutor Cuñat Cerveró para informar que andei procurando o significado de seu sobrenome em diversos dicionários. Austrália e Nova Zelândia têm Nat como membro do National Party, partido político que também existiu na África do Sul. Nat. em inglês é national, native, natural. Com ñ pensei que fosse nascimento em catalão, mas não tenho dicionários da Catalunha. Se o leitor tiver, me diga, por favor, se é o nascimento do símbolo do cobre, Cu, “o nascimento do cobre” ou da Idade do Cobre, um dos períodos da proto-história situado cronologicamente entre o Neolítico e a Idade do Bronze, aproximadamente 2500 a 1800 a.C.
Ontem, tarde da noite, fechei este belo suelto em 1800 a.C., mas hoje cedo, bem dormido, me lembrei do tradukka.com, que deve ter dicionário de catalão. Tem! Procurei ñat e não achei, mas NAT é NAT em português, alemão, inglês. Fiquei na mesma. Aproveitei o tradukka.com aberto para ver como são na língua da Catalunha algumas palavras usadas pelos nossos narradores esportivos: joelho (genoli), tornozelo (turmell), pé (peu), músculo (múscul), coxa (cuixa), canela (canyella) e falta (manca).


O mundo é uma bola

2 de março de 1498: depois de enfrentar medonhos temporais e revoltas dos marinheiros, o navegador português Vasco da Gama contorna o sul da África e aporta onde hoje fica Moçambique, que tem consulado em BH.
Em 1630, os holandeses tomam o Forte de São Jorge, em Recife.

Em 1775 o padre Francisco Bueno de Azevedo funda Caconde no interior de São Paulo. Andei por lá meio século atrás: havia tantos chagásicos, que se dizia que um cachorro, para latir, precisava encostar na cerca.

Em 1897, na Guerra de Canudos, terceiro ataque das forças de Moreira César aos conselheiristas. Depois desse ataque, as forças do maluco Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro, ficaram municiadas e armadas com centenas de fuzis. Antônio Conselheiro pirou depois de ter sido corneado, sumiu do mapa e reapareceu anos depois metido num camisolão dizendo coisas sem nexo. Logo surgiram centenas, milhares de fiéis andando atrás dele, fenômeno muito comum até hoje. Meu espaço felizmente Zé Fini, porque sou capaz de falar horas sobre Canudos e o leitor não merece esse despautério.
Hoje é o Dia da Oração e o Dia Nacional do Turismo.


Ruminanças

“Somos pela religião contra as religiões.” (Victor Hugo, 1802-1885)

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